domingo, 3 de agosto de 2014

CCP 1981-1987

1981 - 1ª Reunião mundial -   LX Palácio Foz

1982 -  Reunião não convocada, pelo SECP José Vitorino. Protesto unânime da Comissão dos Neg Estrangeiros

1983  - 2ª Reunião Mundial, Porto -  Palácio da Bolsa - Santa Maria da Feira - Aveiro

1984  -3ª Reunião Mundial e 1ª  por Regiões -  Encontros Regionais  -  Danbury (América do Norte) / Fortaleza (América do Sul e África)

1985 4ª Reunião Mundial -   Porto Santo- Funchal

1996 - 5ª Reunião Mundial e 2ª por Regiões -  Maringá, Brasil (América do Sul) Toronto (América do Norte) Capetown (África) Alemanha ( Europa)

1987 -6ª Reunião Mundial -  Albufeira -  Algarve

segunda-feira, 28 de julho de 2014

MULHERES MIGRANTES E CIDADANIA. Antes e depois de Abril

Universidade Aberta, Salão Nobre
5 de junho de 2014
15h00 – 15h30
Sessão de Abertura
Manuela Aguiar, Presidente da Assembleia Geral da Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade
MULHER MIGRANTE (AEMM)
Ana Paula Beja Horta, Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais (CEMRI),
Universidade Aberta
Rita Gomes, Presidente da Direção da Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade MULHER
MIGRANTE (AEMM)
15h30 - 17h30
Moderadora: Joana Miranda, Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais (CEMRI),
Universidade Aberta
História dos Movimentos Feministas e a sua projeção na Diáspora
Manuela Aguiar, Presidente da Assembleia Geral da Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade
MULHER MIGRANTE (AEMM)
Mulheres e Cidadania na I República. Mobilização e Migração na Guerra de 1914-1918
Natividade Monteiro, Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais (CEMRI),
Universidade Aberta
Cidadania Europeia e identidade nacional no contexto da União Europeia
Adelino de Sá Bento Coelho, Ex-Dirigente da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas
Políticas de Migração, Cidadania e Género. O caso dos Estados Unidos da América
Deolinda Adão, Universidade de Berkeley, Estados Unidos da América

17h30 – 18h00
Exibição do documento fílmico realizado no âmbito das Comemorações dos 20 anos da Associação de
Estudo, Cooperação e Solidariedade MULHER MIGRANTE (AEMM)

programa colóquio Sorbonne (24 de junho)




Migrações. Que Perspetivas?

24 de Junho de 2014

Sala Bourjac – 17 rue de la Sorbonne 75005 Paris

09h30 – Sessão de Abertura

               Isabelle Oliveira – Diretora - Sorbonne

               Manuela Aguiar- Presidente da Assembleia Geral da AEMM

               Rita Gomes – Presidente da Direção da AEMM

10h00 – Conferência Inaugural

               Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário

10h30 – Café

11h00 – 1ª Sessão

                “ 40 Anos de Migrações em Liberdade. Correntes migratórias e Políticas de

                   Emigração”

                Moderador – Cônsul - Geral de Portugal em Paris– Pedro Lourtie

                Intervenções:

                Manuela Aguiar – Presidente da Assembleia Geral

                                                “Emigração e Diáspora depois da Revolução – as novas

                                                  políticas”

                Ana Paula Beja Horta – CEMRI – Universidade Aberta

                                                  “Emigração e os Direitos Sociais em Tempos de Crise.

                                                    Os novos contextos da cidadania social”

                Victor Manuel Lopes Gil – Assessor da DGACCP/SECP – MNE

                                                   “A Nova Emigração Portuguesa – Refletir para Agir”

12h45 – Almoço

14h45 – 2ª Sessão – “Cidadania Europeia e Identidade nacional no seio da EU”

                Moderadora: Custódia Domingues – Prof. Universitária –Sorbonne

                Intervenções: Deputado Carlos Gonçalves

                                          Deputado Paulo Pisco

16h00 – Intervalo para Café

16h30 – 3ª Sessão: “Mulheres Migrantes – as novas tendências migratórias”

                 Moderadora: Romaldo Lima – Unesco

                  Intervenções:  Jorge Macaísta Malheiros

                                            “Capital estético-corporal e migrações no feminino: sete ideias

                                               preliminares”

                                               IGOT – Universidade de Lisboa

                                               Ana Costa Lopes

                                               “A Singular História da Consulesa Angelina Sousa Mendes,

                                               em França”

                                               CEPCEP centro de estudos dos povos e culturas de expres-

                                               são  Portuguesa – Universidade Católica de Lisboa

18h00 – Sessão de Encerramento

                                               Isabelle Oliveira – Diretora Sorbonne

                                               Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José    

                                                Cesário

                                                Manuela Aguiar – Presidente da Assembleia Geral da AEMM

                                                Rita Gomes – Presidente da Direção da AEMM

                                               Carle Bonafous – Administrador Provisório da Sorbonne

 

 

A grande migração de retorno - o programa (3 de julho)

O próximo colóquio é uma parceria da Câmara Municipal de Gaia  e da
Associação de Estudo Mulher Migrante e o seu tema será "A Grande
Migração de Retorno", com  intervenção do Dr Amândio de Azevedo,
antigo Deputado da Assembleia Constituinte,  Ministro do Trabalho e
Embaixador da CEE no Brasil, que foi, em 1975, Secretário de Estado
para os Retornados.

A Prof Doutora Maria Beatriz Rocha Trindade fará a Introdução "Duas
designações adotadas para o mesmo conceito: retornar e regressar".

PROGRAMA


COLÓQUIO  “A GRANDE MIGRAÇÃO DE RETORNO”

                                                         1974 - 1975

 03 de Julho de 2014

Organização: Câmara Municipal de Gaia e a “Mulher Migrante –

                        Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade”

LOCAL: Arquivo Municipal de Gaia Sophia de Mello Breyner

                            Rua Conselheiro Veloso da Cruz 711 – 723    4400 -095  VNG

 

 

21,30 – 23,30 – COLÓQUIO  sobre “A GRANDE MIGRAÇÃO DE RETORNO”

Abertura:  Dr. Delfim Sousa , Vereador da Cultura

                   Drª Rita Gomes – Presidente da Direção da AEMM

Intervenções:

                   Profª Doutora Maria Beatriz Rocha – Trindade

                   Tema:  “Duas designações adotadas para um mesmo  

                                   conceito: Retornar e Regressar”

                   Dr. Amândio de Azevedo

                   Tema:  “A grande Migração de Retorno” (1974 / 1975)

 

Moderadora: Drª Manuela Aguiar – Presidente da Assembleia Geral da

                         AEMM

Debate com a participação do Dr. Durval Marques, fundador da Academia do Bacalhau de Joanesburgo e de portugueses regressados de África

 

 

 

 

Programa conferência em Berkeley (27 de abril)

Conferência sobre "25 de Abril de 1974 - Metas e Objetivos 40 anos depois"

XXXVIII Conferência Anual da "Luso American Education Foundation"
e "Portuguese Studies Program" da Universidade da califórnia, Berkeley

 IX Painel - Associação de  Mulheres Migrantes
1.30 -2.30
Moderator Lizz Mota

Presenters
Manuela Aguiar, Researcher, Past-Secretary of State for the Communities
40 anos de migrações em Liberdade. Os movimentos e as políticas

Graça Guedes, Professor, University of Porto

Donald Warrin, Researcher/Director Portuguese Oral History Project
-ROHO, University of California, Berkeley

Califórnia Madrasta dos meus Filhos - O outro lado da emigração:
testemunhos de quem ficou
Deolinda Adão, Director/Professor  -University of Califórnia,
Berkeley/ San José State University

Colóquio no MNE - notas para a intervenção


A DÉCADA 1974-1984
MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS
Os movimentos migratórios neste período não foram directamente influenciados pelo processo revolucionário, com excepção do retorno em massa das colónias de África. 
O grande êxodo dos anos 50 e 60, o maior registado na nossa história, chegava ao fim, com a crise económica europeia e mundial de 73/74, simplesmente porque os mercados d trabalho se fechavam a novos imigrantes.
 No sentido contrário, a descolonização trouxe, em 74/75, de volta ao País,  mais de 800.000 pessoas, em situação dramática, com perda dos seus bens nas colónias, e muitas delas, sem passado próximo em Portugal. No mesmo período, supõe-se que um elevado número de ex-residentes nas colónias (100.000 a 200.000?) terão reemigrado,  sobretudo para a RAS  e para o Brasil. O Brasil foi o único país que abriu as fronteiras a todos os portugueses de África, que aí beneficiavam do Estatuto de Direito Civis e do Estatuto de Direitos Políticos, nos termos do Tratado de Igualdade de Direitos e Deveres entre Portugueses e Brasileiros, celebrado no início de 70.
Também os regressos voluntários cresceram, sobretudo da Europa, atingindo números próximos dos 30.000/ano, em média. É um dos temas, então, mais mediatizados, levantando, infundadamente, receio de novos movimentos maciços e caóticos. De facto, estes portugueses prepararam, em regra, bem a sua reinserção, dando nova vida às terras que haviam deixado.
Com as novas  saídas praticamente limitada ao reagrupamento familiar, assiste-se à "feminização" da emigração, e os fluxos registados até à meia década de 80 são os mais baixos do século XX. As mulheres passam a constituir cerca de metade  das comunidades da emigração.
Mas não cessara a propensão migratória dos portugueses e esboçava-se já, em 84/85, a procura de novas destinos, como a Suiça.
 
II -NOVOS MEIOS INSTITUCIONAIS PARA A EXECUÇÃO DAS POLÍTICAS DE EMIGRAÇÃO
Em 1974 é criada, no Ministério do Trabalho, a Secretaria de Estado da Emigração (integrando os serviços preexistentes do SNE), no Ministério do Trabalho. Em fins de 1974, a SEE transite para o MNE. Seguidamente, serão abertas algumas Delegações da SEE no estrangeiro e no País- junto de Governos Civis e de algumas Câmaras Municipais, uma primeira tentativa de descentralização em regiões de forte emigração. 
Em 1980, é criado o Instituto de Apoio à Emigração e Comunidades Portuguesas, que resulta da fusão da Direcção Geral da Emigração e do Instituto de Emigração..

III -EMIGRAÇÃO E CIDADANIA - transição do paradigma "territorialista" para o "personalista"

A Revolução veio reconhecer aos Portugueses o seu direito de emigrar livremente e o seu estatuto de cidadania, onde quer que a emigração os leve a radicar-se.
Até 1974, o exercício da cidadania restringia-se ao território nacional, pela imposição inexorável do  "paradigma territorialista", na expressão do Prof. Bacelar de Gouveia. A ausência no estrangeiro implicava a perda de todos os direitos políticos e da própria  nacionalidade (se adoptassem a de outro país e, no caso das mulheres, se casassem com estrangeiros), assim como de direitos sociais ou culturais (maxime, o direito ao ensino da língua, de que o Estado nacional não curava, deixando-o  entregue às vicissitudes do associativismo).
A transição para o" paradigma personalista",  que se vai concretizando na evolução de um "estatuto dos expatriados" norteado pelo princípio  da igualdade, é um "acquis" da Democracia, consagrado na Constituição de 1976 e  aprofundado, progressivamente, em revisões constitucionais e nas leis da República. Um processo ainda em curso, que nesta primeira década deu passos muito  importantes:
 
1 - A elegibilidade e o direito de voto para a AR, em dois círculos de emigração, com um total de 4 deputados - uma representação diminuta, que constitui a única excepção ao princípio da representação proporcional. 
 De fora ficou o sufrágio na eleição do PR , que só viria a ser aprovado na revisão constitucional de 1997, e, também, o voto nas eleições locais e regionais.

2 - A aceitação da dupla ou múltipla nacionalidade (Lei nº 37/81).
 A lei não dava, porém, eficácia retroactiva à reaquisição da nacionalidade e, embora, prevendo a reaquisição fácil, por mera declaração do cidadão, acabou por ser desvirtuada por uma regulamentação, que implicava demoras, custos e obstáculos. Só em 2004 se conseguiu obter consenso parlamentar para um processo efectivamente simples, célere e com eficácia retroactiva . 

3 - A criação, por iniciativa governamental, de um órgão de representação especifica dos expatriados, junto do MNE - o Conselho das Comunidades Portuguesas. 
 O CCP era  composto por um núcleo de representantes eleitos pelas associações de cultura portuguesa (de nacionalidade portuguesa ou não) e por membros da imprensa, com estatuto de observadores e constituía uma plataforma de encontro das comunidades entre si e delas com o governo.  O 1º CCP foi pensado como uma instância para a co-participação nas políticas para a emigração e a para a diáspora, abrangendo, tanto nacionais, como outros lusófonos e lusófilos - uma forma de retomar, em parte, ainda que sob a égide do Estado, o projeto pioneiro de Adriano Moreira na década anterior (a União das Comunidades de Cultura Portuguesa.
 A partir de 1996/ 97, o CCP passa a ser eleito por sufrágio universal, e a representar estritamente os emigrantes de nacionalidade portuguesa.
Uma última referência ao CCP, para destacar o papel que desempenhou na génese das políticas de género na emigração ao ter aprovado. na 1ª Reunião Regional da América do Norte, em  1984, a recomendação da convocatória de um Encontro Mundial de Mulheres no Associativismo e no Jornalismo (as duas principais componentes do próprio CCP). O Encontro foi realizado no ano seguinte e deixou a sua  marca na história da emigração portuguesa.
 
4 - A instituição oficial do "Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades" .Assim, sem esquecer os emigrantes, se celebra, neste dia, simbolicamente, toda a dimensão humana e cultural da Nação. Vitorino Magalhães Godinho evocou no seu discurso do 10 de Junho  um "Portugal maior", no mesmo sentido em que Adriano Moreira falou de "Nação peregrina" e Sá Carneiro de "Nação  de Comunidades".

Conclusão
O período de 1974/84 foi a grande década de viragem nas políticas para a emigração e a Diáspora,  traduzidas num novo relacionamento entre o Estado e os Emigrantes, entre o Estado e a Nação.
 Ficou  definitivamente adquirido um estatuto de direitos dos expatriados, caracterizado pelo primado dos direitos dos cidadãos sobre o puro interesse do Estado.  O percurso para a plena afirmação dos direitos civis, políticos e culturais dos emigrantes prosseguiria, não sem obstáculos e pulsões contraditórias, nas décadas seguintes. E vai continuar, no caminho do aprofundamento da democracia, que não se faz sem todos os Portugueses.

Programa - Mesa redonda no MNE (26 de Março)



 

PROGRAMA  

 

Mesa Redonda: “ 4 décadas de Migrações em Liberdade”

(1974 – 2014)

Apresentação das Publicações da AEMM

Local: MNE - Palácio das Necessidades – Protocolo do Estado

26 de Março de 2014

 

15h00Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário

              Intervenção Introdutória     

 

15h15 – 16h15  Mesa Redonda

Rita Gomes  (Presidente da Direção - AEMM)

A Emigração Portuguesa nas vésperas da Revolução

 

Maria Benedicta Monteiro (ISCTE) sobre Maria Lamas e Olga Archer Moreira    sobre Maria Archer

Mulheres revolucionárias na Diáspora

 

Manuela Aguiar (Presidente da AG -  AEMM)

1974 – 1984 - Novas configurações do fenómeno migratório - os movimentos e as políticas

 

Deputado Carlos Gonçalves  e Deputado Paulo Pisco    

1984 – 1994 – O significado da opção europeia

 

Maria Beatriz Rocha -Trindade (Universidade Aberta – CEMRI)

1994 – 2004 Confluência de movimentos – emigração/imigração

 

Victor Gil (MNE)

 2004- 2014 - A  nova emigração

 

16h15 – 17h15  Apresentação das publicações

 “Expressões Femininas da Cidadania” e “Entre Portuguesas – Associação Mulher Migrante – 20 Anos”..

Intervenções sintéticas dos Autores  das comunicações, seguidas de debate.

Intervenções sintéticas de Autores das comunicações, recebidas até à data:

Deputado Carlos Páscoa

Leonor Machado de Sousa – Universidade Nova de Lisboa

Graça Guedes – Universidade do Porto

Joana Miranda – CEMRI – Universidade Aberta

 

Lisboa, 24 de Março de 2014

sexta-feira, 25 de julho de 2014

EDMUNDO MACEDO sobre MARY GIGLITTO


A MARIA ANTÓNIA (MARY) ROSA GIGLITTO


Um dia a Mary meteu-se no carro, foi de San Diego a Tijuana no México e ..."morreu".  "Ressuscitou" e quando chegou a casa telefonou e disse-me:
 " ... o menino sabe que hoje, pouco depois de chegar a Tijuana, morri ... e  não foi a primeira vez?"
 Havia qualquer coisa com a Mary que de vez em quando lhe dava para "morrer"... mas nunca se esquecia de "ressuscitar"...
 Tratava-me, brincalhonamente, por menino.  E a graça, a suavidade, a doçura da voz dela?     
(O novo Acordo aceita "brincalhonamente""?
 A Mary verdadeiramente nunca morreu. Um dia ausentou-se mas ficou indelével, como que esculpida, nos corações de uma multidão. De uma multidão de amigos, de Portugal, do México, de Espanha, da América, do mundo! 
 Durante os escassos meses que precederam a sua partida para o infinito, a Mary arrostou de frente com o inimigo que tanto a martirizava, desafiou-o, bateu-se como leoa, mas o inimigo era brutal.
 E quando o insidioso Diabo traiçoeiramente a prostrou, quando se lhe acabaram as formidáveis reservas, quando o sistema fechou e o ocaso deixou a sua tão amada Terra na maior escuridão, a Mary disse  "não posso mais"  e resolveu ir descansar.
 E as vezes que ela me disse ter nascido em Portugal e na América!?
 É que quando a família Rosa partiu da Ilha Açoriana do Pico a caminho da Califórnia, já lá vão mais de setenta  anos    - o seu patriarca alimentando o sonho de triunfar na pesca comercial do atum nas águas abundantes do Pacífico até à distante Samoa -,   a Mary já vinha com eles, protegida contra a intempérie no ventre materno, pelo que a Maria Antónia concebida no Pico resultou na Mary nascida e criada em San Diego, Califórnia, Estados Unidos da América, zip code 92106.
 E então a nossa Mary  - ao contar-me esta primeiríssima história colhida ao seu berço -  extravasava de emoção, de orgulho, até de paixão, que ela era Americana, sim, mas Portuguesa também!!!
E revelava-se-me Luso-Americana tão evidente e tão genuina como a areia de todos os desertos, como a seiva que o pinheiro grita, dorido da incisão, como o milagre das papoilas brancas e encarnadas ondulando em Agosto nos trigais da Lusitânia.
 A Mary Giglitto foi especial!
Para sua família, uma inexpugnável fortaleza!
Para os seus amigos, epítome de lealdade!
 Na sua determinação em fazer, em produzir, em realizar, foi simplesmente infatigável.
Entre gozar a comodidade da sua casa, ou esgrimir, subia resoluta aos estrados onde se travam todos os combates, marcando-os com a sua legenda de brasão, que rezava assim: 'Perder, Talvez, Sem Lutar, Nunca.'
 Durante décadas a Mary chamou a si o encargo de organizar em San Diego o Festival Cabrilho, que ela acabou por transformar numa bem-aventurada assembleia em representação de quatro Nações exprimindo em harmonia o seu apreço por coragem, por bravura.
 A coragem, a bravura daqueles que romperam os mares e encontraram o desconhecido.
 A Mary Giglitto conquistou a maior consideração da Marinha Portuguesa, da Espanhola, da Mexicana e da Norte-Americana. Em termos mais claros e precisos, granjeou a reverência de Portugal, Espanha, México e Estados Unidos.
 Louvores, aplausos e insígnias honoríficas nunca a motivaram. Mas os louvores, aplausos e as insígnias honoríficas chegaram, que ela os merecia.
 Não se esgotou na sua extrema dedicação ao Festival Cabrilho a obra primorosa da nossa Mary.
Só que a Mary  -- que eu tive a felicidade de conhecer como quem conheceu um tesouro -- não quer que eu diga mais.

Edmundo Macedo
Los Angeles, Outubro 2012































A Maria Antónia Rosa Giglitto foi peça de transcendente importância entre a Comunidade Luso-Americana da preciosa cidade de San Diego e até entre a Comunidade Luso-Americana que se encontra imbutida como rijo diamante na Califórnia e que garante ao majestoso Estado assinalável ....
















Revolução e feminismo em Portugal - - inc

... entre nós, é legítimo levantar a dúvida : continuará a ser praticamente tudo como dantes,
apenas de uma forma larvada mais subtil? Apesar da perfeita revolução operada na esfera jurídica, no pós 25 de Abril - que essa é perfeita e objectiva! - apesar da igualdade entre os sexos, consagrada na
Constituição, desde 1976, e nas leis, que com ela têm de conformar-se, o nosso parece ser um dos países europeus da "União" onde é mais raro encontrar responsáveis, a alto nível político, que demonstrem, na prática, encarar a matéria do equilíbrio de participação como vertente nuclear de um "avanço civilizacional". Há mais de um século, já Emmeline Pankhurst identificava avanço civilizacional, com o pleno acesso da Mulher ao poder. Ao tempo, em Portugal, os líderes de
uma República, que se olhava como moderna e progressista, recusaram o direito de voto às mulheres, do primeiro ao último dia, e, a meu ver, não foi por acaso. Foi por força de factores culturais, que pesaram mais do que a vontade de seguir os bons exemplos de outras repúblicas e monarquias europeias.
 Este fundo cultural condiciona fortemente o tratamento dado ao debate sobre os papéis de mulheres e homens na sociedade e na vida pública. Se assim é, em termos gerais, mais o é , certamente, no domínio das migrações. Acresce o facto de a emigração portuguesa ter sido, ao longo de séculos, uma aventura predominantemente masculina (5) A emigração feminina cresceu, porém, ao longo de oitocentos e atingiu a igualdade numérica, nos anos 70/80 do século XX (7). E, a partir daí, muitas perguntas se devem pôr... Por exemplo: Qual a parte das mulheres, na construção das
comunidades portuguesas?(8) O que significou para elas a o trajecto migratório, no estrangeiro? (9) Pode a alegada decadência do movimento associativo em certas comunidades, ser combatido com a maior mobilização das mulheres? Há uma consciência disso, por parte delas mesmas, dos dirigentes associativos e dos governantes? Como se vêm as migrantes, na sociedade em que vivem, e face àquela de onde vieram?
"Os Encontros para a Cidadania - A igualdade entre homens e mulheres nas comunidades portuguesas" representaram uma via de procura de respostas para essas e outras interrogações. Com a particularidade de ser empreendida, em conjunto, pela "sociedade civil" - usemos o termo, sabendo, embora, que tem os seus detractores - e o Estado. Proposta por aquela, decisivamente apoiada por este. Mais concretamente, proposta pela Associação Mulher Migrante e subsidiada pela Secretaria
de Estado das Comunidades Portuguesas, com um envolvimento político muito grande dos Secretários de Estado da Presidência do Conselho de Ministros e das Comunidades Portuguesas. Vamos olhar, de perto, esta experiência, que , de algum modo, pode significar o início de uma
ruptura com o passado, que parece pesar sobre nós. O passado de indiferença e de desvalorização da "questão feminina" ou "feminista" -

Mestre António Joaquim

Conheço Mestre António Joaquim e o seu trabalho há muitos anos e é-me difícil dizer se gosto mais da Pessoa, da sua cativante simplicidade e grandeza de espírito, se do Artista, tão ousado e tão bem sucedido no intento de procurar e de conseguir a perfeição pintada numa tela.


Foi, todavia, há poucos anos, em 2010, que o acaso me permitiu acompanhar de perto a aventura que foi organizar, num curto prazo, e viver, no dia a dia, uma exposição, uma grande retrospectiva da sua pintura. O acaso de ser vereadora da Cultura numa Câmara Municipal e de dispor de um espaço condigno à espera de uma inauguração que se queria memorável. O acaso de um encontro imprevisto com Mestre António Joaquim, que me permitiu lançar-lhe, de imediato, o desafio de ser ele a protagoniza-la. E ele, de imediato, aceitou, num gesto espontâneo e generoso - verdadeiramente idiossincrático, a revelar a forma como sempre sabe dizer "sim" aos amigos, dizer "sim" à inovação.

E, graças a esse gesto, veio a ser aberto, em festa, com uma multidão de participantes, vindos do norte e do sul do país, o imenso espaço das galerias do Museu Municipal de Espinho, duas galerias geminadas que parecem correr para o mar, intermináveis... A inauguração marcou, realmente, os anais do Museu e da vida cultural da cidade, com o nome e a arte de Mestre António Joaquim, o tão admirado quase conterrâneo - natural da Feira, a antiquíssima terra mãe de Espinho que o recebia com o maior entusiasmo .

Recordo como um tempo particularmente feliz o desse acontecimento que durou apenas um mês de Setembro, único, intenso, irrepetível. O tempo de viver o presente, que iria"fazer história", de olhar as paredes longas, transfiguradas num deslumbrante mural de obras-primas, guardando imagens, sensações, antecipando a saudade e a memória, que ficaria para sempre.

Eram dezenas de telas, reunidas numa sequência que lhes dava um destino próprio, naquele espaço e naquele tempo particulares, onde pareciam existir só para nós. Através delas seguíamos o percurso de uma carreira fulgurante e multifacetada, numa mostra de talento espelhado em mensagens de luz, de cor, de emoção – no desenho, na aguarela, no óleo, no acrílico, no pastel

Retratos, figurações, gente, terras, paisagens... As famosas portas... O Porto envolto em bruma... O castelo da Feira na lonjura, imperecível, por sobre as efémeras, mas sublimes tonalidades de Outono... Espinho, o mar e a gente, perpetuados m linguagem pictural, na faina, que Unamuno eternizou na escrita. Na cadência de uma "viagem de descoberta" em que víamos e revíamos, todas e cada uma das telas, e em

que nos sentíamos destinatários e como que, de algum modo, participantes no mistério da sua criação, experimentando sensações novas, reinventando sentidos para a beleza pura das imagens...

E é assim em cada nova exposição de António Joaquim, como a da agora, como as que se seguirão - encontro em que temos o privilégio de conviver com o inigualável comunicador que ele é, pela humanidade e alegria que põe na palavra, como na pintura.

ponte de afetos


Navegar num encontro de mares, por espaços que guardam a memórias de naus e caravelas, e construir na viagem uma ponte feita de sentimentos e de convergência de visão das coisas essenciais - como na história antiga, hoje, de novo, nas aguarelas suavemente evocativas, e nas palavras breves e significativas dos poemas  de Isabel Saraiva. Olhares, expressões que se cruzam, que se reconhecem num entrelaçamento de culturas, na admiração das singularidades do outro. É o segredo da amizade que perdura indestrutível na ponte de afectos que vai do Porto a Nagsaki, que do "Dai Nippon" ao Portugal grande da aventura marítima  

Diáspora O outro Portugal

1 - Falar de comunidades portuguesas tornou-se uma outra maneira de dizer emigração. Dá-se -lhes, correntemente, um significado estatístico - a comunidade portuguesa de França conta um milhão de portugueses, a da Africa do Sul  meio milhão... E assim se vão somando milhões, por alto, porque ninguém sabe, com inteiro rigor, quantos são (e, quase sempre, ficam aquém da realidade, num universo em expansão, sempre que novos portugueses começam a ver-se como tal, reclamando a sua ascendência…)
Aprendi, logo na minha primeira visita "à comunidade da América", em 1980, que o que interessava, em termos de presença e influência portuguesa, era essencialmente de ordem qualitativa e não quantitativa - era a organização do grupo, não "a comunidade" abstrata, mas no plural, "as comunidades", num sentido orgânico e dinâmico.
Depois, em muitas outras visitas circulares, a correr de cidade em cidade, recebida nas associações, nas escolas, nas paróquias portuguesas (normalmente sem tempo para ver o resto da cidade) repetiu-se a extraordinária sensação de que regressava ao país, sem nunca dele ter saído... Tudo o que possamos ter lido e ouvido de terceiros não nos prepara, nunca, para o que vamos viver, na convivência com esses outro Portugal, mais emotivo e mais consciente de si, que é, como recentemente afirmava o Prof Adriano Moreira, a "Nação dos afetos" - um espaço extra territorial de saudade e presença lusófona, (em alguns casos já somente lusófila...), onde tem a sua sede um conjunto de instituições, que os cidadãos construíram para suprir a grande ausência do Estado Português, no plano social ou no da cultura.
Esses mundos, nossos, são criados não diretamente pelo movimento migratório -  que seria, como aliás à partida se esperava, fator de dispersão e perda certa -  mas, sim, por um poderoso movimento associativo,  pura "sociedade civil". De país para país, sem qualquer ligação entre si, em cada novo ciclo migratório, a reação dos Portugueses foi espantosamente idêntica. Com dimensão variável, porque são diferentes os meios postos ao serviço do projeto comunitário, por todo o lado encontramos associações de solidariedade, de defesa da língua e da cultura, centros recreativos e  clubes desportivos. A semelhança só pode vir de paradigmas de organização trazidos da terra de origem ("réplicas" de aldeias portuguesas, na expressão de alguns especialistas neste domínio). O orfeão, o rancho folclórico, o teatro de amadores, o clube de futebol... As beneficências (n" misericórdias"), as sociedades fraternais, as escolas, os lares de idosos... A Igreja, as Sociedades do Divino Espírito Santo, que se espalham, às centenas, no mapa da Califórnia e noutros lugares de imigração açoriana...
Se a existência deste imenso património tivesse dependido do mais pequeno gesto do Estado Português, nem uma só dessas estruturas (algumas monumentais, como as do Brasil) teria conseguido erguer-se. Bem poderíamos parafrasear o Presidente Kennedy, mas usando o tempo pretérito: “não lhes perguntem o que o Pais fez por eles, perguntem-lhes o que eles fizeram pelo País”.
 
2 - A obra está por todo o lado, como os próprios portugueses. É uma obra que se deve à reconversão de uma tradicional emigração de homens sós (consentida e privilegiada pelo Estado, sempre sedento das remessas que nessa situação necessariamente mandavam para a terra...) em emigração familiar, com a sua metade feminina - quase invisível na direção das instituições mais antigas, mas determinante em termos de integração na sociedade estrangeira e na vida das organizações de cultura portuguesa,  que, aliás, se vão abrindo à sua participação igualitária,  pouco a pouco...
As instituições mais do que centenárias encontraram sempre continuadores, mas, tal como muitas outras, um pouco por todo o lado,  há algum tempo, começaram a questionar seriamente o seu futuro, visto como dependente da renovação dos fluxos migratórios .
O discurso oficial, no período posterior à adesão à CEE (esse “clube de ricos”), chegou a anunciar o fim dos tempos da nossa emigração! E os Portugueses acreditaram, durante cerca de 20 anos, porque o fenómeno migratório se devera à pobreza, que parecia coisa do passado...
Ora a pobreza está, hoje, de volta ao País, pela mão de um Governo jovem, que não hesita em levar a cabo um programa de empobrecimento geral, de destruição das classes médias. E, assim, um novo ciclo de emigração se desenha, - emigração desmesurada como aquela que há precisamente um século, o Prof Fernando Emygdio da Silva denunciava chamando-lhe “emigração delirante”, Saem todos  os que podem sair -- os mais e os menos qualificados, os mais jovens e os mais velhos, os homens e as mulheres (as mulheres, ainda uma minoria, é certo, mas, pela primeira vez, autonomamente)
Estará à vista a solução para uma segunda vida do associativismo, das comunidades da Diáspora.?
Ninguém pode ter certezas. Tudo vai depender da atitude com que partem. Como desistentes, deixando o País para trás, ou como resistentes, levando o Portugal consigo…
 

Cidadania Feminina

Quando se fala em direitos da cidadania para as mulheres, é comum pensar directamente no sufrágio, na capacidade eleitoral activa e passiva. E, embora este Encontro ponha o enfoque sobre outras formas essenciais de a Mulher se expressar, como igual ao Homem, em diversos domínios, não deixámos de começar pela sua intervenção no mundo, ou, como prefere dizer a Drª Maria Augusta, nos mundos da política.
 Afinal foi justamente neste espaço que se desenrolaram as primeiras lutas das nossas avós sufragistas, aqui bem  lembradas  pela deputada Maria João Ávila, numa excelente introdução que tantas pistas nos dá para o debate
Desde logo com a citação de Abigail Addams, que já em 1776 se dirigia ao Congresso americano nestes termos:
 
"Se as senhoras não receberem cuidado e atenção especiais, estamos determinadas a fomentar uma revolta e não nos consideraremos obrigadas a cumprir a lei , diante da qual não temos voz ou representação".
 
Em Portugal, nos inícios do Século XX, Ana de Castro Osório diria praticamente o mesmo:" Não podemos considerar nossa uma República onde não temos direitos, onde não temos voz para protestar"
 
O eco longo do mesmo sentimento de injustiça e exclusão, tantos anos depois, era o sinal de que muito poucas tinham sido as mudanças...ou os ganhos!
E, agora, no século XXI, depois de mutações radicais, no que respeita às leis da igualdade, mas perante números de gritante" imparidade" de género no campo da participação concreta, do acesso a cargos políticos, em quase todos os países, a pergunta é: o que fazer,  no País e nas comunidades da emigração?

ENTREVISTA DE J RODRIGUES E Mª DO CÉU CAMPOS


1 - A "Mulher Migrante, Associação de Estudo, Cooperação e
Solidariedade" (AEMM) tem esta designação muito longa a fim de chamar
a atenção para as três vertentes em que trabalha, tanto em favor das
estrangeiras em Portugal como das portuguesas no estrangeiro. Grande
parte da sua actividade desenvolve-se dentro do país em colóquios, em
debates, na promoção de estudos e de informação sobre a emigração e a
imigração, em campanhas de sensibilização para a vivência da cidadania
pelos estrangeiros, e, em particular, pelas mulheres. A AEMM está
eleita, por larga margem de votos, para a Comissão Municipal de
Interculturalidade e Cidadania (da Câmara de Lisboa) e para o Conselho
Consultivo da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, é
reconhecida pelo Alto Comissariado para para a Imigração (ACIDI),
colabora com outras associações, com Universidades, centros de
investigação, escolas, Câmaras Municipais. Uma agenda cheia, com a nossa
diáspora feminina sempre presente!
Fora do País, mantemos contacto e cooperação permanente com uma rede de
parceiros, que começou a desenhar-se num Encontro Mundial de Mulheres
da Diáspora, que realizámos em 1995, em Espinho, e que contou com mais de 300
participantes. Ficámos, desde, então, com interlocutores e
representantes em países de todos os continentes. Temos núcleos nos EUA, em
Newark, no Brasil (Rio e São Paulo) e "associações irmãs" na Argentina - já com
um longo e notável percurso - e na Venezuela, esta constituida há poucos meses.
Depois de um novo Encontro Mundial em Novembro de2011, na cidade da Maia, o
ano de 2012 foi um período de expansão, nas Américas, e na Europa, onde destaco o
movimento que se está a iniciar na Inglaterra - as "Lusófonas de
Londres" - e a criação de Academias Séniores em Toronto e Buenos Aires.
Na AEMM, acreditamos nas virtualidades do chamado" congressismo", que
foi tão importante nos inícios do movimento feminista, desde fins do século XIX.
E continua a ser! Debates, seminários, reuniões internacionais, têm-nos servido para
apresentação de estudos e teses científicas, para partilha de experiências, para dar uma visão
comparatista dos problemas e de soluções possíveis. Mas, à força das palavras,
das ideias, tem de seguir-se a força das acções - o que nem sempre se
consegue. Nós podemos levar sugestões, propostas a círculos das
comunidades, mas a obra, quando se afirma, é mérito de quem trabalha
em concreto para implementar os projectos, quer de forma autónoma, quer
com a nossa em colaboração.


2 - A emigração têm feito parte da minha vida ao longo dos últimos 25
anos. É um domínio que me interessa pessoalmente, humanamente, muito
para além de cargos politicos que exerci no passado, cada vez mais
distante. Não pretendo ser uma autoridade na matéria, mas reconheço
que tenho observado, acompanhado e procurado agir em favor da melhoria
do estatuto de direitos e da abertura efectiva à participação
igualitária dos emigrantes, sem esquecer as mulheres.
Vejo a emigração, ao contrário do que se previa e dizia, como uma via
de emancipação das mulheres, porque, em geral, lhes dá acesso ao mundo
do trabalho, e, com isso, autonomia e uma boa integração na nova
sociedade, que acaba por influenciar poderosamente a integração de
toda a família.
Na Europa essa é, de facto, a regra. Nos EUA e no Canadá, também. Por
isso, nesta parte do mapa das nossas migrações há mais semelhanças do
que diferenças, no que respeita à situação das portuguesas. Nos outros
continentes há mais mulheres que se mantêm nas funções tradicionais.
Quanto mais elevado é o rendimento ou estatuto do marido, mais isso
tende a acontecer... Mas praticamente só na 1ª geração. As jovens
enveredam, quase todas, por carreiras profissionais, para orgulho de
suas mães.
No que respeita ao percurso feminino no nosso associativo, os obstáculos têm
sido enormes, embora haja progressos, aqui e ali, não ainda genericamente. Este
é um dos dados de facto que explica a subsistência do associativismo feminino e
que justifica a necessidade do seu crescimento. Pessoalmente, penso
que o equilíbrio de género no dirigismo associativismo é o ideal, a meta final.
Nós, na AEMM, temos como membros de pleno direito mulheres e homens, que,
lado a lado, lutam pelas mesmas causas. As questões de género
respeitam a todos e todos devem contribuir para sociedades mais
justas, mais inclusivas e, por isso, também mais eficazes e até mais
felizes...


3 - A ideia da igualdade de género faz hoje um percurso triunfante em
sociedades democráticas, mas não podemos esquecer que é coisa muito
recente - décadas, menos de um século - e que em grandes regiões do
mapa-mundi, persistem situações de verdadeira escravatura das mulheres.
A revolução democrática passa pelo interior da família, que agora assume o seu
governo em diarquia de marido e mulher, iguais em direitos e em poder
de decisão. Famílias mais dialogantes também em relação aos filhos.
Com os homens a assumirem crescentemente a parentalidade, as
obrigações no lar e as mulheres a intervirem, como cidadãs e
profissionais, fora de casa, onde estavam tradicionalmente
"emparedadas" .
Eu adiro ao adjectivo que usou:equilíbrio salutar! O equilíbrio é sempre
salutar. Permite a cada um escolher o seu caminho, sem a barreira dos
preconceitos, que predeterminavam as funções de cada sexo. É no
pluralismo de opiniões, de sensibilidades e de culturas, no qual se
engloba a componente de género e geração, que a democracia caminha e
se aprofunda. Por isso, para acelarar o ritmo das transformações, no
campo da política, sempre defendi o sistema de quotas para chegar à
paridade, com base na presunção realista da igualdade de capacidades entre os
sexos. Como costumo dizer, "à sueca"! Os resultados estão à vista,
tanto na Suécia e outros países nórdicos, como no sul da Europa, com a
Espanha à frente.. A recente introdução de quotas para mulheres e
homens na administração de empresas privadas, em países pioneiros,
como a Noruega ou o Canadá, traduziu-se em ganhos enormes de
produtividade e de lucros. Mostram-no os números, objectivamente. E
não creio que sejam fruto de uma superioridade feminina, mas sim da
conjugação criativa de modos diversos de ver e de actuar de homens e
mulheres. É o efeito do equilíbrio salutar, que a AEMM tanto se
empenha em promover em clubes e associações.


4 - Ao longo dos anos, fizemos várias visitas semelhantes, quase
sempre preparadas com antecedência, mas concentradas no tempo de
estadia, que é sempre breve. A forma como decorrem, o número e qualidade
das intervenções podem ser um bom preságio, mas o mais importante é o dia seguinte...
É a sequência! Temos essa experiência vivida desde os "Encontros
para a cidadania", que levamos a cabo em vários continentes e países,
entre 2005 e 2009, com o apoio muito directo do Secretário de Estado António
Braga. Uma forma de parceria que prosseguimos com o Dr José Cesário.
Devemos-lhe o estímulo e o apoio para a realização do Encontro
Mundial de Mulheres da Diáspora em Novembro de 2011. A partir daí, a
convite de participantes desse Encontro, relançamos iniciativas de
mobilização das mulheres das comunidades, para maior intervenção, com
desenvolvimento de projectos, como o das universidades seniores (ou
academias e tertúlias de convívio para os mais idosos), ou a recolha
de narrativas de vida, que são meio insubstituivel de fazer a própria
história da emigração no nosso tempo.
Ultimamente, temos posto o acento também no domínio cultural, na
defesa da língua, nas artes pláticas, na escrita - aquele em que as
mulheres são já iguais aos homens. Há que realçar esse facto, para
que sirva de estímulo a outras mulheres. Foi o que procuramos fazer em
2012 em diversas comunidades, em algumas já com resultados visíveis.
Noutras, caso da Alemanha, que foi a última do ano, é cedo para fazer
o balanço. Foi através da Maria do Céu Campos, uma das mais activas
participantes no Encontro Mundial de 2011 e a nossa principal
interlocutora na Alemanha, que obtivemos o contacto de Maria Kosemund
e das outras organizadoras das reuniões de Mainz e Wiesbaden. Acredito
que tentarão concretizar as principais propostas aí apresentadas. E queremos
continuar o trabalho noutras regiões, com outras comunidades.

5- A meu ver, na Alemanha, como um pouco por todo o lado, há no
associativismo lugar para maior intervenção feminina, em outros
moldes, em outros patamares. Estar na cozinha, assegurando uma das
principais fontes de receita dass colectividades, manter "a casa em
ordem", como acontece na sua própria casa, é certamente importante.
Mas porque não poderão também pertencer às direcções? Aí poderão
inovar, tornar as sedes mais atraentes para os jovens, que tendem a
afastar-se, para os mais velhos (que lá poderiam, como em algumas já
acontece, ter o seu "centro de dia", a sua "universidade sénior", a
sua margem de intervenção), para as próprias mulheres, para acolher os
emigrantes que estão a chegar... Hoje, em muitas regiões do mundo,
fala-se de decadência do associativismo, da dificuldade de encontrar
dirigentes. Dar lugar às mulheres duplica o campo de recrutamento e
pode trazer interessantes propostas, num novo relacionamento de género
e geração.
Acredito que isso aumentará a convivialidade e o dinamismo social, que
pode igualmente ser favorecido por esquemas mais informais de
organização, como grupos de reflexão e de intervenção social, círculos
culturais, literários, musicais, simples tertúlias de amigos, vindos
dessas "minorias" mais marginalizadas, se souberem atraí-las à sede
das associações.
Na nossa mais recente publicação,, uma revista que tem por título
"Entre Portuguesas num mundo sem fronteiras", entrevistámos o Dr José Cesário
e fizemos manchete com esta sua declaração "sem Mulheres, não há reforma no
associativismo". É verdade e é bom que os governantes o reconheçam.


6 - A história da emigração portuguesa mostra que os laços de ligação
ao País não se perdem com o enraizamento noutras sociedades. Pelo
menos no que respeita às primeiras gerações. E, às vezes, também até
nas gerações seguintes, muito por mérito e influência das Mães e das
Avós, que ensinam aos jovens a sua língua e a afeição à sua cultura.
Os governos não conseguem alterar isto! Sabemos bem que não só a
Alemanha, mas quase todos os países europeus de imigração desenvolvem,
mais ou menos abertamente, políticas de pura assimilação dos estrangeiros,
ao contrário do que acontece nas Américas, em países construidos por gente
de todas as origens e, por isso, conscientes de uma identidade nacional feita de
diversidade étnica e cultural.
Ao longo da minha vida na política lutei sempre pela dupla nacionalidade, dentro
e fora do país, na Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, na
qual fui representante de Portugal durante 13 anos. Considero que dupla nacionalidade
corresponde à dupla ligação genuina, sentida a duas Pátrias, unidas no percurso
migratório individual. Como nós amamos Mãe e Pai a 100%, também podemos
amar duas culturas e dois países a 100%.
Acredito que as Portuguesas da Alemanha serão sempre portuguesas e
espero que se sintam, também, alemãs, correspondendo à vontade da
Alemanha de as tratar como tal. E ainda bem - ainda bem que superou a tese
dos imigrantes como "trabalhadores convidados".


7 - Gostaríamos de contribuir para um melhor conhecimento do papel das
portuguesas na sociedade alemã, para um movimento de cooperação entre
elas e de poder dar testemunho dessa realidade nas nossas
publicações, divulgando-a junto das nossas associadas em outros
países. De ser um elo de ligação entre as Portuguesas da Alemanha e as
Portuguesas com quem já cooperamos noutras latitudes.
Referirei alguns dos projectos que lançámos para cumprir as
recomendaçõe do Encontro Mundial de 2011: as Academias Séniores de
Artes e Saberes (ASAS). a recolha de histórias de vida, de que já
falei, o levantamento da situação das mulheres no dirigismo
associativo, o acompanhamento da nova emigração, com estudos,
estatísticas, abordagem dos seus problemas, enfoque nas suas realizações,
debate sobre as duplas pertenças e a capacidade muito
feminina de preservar o património cultural (as mulheres guardiãs da
cultura e promotoras de integração, como disse), e ligado a este
aspecto, a preservação da memória, a homenagem a mulheres
excepcionais, que foram forçadas ao exílio, como Maria Lamas e Maria
Archer, jornalistas, escritoras, que dedicaram a vida à luta pelos
direitos da mulher, e pela liberdade e democracia para Portugal e que
nós lembrámos, recentemente, numa sucessão de colóquios, no Teatro da
Trindade, em Lisboa, no Guarani, no Porto, em bibliotecas, em escolas,
com publicações, cujo lançamento é ocasião para novos debates. Isso tem
acontecido no país, de norte a sul, e é nosso propósito estender a
iniciativa às comunidades, destacando exemplos da emigração do passado
para pensar a do futuro.
Há muito mais a fazer, na linha das propostas feitas pelas Emigrantes no
congresso de 2011! Pergunta-me como resolvemos a questão de encontrar
locais para as nossas reuniões. Em regra, contamos com outras instituições
que nos abrem as portas, em salas de associações, anfiteatros de municípios
ou universidades, bibliotecas públicas... E Embaixadas e consulados
que nos têm apoiado de forma extraordinária, sempre que pedimos a sua mediação.


8 - Sim , nós somos uma associação que não faz política partidária. O
nosso partido são as mulheres, as emigrantes, os seus direitos, como
dizia a notável republicana e feminista Ana de Castro Osório. Estamos
unidas pela causa da plena cidadania feminina e temos trabalhado bem
com governos de diferentes partidos, contribuindo para a execução de
programas para a emigração. com a componente de género - num ambiente
de consenso e com uma constância, que não se verificará em outros
aspectos das políticas para as comunidades. Continuamos o espírito de
um memorável 1º Encontro de Mulheres, na cidade de Viana do Castelo,
em 1985, que foi, por sinal, o primeiro convocado por um governo de um
país de emigração. Esse Encontro veio a inspirar a criação da AEMM,
alguns anos depois, em 1993. Na sua matriz está a vontade de
cooperação Estado- Sociedade Civil, com respeito pela autonomia das
respectivas esferas.. Uma herança que queremos continuar e que tem encontrado
receptividade nos sucessivos governos..


9 . Um jornal prestigiado, um jornal que vive no centro das
comunidades portuguesas e lhes dá voz, é, evidentemente, um
interlocutor esplêndido! Queremos contribuir para transformações de mentalidades
e atitudes a imprensa é instrumento fundamental para atingir esses fins, para
promover a mudança de opiniões, o combate aos preconceitos.
Estou a lembrar-me de uma série de debates que realizámos, há alguns
anos, nos EUA e no Canadá sobre "acção e representação das mulheres
nos media" - e em que foi bem destacado o papel dos jornalistas e dos
jornais nos avanços registados na forma de ver e reconhecer as
emigrantes.
Em nome da AEMM agradeço esta oferta de cooperação e, desde já,
manifesto o nosso desejo de corresponder. À Maria do Céu Campos e ao
José Rodrigues já os consideramos aliados para muitas futuras acções.

 
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