sábado, 20 de junho de 2020

W74 DOCAS revisto

quarta-feira, 25 de março de 2009

W74 - MARIA EDUARDA AGUIAR DA FONSECA - "DOCAS"

Maria Eduarda nasceu a 25 de Março de 1945, em Paços de Ferreira.
Foi uma menina graciosa, alegre, brincalhona, feliz.
Com estas palavras começou a Lélé o video que lhe dedicou,  com o título "UMA BELA VIDA!"  É assim que nós vemos o seu itinerário original - e ainda mais agora, depois que recomeçou a vida, aos 60, com novas e fascinantes actividades.
Voltando ao princípio: Em criancinha, era muito morena, redondinha e meiga, olhos enormes e sorridentes, cabelo muito preto e liso, enfeitado, permanentemente, com enormes laços coloridos, que a ela lhe serviam, em primeira linha, para manusear a seda sedosa, com a mão esquerda, enquanto chupava (à falta de chupeta...) em dois dedos da mão direita - um tique de nascença, que quase a deixava com esses dois dedos defeituosos...
 Os meus pais adoravam a Doquinhas, que parecia uma boneca. Communis opinio...
Aos 6 ou 7 anos, tornou-se magrinha e ágil, com uma capacidade de arrancar, nas corridas, à frente de todos, incluindo o Nestó - e de bater os rapazes mais velhos, sobre a linha da meta. Grande nadadora, também, como o Pai, que, nas águas do rio Tua, ou nas do Atlântico, parecia um "ser marinho", tal a cumplicidade com que mergulhava ou rompia as vagas altas do oceano, nas marés vivas de Agosto, em Espinho.
Em Setúbal, destacou-se no voleibol, e até ganhou campeonatos escolares. Alternou, e alterna ainda, períodos de pura contemplação, ( nome elegante de preguiça), com outros de feérica actividade...
As nossas Mães foram sempre muito próximas e nós, os filhos, também.  Os três "Aguiares da Fonseca" foram sempre os nossos maiores amigos... e um passaporte para viagens ao interior de Portugal, em férias de sonho. O trio cresceu à solta, em aldeias mineiras dos confins de Portugal, quando os visitávamos, os tios  deixavam-nos ir com eles por montes e vales, a pé, a cavalo, de burro... As melhores férias da nossa infância e mocidade...
Desde pequenina, a Docas tinha uma qualidade raríssima nessa idade : sentido de humor. No caso dela, discreto, porque era, e é, discreta e descontraída por natureza. De uma simplicidade franciscana , a vestir. Não quer nada de supérfluo - exemplar nesta louca sociedade de consumo, em que nos vemos... Afilhada do mítico Tio Zé da América, seguiu as suas pisadas.
Por exemplo:  recusa ter mais do que um anel, um relógio, uma carteira, um par de sapatos de verão e outro de inverno (exagero, mas não muito...). Se a deixassem, andava sempre com as mesmas "jeans" velhas.
Uma vez, foi passar um mês a Genebra, quando eu lá estava, num curso da OIT.  Fui esperá-la ao aeroporto, ela saiu, sem mala de mão, apenas com um saquinho a tiracolo, onde trazia os documentos, a pasta de dentes, e pouco mais. (teve de comprar muita coisa, porque era convidada para uma vida social intensa, mas com poucos vestidos andou sempre chiquérrima e fez furor! Os meus colegas no "Study Course" eram todos homens ...
Outro momento social alto, muitos anos antes, na Freixêda, foi a sua comunhão solene. Coube-lhe declamar  versinhos, escritos pelo meu Pai. Disse muito bem!
O Nestó também discursou, lindamente,  e a Xana ia vestida de anjinho, gordo. Ao lado, a prima Manica (Fonseca- Caetano Pereira) era o anjinho magro.
Pouco depois, a Docas trocaria os vastos horizontes da montanha, pela cidade do Porto, onde estudou, na Escola Comercial, curso que terminou em Setúbal
Morou, depois, em Lisboa, Luanda, Genebra, Paris . Viajou pelo Sul de Africa, pelas Américas, Brasil, EUA, pelo Hawai, e por muitos países da Europa. Algumas dessas excursões, na minha companhia. Genebra, em 1968, depois de, em 63, termos excursionado, durante um mês ou dois na região de Reno, em casa da minha "pen-pal" Gesinne Fast. Em 1967-68 viveu em Londres, como "au pair".
O primeiro emprego, em Lisboa, foi na Caixa de Seguros de Doenças Profissionais, onde era muito estimada. Tanto,  que a deixaram ir, na situação de destacada (isto é, continuando a ser paga pela "Caixa"), para o meu gabinete do Palácio das Necessidades, onde organizou exposições, pelo mundo fora, partilhando responsabilidades com a Margarida de Castro Serra e Moura e o Jorge de Sousa, desenhou uma original medalha de bronze, colaborou em publicações de diapositivos, em parceria com o Fernando Calado Correia  e mostrou talentos insuspeitados nos mais diversos domínios. Fez amigos no coração da nossa diplomacia. Creio que a pausa na rotina valeu a pena.
Daí, acabou, juntamente com Sarolta, por ser colocada no Consulado de Genebra, onde ficou pouco tempo. As saudades do Fernando trouxeram-na de volta a Lisboa e à Caixa de Previdência.
A Suiça não é a África... a Docas gostou muito mais de Angola, de Luanda, de outras minas em lugar remoto, onde o Tio Eduardo vivia e ela o visitava, Em Luanda, conheceu o "homem da sua vida": o Fernando Calado Correia, cirurgião, professor universitário, um encanto de pessoa, e um talentoso fotógrafo, homem de bom gosto,..
Quando a Docas aparecia com novo fato e bonito, eu dizia: "Foi o Fernando que escolheu!" Acertava, sempre...
Durante uns anos, morou comigo e com a Maria (e a Endora), na andar da Av. do Uruguai, onde ainda hoje o quarto onde ficava é "o quarto da Docas". Até que decidiu ir viver com o Fernando - união de facto, sem oficializar o casamento, embora sejam solteiros. Uma pioneira!
O Fernando, é, tal como eu, um grande entusiasta e apoiante moral da nova vocação artística da Docas. Compra-lhe paletas, telas e tintas, e dá valiosas opiniões sobre as obras em feitura, algumas inspiradas em fotografias suas. E arremata, antes de chegarem às exposições,  os mais conseguidos quadros da pintora ...
Digam-me: a Docas teve e tem, ou não, uma "bela vida"?





































Publicada por em 11:10   

46 comentários:

Maria Manuela Aguiar disse...
Uma das primeiras histórias da Docas, passadas na casa da Avó Maria, tem como outra protagonista uma prima da mesma idade, mas de temperamento vulcânico, a Inês Maria.
Estava a Docas na companhia dos meus Pais, "posta em sossego", como diria o Poeta de uma outra Inês, quando é anunciada a chegada desta outra homónima, sempre em desassossego.
Reacção da Docas, alarmada: "Ai, meu Deus, que ela mata-me!" Ipsis verbis! Tinha três anos. Os Tios registaram o dito, ficou para sempre.
sábado, 28 março, 2009 
Maria Manuela Aguiar disse...
Aos 6 ou 7 anos, outro acontecimento dramático, na Vila Maria: Durante a representação de uma peça de teatro, provavelmente escrita pela dramaturga Manuela Aguiar, com ampla assistência familiar, alguém se esquece da "deixa" que a actriz Docas esperava para entrar em cena... Lá dentro, improvisa-se e ela não chega a dizer a sua parte... Oh, que desgosto! Oh, quantas lágrimas!
E não foi de propósito... foi má fortuna!
sábado, 28 março, 2009 
Maria Manuela Aguiar disse...
Dois ou três anos depois,chegou o tempo de fumarmos às escondidas. Íamos, à vez,a Lecas, ela e eu, comprar "Definitivos" a uma mercearia. E a Docas, ía muito comprometida, ao merceeiro explicações suspeitas: "Os cigarros são para os meus Tios".
Como se alguém, em S. Cosme de Gondomar, acreditasse que os Tios da menina fumassem cigarros tão ordinários... Mas recusa de venda, nunca houve. Nem denúncia à família.
sábado, 28 março, 2009 
Maria Manuela Aguiar disse...
Mais dois ou três anos, e ali, no mirante do fundo da propriedade, congeminamos e assinámos o documento conhecido como "O trio das tias". Compromisso de não casamento, não subordinação a um  homem, ainda que apenas no fantasioso mundo jurídico. E quem rompesse o pacto, pagaria às outras uma multa avultada. A primeira a quebrar o compromisso, por acaso, fui eu mesma.
De qualquer forma, na vida real, nem subordinação ou obediência de espécie alguma... Mantive em boa verdade, o "espírito" do Pacto!
sábado, 28 março, 2009 
Maria Manuela Aguiar disse...
Nas minas, de norte a sul de Portugal, as recordações extraordinárias, mas tantas, que é difícil saber por onde começar... As horas e horas de natação no rio Tua, por altura da comunhão solene da Docas e do Nestó. Cerimónia que contou com a família em peso, e com um coro de Aguiares que ensaiaram, longamente, o repertório na sala de visitas da Avó, com a tia Lina ao piano. A minha irmã era a solista, só eu fui excluída por desafinar... Deslumbraram o auditório, com vozes fabulosas, o Tio Sarafim, o Tónio, a Lecas, os meus Pais...
O órgão veio de longe. O Padre, também. Era a 1ª vez que a capela (ou igreja, não sei) se utilizava para este acto solene. Lembro-me de cortejo de meninos felicíssimos, (todos, excepto a Docas e o Nestó. com fatiotas improvisadas pelas mães, não todas muito habilidosas) e uma multidão de fiéis, vindos também, certamente,  dos arredores, porque a aldeia era pequena.
Nestó e Docas, discursaram, com pompa e serenidade, sem enganos. Seguidamente a tia Lola ofereceu um grande almoço, ao ar livre, aberto a toda a aldeia.
Madalena
segunda-feira, 04 maio, 2009 
Maria Manuela Aguiar disse...
Nessas férias, ficámos por lá, mais uma semana. Entre outras alegres brincadeiras. recordo a escalada dos palheiros, que havia nas traseiras da casa dos tios. Que sensação! E a Docas, muito magrinha, era a mais expedita. Tinha o seu ar cândido e seráfico - que ainda não perdeu, de todo... - mas muita e inesperada "genica" à mistura. Agora, a genica irrompe, mas de longe a longe, e só para certas tarefas, que empreende, como e quando quer.
segunda-feira, 04 maio, 2009 
Maria Manuela Aguiar disse...
Nas minas da Bica, na Beira Baixa, demos passeios saudáveis por montes e vales, dias inteiros - ela, o Nestó e eu. A Xana cansava-se, só ia em surtidas mais curtas.
Levávamos farnel, preparado pela Tia Lola. Uma vez, estava muito calor, e nós sentados, a comer, nas margens de um bonito regato. Havia laranjas, mas quentes, da exposição ao sol. A Docas pensou a melhor maneira de as refrescar. Descascou-as e foi colocá-las dentro de água, numa pocinha, por onde a água corria, sem as arrastar.
Quando as fomos buscar, as laranjas estavam frias, e com bom aspecto. Porém, sabia a água do regato . o sabor da laranja fora-se na corrente.
segunda-feira, 04 maio, 2009 
Maria Manuela Aguiar disse...
Já não sei em que ano da primeira meia década de 80 - talvez 1984 - a Docas e eu estivemos em São Salvador da Bahía. Era Cônsul de Portugal o Dr. Malheiro Dias. Encantador, um "cicerone" perfeito, que conjugou o meu programa, com a visita a inúmeros museus e igrejas barrocas. A mulher, Mª Helena, era uma muito simpática brasileira e, num desses museus, apresentou-nos a um Carmelita amigo, Frei Eliseu, um visionário e um santo, assim passei a vê -lo... Acabava de nos conhecer e dizia sobre nós coisas acertadíssimas, consultando um mapa astrológico, por ele elaborado, ao longo de toda a vida.
Eis o retrato que traçou da Docas :
Muito talento não utilizado. É muito preguiçosa - a maioria da tarefas não lhe interessa... Só faz o que quer. Mas é rigorosa, tipo cão de fila: quando promete, cumpre! Temperamento irascível - de cabeça perdida, sai tudo, ou, então, fica doente. Feitio buliçoso: depois de errar, não se humilha.
Temperamento quente e seco. Verdadeira. Nada esconde. Irada, é fogo. Éter químico. Muito difícil ser dominada. Quando se entusiasma é outra: rigorosa, arranca, transmite. Muita inteligência. Seria um génio, se tivesse estudado! Talento para a pintura, a escultura.
Incrível, não é? Só 25 anos depois se iniciou na pintura, com o talento que ele anteviu. E, quanto ao resto, a meu ver, 100% certo...
segunda-feira, 03 agosto, 2009 
Maria Manuela Aguiar disse...
Depois, Frei Eliseu ainda acrescentou que não devia guiar de noite, sem óculos, e que devia usar sempre a luz de lado, não de frente. Quanto à relação com o Fernando, ela carneiro, ele sagitário, mencionou que são "fogo contra fogo" - por vezes desentendem-se, pela impossibilidade de ela fazer as coisas como ele quer. Ou de compreender a sua perspectiva.Mas, fundamentalmente, tudo bem entre ambos.
segunda-feira, 03 agosto, 2009 
Maria Manuela Aguiar disse...
Docas numa consulta exótica a uma curandeira do Largo do Chiado (nada de comparável com o Frei, que era um verdadeiro visionário) por intermédio da Ana, minha secretária, que achava graça a essas coisas. Um espécie de ir "ler a sina", como antigamente, sabiam fazer, na esplanada de Espinho,  ciganas velhas, vestidas de preto, de saias até aos pés que, nos pegavam na mão e previam um futuro risonho, com maridos bonitos, muitos meninos e uma vida longa...

Tanto a Docas como eu fomos à tal "médica espírita" com a Ana, em consultas individuais. fui apanhada em falso, quando quis saber as doenças de que me queixava, pois estava à espera que ela visse as linhas da mão "deitava cartas" e não conseguia improvisar, ali, preocupações de saúde, que era óptima... Ela, de bata branca vestida, gordíssima, jovial. Vendo o meu embaraço, decidiu dar uma aula sobre reencarnação. A Docas informou-me, depois, que ela se considerava a reencarnação de um médico famoso. E, de facto,ela,  apercebendo-se de que éramos todas saudáveis, concentrou-se nas nossas reencarnações. No meu caso, via uma linha infindável de militares... de alta patente. Quanto à Docas, só vislumbrava uma reencarnação muito, muito antiga... Um velhinho, pescador, que vivia numa ilha quase deserta. Apanhava o seu peixinho para sobreviver e passava o tempo a olhar o mar, em atitude plácida e contemplativa. E, como a ilha era muito fria e húmida, sofria de reumatismo.
E, assim, diagnosticava à Docas, para além do gosto da vida simples, a tendência para dores reumáticas.
E não é que acertou? No reumatismo e no perfil psicológico da "paciente" Docas.
De mim, não sei só posso confirmar que me bem com militares de alta patente, de qualquer ramo das forças armadas. Não fiquei convertida a esta espécie de medicina alternativa, mas achei a senhora uma simpatia...
segunda-feira, 10 agosto, 2009 
Maria Manuela Aguiar disse...
Comigo, a recíproca também é verdadeira, não ficou muito impressionada com a minha personalidade, mas com a Docas, sim! Tem poderes! Até a convidou a assistir a uma sessão de espiritismo, convite que ela declinou. Hoje está arrependida de ter perdido essa experiência. O seu lado místico!... Uma vez, de férias na Bahía foi a uma sessão de candomblé... Amanhã, conta. Hoje está com preguiça. Já trabalhou muito. Levou a sinistrada Olívia á farmácia, fez o jantar...
  Desde que se reformou, para além das actividades artísticas, tem sido uma verdadeira Florence Nightingale Histórias edificantes que vão ser contadas. A primeira beneficiária fui eu. Chamava-lha a "ajudante da ceguinha". O tenebroso período do meu descolamento da retina, com três operações sucessivas na Oftalconde...  
segunda-feira, 10 agosto, 2009 
Maria Manuela Aguiar disse...
 
Maria Manuela Aguiar disse...
Veio passar férias em Espinho nos primeiros dias de reformada da CNP. Chegou numa 2ª feira , salvo erro, 12 de Setembro de 2006, exactamente o dia em que eu, perseguida, desde o início do fim-de-semana, por uma mancha fixa no olho direito, regressava do Dr. Carlos Pereira, com a notícia de que teria de ser operada de urgência! A Docas começou aí o seu tirocínio de enfermeira voluntária. Depois, juntamente com a Rosinha Gayoso - outra voluntária - passou horas sem fim na Oftalconde, durante as minhas complicadas operações, os tratamentos, as consultas. Mais tarde, quando já podia sair à rua, cheia de medo de cair, ao descer passeios, ao atravessa ruas, até a andar normalmente, em frente, acompanhava a inválida, levando-a pelo braço - até para reuniões de Câmara e Assembleia Municipal.
 A Docas, no seu melhor!  Nem há palavras para descrever tanta energia e generosidade, em momento de crise...
terça-feira, 11 agosto, 2009 
Maria Manuela Aguiar disse...
Outros beneficiários: a sobrinha Ana (Noronha), noites inteiras, no hospital, de maca para um e outro lado, que a Docas empurrava, à falta de quem o fizesse, profissionalmente.
O Tio Gustavo, na urgência, quase em coma - noite e dia, também... A Mãe dela. A minha Mãe, em horário diurno. Agora, a Olívia... A criancinha Laura, quando necessário... E mesmo, nas férias de 2008, em pleno Agosto, os cães da Zé. Foi dog-sitter, durante 10 dias, sozinha, em V N de Gaia, num belo condomínio fechado, onde eu não acerto com o caminho, tantas são as rotundas, para lá chegar! 
terça-feira, 11 agosto, 2009 
Maria Manuela Aguiar disse...
A Docas e os seus contrastes! Quando era criança e jovem, o seu absoluto desinteresse por tarefas domésticas levava o Nestó a dizer, com o seu vivo sentido de humor, que, depois da Docas casar, o marido, ao chegar a casa, teria dificuldade em a encontrar, no meio da confusão e desarrumação generalizada. A profecia não se confirmou. No seu andar, junto ao Palácio da Ajuda, com vista para o Tejo, e é uma dona de casa esmeradíssima. Tudo tem lugar certo, a arrumação é perfeita, o ambiente muito acolhedor. Da herança de família quis pouca coisa - apenas os móveis de que gostava muito: um contador indo-português (que é uma beleza, oriundo de casa da Avó Mimi Ascensão) e uma pequena cómoda romântica, da mesma proveniência. O resto é novo, prático, moderno. Aguarelas e óleos nas paredes. Portas e janelas sem cortinas. Casa de banho bem remodelada, com um quadro de azulejos, que lhe dá a maior graça. Armários encaixados nas paredes, a aproveitar o espaço. Algumas portas interiores removidas, para redimensionar a zona de convívio. Um pequeno tapete persa muito bonito - dado pelo Fernando. E, se o Fernando, por acaso, ao jantar, deixa tombar uma infíma migalha no chão, irrita-se... Òs jantares, no apartamento da Rua do Guarda-Jóias são magníficos. Quando cozinha o Fernando, é quase sempre "pasta" italiana com molhos deliciosos. A Docas opta por assados, que lhe saem muito bem. Tudo por relógio, minutos contados!...
terça-feira, 11 agosto, 2009 
Maria Manuela Aguiar disse...
Ainda do tempo de adolescência, quando o Nestó fazia os tais comentários jocosos, e a Docas era, de facto, uma menina despreocupada e muito alegre, foram os dois ao cinema ver um filme do Cantinflas.
Ela ria-se, tanto, aos saltos na cadeira, que um casal de velhinhos, ao lado, em vez de ver o filme, preferia divertir-se a ver a Docas... Ver uma comédia ao seu lado era "dois em um". E, às vezes,  até as tragédias do ecrã acabavam bem na plateia, como aconteceu a um filme, cheio de infelizes peripécias, com Elizabeth Taylor, no papel principal.
Pergunta uma à outra: "Estás a chorar?".
Resposta: "Estou, também estou a chorar".
E começaram, de imediato, as duas a rir-se, perdidamente...  
terça-feira, 11 agosto, 2009 
 
Maria Manuela Aguiar disse...
A idade traz consigo evoluções... Quando morava com a Maria, comigo e com a Endora, na Av. do Uruguai, a Docas pouco ligava à minha cadelinha, que não tinha autorização para entrar nos seus domínios. Como era muito esperta, não entrava, excepto atrás de mim e com ar de desafio, como quem diz: "atreve-te agora a pôr-me fora". Embora fale dos cães da sua infância, com saudade, eram animais que a Tia Lola não consentia dentro de casa. E a Docas devia achar que assim é que estava certo...
Até um dia em que tomou conta, já não sei porquê, da cadelinha da Ana, a Lira, uma boxer espectacular -  também muito inteligente e efusiva. Uma mãe adoptiva exemplar! E, desde então, adora cães e gatos. É muito popular entre os meus gatos mais novos, mãe Tita e filho Dragão, que frequentemente se sentam no seu colo, enquanto vê televisão. E, surpreendentemente, é, também, muito popular junto de crianças - não só a Laura, como a Madalena (filha do João Miguel).
terça-feira, 11 agosto, 2009 
Maria Manuela Aguiar disse...
Somos uma família muito amiga de animais, Quase se poderia dizer: "não faz mal a uma mosca". Rigorosamente, é uma inverdade...matámos muitas moscas na Freixeda. Até organizávamos concursos. Ganhava quem matava mais. Havia tantas, tantas, (uma praga!), pousadas nos tampos das mesas, que as apanhávamos aos magotes, num fechar de mão. Cada um de nós tinha, à frente, um recipiente com água, onde as depositávamos , para fazer a contagem... Agora, apesar de Obama ter relançado esse desporto, já não sou praticante. A única que continua, como o Obama, com mão certeira é a Xaninha.
Em Espinho, moscas há poucas, para demonstrações.
terça-feira, 11 agosto, 2009 
Maria Manuela Aguiar disse...
A serena e tranqquila Docas, de vez em quando, tem tendência para decisões impulsivas e irreversíveis - até porque, sendo "carneiro", de signo, é muito teimosa e não volta atrás.
Um exemplo: depois de anos na Caixa de Doenças Profissionais, onde todos gostavam dela - um serviço pequeno, simpático, com bom ambiente - de repente, achou que tinha trabalho de menos, rotina a mais, e concorreu a uma vaga na Caixa Nacional de Pensões, onde não conhecia ninguém e nem sequer tinha vantagens materiais. Só mais trabalho "chato", burocrático... Não fez marcha atrás... E lá ficou até ao dia da reforma, que procurou apressar o mais possível... Agora, finalmente, é uma mulher livre, com tempo livre, com "hobbies". Recomeça a vida, aos 60 e tal. com tempo livre para ler - sempre gostou e agora pode, ilimitadamente. Levanta-se por volta do meio dia, toma o pequeno almoço ao café. Pinta, sempre ao som de música, e lê, enquanto as tintas secam. Às vezes convenço-a a acompanhar-me em longos passeios à beira-mar. Outras vezes, não. Alega cansaço... Vê novelas brasileiras com a minha Mãe e programas tipo "Eixo do mal" comigo. É fã de Ângelo Correia, em debates da Sic Notícias, mas não tem partido. Vota em quem lhe apetece, caso a caso... Do PSD para a esquerda.  
quarta-feira, 12 agosto, 2009 
 
Maria Manuela Aguiar disse...
A Docas, grande desportista na juventude, está hoje mais voltada para as artes do que para desportos. Temos ido exposições temporárias em Lisboa e no Porto, ou ao cinema (o último filme, aqui em Espinho, foi um divertidíssimo Woody Allen - "Vicky Cristina Barcelona"). Levar a Docas a um estádio é coisa mais difícil. Foi isso conseguido uma só vez, em nome não do espectáculo do futebol, mas do espaço arquitectónico em que acontece: ou seja, para ver, por dentro, uma obra-prima, o mais belo dos estádios do mundo, que é o do Dragão, concebido por Manuel Salgado. Com a sua moldura humana, em tarde de jogo. Um desafio de apresentação da equipa, precedido por vários números festivos de danças do Dragão chinês, e coisas semelhantes. Como soprava um ventinho glacial, a espera até ao começo do futebol (finalmente!) pareceu longa... Estávamos em grupo, com o Guilherme e o Tózinho. Tirámos muitas fotografias, com o cachecol que a Docas teimou em comprar para oferecer ao Fernando - aquele que diz: "SLB filhos da  ---- ". Bem eu insisti num mal menor, uma frase aceitável: "o Benfica é uma m----".
Em vão. Ela é de 8 ou 80... Em todo o caso foi útil, porque a protegeu do frio. Não foi a 1ª portista da família a exibir o indesejável cachecol. Antes dela , o Alexandre convenceu o pai a comprar-lhe um igual. Era aquele, ou nada! Com uma diferença, ou mesmo duas. Em 1º lugar, foi no fim do jogo, à saída, não entrou no estádio com ele ao pescoço. E, em 2º lugar, circunstância atenuante, ainda não tinha feito 10 anos.
quarta-feira, 12 agosto, 2009 
Docas disse...
A propósito da minha visita a um terreiro de comdomblé, que a Manuela, mais acima conta, sem pormenores: foi uma experiência muito curiosa. Em Salvador da Baía há milhares de terreiros, onde se junta a fé cristã com a magia praticada pelos antigos escravos levados de Àfrica.
É ao anoitecer que começa a cerimónia. Fui acompanhada de um guia - achei que podia ser perigoso andar sozinha. O terreiro tinha duas entradas abertas (sem portas), uma em frente à outra. A um canto havia um santo cristão, creio que era São Jorge a cavalo - muito comum no Brasil. Ao fundo da assistência, sentavam-se as Mães-de-Santo (mulheres idosas). Depois um grande espaço, onde as raparigas e rapazes, vestidos de Baianos, todos de branco, dançavam, ao som dos tambores, formando um grande círculo, uns atrás dos outros. Em frente, os homens que faziam a batucada, encontravam-se num estrado mais alto. Depois de muito tempo, paravam e com o pau batiam três vezes nos tambores, para o espírito descer - mas nada... Isto foi repetido de tempos a tempos. Eu já estava a desanimar - depois de horas de espera. Até que, a certa altura, depois de tocaram, novamente, três vezes nos tambores, o espírito desceu e entrou nalguns dos baianos (não em todos)! Esses, andavam aos "pinotes" pelo terreiro e as Mães-de-Santo corriam para eles e atavam, à cintura, uma faixa branca. Este estado podia durar toda a noite...
Eu estava admirada e sem perceber metade da cerimónia. Eles transpiravam e, de vez em quando, abraçavam as Mães-de-Santo e falavam baixinho. Depois, os "pinotes" e o transe continuavam no terreiro! A meio, apareceu um preto muito grande, também vestido de branco, mas com grandes plumas na cabeça (suponho que seria o Pai-de-Santo). Entrou por uma das portas, possesso, e saiu pela outra.
Estranhíssima cerimónia, mas uma oportunidade única para mim, que tenho sempre curiosidade de ver coisas novas...
quinta-feira, 13 agosto, 2009 
Docas disse...
Outra história dos meus tempos dr tabalho na Emigração. Fui ajudar na organização do Festival da Canção Migrante em Trancoso, terra do Dr. Victor Gil. O espectáculo foi em pleno castelo. Teve uma audiência enorme, talvez por causa de um grupo brasileiro, em que as meninas dançavam muito despidas. E foi transmitido pela RTP. 
Na véspera, um grupo de homens locais construiu o palco, sob as nossas instruções. Éramos vários, vindos de Lisboa, quase todos gente nova e formada. Os trabalhadores tratavam-nos, a todos, por doutores e doutoras. Eu, com os meus escrúpulos, disse a um , que me interpelava: "Não sou formada. Por favor, não me chame doutora...". Resposta dele, imediata: "Sim, sim, Srª Doutora.
E doutora fiquei. Era inelutável...
sábado, 15 agosto, 2009 
Docas disse...
A minha Mãe tem reacções muito trágicas e excessivas aos internamentos hospitalares e cirurgias. Cá fora, conta as histórias, como se uma grande desgraça estivesse em curso. Lá dentro, dá imensas opiniões e interfere com o trabalho das enfermeiras. E o doente, que só quer paz e sossego, precisa de alguém que o anime e não de profetas da desgraça como ela. Por isso, quando fiz uma histerectomia total, não lhe disse nada. Quem sabia, a Xana e o Fernando ( que tratou de arranjar um bom operador e assistiu, ele próprio o colega) guardou segredo. Por pouca sorte, mal tínhamos os 3 chegado a casa, aparecem, de visita, a minha Mãe e o Tio Gustavo... Estava tudo cheio de flores, e ela estranhava:
"OH, Docas, porque está a sala tão florida?"
Resposta pronta do Fernando: "Nós temos sempre alguma coisa a comemorar. Por ex. se nos zangamos e, depois, fazemos as pazes". A minha Mãe acreditou... Depois observou:
"Estás muito pálida, não te sentes bem?".  Resposta minha (era meio dia): "Não é nada, Acordei agora. Quando me levanto, estou sempre assim".
Não me podia queixar, estava cheia de dores, ansiando que as visitas fossem embora...
sábado, 15 agosto, 2009 
Docas disse...
Tenho um sono muito pesado - desde sempre. Uma noite, o Fernando teve de ir ao Hospital Inglês, mas, como era só para observar, de urgência, um dos seus pacientes, não levou a chave de casa. Disse-me:
"Não demoro". Mas, entretanto, adormeci. Quando chegou, tocou, tocou à campainha e ... nada de resposta. Sentou-se na escada e, de vez em quando, voltava a tocar, furiosamente! Pensou chamar os bombeiros, mas, com o ouvido na porta, ouvia o meu ressonar. Morta não estava...
Sempre tivemos o hábito de ter, no interior da casa, as portas todas abertas, inclusive a do quarto de dormir...Nessa época, não havia telemóveis. Foi à rua e telefonou de uma cabine pública - o telefone ficava na mesinha de cabeceira... Nem isso resultou!...
Resolveu, então, ir dormir, no hospital Inglês, em cima de uma marquesa, e levantou-se muito cedo, antes da maioria das enfermeiras entrarem de serviço... Voltou, então, a ligar o telefone e, finalmente, eu acordei e atendi o telefonema.
"Que grande partida me pregaste. Já vou aí a casa".
Mas eu, ensonada, vi os ponteiros do relógio ao contrário e pensei: . "Olha esta! Disse que não demorava e, afinal, já são 2h da manhã...". Tornei a deitar-me. Quando lhe abro a porta, ele diz-me:
"Arranja-te depressa, que são quase 8 horas. Vou só fazer a barba e levo-te já ao emprego..."
sábado, 15 agosto, 2009 
Docas disse...
Aconteceu-me uma coisa parecida em casa dos Castelões - a Sara e o marido, que tinham uma farmácia em Malange. Fui lá passar um mês de férias, com eles e as 4 filhas, que dormiam no mesmo quarto em beliches. Enquanto lá estive, as 2 mais novas dormiam por cima da minha cama.
Uma noite, a mais pequena caiu do beliche. O estrondo foi enorme. Ela chorou. Deram-lhe água. Verificaram que não tinha nada partido. Eu continuei sempre a dormir, não dei por nada. Só soube da ocorrência no dia seguinte... E eles comentavam:
"A casa podia cair-te em cima. que tu não acordavas!".
sábado, 15 agosto, 2009 
Docas disse...
Isto foi muito útil, em Luanda, durante os tiroteios nocturnos, depois do 25 de Abril. Eu dormia, como se nada fosse. Para mim, dormir è sagrado! Às vezes, o meu Pai, muito alarmado, ía ao meu quarto, a procura de companhia para enfrentar o susto. Sem resultado.
"Docas, ouviste este grande estrondo de bomba?" (a casa até estremecia!...) E eu, muito irritada, dizia:
"Oh Pai, deixe-me dormir descansada. Estava a dormir tão bem!" Voltava-me para o lado e pegava no sono, de imediato.
sábado, 15 agosto, 2009 
Glória Doroteia disse...
Quando a Docas era pequena, eu dizia-lhe: Tu és como os burros. Quando te chateias, dás uns coices e deitas a albarda ao ar". Em pequena, isso acontecia poucas vezes. A minha imagem dela é de uma menina dócil e permanentemente bem disposta. Mas, quando lhe dá para perder a paciência...
Com a idade, a paciência está um bocadinho mais desgastada, lança mais vezes a albarda ao ar!
E como é muito teimosa, às vezes, as coisas complicam-se. Neste momento, recusa contar histórias engraçadas das suas férias com o Fernando por Itália, Suíça, Inglaterra, etc. Bem que eu insisti, como dizem os brasileiros. Já vai embora amanhã e tão cedo não "bloga".
Outras histórias que ficam por contar são as do gato inglês. A menos que ainda mude de ideias. Para já, condescendeu, apenas, em falar da LIRA...
terça-feira, 18 agosto, 2009 
Docas disse...
A Ana tinha uma cadela de raça "boxer", a Lira. Ia com ela para todo o lado - ensaios no teatro Universitário de Braga e mais tarde, no Porto, para o Conservatório de Música e de Artes. Viajava sempre de comboio, com a Ana, quando se deslocava para longe de casa: Lisboa ou Moura, no Alentejo. Era uma cadela universalmente estimada - tinha muita vivacidade e adorava pessoas! Mas, com outros cães era um perigo, gostava de lutas! Numas férias da Páscoa, a Ana pediu-me para ficar com ela em minha casa, na Ajuda, em Lisboa. A adaptação foi difícil - faltava-lhe a dona. Notava que se sentia perdida e insegura, em ambiente estranho. Mas, depois, afeiçoei-me tanto à Lira, que decidi tomar conta dela. Eu trabalhava todo o dia e para ela não ficar sozinha, arranjei-lhe um "ama", a quem pagava € 100,00 por mês. Durante o dia, ficava em casa dela (mesmo ao lado da minha), com os pais e uma filha de 3 anos, e levava-a a passear duas vezes por dia. O Fernando aparecia quase todas as noites e jantávamos juntos. Ela fazia-lhe uma grande manifestação, aos saltos, tanto à chegada como à saída. Mas, quando havia uma discussão entre mim e o Fernando e eu, ofendida, não o acompanhava à porta,  ela ficava sentada ao meu lado (parecia um cão de porcelana) - nem se mexia para se despedir dele à porta, como era costume, aos saltos. De longe, ficava a olhar para ele, com um ar de desafio!
terça-feira, 18 agosto, 2009 
Maria Manuela Aguiar disse...
Para quando a próxima expo da Docas? "Passagens de luz" está pronta a ser exibida - e, se demora muito mais, ela acaba por não ter quadros para venda, pois vamos reservando para nós os que mais gostamos. O Fernando, então, é um verdadeiro açambarcador de "arte- Docas"...
Ao contrário do que aconteceu com as colecções anteriores, esta do desporto é controversa... Mas eu sou fã! Em breve, mostro as fotos, para darem opinião.
terça-feira, 18 agosto, 2009 
Docas disse...
Esta tarde, estivemos a falar da nossa infância, dos tempos da escola. O melhor, para mim, foi o da Freixeda. A 1ª profª chamava-se Zélia e era um terror, batia nas crianças com palmatória. Apesar de ser boa aluna, não gostava nada dela. A certa altura, resolveu casar e foi-se embora. Veio, então, outra, boazinha. Tinha uma sobrinha e afilhada, que vivia com ela e que era muito mal comportada. Não lhe tinha respeito nenhum... era divertida. Quando estávamos a estudar o período da Dona Teresa e Dona Urraca, pôs-se a gritar: "Dona Urraca dava peidos como uma vaca!
Era deste género. Estão a ver...
Eu brincava com ela, às vezes, em casa da Professora, que me achava uma menina admirável, cheia de virtudes, muito aplicada... Um dia, a ralhar com a afilhada, que não tinha ainda feito os deveres, deu-me como exemplo: Faz como a Eduarda! Tenho a certeza de que ela já tratou dos "deveres". Não é verdade, Eduarda? Não era, eu e não sabia mentir. Fiquei vermelha, como um tomate, e respondi: "não, não fiz ainda os deveres". Mas continuei popular, para tia e sobrinha
quinta-feira, 20 agosto, 2009 
Anónimo disse...
A ida para a Mina da Bica, a meio da 4ª classe, foi traumática. Não porque a profª embirrasse comigo. Não! Até era simpática. Mas entrei em regressão. Gaguejava, não aprendi nada. Passei o exame da 4ª classe, graças à bagagem que trazia da Freixeda. Em história, valeu-me ter saído pergunta sobre a pré-história. Depois, fui para o Porto, para a Escola Comercial e dei-me bem. Fui sempre boa aluna, ainda que não excepcional.
quinta-feira, 20 agosto, 2009 
l.
Docas disse...
Coisa curiosa: nunca fui grande aluna a matemática, mas nos últimos anos, com uma boa profª, tornei-me a melhor aluna, na disciplina. Percebi a matéria desse ano e toda a que estava para trás. Fez-se luz no meu espírito!
quinta-feira, 20 agosto, 2009 
Maria Manuela Aguiar disse...
Não te admires - é mesmo assim. De repente "apanhamos o fio da meada", com uma professora mais competente do que a anterior. Eu, em matemática, flutuei com as professoras. Foram mais as más. Por isso só fui boa aluna em fases excepcionais, mas fui...
quinta-feira, 20 agosto, 2009 
Maria Manuela Aguiar disse...
O que te aconteceu na Bica, na escola da Sortelha, durante um semestre, aconteceu-me, a mim, num trimestre da 2ª classe em Espinho, num ano em que os meus pais decidiram prolongar a época de praia até ao Natal. Detestava a professora, a quem chamava "o cavalo espanhol". Sei lá porquê. Eu até gosto de cavalos! Essa megera usava palmatória e comigo o método não funciona. Fui de mal a pior. Tornei-me uma insubordinada. Nos dias em que chegava, no comboio de Lisboa, a edição do "Mosquito" eu faltava às primeiras aulas. Duas vezes por semana! Lia "O mosquito", e, depois, lá ía, afrontando a palmatória, com ar de desafio. Graças a Deus, em Janeiro fui para a Escola do Magarão, em Avintes, e voltei ao normal, com uma profª que me estimulava e gabava imenso. E, a partir da 3º classe, durante 7 anos, o meu destino foi o internato das Doroteias, o Colégio do Sardão, onde o ensino era de qualidade.
quinta-feira, 20 agosto, 2009 
Docas disse...
Hoje estivemos aqui na conversa sobre outros tempos - sobre as ligações dos ramos de família de Gondomar. O meu Avô Ernesto Fonseca, depois de se formar em Direito em Coimbra, foi estagiar para o cartório notarial do bisavô Joaquim Mendes Barbosa, o pai da Avó Maria.  E sucedeu-lhe no cartório de Gondomar. O último cartório que chefiou foi a da Rua Sá da Bandeira, no Porto, por cima da "Brasileira". Lá me encontrei muitas vezes com ele. Vinha do Instituto Comercial e com ele, viajava de comboio, da estação de São Bento para a de Rio Tinto.
domingo, 29 agosto, 2010 
Docas disse...
Do lado Fonseca, o meu bisavô tinha uma frota de barco rabelos. Quando fizeram a barragem do Douro, lá para cima, a casa dele, uma grande casa em forma de U, ficou soterrada. Deram-lhe um indemnização em dinheiro, e ele, como o negócio ficou prejudicado, aceitou um lugar de chefe da estação de comboio de Rio Tinto.
Era um bonito homem - muito parecido com o Nestó, a avaliar pelo retrato que dele ficou. Esse bisavô morreu de uma forma súbita e trágica, quando um comboio explodiu na estação.  
domingo, 29 agosto, 2010 
 
Docas disse...
Voltando muitos anos atrás: sei que ele casou duas vezes. Do primeiro casamento teve muitos filhos. Do segundo, apenas três, o mais velho dos quais, o meu Avô Ernesto. Os outros eram bastante mais novos, ainda pequenos, quando aconteceu o acidente fatal. O meu Avô prescindiu da sua parte na herança a favor da viúva, sua mãe, e dos irmãos menores. Já estava formado pela Universidade de Coimbra e a trabalhar e achou que essa era a atitude correcta. Mas parece-me que não manteve grande contacto com a família. Lembro-me de o ver cruzar-se com os dois irmãos na rua, de os saudar de passagem, sem parar para conversa...
segunda-feira, 30 agosto, 2010 
Docas disse...
O bisavô Ascensão, pai da Avó Mimi era médico ortopedista e amigo do do bisavô Mendes Barboza, pai da Avó Maria. Morava em Rio Tinto, na enorme casa antiga, onde passei uma parte da infância.
Eram ricos, há várias gerações. Só os santos dos altares da capela, alguns do século XVI, valeriam hoje uma fortuna... A casa da Torre foi herdada pelo meu Pai. Depois do 25 de Abril, como havia o perigo de "invasões" populares, resolveu vendê-la, com  a quinta, a uma ordem religiosa, para lá instalarem um colégio. Com a condição de manter umas divisões para sua residência, vitaliciamente. Foi aí que morreu, de ataque cardíaco fulminante, num post-operatório.
  A Tia Lena conhecia a casa do bisavô Fonseca. Falava de a ter visto antes e depois de submersa.
Era tão grande que, lá no fundo, continuava bem visível..  
segunda-feira, 30 agosto, 2010 
 
Docas disse...
É claro que foi o facto de ter mudado de vida e de terra, deixando o Alto Douro para se fixar em Rio Tinto, depois da construção da barragem, que permitiu, depois, o convívio dos jovens Mimi Ascensão e Ernesto Fonseca! O Avô um homem muito alto e bonito, embora pouco expansivo, a Avó pequenina, muito viva, e muito comunicativa. Sempre a dizer graças. Usava muito provérbios e ditos populares. Não era uma simples senhora à moda antiga, antes também uma hábil administradora dos seus bens...
segunda-feira, 30 agosto, 2010 

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