quinta-feira, 30 de setembro de 2010

ROSTOS VIVOS DA REPÚBLICA - em Espinho

O ciclo de comemorações do 5 DE OUTUBRO DE 2010 começou a 30 de Setembro, com a conferência da ex-primeira Dama MARIA JOSÉ RITTA. Coube-me, na ausência do presidente da Câmara, dirigir-lhe as primeiras palavras de saudação:

"Em representação da Câmara de Espinho, o meu agradecimento pela participação no programa no Centenário da República em Espinho – o nosso 5 de Outubro, antecipado apenas uns poucos dias.
Considero que escolhemos a personalidade ideal para comemorar esta efeméride - em breves palavras direi porquê.
Antes de mais, porque, nesta sessão especial, estamos mais voltados para o futuro de 2010 do que para o passado secular, iniciado em 1910.
Temos, como sabem, em múltiplas iniciativas, desde Março, olhado esta data histórica no seu ponto de origem, na proclamação da 1ª República, procurando dar a conhecer os seus protagonistas e as vicissitudes dessa época fascinante, pelas expectativas que criou, pela vertigem das mutações que favoreceu, de contradições, de polémicas, de visões antagónicas - todas legítimas, em democracia – e até pelo seu destino final, que deveria ter sido outro.
Mas procuramos, também, repensar o curso de um século, tão cheio de contrastes, de luzes e de sombras.
E celebrar a República de hoje, no momento de perfazer o Centenário!
Por isso, a comemoração do 5 de Outubro, em Espinho, será marcada pela inauguração de uma exposição sobre os “Rostos da República” (da 1ª Rep.), que vai encher as duas enormes galerias do Museu no Forum de Arte e Cultura de Espinho, transformada, para o efeito, em espaços de memória, de “encontro com a história” do país, feita através da história de mulheres e homens em concreto – e completada por este encontro com “Rostos vivos da República”: com a Senhora Dona Mª José Ritta.
Uma República de rosto feminino, como era já figurada no tempo em que as mulheres não tinham direito de voto. E, na República actual, há rostos femininos que verdadeiramente a representam, para além de a simbolizar. É o caso da nossa ilustre convidada de honra.
Atravessamos, em Portugal e no mundo, um período de muitas incertezas e dificuldades e, por isso, para guardarmos a esperança e a auto-confiança, mais precisamos de exemplos – de grandes exemplos de coragem e boa vontade, de pensamento e acção construtiva, de solidariedade na defesa de causas humanistas, de dinamismo e de competência. São qualidades que associo à Srª D. Mª José, desde que a conheço e admiro, há muitos anos.
Quando mudou de vida, para entrar definitivamente, na história de Portugal, como mulher do Presidente da República, não mudou a sua forma de estar na vida, mantendo-se atenta aos problemas da sociedade e dos cidadãos, pronta ajudar e a mobilizar para a acção concreta, com uma imensa simplicidade e discrição. Cumprindo, com gosto, com naturalidade, e primorosamente, a missão singular de ser o rosto feminino do País.
Antes e depois dessa década, ao longo da sua carreira, no círculo profissional e na esfera da afirmação da cidadania, sempre a vimos agir com o máximo de simpatia e de generosidade, combinadas com o máximo de rigor e eficácia – o caminho a seguir por cada um de nós, se queremos que esta República possa ter o futuro .
Obrigada por ter vindo a Espinho, mais uma vez, ao “Encontro das pessoas”.
Bem-haja!"

domingo, 26 de setembro de 2010


É pena, mas a esplendorosa vista das galerias do Museu de Espinho a emoldurar as pinturas de Mestre António Joaquim está prestes a desvanecer-se e a passar apenas ao universo etéreo das nossas memórias!
Vou sentir a falta de toda aquela arte e beleza, ali, tão acessível, e, igualmente do pintor, que é um encanto, uma simpatia, um comunicador nato, aberto a todos os problemas do nosso tempo, com a sua visão muito própria e inteligente do mundo.
Ontem, fiz mais uma visita, breve, embora, com a representante do Governador civil, a Drª Mª João Breites. Ela ficou espantada! E com ele nos fotografamos, à vez. Esta é a que ela tirou. Depois, eu tirei-lhe uma com ele (também óptima, naturalmente!).

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Rostos Femininos da República

O movimento feminista português, cuja trajectória se inicia nas vésperas da revolução, ganha força e notoriedade numa singular confluência de combates, em que se interligam a "questão de género" e a "questão de regime". A Liga Republicana da Mulher Portuguesa, criada em 1908, com o apoio do Partido Republicano, e, seguidamente, integrada, a título oficial, na sua arquitectura interna, é a primeira forma de estruturação daquele movimento associativo emergente e já em grande actividade.
Mulheres de excepcional dimensão cultural e moral ousaram, por essa via, sair da sombra, do anonimato, que lhes era imposto num país sem verdadeira tradição de participação feminina na res publica, e envolveram-se, corajosamente, numa vanguarda de luta, sempre norteadas por causas humanistas, como a igualdade de cidadãs e cidadãos perante e Lei, o sufrágio universal, a co-educação generalizada, a plena vivência da cidadania.
O direito de voto sem discriminação de sexo seria uma promessa incumprida ao longo dos 16 anos do regime implantado em 1910, e iria provocar as primeiras dissensões na "Liga" e prejudicar, globalmente, o esforço originário de união das democratas portuguesas, porque algumas das dirigentes eram, sobretudo, feministas, partilhando a visão universalista das grandes organizações internacionais do seu tempo - caso de Ana de Castro Osório - enquanto outras se consideravam mais republicanas do que sufragistas.
Todas, porém, mantiveram a fidelidade ao regime e aos princípios republicanos, quando não aos políticos, aos programas e formações partidárias em concreto.
A recusa do radicalismo no uso de meios para atingir fins, a moderação das reivindicações, a vontade de cooperação e o sentimento de proximidade ideológica e patriótica com os companheiros de uma caminhada para o progresso de Portugal (como subjectivamente o viam), característicos do discurso e da "praxis" desta notabilíssima geração de portuguesas, em que sentido terão influenciado a afirmação imperfeita de um estatuto de cidadania, pelo qual se bateram incansavelmente?
Fica essa dúvida, a par da certeza de que lhes cabe uma parte significativa e incomensurável do mérito nas vitórias futuras que as mulheres portuguesas haveriam de conseguir, no domínio da igualdade jurídica e da vivência da cidadania, porque com o seu pensamento e a sua acção se mostraram tão capazes de desfazer preconceitos e de demolir o mito da suposta inferioridade de “género”.
As feministas da primeira República, que hoje homenageamos, merecem, tanto ou mais do que outros contemporâneos eminentes, permanecer vivas na memória do País, como símbolos de idealismo, de grandeza intelectual, de espírito combativo, e, também, de modernidade, porque souberam rejeitar a opção, ao tempo comum em outras sociedades, pela "guerra dos sexos", em favor de um humanismo no feminino, inspirado pela crença generosa – então mais utópica do que é agora - numa democracia paritária e convivial.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A Pintura de Mestre António Joaquim

EXPOSIÇÃO DE PINTURA DE ANTÓNIO JOAQUIM

Esta exposição nasceu de um encontro ocasional numa outra mostra de pintura, da conversa que tive com Mestre António Joaquim, de um convite que, logo, espontânea e informalmente, lhe dirigi, em nome da Câmara Municipal, para aqui apresentar obra sua.
A inauguração do amplo espaço das duas galerias geminadas do Museu Municipal, a funcionar como um todo, estava ainda em projecto e exigia a colecção de um grande Artista, para marcar os anais do museu e da vida cultural nesta cidade. Avaliando as dificuldades da sua execução, não o achava, todavia, possível a breve prazo. Só o foi, graças à resposta pronta e calorosa do pintor António Joaquim, que tem a nossa terra, vizinha da sua, no coração. Não há palavras que bastem para lhe exprimir a nossa gratidão. Por todas as que ficam por dizer, mas não por sentir, um simples “Bem-haja”!
Temos, assim, a certeza de participar num acontecimento que irá “fazer história”, mas, antes, é hora de “fazer presente”: de olhar estas paredes longas, transfiguradas num deslumbrante mural de obras-primas, de guardar imagens, sensações, a vivência de momentos singulares, para sempre, na memória.
São dezenas de telas, reunidas numa sequência que lhes concede um destino próprio, neste espaço e neste tempo particulares, onde parecem existir só para nós.
Através delas acompanhamos o percurso de uma carreira fulgurante e multifacetada, exemplo de concretização do talento em acto, em mensagens de luz, de cor e de emoção - no desenho, na aguarela, no óleo, no acrílico, no pastel. Retratos, figuras, as famosas portas, paisagens… O Porto, envolto em bruma… O Castelo da Feira na lonjura, imperecível, por sobre as efémeras mas sublimes claridades do Outono … Espinho, o mar e a sua gente, perpetuados em linguagem pictural, na faina que Unamuno eternizou na escrita…
Na cadência de uma “viagem de descoberta” em que vemos e revemos, todas e cada uma das telas, nos sentimos destinatários e como que, de algum modo, participantes no esplêndido trabalho da sua criação, experimentando sensações novas ,reinventado sentidos para a beleza pura das imagens ou a sua significação.
Maria Manuela Aguiar
Vereadora da Cultura




Mestre António Joaquim quis dar a Espinho nesta grande exposição a essência de um trajecto artístico, que se exprime com tanta talento e versatilidade, em todos estes óleos, acrílicos, nas aguarelas, como no pastel. Em cada uma das telas que nos encantam nestas longas galerias do Museu de Espinho estão inteiros o seu génio e a sua alma.
Os mais recentes quadros, dois óleos deslumbrantes de Espinho - 2010, deixam antever o muito que do Mestre podemos ainda esperar, em modernidade, em força expressiva. Por suas mãos, muitas obrsa prodigiosas estão à espera de acontecer.

Bem-haja!