sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

ISABEL SARAIVA poemas e pinturas


A pintura japonesa é como uma invocação [...]é como se dissesse que aquele pincel inteligente, não pinta, pensa e recorda

Venceslau de Morais

As aguarelas suavemente polícromas e as estrofes breves e significativas dos poemas "hai-kai" de Isabel Saraiva convertem-se em talentosa invocação de um passado longo de atracção recíproca entre dois países que tantos mares separam... São como que uma nova viagem por espaços que guardam memórias de naus e caravelas, na viagem construindo pontes feitas de afinidades redescobertas, de convergência da visão de coisas essenciais. Como na história antiga, olhares e expressões que se cruzam num inesperado entrelaçamento de culturas, num mesmo sentimento de admiração pelas infinitas singularidades do outro, numa vontade de compreensão e de intercâmbio...
Parecer do Comité Económico e Social Europeu sobre «O contributo e a participação dos idosos na
sociedade»
Relatora: Maureen O'NEILL
Em 19 de janeiro de 2012, o Comité Económico e Social Europeu decidiu, nos termos do artigo 29.o, n.o 2, do Regimento, elaborar um parecer de iniciativa sobre esta amtéria
(...) a Secção Especializada de Emprego, Assuntos Sociais e Cidadania ... emitiu parecer em 23 de outubro de 2012.
Na 484.a reunião plenária de 14 e 15 de novembro de 2012 (sessão de 14 de novembro), o Comité
Económico e Social Europeu adotou, por 144 votos a favor, com 3 abstenções, o seguinte parecer:

1. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Conclusão
1.2 Os idosos são membros dinâmicos, capazes e vitais da nossa sociedade Transmitem conhecimento, competências e experiência para as próximas gerações. Contribuem, individual-
mente e em conjunto, para a nossa economia, para as nossas comunidades e para a transmissão da nossa história. Enquanto membros de uma família, as pessoas idosas são responsáveis
por encorajar a coesão e a solidariedade na nossa sociedade.

RECOMENDAÇÕES
O CESE recomenda que:
— se coloque a tónica na capacidade e no contributo dos idosos, e não na sua idade cronológica, e que os governos, as ONG e os meios de comunicação social realcem estes elementos através de declarações positivas;
— se apoie a participação ativa de todos os grupos etários na sociedade e o aumento da solidariedade e da cooperação intergeracional e dentro de cada uma das gerações;
— os governos e organismos estatais assumam um compromisso positivo de promoverem a participação ativa dos idosos no processo de decisão e o seu papel nas comunidades;
— os governos cooperem com os parceiros adequados na supressão de todas as barreiras que impeçam a participação plena dos idosos na sociedade;

— os idosos se candidatem a eleições, votem e participem como membros do conselho de administração em empresas, organismos públicos e ONG;


— os idosos sejam encorajados a voluntariar-se de acordo com as orientações de boas práticas;

— se preveja a possibilidade de os trabalhadores idosos permanecerem no posto de trabalho até à idade legal de reforma ou mesmo depois, se assim o desejarem; (...)



2013
Jornal Oficial da União Europeia
2. Introdução
2.1 No entender do Grupo de Pilotagem para o Envelhecimento Ativo da Comissão Europeia, um envelhecimento ativo e saudável ...Tal aplica-se tanto aos indivíduos como aos grupos populacionais. A seu ver, o termo «saúde» refere-se ao bem-estar físico, mental e social, enquanto o termo «ativo» abrange não só a capacidade de estar fisicamente ativo ou participar no mercado laboral, mas tam-
bém a participação contínua nos assuntos sociais, económicos, culturais, espirituais e cívicos

O objetivo deste parecer é chamar a atenção para a participação ativa dos idosos na Europa, analisar os obstáculos que impedem a participação ativa de mais cidadãos e destacar que essa participação é constante ao longo da vida. A construção de uma Europa adaptada aos idosos (2) começa desde que os cidadãos nascem e requer uma visão de longo prazo.
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Atualmente, há 85 milhões de pessoas com mais de 65 anos na Europa, e este número atingirá os 151 milhões em 2060. É importante não colocar a tónica apenas na idade cronológica, mas reconhecer e melhorar também a capacidade de participação dos cidadãos de todas as idades e compreender que mesmo as pessoas idosas (que são, no contexto deste parecer, as pessoas com 65 anos ou mais) que padecem de problemas de saúde podem participar.

A participação ativa dos idosos nos domínios social, cultural, económico e político exige que se tenha uma imagem correta da terceira idade (4). Importa desencorajar o uso de linguagem demasiado dramática pelos meios de comunicação social e governos para descrever uma sociedade em envelhecimento

As atitudes discriminatórias com base na idade têm de ser eliminadas, uma vez que prejudicam a imagem dos idosos e os desencorajam de participar. Tal implica a perda de contributos vitais e aumenta as tensões intergeracionais.

importância atribuída ao contrato social entre gerações.

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As imagens negativas dos idosos são nefastas, já que a discriminação compromete a autoestima e impede uma maior participação e o seu contributo para a economia.

A evolução demográfica abre oportunidades ao crescimento da «economia grisalha», já que os idosos são consumidores em muitos setores e contribuintes através do emprego.

O combate à discriminação com base na idade através de legislação, liderança e construção de numa nova dinâmica na elaboração de políticas deve, pois, ser uma prioridade na promoção do envelhecimento ativo e na exploração do potencial que os idosos têm de desempenhar um papel pleno no desenvolvimento do capital social e económico do seu país.

Há que desconstruir a ideia de que, aos 65 anos, as pessoas passam a receber serviços em vez de contribuírem. As barreiras da idade devem ser abolidas. Os idosos não se transformam num grupo homogéneo em razão da sua idade, mantendo antes as suas diferentes visões, energias, experiências,
preconceitos, necessidades e ambições.
Todas as pessoas estão a envelhecer e, para cumprirmos as expectativas em 2060, serão necessárias adaptações constantes.

Questões cívicas

No recente relatório intitulado Gold Age Pensioners (6), os idosos são descritos como «elo de ligação social». O relatório realça o seu contributo para a família e para as comunidades através do voluntariado e da participação em instituições democráticas.


Os idosos têm o registo mais elevado de adesão às urnas em todas as eleições. Segundo um relatório do Eurostat (7), 50 % dos cidadãos com mais de 55 anos votaram, e o interesse pela política é mais forte entre as pessoas mais velhas. O número crescente de pessoas idosas na nossa sociedade traz consigo uma influência política considerável, apelidada grey power («po-der grisalho») nos EUA. Esta influência é efetivamente exercida.

A média de idades dos deputados eleitos para o Parlamento Europeu é de 54 anos e o deputado mais velho tem 84 anos. Isto verifica-se também noutras instituições governamentais e no CESE, o que realça que a idade não deve ser um obstáculo à participação a nenhum nível.
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. Participação no processo decisório

A Plataforma Europeia de Idosos publicou um relatório em 2010 (8) que explicou os métodos desenvolvidos nos vários Estados-Membros que incluíam conselhos locais e nacionais e consultas públicas de pessoas idosas. É uma condição fundamental do processo europeu de inclusão social que as partes interessadas participem no desenvolvimento de soluções para os problemas que enfrentam.

Uma participação eficaz requer estruturas de acolhimento e um empenho sério de organismos governamentais e ONG, empregadores e outras instituições, em ouvir os idosos enquanto partes interessadas.

Investigação

O CESE congratulou-se com o apoio da Comissão Europeia a iniciativas de programação conjunta e com a elaboração de roteiros para futuras atividades de investigação no domínio
do envelhecimento e das alterações demográficas, que integram o «Horizonte 2020 – Roteiros para o envelhecimento»

6. Prestação de cuidados



Voluntariado

Há um notável leque de atividades de voluntariado dos idosos que vão muito além dos domínios associados tradicionalmente ao envelhecimento, como o apoio a idosos frágeis ou doentes (13). Estas atividades abarcam domínios como cuidados sociais e de saúde, lazer, ambiente, organizações religiosas, cultura e política.
7.2 Os idosos participam em atividades voluntárias porque isso lhes possibilita conservar e desenvolver as suas competências e contactos sociais, prevenir o isolamento e a exclusão
sociais e servir a sua comunidade. O voluntariado traz benefí­cios mútuos. Segundo um estudo realizado em 2009, 78 % da população da UE-27 eram de opinião que os idosos dão um
contributo substancial como voluntários em organizações de beneficência e comunitárias

Contributo económico

O contributo dos idosos para a economia pode ser mensurado não só em termos de consumo, mas também através do pagamento dos impostos sobre o rendimento e sobre aquisi­ções, da prestação de cuidados informais a familiares, o que representa uma poupança para o estado, da assistência aos ne-
tos, permitindo que os filhos regressem ao mercado de trabalho, ou do valor do voluntariado e da permanência na vida ativa.
Além disso, há transferências de ativos para os parentes mais jovens a fim de os ajudar a cumprir compromissos financeiros importantes

Os idosos não são suficientemente reconhecidos como consumidores, o que justifica as atitudes negativas relativamente aos mais velhos. As visões estereotipadas dos idosos transmitem
tendencialmente a ideia de que os mais velhos não precisam nem querem oportunidades ou serviços diferentes e de que o «mercado jovem» é muito mais importante

. Emprego

Cerca de 60 % dos trabalhadores creem que estarão em condições de continuar a exercer a sua atividade profissional quando chegarem aos 60 anos
Dado o aumento da longevidade, é importante que os idosos tenham a capacidade e a possibilidade de escolherem permanecer ativos até à idade legal da reforma e, se assim o desejarem, para além dela.

Os idosos trazem uma riqueza de experiências e competências para o local de trabalho, o que é essencial numa altura de escassez de competências e garante um contributo contínuo para a economia. As empresas devem ser incitadas a desenvolver boas práticas em estratégias de gestão do envelhecimento
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De acordo com os dados do Eurostat relativos a 2010, 50 % dos trabalhadores com mais de 65 anos trabalham por conta própria

The Golden Economy [A economia sénior],

Aprendizagem ao longo da vida

O CESE tem vindo a sublinhar há já alguns anos a importância da aprendizagem ao longo da vida enquanto uma condição prévia para a inclusão social, a permanência no local de trabalho, o desenvolvimento pessoal e a capacidade de participar eficazmente
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Cada vez mais idosos tiram partido das oportunidades educacionais, embora a situação não seja igual em todos os Estados-Membros (23). A participação dos idosos em grupos comunitários e ONG proporciona uma fonte significativa de aprendizagem informal.

Obstáculos à participação

Embora se tenha salientado a participação dos idosos num leque de atividades com impacto na vida social e econó­mica, ainda persistem importantes obstáculos para muitos idosos que os impedem de participar mais plenamente
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A idade cronológica é uma das muitas características que definem uma pessoa. O conhecimento, as competências e a experiência reunidas por diferentes grupos etários são recursos vitais na sociedade. Uma sociedade inclusiva para todas as idades exige que a responsabilidade coletiva seja assumida pelos decisores políticos, pelas partes interessadas e pelos próprios cidadãos quando da definição de políticas e práticas que assegurem a equidade e a inclusão, independentemente da idade.

Bruxelas, 14 de novembro de 2012.
O Presidente do Comité Económico e Social Europeu
Staffan NILSSON
ROTAS E DERROTAS da TAP 1 - A TAP nasceu no tempo do império e nunca perdeu a marca originária, que, através do um percurso já longo, a levou a sucumbir, quase sempre, à tentação de identificar os interesses de serviço do país inteiro com os da sua capital. No que tem estado, aliás, em consonância com o paradigma de desenvolvimento que, antes e depois de 1974, alimenta a macrocefalia de uma região, em prejuízo do todo nacional... A privatização podia, pois, neste contexto, vir melhorar um estado de coisas, interagindo com o setor privado que, fora de Lisboa, faz os possíveis para corrigir assimetrias, dando-nos uma transportadora mais "amiga" do progresso global do país, do norte e do sul, das ilhas e das comunidades da emigração, aproveitando inteligentemente as suas virtualidades. Todavia, a privatização, engendrada pelo governo anterior e, neste aspeto, intocada pelo atual, vai precisamente em sentido contrário, que é aquele que convém aos seus concretos compradores. Com eles, está visto, a TAP promete ser cada vez mais centralista. O encerramento de voos para destinos europeus a partir do Porto (a que se seguirão, se não me engano, os intercontinentais que ainda restam) prejudicará não só a cidade, mas toda a metade norte do país, o seu turismo, as suas exportações e até a sua emigração, de que tanto se fala, como se ela fosse de Lisboa, quando não é - é maioritariamente do norte e do centro, litoral ou interior, e, quando vem a Portugal, é para aí que quer ir. Aliás, não menos chocante é o que se passa com o Algarve, de onde a companhia nacional se limita a disponibilizar voos para Lisboa…E na emigração são muitas as grandes comunidades cortadas do seu mapa - por exemplo, as do Canadá. 2 - Esta é, não o esqueçamos, a segunda tentativa governamental de se desfazer da TAP e deixa-nos uma sensação de "dejà vu"... A primeira (estava o PS no poder) traduziu-se na sua entrega às mãos da Swissair. Um negócio inenarrável, uma falsa parceria, que deu a essa empresa, em vésperas de falir, a possibilidade de manipular as reservas da outra, esvaziando os seus voos diretos para várias cidades da Europa - e não só - desviando os passageiros para os seus próprios aviões, para um "hub" helvético, e, daí, para o destino final. Péssimo serviço para nós, acordo leonino para os suiços, que nem assim evitaram a bancarrota. Esta última negociação da TAP, com assinatura de um governo PSD, será assim tão diferente da primeira? Uma das interessantes denúncias de Rui Moreira - pouco glosada, por sinal - é a de que o novo dono da TAP, e também da "Azul" tem uns aviões parados, a que precisa de dar ocupação rentável na ponte aérea entre Lisboa e Porto. Esta "ponte" tem, assim, por finalidade não a ligação das duas cidades, favorecendo-as por igual, mas o desvio do trânsito internacional de uma para a outra... A "ponte aérea" a partir de Vigo completará a manobra, com que visa esvaziar o aeroporto Sá Carneiro (um magnífico aeroporto, subaproveitado, muito mais funcional e confortável do que o da Portela...). 3 – Contudo, o abandono do aeroporto Sá Carneiro pela companhia de transportes dita “portuguesa” não é o único problema que deve fazer-nos pensar... O Porto há-de saber reagir, boicotando a ponte aerea e privilegiando os voos diretos de outras companhias, que ocuparão o vazio da TAP - até porque fazer escala, mudar de avião, por muito frequentes que sejam as ligações oferecidas, é sempre um grande incómodo e perda de tempo, sobretudo em aeroportos com vários terminais. Isso seria o fatal para o turismo nortenho.. Mas, para além disso, esperemos que esta privatização (que avança com o atual governo num estranho e opaco modelo de "hibridismo" e, segundo os "media", já a evidenciar a necessidade de uma injeção de capital chinês ) não venha a revelar-se fatal para a própria empresa. A TAP foi sempre, para nós, no domínio crucial da segurança, uma das melhores companhias do mundo – aquela em mais confiança depositávamos. Um símbolo nacional de excelência, como José Mourinho! Os seus pilotos eram os melhores, os seus serviços de manutenção também (ainda que não fosse do mesmo nível a sua gestão, pois Fernando Pinto está bem mais mais próximo da classe de um Scolari do que de um Mourinho). Eram razões de sobra para termos um imenso orgulho na nossa companhia de bandeira. Perder, eventualmente, estes padrões de qualidade é perder a TAP, mesmo que mantenha o nome e o "hub" em Lisboa.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

POR UMA SELEÇÃO DOS MELHORES 1 - Fernando Santos é, desde há muitos, muitos anos, o primeiro selecionador nacional que se preocupa em escolher os melhores para a equipa que representa o país, sem olhar a regiões de origem, clubes, nomes, idades, isto é, sem qualquer preconceito. Estranho é que tenhamos de considerar excecional o que deveria ser, imperativamente, a regra. A história anterior é uma história triste, que foi de mal a pior, com cada mudança de titular. Refiro-me a Scolari, Queiroz e Bento. Os três fizeram da seleção o seu clube privado, onde os favoritos tinham lugar cativo. Alguns deles até eram indiscutíveis, o problema é que faltavam outros… Scolari era um homem da Lisboa imperial, que, desde a primeira hora, tratou o Porto como uma pequena colónia, situada nos confins do planeta, Quem não se lembra de ele declarar que não podia vir ao Norte, fazer observação direta, porque era muito longe? A perceção da distância é coisa relativa, admitamos, e 300 km pode ser longe para um monegasco, ou um luxemburguês, mas para um brasileiro não é, de certeza. Tratava-se de uma desculpa estúpida. Mas estúpido o homem não era, e acabou por vir ao FCP buscar meia equipa pronta e feita por José Mourinho. Contudo, "esqueceu " Vitor Baía e isso custou-lhe o título europeu - título que Baía garantiu ao seu clube, precisamente nesse ano, recebendo o galardão de melhor guarda redes europeu. O plano inclinado acentuou-se com Carlos Queiroz, a sua arrogância e incompreensíveis opções, expressivamente criticadas no momento da derrota final, por gestos e palavras do intocável Ronaldo. E veio a bater no fundo com o mais limitado e prepotente destes fracos "reis" do futebol, que "fizeram fraca a forte gente" nos tórridos campos de combate do mundial do Brasil. Na verdade, levou em excursão os mais fracos, mais cansados, quando não lesionados com gravidade - houve até os que, mal deram uma corrida no relvado, saíram de maca... .. 2 - O Eng.º Fernando Santos fez "obra de engenharia", de prospeção, de entrosamento, com seriedade, sem dar seguimento às querelas que lhe deixaram por herança, recuperando do ostracismo a que estavam condenados jogadores de classe universal como Ricardo Carvalho, Tiago ou Ricardo Quaresma. Preferência à qualidade, pura e simples, às mais valias do presente! Em jogos decisivos, lugar à experiência (assim fizera já na ´Grécia, recorrendo a Katsouranis e Karagounis e outros da mesma idade"), em partidas amigáveis, oportunidade às jovens promessas, que têm o tempo futuro para se revelarem plenamente. .Transformou, num ápice, um "onze" desclassificado, desmoralizado e perdedor num coletivo eficaz, que ganha, pragmaticamente, mesmo quando não deslumbra, com nota artística. Como nortenha, direi que é uma lição que o Porto precisa de aprender depressa - e o Engenheiro até já abriu caminho, testando, com sucesso, num "particular" um excelente trio de meio campo - Ruben, Danilo e André André - que, por insondáveis razões, o FCP raramente põe em campo. 3 - É, pois, tão necessário, ir detetando talentos, « quanto é incongruente prescindir dos mais velhos, ainda no seu apogeu, em favor de quem só beneficia em esperar, para aprender com a maturidade dos outros, em vez de aprender à custa dos seus próprios erros. A idade é coisa relativa, como se vê pelos exemplos de Ricardo Carvalho ou de um Helton renascido, depois de lesão que parecia fatal - um Helton muito mais ágil e seguro, agora, aos 37, do que há dez anos, quando, prematuramente, substituiu na baliza o grande Vitor Baía. Há que aceitar a força das evidências. O rejuvenescimento “à outrance” é coisa tão má como o respeito reverencial por mitos em decadência ou má forma conjuntural - o caso de Ronaldo na humilhante campanha do Brasil. . No futebol, como globalmente na vida do país, o essencial é aproveitar recursos humanos disponíveis em cada momento, num sábio cruzamento de gerações, pelo que Fernando Santos, com visão e coragem, criou, para além de uma equipa verdadeiramente nacional, um paradigma válido em todos os domínios da sociedade e da "res publica" portuguesa.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

GILBERTO FERRAZ SOBRE " POR XANAS DO LESTE DE ANGOLA"

CRÓNICAS DE LONDRES - (Edição 1494 - 04/02/16) Tributo Adiado. Até quando? “A Guerra Colonial não acabou para os portugueses. Os que sofreram o avassalador esquecimento a que foram votados, o funesto desrespeito pelos seu direitos, a cruel ausência de apoio aos estropiados e às famílias dos mortos, o agravamento atroz das feridas sociais, que silenciosamente, consumiram destroços humanos um dia recrutados à força”. Jorge Ribeiro, em INHAMINGA O ÚLTIMO MASSACRE (Edições Afrontamento) Mão amiga fez chegar às minhas mãos um livro fascinante. Uma obra de experiências, vívidas e vividas, pungente, emocional e minuciosamente narradas pelo próprio. Intitulado Por Xanas do Leste de Angola, embora não abertamente, uma autobiografia, obviamente que o é, mas romanceada. O autor, um então jovem militar com a patente de alferes, com nom de pen Montenegro, mas na vida real autor da obra, atualmente Engenheiro Ernesto Fonseca, relata pormenorizadamente não apenas os seus feitos, como dos colegas que chefiou, assim como de outros oficiais. Tenho lido várias obras, igualmente experiências narradas pelos próprios intervenientes das chamadas Guerras do Ultramar, nomeadamente as do historiador Prof. Jorge Ribeiro. Esta, porém, é diferente pela descrição não apenas da ação, mas da clara descrição do meio em que se moviam e atuavam. Nela abunda o pormenor, o detalhe das carregadas emoções e expetativas. Eu próprio tenho um familiar que por ter sido igualmente ativo participante, evita falar das suas experiências, tal o trauma psicológico que o avassala. Extravasa os seus sentimento através da pintura, trasladando para a arte muitos dos sentimentos que não quer verbalmente expressar! O alferes Montenegro não as sufoca. Num exercício psicológico desta sua notável obra retrata as suas experiências, qual paciente recostado na sua poltrona metódica e paulatinamente as confessa ao seu psicólogo. Abomino o colonialismo e a maior parte do que dele deriva. Afinal nada mais é que um subproduto do inaceitável imperialismo. E, neste contexto, a imposição e consequente deposição noutros povos de hábitos e culturas que lhes eram estranhas. Psicologicamente a tortura da superioridade e do poder! Ernesto Fonseca, que, tal como muitos outros lembra terem generosamente vertido a sua juventude, e nove milhares o seu sangue a favor não de um ideal, mas da Pátria, grita com compreensível azedume “este milhão de jovens não foi um milhão de fascistas que partiu para África, de armas na mão, para subjugar populações. Nenhum de nós era fascista!” E continua: “A juventude daquele tempo respondeu em bloco, impregnada de sentimentos patrióticos, por isso merece o respeito de todos nós”. Meio século volvido, é de acrescentar, não apenas respeito, mas admiração e orgulho! Admiração não por uma causa de outros tempos, que atual e mui apropriadamente se condena. Este milhão e os nove milhares que perderam a vida, incluindo o nativo colega do autor-soldado, por eles apenas referido pelo “62”, merecem a nossa gratidão. A gratidão de um País cuja história, com capítulos menos dignos, como o da colonização, mas pior, da escravatura, são atualmente condenáveis. Mas não eles, os intervenientes, cuja generosidade, que ele próprio não transparece, interpretando antes, como qualquer bom militar e líder, como irrefutável dever. Um débito ainda por saldar! Uma dívida que retarda! Quer em termos de homenagem e preito de gratidão aos ainda vivos, mas pior, aos que caíram para sempre e cujos restos permanecem negligenciados, abandonados, em vários locais espalhados no vasto e apenas definido por Ultramar. Tributo. Preito que retarda. É tempo que se faça justiça! É tempo que historiadores se debrucem e tracem o nosso historial, o historial de uma juventude generosa, para bem da memória futura. Que não o deixem a embora bem intencionados colegas estrangeiros, mas não suficientemente conhecedores das nossas profundas tradições e rica cultura. Como abominador da guerra e dos múltiplos ismos, mas vivente num país que todos os anos homenageia os que continua a considerar como seus heróis, e que nas duas Grandes Guerras, aqueles que nos campos de batalha caíram para sempre, são perenemente homenageados com lápide própria, em cemitérios próprios, e que quer nas freguesias de nascimento, assim como no rincão pátrio lhes é prestado o devido tributo, com os seus nomes gravados. Gravados para a História. Um país como o nosso, que se orgulha da sua história e que canta o “seu nobre povo” não pode, nem deve continuar a ignorar o saldo dessa enorme dívida dando aos poucos ainda vivos o respetivo tributo e aos restos mortais desses generosos jovens o digno lugar de repouso que há muito merecem. “Por Xanas do Leste de Angola”, de autoria de Ernesto Fonseca, é uma edição de Chiado Editora. Um livro a não perder!