terça-feira, 26 de abril de 2022

BALBINA MENDES

O LUGAR DAS MULHERES NAS ARTES A propósito do retorno de Balbina Mendes ao FACE 1 - Em 2010, quando Balbina Mendes veio a Espinho, pela primeira vez, o FACE, inaugurado a 16 de junho de 2009, dava os primeiros passos na que poderemos considerar o seu percurso de afirmação. De facto, os museus, as galerias de arte ganham nome e prestígio com a vivência do lugar, com a marca das pessoas que, sucessivamente, convidam para o habitar, cruzando o seu "curriculum” com o deles, numa apropriação desejada e consentida. Balbina entrou na história das Galerias do FACE como a primeira Mulher a ocupá-las numa exposição individual, e a primeira a surpreender e a mobilizar largas audiências com as suas espantosas 'Máscaras Rituais do Douro e Trás os Montes" - uma pintura de matriz etnológica, que recuperava arquétipos primordiais emergindo, interpretados e recriados em toda a sua magia, nas telas de grande dimensão e impacto. Nesse julho de 2010, ela foi também precursora numa outra vertente, ao promover no ato de inauguração um memorável espetáculo de danças dos caretos de Podence, que trouxeram o exotismo da "festa dos rapazes" às ruas de Espinho e, depois, aos corredores e salões do Museu. No ano seguinte, com a Bienal, "Mulheres d' Artes", em que Balbina Mendes esteve presente, o Museu de Espinho antecipou, em cerca de uma década, a marcante exposição de pintura no feminino providenciada pela Fundação Calouste Gulbenkian. Em ambas as iniciativas, a de Espinho e a de Lisboa, adivinhamos o mesmo escopo - não, como é evidente, o de "excluir, segundo o sexo", mas o de valorizar a metade ancestralmente invisível, no sentido do alargamento e universalização das Artes. Já quanto à complexa questão do modo como o "género" se exprime, (com caraterísticas próprias ou comuns e indistintas), a organização da 1ª Bienal guardou-se de tomar partido, reconhecendo, sim, por um ado, que o masculino avulta, desde tempos imemoriais e ainda hoje como "padrão", enquanto o feminino é "alteridade", e, por outro, a ideia de que o sucesso das "mulheres-exceção" não deve deixar no esquecimento a persistente desigualdade da maioria, que as estatísticas, na fria linguagem dos números, denunciam. No catálogo da 1ª Bienal, o Dr. Armando Bouçon, Diretor do Museu, a quem se ficou a dever a proposta de a realizar, escrevia: "Uma análise correta de toda a história da Arte dá-nos uma perceção muito transparente de como o campo das artes plásticas foi ocupado durante muitos séculos pelo género masculino". Foi. E não continuará a ser? 2 - Até um Museu que fez história, em Portugal, com quatro históricas bienais de Arte no feminino (entre 2011-2017) pode servir-nos para mostrar como, ao nível de mega exposições individuais, se mantém, nas suas Galerias, o predomínio masculino, enquanto nas coletivas, ou nas exibidas, mais modestamente, em pequenos recantos do Fórum, as mulheres já ultrapassam os homens, numa trajetória positiva, mas como se estivessem, ainda, em transição gradual do espaço privado para o público… É um exemplo que poderemos extrapolar, em outras áreas, a nível nacional e até internacional. Na verdade, essa constatação terá estado na origem do movimento pela Arte no feminino, que teve, e tem, em Paula Rego uma das suas líderes mais insignes e mais ativas. Nas suas próprias palavras: "As minhas pinturas são pinturas feitas por uma artista mulher. As histórias que eu conto são histórias que as mulheres contam. O que é isso de uma arte sem género? Uma arte neutra?". [...] "Há histórias à espera de serem contadas, e que nunca o foram antes. Têm a ver com aquilo em que jamais se tocou-as experiências de mulheres". Um discurso com que a nova vaga feminista do último quartel do século XX incorporou o plano da expressão artística na globalidade da sua luta - discurso que, diga-se, neste como em qualquer outro campo, é tudo menos pacífico. Mais consensual será, certamente, a exortação de Gisele Breitling em favor de "uma nova e verdadeira universalidade em que o feminino assuma o seu lugar de direito e o masculino as suas verdadeiras proporções". 3 - Balbina Mendes tem contribuído, poderosamente, para que as mulheres portuguesas assumam, na vida cultural e artística do nosso país, o seu "lugar de direito". Fá- lo, ocupando, simplesmente, o lugar, com ânimo e talento de sobra, sem em nada se julgar discriminada. É um caso exemplar, entre grandes artistas, cuja atitude de despreocupação com disparidades de género, contém implícita a exigência do tratamento igualitário. À margem de uma teorização reivindicativa, alcança as metas que esta se propõe, com isso abrindo caminho a outras mulheres, destruindo preconceitos de género, pela força do seu traço, pela singularidade de temáticas e de técnicas.... Embora, como velha militante da igualdade, desde os bancos da escola, não me situe exatamente nesta linha, tenho de reconhecer a sua eficácia, assim como, também, de admitir os riscos da defesa "à outrance" da "arte com género" em que Paula Rego acredita...O que, sendo, no seu patamar de genialidade, sinal vanguardista de "contracultura", pode, a outros níveis, redundar em novos estereótipos do feminino, que, em sociedades patriarcais, são, fatalmente, menos valia. Por essa razão, num outro domínio, o literário, reservamos o feminino” poetisa” para o comum das mulheres, mas chamamos "poetas" a uma Sophia, ou a uma Ana Luísa Amaral...Por essa mesma razão, o crítico João Gaspar Simões, elogiando a força imanente da prosa de Maria Archer, o realismo puro e duro com que abordava as problemáticas mais ousadas, a qualificava como "um grande escritor". Ambíguo cumprimento, a que subjaz a conceção da masculinidade intrínseca do cânone! Balbina não o apreciaria, mas é uma das mulheres a quem se poderia, nessa lógica, aplicar. A sua obra é original, audaciosa, inovadora, (nos temas, na estética, policromia, fusão de materiais...). Transpõe para a pintura a experiência dos muitos mundos que a sua vivência atravessa e o seu olhar penetra, numa vontade constante de transcendência. Conheci-a na exposição em que nos contava a história do Douro, o “seu” rio, correndo entre margens, da nascente até à foz, incorporado na beleza encantatória de paisagens. Reencontrei-a no ciclo temático sobre as máscaras rituais, incursão telúrica à infância em terras de Miranda, em que se entrelaçam emoções e saberes, reinventados na tela, em explosões de cor... Numa "leitura feminista” noto a naturalidade com que se apoderou, para a transfigurar em arte, da tradição masculina da máscara, símbolo da superioridade e camaradagem de sexo, em cerimoniais rigorosamente proibidos à mulher... Um prenúncio da força subversiva e libertária da sua aventura artística. Com o passo seguinte, ultrapassa uma última fronteira, numa fase em que a fragmentação ou transparência da máscara deixa o rosto a descoberto... o rosto feminino! É a definitiva rutura do interdito, que Paula Rego saudaria com o seu "gozo pela inversão e desalojar da ordem estabelecida"... Na mostra agora aberta ao público nas Galeria Amadeo Souza-.Cardoso, intitulada "Segunda pele", o tropo narrativo de Balbina não nos revela, antes adensa o mistério dos jogos entre a face desocultada e as suas máscaras, mas revela-a como assombrosa retratista de rostos belíssimos e confirma o seu incessante questionamento sobre o ser, a aparência, o tangível e o intangível. Para o que vai encontrar inspiração na heteronímia Pessoana, glosando em linguagem pictórica um mote literário. O resultado é, pura e simplesmente, fantástico! A não perder, até 28 de maio, em mais este capítulo do roteiro do FACE e da vida cultural que Espinho nos oferece.

quinta-feira, 14 de abril de 2022

O 10 DE JUNHO DE 1989

10 de junho de 1989 - celebrações em NY, a aprtir de uma hora e meia de vídeo. O Cônsul João Quintela e eu - VP da AR. (amigos e colegas de curso) Bons tempos!!! https://youtu.be/SOlzrp38mnU

sábado, 2 de abril de 2022

2021 CICLO DE COLÓQUIOS Migrações - Do vaivém de vidas ficaram histórias

CICLO DE COLÓQUIOS MIGRAÇÕES - DO VAIVÉM DE VIDAS FICARAM HISTÓRIAS" O "Círculo Maria Archer", em parceria com a "Mulher Migrante - Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade" (AMM), promove um ciclo de três colóquios sobre a temática das migrações portuguesas, vistas através da Literatura. É um convite à leitura coletiva da obra ímpar de Júlia Nery e à reflexão sobre questões que foram, igualmente, centrais no percurso e na escrita de Maria Archer, na sua visão do mundo lusófono e do espaço que as mulheres nele ocupam, ou devem e podem ocupar. No ciclo de colóquios, por zoom, sobre os livros “Ei-los que partem”, “Pouca terra… pouca terra” e “Da Índia, com Amor”, se começa por abordar a problemática da chamada "nova emigração" - a partida de jovens profissionais altamente qualificados, a perda de "talentos" - , para lançar, seguidamente, um olhar retrospetivo sobre a emigração tradicional - que, ao longo de séculos, despovoou o mundo rural, no continente e nas ilhas do Atlântico - e sobre o fenómeno da Expansão, determinante do êxodo sem fim, que deu origem às comunidades de cultura portuguesa e à “Diáspora". Todas as sessões contam com a participação da Autora JÚLIA NÉRY e constituem, assim, momentos privilegiados de diálogo com ela. Programa dos Colóquios Sábado, 24 de abril, 17.00 -18.00 “EI-LOS QUE PARTEM” Apresentação de Aida Baptista, seguida de debate moderado por Maria Manuela Aguiar Sábado, 22 de maio, às 17.00-18.00 “POUCA TERRA...POUCA TERRA” Apresentação de José Manuel da Costa Esteves, seguida de debate moderado por Graça Guedes Moderadora: Graça Sousa Guedes Sábado, 12 de junho, às 17.00 - 18.00 “DA ÍNDIA COM AMOR” Apresentação de Aida Baptista, seguida de debate moderado por Ivone Ferreira Com esta iniciativa, o "Círculo Maria Archer", coordenado por Maria Manuela Aguiar, se associa às comemorações do 25º aniversário de vida ativa da AMM, presidida por Graça Guedes, e presta homenagem à sua fundadora, Rita Gomes

HOMENAGEM a MARIA ARCHER no PORTO - O Colóquio "MULHERES DE REFERÊNCIA E DE (IR)REVERÊNCIA! (síntese) rep

NOTA SOBRE A HOMENAGEM A MARIA ARCHER NA CIDADE DO PORTO, NO 40º ANO DA SUA MORTE A 23 de janeiro de 2022 completaram-se quarenta anos sobre a morte de Maria Archer, uma efeméride que foi comemorada, no Porto, pelo Círculo de Culturas Lusófonas Maria Archer, de janeiro a março, com uma programação de atividades focada nas múltiplas facetas da sua obra, e na sua vida, repartida no espaço da lusofonia, num constante cirandar entre realidades culturais de que se tornaria intérprete e mensageira privilegiada. Os eventos presenciais - uma Exposição de pintura de homenagem a Maria Archer, comissariada por Ester de Sousa e Sá, e o Ciclo de Colóquios, organizados por Maria Manuela Aguiar - foram realizados no Gabinete da Biodiversidade - Centro de Ciência Viva, de 22 de janeiro a 31 de março, com a ativa colaboração de Maria João Fonseca e dos funcionários do seu departamento. Os colóquios, subordinados ao tema "Maria Archer, Eu e Elas - mulheres que irromperam no mundo dos homens", sucederam-se, com periodicidade, em regra, quinzenal, ao longo do tempo de abertura ao público da Exposição de Homenagem a Maria Archer, e constituíram oportunidade de reflexão e debate sobre percursos de vida de mulheres portuguesas que foram precursoras em diferentes áreas e se tornaram modelos femininos de interagir, criativamente, no espaço público. O Colóquio Internacional "MARIA ARCHER E OUTRAS MULHERES DE REFERÊNCIA E DE (IR)REVERÊNCIA, uma parceria entre o Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa e o Círculo Maria Archer, projetado de início, para a Galeria da Biodiversidade, decorreu exclusivamente "online", a 22 de fevereiro, e reuniu investigadores portugueses e estrangeiros dedicados ao estudo da obra de mulheres portuguesas que se destacaram no panorama das Letras e Artes e nos movimentos proto feministas e feministas, de finais do século XVIII aos nossos dias, com o seguinte programa: Mesa 1 | 10h30 -12h30 Moderação: Rosa Simas (Universidade dos Açores) • Maria Luísa Malato (FLUP - ILC), “Catarina de Lencastre e o tema da guerra no limiar do século XIX” •Cláudia Pazos- Alonso (Univ. Oxford - ILC), “Onde se lê ‘feminismo pioneiro’... leia-se Francisca Wood” • M Luiza Taborda (FLUP - ILC), “Ana Plácido e uma cela só para si” • Ana Costa Lopes (Univ. Católica-CEPCEP), “Elisa Curado: uma progressista em tempos de cólera” Mesa 2 | 14h30 - 16h00 Moderação: Maria de Lurdes Sampaio • Ana Paula Ferreira (Univ. Minnesota) - “Discurso imperialista e posicionamento anti-colonial: Maria Archer (1935-1963)”. • Ana Paula Coutinho (FLUP - ILC), “Maria Archer: deslocação e (in) conveniência” • Elisabeth Battista (UNAMAT) Da dominação à resistência: percurso de Maria Archer Mesa 3 | 16h30 - 18h00 Moderação: Cláudia Pazos-Alonso (Univ. Oxford – ILC) • Isabel Pires de Lima (FLUP - ILC), “Mulheres na Revolução: das Três Marias a Agustina” • Márcia Oliveira (Univ. Minho/CEHUM), “Womanart: Mulheres, Artes, Ditadura” • Deolinda Adão (Univ. Berkeley), “A audácia de escrever: uma abordagem da produção literária feminina” Comissão Organizadora: Maria Manuela Aguiar, Nassalete Miranda (CMA), Marinela de Freitas e Lurdes Gonçalves (ILC) EXPOSIÇÃO DE PINTURA DE HOMENAGEM A MARIA ARCHER CICLO DE COLÒQUIOS "MULHERES QUE IRROMPERAM NO MUNDO DOS HOMENS" Sessão de Abertura, sábado, dia 22 de janeiro 1º Colóquio - 16.00 - 17.00 Moderação: Nassalete Miranda (CMA) Conferencista Deolinda Adão (Universidade da Califórnia, Berkeley): “Sussurros de vozes no silêncio – o caso de Maria Archer” Exposição de Pintura, 17.00-18.00 Apresentação: Ester de Sousa e Sá Artistas plásticos: Aquilino, Balbina Mendes, Cláudia Costa, Constância Néry, Do Carmo Vieira, Elizabeth Leite, Ester de Sousa e Sá, Gabriela Carrascalão, Mafalda Rocha, Maria André, Norberto de Abreu, Sílvia Vale. Todos os pintores foram convidados a falar da sua relação com Maria Archer, tal como a expressam nas telas. 2º Colóquio - 2 de fevereiro, 16.00.17.30 Apresentação Graça Carvalho Graça Guedes - Presidente da Associação "Mulher Migrante", a primeira mulher a fazer o doutoramento em Ciências do Desporto e a tornar-se professora catedrática nesse domínio, em Portugal, depois de ter sido campeã nacional e jogadora da Seleção Nacional de voleibol. Sob a sua orientação, concluíram doutoramentos nesse domínio Graça Carvalho e várias outras académicas. 3º Colóquio, 16 de fevereiro 16.00.17.30 Comunicação de Nassalete Miranda sobre "Agustina na terceira pessoa" Agustina Bessa Luís na sua veste de primeira Diretora de um grande jornal nacional, o Primeiro de Janeiro, nas palavras de Nassalete Miranda, que seria, por uma década, sua sucessora nesse cargo, e é, atualmente, Diretora do Jornal "As Artes entre as Letras". 4º Colóquio, 9 de março, 17.00-18.30 Por altura do "Dia Internacional da Mulher", em parceria com a Associação de Antigos Alunos do Liceu Rainha Santa Isabel, uma homenagem às primeiras mulheres eleitas democraticamente para o Parlamento, em 1975, na pessoa de Amélia de Azevedo, Deputada Constituinte: "Amélia Cavaleiro de Azevedo, uma democrata antes e depois de Abril". Intervenções de Maximina Girão e Nassalete Miranda. Testemunhos de Aurora Pereira, Levi Guerra, Rui Amaral e Amândio de Azevedo. A finalizar, José Carlos de Azevedo declamou um poema de Sophia, que, tal como Amélia de Azevedo, foi Deputada Constituinte pelo Círculo do Porto. 5º Colóquio, 16 de março, 16.00.17.00 Numa comunicação com o título "Maria Archer e Maria Lamas, o percurso de duas mulheres lutadoras" ,Ilda Figueiredo, Presidente da Direção do Conselho Português para a Paz, recordou as duas ilustres contemporâneas, na constante defesa da liberdade e da igualdade, que as levou ao exílio, destacando Maria Lamas como a primeira jornalista profissional no seu país. 6º Colóquio, 16 de março, 17.15.18.30 "Tributo a Ruth Escobar, a portuense que ajudou a mudar o Brasil" Sobre Ruth Escobar, atriz, produtora, diretora artística, grande renovadora do teatro no Brasil, e primeira mulher eleita deputada a uma Assembleia Legislativa Estadual (no Estado de São Paulo), falaram um homem do teatro, José Caldas, um crítico de cinema, Danyel Guerra e a primeira mulher Vice-Presidente da Assembleia da República, Maria Manuela Aguiar.. Sessão de Encerramento, 31 de março, 17.00 - 18.30 No último colóquio, foram oradoras Isabel Henriques de Jesus (CICS. Nova /Faces de Eva) "De olhos bem abertos - Nótulas sobre Maria Archer, Eu e Elas", e Olga Archer (sobrinha neta de Maria Archer) "Recordar Maria Archer". Uma mensagem de Blanche de Bonneval (antiga perita das Nações Unidas, PNUD), de quem a homenageada foi precetora e amiga, terminou os trabalhos, numa nota muito afetiva. Seguiu-se um último convívio com artistas participantes na Exposição, no espaço arquitetónico onde a Universidade do Porto acolheu as comemorações em memória de Maria Archer.