quarta-feira, 30 de março de 2022

MARIA ARCHER colóquios 2022 CV's

A 23 de janeiro de 2022 completaram-se quarenta anos sobre a morte de Maria Archer. Uma data comemorada, no Porto, pelo Círculo de Culturas Lusófonas Maria Archer, com uma programação de atividades focada nas múltiplas facetas da sua vastíssima obra e na sua vida, repartida no espaço da lusofonia, num constante cirandar entre realidades culturais de que se tornaria intérprete e mensageira privilegiada. EXPOSIÇÃO DE HOMENAGEM A MARIA ARCHER/CICLO DE COLÓQUIOS "MARIA ARCHER, EU E ELAS - MULHERES QUE MUDARAM O MUNDO DOS HOMENS Galeria da Biodiversidade - Ciência Viva, UP de 22 de janeiro a 31 de março de 2022 22 de janeiro Sessão de abertura da comemorações Saudação da Drª Maria Manuela Aguiar e uma conferência da Profª DEOLINDA ADÃO (Universidade da Califórnia, Berkeley) sobre “Sussurros de vozes no silêncio – o caso de Maria Archer”. Debate moderado pela Drª Nassalete Miranda Inauguração de uma Exposição de pintura comissariada por Ester de Sousa e Sá, em que 11 artistas plásticos (Aquilino Ribeiro, Balbina Mendes, Claudia Costa, Constância Néry, Do Carmo Vieira, Elizabeth Leite, Ester de Sousa e Sá, Gabriela Carrascalão, Mafalda Rocha, Maria André, Norberto de Abreu e Sílvia Vale) foram convidados a falar da sua relação com Maria Archer, tal como a expressam nas telas. 2 de fevereiro 1º Colóquio Profª GRAÇA GUEDES, primeira mulher doutorada em Ciências do Desporto e professora catedrática neste domínio, apresentada pela Profª Mafalda Roriz, uma das suas antigas doutorandas. 16 de fevereiro 2º Colóquio Drª Nassalete Miranda sobre AGUSTINA BESSA LUÍS. A grande escritora na sua veste de primeira mulher em Portugal a dirigir um grande jornal diário (O Primeiro de Janeiro) 22 DE fevereiro COLÓQUIO INTERNACIONAL "MARIA ARCHER E OUTRAS MULHERES DE REFERÊNCIA E DE (IR)REVERÊNCIA Organizada pelo Instituto de Literartura Comparada Margarida Losa (FLUP) e do Círculo de Culturas Lusófonas Maria Archer Participação exclusivamente online O Colóquio reuniu investigadores portugueses e estrangeiros dedicados ao estudo da obra de mulheres portuguesas que se destacaram no panorama das Letras e Artes e nos movimentos proto feministas e feministas, de finais do século XVIII aos nossos dias. Com o título, "Maria Archer e outras Mulheres de Referência e (Ir) reverência", se pretendeu sublinhar o que, para além da diversidade de épocas, lugares e contextos sócio-culturais, todas têm em comum o talento, a lucidez, o inconformismo. Programa - Conferencistas MESA 1 | 10h30 -12h30 Moderação: Rosa Simas • MARIA LUISA MALATO (FLUP - ILC), “Catarina de Lencastre e o tema da guerra no limiar do século XIX” Maria Luísa Malato é Professora Associada, com Agregação, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Com vários estudos sobre Utopia, Teatro e Retórica, a sua investigação debruça-se essencialmente sobre a literatura dos séculos XVIII e XIX. Tem Mestrado (1988, pela Universidade de Coimbra) Doutoramento e Agregação (1999 e 2007, pela Universidade do Porto) em Literatura Comparada e Estudos Românicos. Numa perspetiva comparatística, os seus trabalhos visam comprovar a necessidade de uma prática que alargue o corpus de análise às relações que a Literatura estabelece com a Filosofia, os textos impressos com os textos manuscritos, os autores canónicos com os "menores". Membro ativo do Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa e colaboradora do Instituto de Filosofia (UP) e Centro de Estudos de Teatro (UL), unidades financiadas pela FCT. Vice-Presidente da Associação Portuguesa de Literatura Comparada (2013- 2018). Co-editora da Revista online de Filosofia e Literatura Pontes de Vista. • CLAÚDIA PAZOS-ALONSO (Univ. Oxford - ILC), “Onde se lê ‘feminismo pioneiro’... leia-se Francisca Wood” Cláudia Pazos-Alonso é professora de Estudos Portugueses e de Gênero, na Universidade de Oxford e na Fellow of Wadham College. Os seus interesses de pesquisa variam amplamente em literatura lusófona dos séculos XIX e XX. Atualmente é co-diretora de mestrado em Estudos da Mulher em Oxford e vice-presidente da Associação Internacional de Lusitanos. As principais publicações de livros incluem “Antigone Daughters? Gênero, Genealogia e Política de Autoria na Escrita de Mulheres Portuguesas do século XX” (2011, com Hilary Owen), “Imagens do Eu na Poesia de Florbela Espanca” (1997) e volumes co-editados, como “Reading Literature in Portuguese“, “Um Companheiro para a Literatura Portuguesa” (2009) e “Mais Perto do Coração Selvagem. Ensaios sobre Clarice Lispector” (2002). Juntamente com Fábio Mário da Silva, é responsável pelas recentes edições de Florbela Espanca (Estampa) e Judith Teixeira (Dom Quixote). Cláudia Pazos-Alonso acaba de publicar em Portugal o livro Anticlericalismo e feminismo na imprensa oitocentista. Os artigos de fundo de Francisca de Assis Martins Wood (2021, Edições Afrontamento). • M. LUÍSA TABORDA (FLUP - ILC), “Ana Plácido e uma cela só para si” Maria Luísa Taborda Santiago, licenciada em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mestre e doutoranda em Estudos Literários Culturais e Interartísticos pela Universidade do Porto. Atualmente é colaboradora de um projeto de pesquisa Luso-Brasileiro que pretende publicar as obras completas da escritora portuguesa oitocentista Ana Plácido, objeto de estudo da sua tese de doutoramento. Trabalha com literatura brasileira e portuguesa e interessa-se particularmente pela escrita de autoria feminina, questões de género e poéticas e políticas do corpo. • ANA COSTA LOPES (Univ. Católica-CEPCEP), “Elisa Curado: uma progressista em tempos de cólera” Ana Costa-Lopes, Doutorada em Língua e Cultura Portuguesa pela Universidade Católica Portuguesa com Imagens da Mulher na Imprensa Feminina de Oitocentos, Tese publicada pela Quimera, Lisboa (2005) e Mestre em Estudos Luso-Asiáticos com a Tese Confluências e divergências culturais nas tradições contísticas portuguesa e chinesa, publicada pelas Universidades de Macau (2000) e Católica de Lisboa (2000). Investigadora do CECC e CEPCEP (Universidade Católica). Colaboradora do CLEPUL, Universidade de Lisboa com uma biografia sobre Elisa Curado (1858-1933) e, também, como Conselheira Científica (Portugal) da publicação das «Senhoras do Almanaque» do Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro. Autora de livros e artigos e de comunicações em congressos sobre a imprensa periódica feminina e história das mulheres; literatura tradicional; associações femininas. MESA 2 | 14h30 - 16h00 Moderação: Maria de Lurdes Sampaio ~• ANA PAULA FERREIRA (Univ. Minnesota) - “Discurso imperialista e posicionamento anti-colonial: Maria Archer (1935-1963)” Ana Paula Ferreira é Professora Titular de Estudos Portugueses na Universidade de Minnesota. Fez o doutoramento na New York University, sendo colega de Margarida Losa. A sua investigação tem-se centrado na ficção portuguesa contemporânea, com ênfase no neorealismo, em mulheres escritoras e feminismos, raça e colonialismo tardio, bem como seus efeitos e restos pós-coloniais. Entre as suas publicações em livro, A urgência de contar: contos de mulheres, anos 40 (2002), trouxe `a luz muitas das escritoras esquecidas do período do Estado Novo, entre elas Maria Archer. Desde meados da década de 1990 tem publicado estudos parciais dos romances de Lídia Jorge, editando o volume, Para um leitor ignorado: Ensaios sobre o O Vale da Paixão e outras ficções de Lídia Jorge (2009). Editou ainda, com Margarida Calafate Ribeiro, Fantasmas e fantasias imperiais no imaginário português contemporâneo (2003); e com Ana Luísa Amaral e Marilena Freitas, New Portuguese Letters to the World: International Reception (2015). O seu último livro, Women Writing Portuguese Colonialism in Africa (2020), traça a história da agência que várias mulheres escritoras tiveram para a produção simbólica e não só do colonialismo português na África, desde finais do século XIX `a segunda década do século XXI. • ANA PAULA COUTINHO (FLUP - ILC), “Maria Archer: deslocação e (in) conveniência” Ana Paula Coutinho é Professora Associada com Agregação do Departamento de Estudos Portugueses e Românicos da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde tem lecionado sobretudo nas áreas da Literatura Comparada e dos Estudos Franceses. Doutorada em Literatura Comparada (1998) e com Agregação em Literaturas e Culturas Românicas (2010), sempre se dedicou à literatura contemporânea numa perspectiva comparatista, tendo nos últimos anos desenvolvido particular investigação no domínio das interculturalidades e das representações literárias e artísticas das migrações e do exílio. Foi Coordenadora Científica do Instituto de Literatura Comparada de Abril de 2015 até Janeiro de 2022. Coordena igualmente a base digital Ulyssei@s. Membro colaborador do CRIMIC (Université Paris IV), colabora ainda com o Programa Non-Lieux de l’Exil (Collège d’Études Mondiales – FMSH). É vice-presidente da Alliance Française do Porto. Dos livros publicados ou editados, destacam-se António Ramos Rosa. Mediação Crítica e Criação Poética (Quasi Edições, 2003. Prémio Ensaio Pen-Club); Lentes Bifocais – Representações literárias da Diáspora Portuguesa (Afrontamento, 2009), Passages et Naufrages migrants. Les fictions du détroit (com Maria de Fátima Outeirinho e José Domingues de Almeida), Paris, Harmattan, 2012; Nos & leurs Afriques. Images identitaires et regards croisés Constructions littéraires fictionnelles des identités africaines cinquante ans après les décolonisations (com Maria de Fátima Outeirinho e José Domingues de Almeida) Frankfurt, Berlin, Peter Lang, 2013. ELISABETH BATTISTA (UNAMAT) Da dominação à resistência: percurso de Maria Archer Elisabeth Battista é docente no Programa de Pós-graduação, Mestrado e Doutorado em Estudos Literários - PPGEL, da Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT. Autora dos livros: MARIA ARCHER - O legado de uma escritora viajante, Editora Colibri, Lisboa, 2015; Sem o direito fundamental de voltar para casa? Maria Archer? Uma jornalista portuguesa no exílio, Editora Espaço Acadêmico, Goiãnia, 2019. Cultura e Literatura de Mato Grosso (organizado em parceria com Elizete Dall-Comune Hunhoff), Editora Espaço Acadêmico, Goiânia, GO, 2020; A Experiência Literária: Ensino e Leituras (organizado em parceria com Dagoberto Rosa de Jesus), Editora Espaço Acadêmico, Goiânia? GO, 2020. Possui quatro livros orgs; 40 capítulos de livros, 19 artigos publicados em periódicos; Pós-Doutorado na Universidade de Lisboa (2011-2012), e Pós-doutorado sênior pela Universidade de Aveiro (2018), no Centro de Línguas e Culturas. Integrou a Equipe do Programa Novos Talentos, CAPES/UNEMAT, Subprojeto: LINGUAGEM E TECNOLOGIARESSIGNIFICANDO A RELAÇÃO UNIVERSIDADE/ESCOLA; Fundadora do Centro de Pesquisa em Literatura - CEPLIT/UNEMAT (2007-2010); Diretora da UNEMAT Editora (2011); Editora da Revista ATHENA - periódico de alunos de Pós-graduação (atual); Editora da Revista de Estudos Acadêmicos do Curso de Letras (2002); Membro do Conselho Universitário - CONSUNI/UNEMAT (2011-2013); Membro do Conselho Regional por dois mandatos (2013- 2016); Presidiu o Conselho da Faculdade de Educação e Linguagem (2015-2018); Coordenadora da Pesquisa em Grupo: No Centro Oeste da margem: Cem Anos de relações entre Cultura e Literatura em Mato Grosso. (2013-2016); Editora do periódico Revista Ciência e Estudos Acadêmicos de Medicina da UNEMAT (2013-2018); Coordenou o Projeto de Extensão Revista Ciência e Estudos Acadêmicos de Medicina da UNEMAT; Formação: Licenciatura Plena em Letras - Português/Inglês (UNEMAT), Mestrado (FFLCH-USP - 2002) e Doutorado (FFLCH-USP - 2007), com a Tese: Entre Literatura e Imprensa: Percursos de Maria Archer no Brasil; Pós-Doutorado na Universidade de Lisboa (2011-2012), com Organização do Acervo Literário de Maria Archer, no Centro de Estudos Comparatistas, da Faculdade de Letras, da Universidade de Lisboa. Pós-doutorado Sênior pela Universidade de Aveiro, sob a supervisão de Maria Fernanda Brasete, Portugal (2018) MESA 3 | 16h30 - 18h00 Moderação: Cláudia Pazos-Alonso • ISABEL PIRES DE LIMA (FLUP - ILC), “Mulheres na Revolução: das Três Marias a Agustina” Professora Emérita da Universidade do Porto. Doutora Honoris Causa pela Universidade de Sófia. Investigadora do Instituto de Literatutra Comparada Margarida Losa (I&D da FCT). Estudos em Literatura Portuguesa e Comparada e em Interartes. Autora de As Máscaras do Desengano - para uma leitura sociológica de ‘Os Maias’ de Eça de Queirós (1987), Trajectos -o Porto na memória naturalista (1989), Retratos de Eça de Queirós (2000), Visualidades – A Paleta de Eça de Queirós (2008) e editora de Eça e "Os Maias" cem anos depois (1990), Antero de Quental e o Destino de uma Geração (1993), Eça de Queirós / Paula Rego, O Crime do Padre Amaro (2001), Vozes e Olhares no Feminino (2001), C. Castelo Branco / Paula Rego, Maria Moisés (2005); co-editora de obras sobre Agustina Bessa-Luís, José Gomes Ferreira, Óscar Lopes,Vergílio Ferreira. Centenas de artigos em revistas como Camões, Colóquio/Letras, Dedalus, Metamorfoses, Portuguese Cultural Studies, Revista da Faculdade de Letras da UP, Semear, Trans-Humanities, Via Atlântica. Deputada à Assembleia da República (1999-2005/2008-9). Ministra da Cultura (2005-8). VicePresidente da Fundação de Serralves (desde 2016). • MÁRCIA OLIVEIRA (Univ. Minho/CEHUM), “Womanart: Mulheres, Artes, Ditadura” Márcia Oliveira é bolseira de pós-doutoramento FCT em Estudos Artísticos/História da Arte no CEHUM (SFRH/BPD/110741/2015) e pertence ao grupo de investigação em Género Artes e Estudos Pós-Coloniais. Licenciada em Jornalismo pela Universidade de Coimbra e mestre em Estética pela FCSH- Universidade Nova de Lisboa concluiu o doutoramento pela Universidade do Minho em 2013 com tese sobre arte e feminismo em Portugal no contexto pós-revolução. Foi visiting scholar no Centre for Women in the Arts, Rutgers University, NJ, USA, de Agosto a Novembro de 2016. É Investigadora Co-Responsável do Projeto WOMANART: Women, arts and dictatorship: Portugal, Brasil and Portuguese speaking African countries, financiado pela FCT PTDC/ARTOUT/28051/2017) tendo como investigadora responsável Ana Gabriela Macedo. • DEOLINDA ADÃO (Univ. Berkeley), “A audácia de escrever: uma abordagem da produção literária feminina” Deolinda Adão é Professora e Directora Executiva do Programa de Estudos Portugueses na Universidade da Califórnia, em Berkeley. É licenciada em Literatura e Línguas Hispânicas na Universidade da Califórnia em Berkeley em 2002 e doutorada em Literaturas e Culturas Luso-AfroBrasileiras pela mesma universidade em 2007, com especialização em mulheres, género e sexualidade. O tema da sua dissertação foi “A study of the construction of feminine identity in Portuguese literature”. Publica regularmente livros e artigos sobre o género feminino, com destaque para migrações femininas incluindo “As Herdeiras do Segredo: As Personagens Femininas na Ficção de Inês Pedrosa”. Em 2018, foi eleita Presidente da Luso-American Education Foundation, da qual já era membro desde 1996. Esta fundação dedica-se à promoção da Língua e Cultura Portuguesas no Estado da Califórnia. É membro do Conselho da Diáspora Portuguesa desde 2013 1.2 OS COLÓQUIOS MARIA ARCHER EU E ELAS - MULHERES QUE MUDARAM OS MUNDO DOS HOMENS (fevereiro e março de 2022) No lugar e no tempo de abertura ao público da Exposição de Homenagem a Maria Archer, entre 22 de fevereiro e 31 de março, realizou-se um ciclo de colóquios subordinado ao tema " Maria Archer, Eu e Elas - Mulheres que mudaram o mundo dos homens". Sempre à luz do exemplo de Maria Archer, foram levados a debate e reflexão os percursos de vida de algumas ilustres portuguesas que, como ela, foram precursoras, como modelos femininos de agir, inovadoramente, no espaço público: - Graça Guedes, Presidente da Associação Mulher Migrante, a primeira mulher, em Portugal, a fazer o doutoramento em Ciências do Desporto e a tornar-se professora catedrática nesse domínio; - Agustina Bessa Luís, a primeira Diretora de um grande jornal nacional, o Primeiro de Janeiro, apresentada por Nassalete Miranda, que foi, por uma década, a sua sucessora nesse cargo, e é. hoje, Diretora do Jornal "As Artes entre as Letras"; . - Amélia de Azevedo, Deputada Constituinte, e, nessa qualidade, uma das primeiras mulheres eleitas democraticamente para o nosso Parlamento, em 1975; - Maria Lamas, contemporânea de Maria Archer, primeira jornalista profissional na história da imprensa nacional, retratada por Ilda Figueiredo, Presidente da Direção do Conselho Português para a Paz - Ruth Escobar, a portuense que foi atriz, produtora, diretora e mudou a face do teatro no Brasil, e, também, a primeira mulher eleita deputada à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, lembrada por um homem do teatro, José Caldas, um crítico de cinema, Danyel Guerra e pela primeira mulher Vice.Presidente da Assembleia da República, cargo para que fui eleita em 1987; - Maria Archer, de novo, evocada pela sobrinhaneta Olga Archer, por uma amiga brasileira, Blanche de Bonneval, e por Isabel Henriques de Jesus (Universidade Nova de Lisboa, CICS.Nova). 9 de março 3º Colóquio Por altura do Dia Internacional da Mulher, uma homenagem às primeiras mulheres portuguesas eleitas para um parlamento democrático, em 1975. na pessoa da Deputada Constituinte AMÉLIA DE AZEVEDO, com a participação das Doutoras Maximina Girão e Nassalete Miranda e testemunhos da Drª Aurora Pereira, do Prof Levi Guerra, do Dr Rui Amaral, da Drª Manuela Aguiar e do Dr Amândio de Azevedo 16 de março, 4º Colóquio "MARIA ARCHER e MARIA LAMAS, duas mulheres lutadoras", comunicação da Drª Ilda Figueiredo, Presidente da Direção do Conselho Português para a Paz 16 de março, 5º Colóquio "RUTH ESCOBAR, a portuense que ajudou a mudar o Brasil". Comunicações sobre uma grande atriz, e diretora de teatro, que foi a primeira Mulher eleita Deputada à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Comunicações do Diretor teatral José Caldas, do crítico de cinema Danyel Guerra, e de Maria Manuela Aguuir, primeira Mulher eleita Vice.Presidente da Assembleia da República em Portugal 31 de março, 6º Colóquio - sessão de encerramento. Comunicações da Profª ISABEL HENRIQUES DE JESUS ("De olhos bem abertos - nótulas sobre Maria Archer, em Eu e Elas") e da Drª OLGA ARCHER ("Recordar Maria Archer") NOVO CICLO DE COLÓQUIOS ONLINE Novo ciclo de colóquios está previsto, exclusivamente online, no 2º trimestre do ano. à volta das grandes causas de Maria Archer - a criação literária e artística das mulheres como expressão de liberdade e dimensão de cidadania, a compreensão da alteridade, a aproximação dos povos da lusofonia, (no trânsito da dominação colonial num novo espaço policêntrico), o feminismo como humanismo, as fronteiras de género, a desocultação do feminino na História. Maria Archer viveu num presente de que ela já era o futuro. Foi incompreendida, perseguida pelo regime salazarista, exilada, e, como escreveu Maria Teresa Horta, "deliberadamente apagada da História". No ocaso de uma brilhante trajetória que a doença encurtou, já não encontrava ânimo para combater o esquecimento a que fora sentenciada, mas acreditava que novos tempos lhe fariam justiça. Primeiro nos meios académicos do Brasil, agora, crescentemente, também em Portugal, uma plêiade de investigadores veio dar-lhe razão, realizar a sua esperança. A comemoração desta efeméride, em Portugal, no Porto, em Lisboa e no Brasil, é uma etapa do seu percurso de retorno. Quarenta anos após a sua partida, Maria Archer está de volta, para ficar na História das Letras e do jornalismo, da literatura colonial, da democracia, pela qual lutou na primeira linha de intervenção, e do feminismo, cuja bandeira empunhou em meio século de ditadura e obscurantismo. Os portugueses vão descobrir que tão inspiradora é a obra como a impetuosa vida de Maria Archer.

terça-feira, 29 de março de 2022

Tarde de poesia galaico portuguesa 22 de março

https://www.facebook.com/groups/522783477863120/permalink/2407095002765282/?sfnsn=mo&ref=share https://www.facebook.com/groups/522783477863120/permalink/2407095002765282/?sfnsn=mo&ref=share 1ª parte https://youtu.be/la7y8Vd_8Cc

segunda-feira, 28 de março de 2022

Mulheres que irromperam no mundo dos homens - colóquios (síntese)

2 DE FEVEREIRO GRAÇA GUEDES - O Ciclo de colóquios Maria Archer Eu e Elas, que o Círculo Maria Archer organiza ao longo deste ano para comemorar a vida da grande escritora no 40º ano após a sua morete, inicia no próximo dia 2 de Fevereiro (17 horas) na Galeria da Biodiversidade, Centro de Ciência Viva da Universidade do Porto, uma programação intitulada "Mulheres que irromperam no mundo dos homens", com a intervenção de Graça Guedes, Presidente da Direção da Associação Mulher Migrante e a primeira mulher portuguesa doutorada em Ciências do Desporto e, também, a primeira Professora Catedrática desta área científica nas universidades portuguesas. A apresentação será feita pelas Prof. Doutoras JOANA CARVALHO, Pró-Reitora da Universidade do Porto e MAFALDA RORIZ, Diretora do Departamento de Desenvolvimento Social, Desporto e Juventude da Câmara Municipal da Maia. 16 DE FEVEREIRO AGUSTINA O Ciclo de colóquios Maria Archer Eu e Elas - Mulheres que irromperam no mundo dos homens, que o Círculo Maria Archer organiza ao longo deste ano para comemorar a vida desta grande escritora e cidadã do mundo da lusofonia, 40 anos após a sua morte, prossegue no próximo dia 16 de Fevereiro (das 17 às 18 horas) na Galeria da Biodiversidade, Centro Ciência Viva da Universidade do Porto (Rua do Campo Alegre, 1191 - Porto), com a intervenção de NASSALETE MIRANDA, Diretora do jornal "As Artes entre as Letras", sobre "AGUSTINA NA TERCEIRA PESSOA". Nassalete Miranda falará sobre Agustina Bessa Luís numa faceta menos lembrada da sua biografia: o exercício das funções de Diretora de um histórico jornal mais do que centenário da cidade do Porto, "O Primeiro de Janeiro", em 1986/87. Incursão de Agustina num mundo de homens, em que, alguns anos depois, entre 1989 e 2009, teria como continuadora a conferencista. 9 DE MARÇO AMÉLIA DE AZEVEDO Quinzenalmente, de 2 de fevereiro a 31 de março, o Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto acolhe, na Galeria da Biodiversidade - Centro Ciência Viva, o ciclo de colóquios Maria Archer, Eu e Elas - Mulheres que irromperam no mundo dos homens, organizado pelo Círculo Maria Archer durante o período da exposição Uma homenagem a Maria Archer no 40.º aniversário da sua morte. A terceira sessão deste ciclo, com o tema "A Deputada Constituinte AMÉLIA CAVALEIRO DE AZEVEDO, uma democrata antes e depois de Abril", terá lugar no dia 9 de março, pelas 16h00. Assinalando o Dia Internacional da Mulher, o Circulo Maria Archer, em parceria com a Associação de Antigos Alunos do Liceu Rainha Santa Isabel, traz-nos um debate de homenagem às primeiras mulheres eleitas para a Assembleia da República na pessoa da deputada Amélia Cavaleiro de Azevedo, com intervenções de Nassalete Miranda e Maximina Ribeiro e testemunhos de Amândio de Azevedo, Aurora Pereira, Levi Guerra e José Carlos De Azevedo. 16 DE MARÇO O ciclo de colóquios Maria Archer, Eu e Elas - Mulheres que irromperam no mundo dos homens, organizado pelo Círculo Maria Archer durante o período da exposição Uma homenagem a Maria Archer no 40.º aniversário da sua morte, prossegue no dia 16 de março, com um sessão dupla em que serão recordadas mais duas portuguesas que se destacaram no combate pela liberdade, em tempo de ditadura: Maria Lamas e Ruth Escobar. MARIA ARCHER E MARIA LAMAS, O PERCURSO DE DUAS MULHERES LUTADORAS Maria Archer e Maria Lamas eram ainda adolescentes quando a "Liga Republicana das Mulheres Portuguesas" foi criada, nas vésperas da Revolução de 1910, e quando o movimento feminista português atingiu o seu ponto alto, no período histórico da 1.ª República, mas estavam destinadas a continuá-lo, defendendo os mesmo ideais durante o chamado "Estado Novo", com sacrifício das suas carreiras e da sua segurança. Eram mulheres independentes, que viviam do jornalismo, da escrita, e da escrita faziam arma de combate pela Liberdade. Ambas se viram forçadas a partir para o exílio e, no país e no estrangeiros, nos deixaram o seu exemplo de coerência e coragem e, também, obras intemporais de enorme valor literário, etnográfico e político. Esta sessão contará com a intervenção da Presidente da Direção do Conselho Português para a Paz e Cooperação, ILDA FIGUEIREDO. TRIBUTO A RUTH ESCOBAR, A PORTUENSE QUE AJUDOU A MUDAR O BRASIL Nascida no Porto, Ruth Escobar (1935-2017) emigrou ainda adolescente para o Brasil, país onde se tornaria uma das grandes referências e protagonistas do teatro brasileiro, no último meio século. Foi também a primeira mulher eleita no Brasil como Deputada Estadual (de São Paulo) e a primeira representante do Brasil na ONU para o acompanhamento da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres. Seja como atriz, produtora, empresária, animadora sociocultural, cidadã civicamente empenhada, Ruth Escobar recolhe o reconhecimento dos meios artísticos, culturais e políticos do Brasil. Esta sessão, um tributo afetivo e afetuoso à vida, obra e memória atriz portuense, contará com intervenções de DANYEL GUERRA, JOSÉ CALDAS e MARIA MANUELA AGUIAR. 31 DE MARÇO MARIA ARCHER O ciclo de colóquios "Maria Archer, eu e elas - mulheres que irromperam no mundo dos homens" e a exposição de homenagem a Maria Archer, promovidos, na cidade do Porto, pelo Círculo de Culturas Lusófonas Maria Archer, no 40º ano da sua morte, terminou no dia 31 de março. O colóquio final centrou-se no percurso de vida e na obra Escritora, com a apresentação das comunicações "De olhos bem abertos - Nótulas sobre Maria Archer, em Eu e Elas" de Isabel Henriques de Jesus (CICS.Nova), e "Recordar Maria Archer" de Olga Archer, (sua sobrinha neta). Moderadora: Maria Manuela Aguiar. Seguiu-se convívio com os artistas participantes na Exposição, nesse último dia da sua abertura ao público, no belíssimo espaço, antiga casa de infância de Sophia de Mello Breyner, que Reitoria da Universidade do Porto pôs à nossa disposição do Círculo Maria Archer.

Nota sobre a homenagem a MARIA ARCHER - J AS ARTES ENTRE AS LETRAS

No próximo dia 23 de janeiro completam-se quarenta anos sobre a morte de Maria Archer. É uma data que será comemorada, no Porto, pelo Círculo de Culturas Lusófonas Maria Archer, ao longo do ano, com uma programação de atividades focada nas múltiplas facetas da sua vastíssima obra, e na sua vida, repartida no espaço da lusofonia, num constante cirandar entre realidades culturais de que se tornaria intérprete e mensageira privilegiada. A sessão de abertura terá lugar no sábado, dia 22, na Galeria da Biodiversidade – Centro de Ciência Viva, às 16.00, com uma conferência de Deolinda Adão (Universidade da Califórnia, Berkeley) sobre “Sussurros de vozes no silêncio – o caso de Maria Archer”, seguida da inauguração de uma exposição de pintura comissariada por Ester de Sousa e Sá, em que os artistas são convidados a falar da sua relação com Maria Archer, tal como a expressam nas sua telas A 22 de fevereiro, o Instituto de Línguas Comparadas Margarida Losa e o Círculo de Culturas Lusófonas Maria Archer, (com uma Comissão Organizadora de que fazem parte Marinela de Freitas, Lurdes Gonçalves, Nassalete Miranda e eu própria), convocam uma audiência internacional de interessados para um colóquio "on line" de homenagem a Maria Archer, que reúne investigadores portugueses e estrangeiros dedicados ao estudo da obra de mulheres portuguesas que se destacaram no panorama das Letras e Artes e nos movimentos proto feministas e feministas, de finais do século XVIII aos nossos dias. Com o título, "Maria Archer e outras Mulheres de Referência e (Ir) reverência", se pretende sublinhar o que, para além da diversidade de épocas, lugares e contextos sócio-culturais, todas têm em comum. Durante o primeiro trimestre deste ano, no lugar e no período de abertura ao público da Exposição de Homenagem a Maria Archer, que vai até 31 de março, está previsto um ciclo de colóquios presenciais, com regularidade quinzenal, subordinado ao tema " Mulheres que mudaram o mundo dos homens". Na incerteza que a crise pandémica traz ao nosso quotidiano, não está ainda fechada a planificação do ano, que, assim, continua aberta a novas propostas e sugestões à volta das grandes causas de Maria Archer: a criação literária e artística das mulheres como expressão de liberdade e dimensão de cidadania ,a compreensão da alteridade, a aproximação dos povos da lusofonia, no trânsito da dominação colonial num novo espaço policêntrico, o feminismo como humanismo, as fronteiras do feminino e a desocultação do seu lugar na História. Maria Archer viveu num presente de que ela já era o futuro, foi incompreendida, perseguida pelo regime, exilada, e, mais ainda, como escreveu Maria Teresa Horta "deliberadamente apagada da História". No ocaso de uma brilhante trajetória que a doença encurtou, já não encontrava ânimo para combater o esquecimento a que fora sentenciada, mas acreditava que novos tempos lhe fariam justiça. Primeiro nos meios académicos do Brasil, agora também já em Portugal, uma plêiade de investigadores veio dar-lhe razão, cumprir a sua esperança. A comemoração desta efeméride, no Porto, em Lisboa, em São Paulo, e um pouco por todo o lado, é uma etapa do seu percurso de retorno. Quarenta anos após a sua partida, Maria Archer está de volta, para ficar na História das Letras e do jornalismo, da literatura colonial, da democracia, pela qual luta na primeira linha de intervenção, e do feminismo, cujo bandeira, com raras mulheres, empunhou em meio século de ditadura e obscurantismo. Os portugueses vão descobrir que tão fascinante é a obra como a vida de Maria Archer

quinta-feira, 24 de março de 2022

Andamos na saudade de Maria Archer - nos 30 anos da sua morte (2012)

Lisboa, Teatro da Trindade, 29 de março de 2012 ANDAMOS NA SAUDADE DE MARIA ARCHER Poderão perguntar porque se envolveu a Associação de estudos MM na evocação de Maria Archer, em sucessivas iniciativas - no Encontro Mundial da Mulheres Portuguesas da Diáspora, em Novembro de 2011, na comemoração do Dia Internacional daMulher, 2012, na cidade de Espinho e, agora, em Lisboa, nesta sessão que nos reúne no Teatro Nacional da Trindade. Responderemos que razões não nos faltam para justificar o empenhamento cívico com que o fazemos. Uma primeira razão tem evidentemente a ver com o facto de Maria Archer ter sido uma portuguesa expatriada. Uma grande Portuguesa da Diáspora, que, desde a sua juventude, passou largos anos em cinco países da lusofonia, e em 3 continentes, olhando sempre em volta, com uma inteira compreensão das pessoas, dos ambientes, dos meios sociais, que soube traduzir em dezenas de escritos de incomensurável valor literário e, também, de muito interesse etnológico, sociológico e político....Seria motivo bastante para nos lançarmos na aventura de partir à procura desse legado multifacetado e vasto, que guarda experiências e segredos de tanta gente e de tantas terras. Mas há mais. Maria Archer é uma daquelas figuras do passado, que é intemporal, por ter sabido captar as constantes da natureza humana, por se constituir na memória crítica de um tempo português, que foi opressivo e cinzento, pautado por estreitos conceitos e por regras de jogo social e político, que ela inteligentemente desvenda e que põe em causa, sem contemplação Ninguém como ela retrata a vida quotidiana desse Portugal estagnado e anacrónico, avesso a qualquer forma de progresso e de modernidade, em que os mais fracos, os mais pobres não têm um horizonte de esperança, e as mulheres, em particular, são dominadas pela força das leis, pelo cerco das mentalidades, pela censura dos costumes, depois de terem sido deformadas pela educação. Tendo por pano de fundo os estereótipos impostos para o relacionamento de sexos, a entronização rígida dos papéis de género dentro da família e as consequentes desigualdades, distâncias e preconceitos sociais, num doloroso e longo impasse da nossa história colectiva. Maria Archer retrata suas contemporâneas, tal como elas foram, com realismo, que traduz a busca e a evidência da verdade - doa a quem doer e para que se saiba e as gerações futuras não esqueçam. Maria Archer, talvez a mais feminista escritoras portuguesas, é uma "feminista muito feminina", que ousou ser um ícone de beleza e de distinção, fazer uma carreira no jornalismo e nas Letras, e, em simultâneo, e lutar pela dignidade e pela afirmação das capacidades intelectuais e profissionais então negadas à mulher Ousou fazer um nome no mundo fundamentalmente misógino da cultura portuguesa. Ousou ser Maria Archer, sem pseudônimos..Por tudo isto, julgo que podemos dizer que ela é mais do nosso tempo do que do seu tempo - uma afirmação que podemos generalizar às mais notáveis feministas do princípio do século XX. Maria era, então, demasiado jovem para poder participar nos movimentos revolucionários em que estiveram a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas e o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, mas iria ser uma das poucas que, no período de declínio desses movimentos e de desaparecimento de uma geração incomparável, continuou, a seu modo, solitariamente, um combate incessante contra o obscurantismo,que condenava a metade feminina de Portugal á subserviência, à incultura e ao enclausuramento doméstico. Foi uma inconformista, consciente das desigualdades e da injustiça em geral, e, em particular, das que condicionavam o sexo feminino, na sociedade portuguesa. A sua escrita, servida pelo talento, pela capacidade de observação e pela coragem foi uma arma de combate político - como dizia Artur Portela "a sua pena parece por vezes uma metralhadora de fogo rasante". Uma saga em que vida e arte se fundem - norteadas por um declarado propósito de valorização do feminino, da libertação da Mulher, e, com ela, da sociedade como um todo. Ela é já uma pessoa livre num país ainda sem liberdade, o que lhe custou o preço de um longo e doloroso exílio ... Maria Archer é uma grande escritora (ou "um grande escritor", como João Gaspar Simões preferia dizer, alargando o campo de comparação possível). Uma escritora de causas! Ninguém como ela conseguiu corroer a imagem da "fada do lar", meticulosamente construída sobre a ideia falsa da harmonia de desiguais (em que, noutro plano, se baseava a ideologia corporativa do regime), da não menos falsa brandura do autoritarismo no pequeno círculo da família ou no país inteiro. É uma retratista magistral da mulher e da sua circunstância... O regime respondeu em força. Primeiro, tentou desqualificá-la. Sintomática é a opinião de um homem do regime, Franco Nogueira, que, em contra-corrente, num texto com laivos misóginos, a apresenta como apenas uma mulher a falar de coisas ligeiras e desinteressantes, como o destino das mulheres. Não tendo conseguido, no campo da crítica literária os seus intentos, o Poder passou à acção direta: alguns dos seus livros foram apreendidos, os jornais onde trabalhava ameaçados de encerramento. Maria Archer viu-se forçada a partir para o Brasil - uma última e infindável aventura de expatriação, de onde só viria, envelhecida e fragilizada, para morrer em Lisboa. Contudo, o desterro não era pena bastante... Teresa Horta, no prefácio da reedição de "Ela era apenas mulher" afirma que Maria Archer foi deliberadamente apagada da História. O ser emigrante é já, entre nós, factor comum de esquecimento, como que natural, na memória da Pátria, mas o seu caso foi mais grave, deliberado, doloso, implacável... Dá-nos razão e força suplementar para intervirmos, ainda a tempo de neutralizar o ato persecutório, executado há décadas, restituindo a Maria Archer o lugar que lhe é devido no mundo vivo da cultura portuguesa... Lendo a sua obra em momentos mágicos de reencontro com ela, com a lucidez da sua análise e a elegância do seu estilo, acompanhando-a em incursões ao universo cinzento e confinado em que conviveram as portuguesas e os portugueses durante meio século... Elegância é uma palavra que quadra com Maria Archer, que a caracteriza na maneira como pensou, como escreveu, como se vestiu e apresentou em sociedade, como atravessou uma rua de Lisboa ou de São Paulo, como atravessou uma vida inteira, até ao fim... Ou melhor, até ao seu regresso! Estamos aqui reunidos para a trazermos a uma uma segunda vida, no sentido em que falava Pascoaes: "Existir não é pensar, é ser lembrado" Este não é o primeiro nem será o nosso último encontro sobre a sua personalidade, o seu exílio, o seu retorno... Sobre a obra e a pessoa - qual delas a mais interessante... Dizia Mariana, a inesquecível personagem de "Bato às portas da vida"; "Ando na saudade de mim, mesmo perdida no tempo", Nós andamos na saudade de Maria Archer, reencontrada em nosso tempo, e em qualquer tempo. A leitura de tantas páginas fulgurantes que nos deixou são, para sempre, porta de entrada na sua intimidade. Maria Manuela Aguiar

sexta-feira, 11 de março de 2022

A AUDIÊNCIA DO DR.SOARES AO CCP FRANÇA

A AUDIÊNCIA DO DR.SOARES AO CCP FRANÇA 1- Como toda a gente, ouvia falar das cóleras súbitas e passageiras de Mário Soares (eu própria sou muito propensa ao mesmo tipo de explosão). Todavia, 7 anos depois de o conhecer pessoalmente , nunca assistira a nada que se pudesse qualificar nesse preciso comportamento e, nunca mais voltei a presenciar nada de semelhante nos 30 anos seguintes. Mas o que tive a sorte de testemunhar foi sensacional e fez manchetes em toda a espécie de "media". 2- CCP é a sigla de Conselho das Comunidades Portuguesas. O Conselho era um órgão consultivo do Governo, composto por representantes do movimento associativo e teve, desde o seu começo, em 1981, até ao seu silenciamento, a partir de 1988, e extinção, em 1990, uma vida bastante atribulada, devida, em linha reta, à politização dos conselheiros de França e, sobretudo de Paris. A instituição era de inspiração francesa, mas o modelo original (o Conséil Supérieur des Français de l' Etranger), não nos preparara para o potencial de conflitualidade de que o nosso se revelou capaz. De tal forma o confronto foi constante e radical, nesses anos longínquos, que só eu, a Secretária de Estado que o tinha lançado no mundo das instituições nacionais, consegui lidar com ele - um exercício de paciência, qualidade ou defeito que não é o meu forte. Em 1982/83, quando fui substituída por José Vitorino no 2º Governo de Balsemão, o plenário não foi sequer convocado - uma ilegalidade, em nome da paz e sossego do ilustre governante. Em 1987, quando saí de vez do Palácio das Necessidades, no 2ª Governo de Cavaco Silva, ainda se realizou o plenário, que, à cautela, deixei convocado e em ativa preparação. Mas a sessão plenária de 1987 decorreu num ambiente fúnebre de fim dos tempos, claramente definido no discurso do meu sucessor Correia de Jesus. O CCP ressuscitaria com José Lello, em 1996, mantendo a designação num novo formato. É agora eleito por sufrágio universal, por emigrantes (muito poucos...) e parece condenado ao "low-profile" em que, mais pacatamente, continua a sua marcha - infelizmente, para quem nele sempre pôs altas expetativas (o meu caso). Ainda por cima surgiu, há alguns anos, um auto-designado "Conselho da Diáspora", composto, fundamentalmente, por empresário e banqueiros, que ocupa o palco mediático que falta ao CCP. 3 - Este preâmbulo é necessário para se compreender o espírito que animava os delegados do CCP- França na audiência concedida pelo Primeiro- Ministro Soares. (eram quase todos comunista, de várias facções, não sendo os do PCP necessariamente os mais agressivos...). As audiências eram simples pretexto para uma conferência de imprensa e funcionavam como altifalantes num comício permanente. Quanto mais elevado o "ranking" do interlocutor, mais amplificação garantia ao confronto. Por isso pediam encontros ao PR, ao PM, ao MNE, a que estes, regra geral, se escusavam, Viam-se, pois, na necessidade de dialogar com a Secretária de Estado que, por dever de ofício, nunca se negava a essa espécie de ritual. Dessa vez, nem o MNE Jaime Gama nem o PR Eanes lhes abriram a porta, mas alguém convenceu o PM de que eles iriam ao Palácio de Belém no dia seguinte (de facto, nem sequer sei se estava pedida a audiência ao PR - acreditava que sim, mas não acreditava que fosse concedida, porque se tratava de um pequeno grupo, não do órgão em si). Vozes mais influentes do que a minha tentaram dissuadir o Dr Soares da sua posição, mas ele não recuou. 4 - O encontro, para o qual fui, naturalmente, convocada, teve lugar na Gomes Teixeira. Assisti, sentada num dos sofás, à direita do PM. O desastre anunciava-se desde a primeira fração de minuto, a hostilidade respirava-se no ar, marcava os semblantes fechados dos conselheiros. O Dr Soares, que tinha examinado o CV resumido de cada um dos interlocutores começou, com o seu proverbial à vontade por interpelar o padre operário, que dava nas vistas, com uma berrante camisola vermelha: "O senhor é que é o padre?" Ele respondeu que sim, mas rindo abertamente, um pouco a despropósito (era um homem jovial, amplo de estatura, extrovertido, na hora de liderar o combate, que ia iniciar). O Dr Soares atalhou severamente: "Não é caso para rir! Tenho muito respeito pelos padres". Senti que a tensão subia... Seguidamente, o Abílio Laceiras tomou a palavra. Sempre gostei do Abílio e continuo a gostar, mas é tudo menos um diplomata e, ali, não sei porquê, atrapalhou-se na exposição e, por fim, como Mário Soares o olhava, dubitativamente, resolveu explicar que se exprimia assim, porque era um homem do interior da Beira. O Dr Soares ripostou logo: "Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Salazar também era um homem da Beira e tinha um discurso muito articulado". Dito certeiro que baixou a temperatura - para glacial - generalizando a discussão, um coro autêntico coro de protestos. O PM dispôs-se a repor a ordem, à maneira de um moderador de debate: "Fala aquele senhor e os outros falam depois". Foi o pandemónio! Saltaram das cadeiras, todos ao mesmo tempo, como numa coreografoa bem ensaiada, gritando que se iam embora porque o PM os tinha insultado, mandando-os calar. O Dr Soares. enquanto eles saíam, (pouco menos que em passo de corrida, atropelando-se uns aos outros), gritava também: " Isto é uma grande golpada ! Foi para isto que aqui quiseram vir... estava tudo combinado, é tudo encenação!". Claro que era. Dali, os "enragés" foram diretos para a programada conferência de imprensa, onde contaram verdades a par de "pós verdades"... .Umas das quais foi a mentira absurda, mas eficaz, de que o PM os tinha acolhido mal, com os pés em cima da mesa. Foi essa a principal notícia da imbróglio, uma notícia não só ridícula como completamente falsa. A verdade é que, muito ao seu jeito, o Dr Soares não ficou hirto e colado às costas da poltrona, deixou-se escorregar, lenta, lentamente, e os pés foram ficando um pouco mais perto do tampo da mesa, mas por baixo, não por cima. 5 - Eu, que estivera calada durante as hostilidades - só teria falado se o Primeiro ministro me desse a palavra, como é óbvio - participei, comedida embora, na segunda parte deste episódio, que foi tão intensa, ou mais, do que a primeira. O Dr. Soares estava irritadíssimo! Ao seu chamamento acorreram vários assessores do gabinete, entre eles o da imprensa, que foi encarregado de redigir um comunicado, denunciando a premeditação de toda aquela trama. Contundente e imediato!. Ninguém achava que isso fosse a melhor ideia, havia que não valorizar a importância das pessoas envolvidas e dos factos passados, dar-lhe apenas a que tinham. Enquanto durou o estado de exaltação, o Primeiro-ministro não cedeu à nossa argumentação e o assessor, muito contrariado, preparava-se para compor o texto, Foram uns dez minutos altamente emotivos e, de súbito, com o simples correr do tempo, mudou de humor e concordou connosco. Eram assim, as suas cóleras, fortes e passageiras, como chuvadas tropicais (subjetivamente a comparação faz sentido - eu ia, então, muito a África e ouvia falar desse fenómeno, que despertava a minha curiosidade, e nunca se materializava, durante as minhas estadas, até que aconteceu, no Zaire, e só por milagre o Mercedes da embaixada "navegou" por uma estrada feita rio, a caminho do aeroporto - uma coisa absolutamente excessiva e grandiosa! Já com o Dr Soares muito bem disposto, aproveitei para me vitimizar - aliás, sem cair em exagero - dizendo mais ou menos isto: - Senhor Primeiro Ministro, teve aqui uma pequena mostra do que eu aturo constantemente. Comigo são horas de discussão, tensas, repetitivas, infindáveis. E, depois, disparam os ataques descabelados na comunicação social... É o meu dia a dia. Não com todo o Conselho, há uma maioria construtiva, com quem se pode trabalhar, sem politiquices . Mas este grupo é sempre assim! A resposta veio pronta: " Nem mais um escudo para esta gente vir passear e provocar desacatos!". A ordem podia até ser justíssima, mas não completamente exequível, porque não podia prejudicar o todo pela parte... Continuaram a ser pagos, como os outros. Os outros para cooperar, sempre e bem, nos objetivos do CCP, estes, às vezes também, apesar das "bagarres
O ERRO DE PUTIN 1 – De um dia para o outro, esquecemos todos a pandemia, a formação do novo Governo, os congressos da oposição, os fundos comunitários - assuntos que desapareceram dos noticiários e desapareceram das nossas preocupações… em larga medida, pela força dos próprios “media” que regem, mais do que nos apercebemos, o que pensamos e sentimos. No lugar que era o de coisas presentemente secundarizadas como menores está a guerra! Uma guerra que entra, continuamente, noite e dia, em nossa casa num ecrã de televisão, como um horrendo e trágico “reality show”. Andamos numa angústia quotidiana, comparável à que nos afligiu durante o genocídio indonésio em Timor Leste, em especial, depois do massacre do cemitério de Santa Cruz,registado em imagens que chocaram o mundo e reequacionaram o destino de uma Nação. Hoje é domingo. Em Mariupol os cadáveres juncam as ruas, as casas ardem, não há água, nem comida, nem luz. Não sabemos se na próxima 5ª feira, quando estivermos a ler este jornal, o mesmo se poderá dizer de Odessa ou de Kiev… É o inferno, visto por dentro, minuto a minuto, como nunca antes visionaramos nos media e multimedia. “Rios de sangue e de lágrimas”, nas impressionantes palavras do Papa Francisco. já mais de dois milhões de refugiados atravessaram as fronteiras abertas de par em par pela Polónia, Hungria, Roménia, Moldávia, e pela Europa inteira. Aqui, no extremo oeste, mostramos disponibilidade igual - uma excelente e prestigiada comunidade de imigrantes aproximou-nos da Ucrânia, desde o fim do século passado. O Governo português tornou-se, nesta parte da Europa, pioneiro ao abater barreiras burocráticas e ao não pôr limites ao acolhimento de refugiados. E são muitas as autarquias que preparam, no terreno, a receção das famílias, e colaboram na recolha e transporte de bens essenciais para as vítimas da guerra que se encontram ainda no país ou nas fronteiras do leste. Espinho, está na vanguarda dessa campanha, numa colaboração entre a Câmara, a Paróquia, os Bombeiros e a Cruz Vermelha. Nas ruas, os portugueses protestam ao lado dos imigrantes ucranianos, mobilizam-se numa infinidade de gestos simbólicos e aderem a iniciativas de coletividades locais, associações cívicas e humanitárias - no meu círculo familiar, até as crianças quiseram participar e acompanharam os pais nas manifestações do Porto, algumas com a idade que eu tinha, quando os tanques russos entraram em Budapeste... Os Estados democráticos do Ocidente avançaram com sanções extraordinárias, que isolaram a Rússia e a transformaram de um dia (o dia da invasão), para o outro (o dia seguinte) num Estado pária (muito embora falte ainda, a maior de todas, o boicote total ao petróleo e ao gás russo...). É uma constatação que tem tanto de novo surpreendente, como a monstruosa aventura imperialista de subjugar, pelas armas, uma pacífica Nação independente. 2 - Nos canais noticiosos, a escolha é entre as imagens que mais parecem um apocalipse terror, filmado em Hollywood, do que terror na vida real, e as que mostram os corredores de fuga: um êxodo de proporções bíblicas, protagonizado por gente vestida como nós, a contar os seus dramas pessoais num inglês, que falam como nós… São quase somente mulheres, com os filhos pequenos pela mão, e, pormenor comovente, em muitos casos, também o cão ou o gato, que trazem consigo, em vez de uma mala com bens materiais. Para trás deixaram tudo, a vida de família, de trabalho, de convívio, a vida fundamentalmente igual à nossa, que tinham na semana anterior… E, ao olhar os que ficam ou os que partem, com a mesma coragem, há uma pergunta nos ocorre, constantemente: e se fossemos nós? Países que ergueram muros arame farpado contra os refugiados do Médio Oriente, igualmente sobreviventes de conflitos pavorosos, ou os aprisionaram em miseráveis campos de internamento, estão hoje a receber generosa e exemplarmente todos os que escapam à barbárie russa. Temos tendência a ver neste fenómeno a pura emergência de uma fraternidade europeia, que, há muito, parecia perdida. Será, em parte, uma verdade, que nos é grato descobrir (e talvez ajude a uma melhor compreensão outras vítimas inocentes de conflagrações, que vai haver mais tarde) , mas é muito mais do que isso. Uma agressão desta natureza, perpetrada por uma potência nuclear, que está nas mãos de um tirano omnipotente, cuja crueldade o situa nos patamares do estalinismo e cuja sanidade é discutível, representa uma ameaça civilizacional – e, consequentemente, suscita reação planetária. A Europa está muito perto da fonte do perigo, e, em particular na zona de fronteira, conheceu bem demais o “czarismo soviético” dominador, e, a uma maior distância temporal, a intimidatória vizinhança do czarismo propriamente dito… E assim Putin está a mudar o mundo, mas não em conformidade com os seus planos originais. Quis destruir a Ucrânia e recriou-a com uma alma heroica, mesmo que venha a derrotá-la, conjunturalmente, pela força bruta. Quis dividir e subverter a UE, e provocou o efeito contrário, promovendo a unidade europeia que tardava. Quis agitar o fantasma da NATO e ressuscitou uma velha aliança, classificada como obsoleta a anacrónica e deu-lhe uma razão de ser e um futuro. Essa foi a primeira batalha que perdeu. A segunda será a da frente económica. Os milhares de oligarcas que o sustentam, nas mais aviltantes formas de capitalismo, talvez consigam contornar algumas das sanções, habilidosamente, mas a Rússia não. O seu povo está condenado à miséria, por muito, muito tempo, talvez por gerações. A Ucrânia há-de levantar-se primeiro! 3 - A Europa acreditou, piamente, na racionalidade de Putin. Porém, ao ter pactuado com ele, fechando os olhos a desmandos e a crimes, ao ter-se submetido à sua dependência no campo energético, ofereceu-lhe uma aparência de não haver limites para o que estava disposta a suportar. Pela inércia, involuntária e leviana, iludiu o bárbaro, no seu jogo de ambição desmedida, sempre feito de frio cálculo… De facto, a invasão da Ucrânia não começou há dias, mas há oito anos, em 2014! Começou pela anexação da Crimeia, avançou por Donetsk, pela região de Donbass, deixando um rasto de milhares de mortos, sem que norte-americanos e europeus tomassem, atempadamente, as medidas aplicadas no presente. Nesse contexto, se preparou Putin para ocupar o resto da Ucrânia, em fevereiro de 2022, esperando uma insignificante resistência interna e externa. Enganou-se – levado pela experiência do passado recente... viu-se confrontado com uma gigantesca onda de reação, no quadro das relações internacionais, assim como no teatro de guerra. A possível vitória militar sobre a Ucrânia, como ele já aprendeu, não se fará sem a derrocada financeira da Rússia. E um governo fantoche em Kiev, será derrubado, a prazo, quando ele morrer ou talvez antes... O maior erro de Putin é pensar, se é que pensa, que a identidade ucraniana não existe. Existe e é europeia. Basta ver onde procuram refúgio mais de 95% dos ucranianos: não é nos braços da Rússia, é no Ocidente! Na UE, em Portugal, um pouco por todo o lado, vamos também pagar um preço elevado para resistir à intimidação nuclear de Putin, e pôr termo à dependência energética da Rússia. E, também, para acabar com a excessiva dependência militar da América - de Biden, hoje, de um eventual segundo Trump, amanhã - erguendo o braço europeu da NATO. Não para a guerra, mas para a PAZ. É o preço a pagar pelo valor da Liberdade. Espinho 6 de março de 2022