segunda-feira, 9 de novembro de 2020

AMM - UM TRAJETO DE 25 ANOS

aria Manuela Aguiar Espinho | Portugal Email: mariamanuelaaguiar@gmail.com A ASSOCIAÇÃO "MULHER MIGRANTE" - UM TRAJETO DE 25 ANOS Setembro de 2020 Resumo: Os resumos devem ter no máximo 650 caracteres e até 5 palavras-chave. Por fim, sugerem-se um conjunto de pistas para aprofundamento da investigação mais complexa e inovadora na área da exclusão digital. Esse trabalho é particularmente relevante tendo em atenção a falta de investigação em profundidade sobre diferentes níveis de clivagens digitais em Portugal e na União Europeia, mas também por ser necessário compreender melhor como é que os media digitais baseados na Web podem contribuir para o aumento do interesse e da participação cívica e política. Por fim, sugerem-se um conjunto de pistas para aprofundamento da investigação mais complexa e inovadora na área da exclusão digital. Palavras-chave: Exclusões/Clivagens Digitais; Media Digitais Baseados na Web; Internet/Web; Usos políticos dos Media Digitais; Participação Cívica e Política. Abstract: As a consequence of having a theoretical discussion about the digital divide so dispersed along different academic fields, we depart from a situation where the conceptual overlap, difficulties of operationalization and diffuse conceptualizations are the norm. Therefore, an extensive state of the art was required. … Keywords: Digital Divide; Web Based Digital Media; Internet/Web; Digital Media Political Use; Civic and Political Engagement. DRAFT | 12.9 ORIGENS A "Mulher Migrante- Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade" (AMM) nasceu, indiretamente, do diálogo entre governo e movimento associativo, que, no início da década de 80 do século passado, foi o grande destinatário das políticas públicas designadas, no discurso oficial, por "políticas de reencontro". Em termos institucionais, seria através da implementação e regular funcionamento do "Conselho das Comunidades Portuguesas" (CCP), fórum de âmbito mundial, de caráter representativo e consultivo, que se lhes deu, em larga medida, concretização. O 1º CCP era composto por dirigentes escolhidos pelos seus pares, num colégio eleitoral associativo, e por jornalistas - no conjunto, cerca de sessenta, todos homens. No segundo processo eleitoral, em 1983, apenas duas mulheres, ambas oriundas da quota de jornalistas, tiveram assento neste órgão, que espelhava, fielmente, a real desigualdade de sexo no dirigismo comunitário. Bastou, porém, uma mulher, Maria Alice Ribeiro do Canadá, para mudar o "status quo", ao recomendar ao governo, em 1984, a convocação de um congresso de mulheres da diáspora, onde pudessem ter a presença e a voz que lhes faltava no plenário do CCP. O governo deu cumprimento à proposta, e o "1º Encontro de Mulheres no Associativismo e no Jornalismo", patrocinado pela UNESCO, teve lugar em Viana do Castelo, em junho de 1985. Com esse feito, Portugal transformou-se em país europeu pioneiro, "antecipando em dez anos os esforços das Nações Unidas para o empoderamento das mulheres na sociedade e na política" (Cunha Rego, 2015: 24). Desse encontro, cheio de ensinamentos e partilha de experiências, duas conclusões seriam portadoras de futuro: a ideia de criarem uma organização transnacional que lhes desse força coletiva e visibilidade, e a institucionalização do diálogo com o governo, através de mecanismos de audição periódica das mulheres. A queda do Governo, em 1987, inviabilizou o início dos trabalhos da recém - instituída "Comissão para a Participação e Promoção das Mulheres", que, deveria funcionar, com regularidade, na órbita do CCP. Do lado da sociedade civil, a instância de âmbito internacional em que queriam unir-se tardou, também, em avançar. Só em 1993, a AMM, constituída por escritura pública de 8 de outubro, se veio apresentar como herdeira desse projeto, contemporâneo do início das políticas de género na imigração, em cujo relançamento, vinte anos depois, seria chamada a cooperar. SINGULARIDADES DA ASSOCIAÇÃO "MULHER MIGRANTE" A Associação tem por finalidades estatutárias aquelas que a sua própria designação sintetiza: o estudo da problemática das migrações femininas, a cooperação com mulheres profissionais e dirigentes de associações portuguesas no estrangeiro e de imigrantes em Portugal, o apoio à integração das mulheres nas sociedades de acolhimento, através da ativa intervenção, e o "combate a ideias e movimentos xenófobos" (Gomes, 2014: 46), a que se quis dar todo o destaque na sua divisa: "Não há estrangeiros numa sociedade que vive os Direitos Humanos". Assume-se como integrante dos movimentos de reivindicação da igualdade de sexos, no domínio das migrações, com a consciência de que, aquém das declarações jurídicas de igualdade, as discriminações de género resistem às leis, convertendo as mulheres, de facto, em "estrangeiras no seu próprio país". Num universo associativo feminino da diáspora, ao tempo mais do que hoje, quase exclusivamente dominado por preocupações sociais e culturais (beneficência, solidariedade, defesa da língua e das tradições) o colocar a ênfase em matéria de cidadania era, em si, uma singularidade. E várias outras podia, à nascença, reclamar, como o ser: sediada no país, e voltada, fundamentalmente, para a diáspora feminina; partilhada por mulheres e homens feministas (no sentido em que Ana de Castro Osório falava de feminismo, como "humanismo integral" ), formada por emigrantes (integrando cerca de um terço do total de participantes no Encontro de 1985) e não emigrantes; abrangente, ao colocar, lado a lado, militantes de outros universos associativos, em particular, o feminino, o jovem e o sénior, os sindicalistas, os "media", os investigadores, através dos quais combinava a vertente de estudo e o intervencionismo social. Ao longo de 25 anos de atividade, que neste ano de 2020 se perfazem, a AMM tem sido um "fórum" interassociativo de reflexão e debate, a que nunca faltou o enquadramento científico e vontade de combate no terreno. Com esse perfil revelou virtualidades logo num primeiro empreendimento, o congresso mundial de 1995, que trouxe a Espinho, para uma semana de trabalho sobre temáticas de género e geração, cerca de 400 participantes, mulheres líderes de comunidades dos cinco continentes, políticos, jornalistas, funcionários da administração pública e grandes nomes da comunidade académica. Um "encontro de mundos", que raramente se aproximam e dialogam abertamente, de igual para igual, paradigma de inúmeras outras reuniões em que a AMM prosseguiria o seu escopo de lançar sobre o fenómeno da emigração um olhar global, inclusivo da metade feminina, pela via de um "congressismo" capaz de analisar situações, repensar estratégias e desencadear as dinâmicas da ação direta. No seu percurso, distinguiremos duas fases: 1 - a década 1995/2005, na sequência do congresso de Espinho, é caraterizada pelo alargamento da rede de delegações e de congéneres, entretanto criadas no estrangeiro - cada qual atuando na sua área territorial - e pela militância no interior do país, em colaboração com a CIDM, o Alto Comissário para as Minorias Étnicas, autarquias, paróquias, escolas. Atenta ao evoluir da situação na diáspora, tanto quanto aos problemas sociais da chamada "nova imigração" (que chegava do leste europeu a um país impreparado), e aos suscitados pelo retorno definitivo de centenas de milhares de portugueses, no fim de ciclo das migrações de 60 e 70 - sabendo, sobretudo que, para as mulheres, o regresso significava, em inúmeros casos, regressão, perda do estatuto de independência económica, lá fora ganho, pelo acesso a emprego remunerado e por uma superior capacidade de inserção social. 2 - a partir de 2005, numa "segunda vida", a AMM expandiu a sua ação fora de fronteiras e dedicou grande parte da sua energia à tarefa de coparticipação com a Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas na equacionar e levar à prática a componente de género que, desde então, as políticas públicas passaram a integrar. Assim, numa nova era, se assiste ao verdadeiro ressurgimento do espírito que animou o mítico "Encontro de Viana. CONGRESSISMO PARA A IGUALDADE Os "Encontros para a Cidadania" e os Congressos Mundiais de Mulheres Migrantes A celebração de uma efeméride pode esgotar-se em si mesma, ou, pelo contrário, ser o ponto de rotura face a um passado de inércia, como aconteceu com a proposta de comemoração dos 20 anos do 1º Encontro, dirigida pela AMM ao Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas. António Braga decidiu ir além do solicitado e programar ações para a legislatura, instando a "Mulher Migrante" a converter-se em "parceiro privilegiado para o desenvolvimento de políticas de género" (Aguiar, 2009, 109). De facto, incumbindo-a de planificar e operacionalizar os "Encontros para a Cidadania - a Igualdade entre Mulheres e Homens", em grandes regiões da emigração portuguesa, a fim de fazer o ponto de situação, promover a valorização da contribuição feminina, o seu empenhamento cívico, e, como meta, a "igualdade de género, independentemente de serem ou não residentes em Portugal" (Lacão, 2009: 11). Era, tardiamente embora, a primeira vez que um Plano Nacional para a Igualdade abarcava a Nação inteira, não esquecendo a sua diáspora Com a Presidência de Honra de Maria Barroso, o comparecimento de um membro do Governo (António Braga ou Jorge Lacão, Secretário de Estado da Presidência), e a coordenação da AMM, os encontros tiveram lugar em: Buenos Aires (o da América do Sul, em 2005), Estocolmo, (o da Europa, em 2006), Toronto, costa Leste, e Berkeley, costa Oeste, os da América do Norte, em 2007, Joanesburgo, (o da África, em 2008). O processo de execução local ficou a cargo de ONG's femininas - a AMM da Argentina, a Federação de Mulheres Lusófonas (Piko, com sede na Suécia), a Cônsul-Geral de Toronto, Maria Amélia Paiva, coadjuvada por uma comissão de ONGs femininas luso-canadianas, Deolinda Adão, professora da universidade de Berkeley, representante da AMM nos EUA, e a Liga da Mulher da África do Sul. Os encontros tiveram significativa presença masculina do CCP, do meio associativo, académico e político. Em 2009, o "Encontro dos Encontros” em Espinho, procedeu, a partir da explanação das relatoras de cada reunião regional, ao balanço final, numa perspetiva comparatista de situações muito diversas, e fechou este primeiro ciclo, com a propositura de mais iniciativas, numa linha de continuidade. Em 2011, o Secretário de Estado José Cesário convidou a AMM a colaborar, do mesmo modo, na prossecução das políticas, em novos moldes, num crescendo de ritmo e esforço mobilizador, através da convocação bienal de congressos mundiais, alternando com multiplicação de encontros de proximidade, nas comunidades. Nesse mesmo ano, mulheres dos cinco continentes vieram à Maia para historiar, numa perspetiva diacrónica, o percurso de luta pela igualdade e até ao presente e ao devir que se desenha em cada diferente comunidade, evocando, à partida, os exemplos das líderes feministas do início de novecentos e de Maria Archer e Maria Lamas, suas continuadoras, no país e nas terras de exílio, antes de restauração da democracia, Em 2013, no Palácio da Necessidades, onde as mulheres puderam, pela primeira vez, dialogar diretamente, com o governo, foram sublinhadas novas expressões da cidadania, assim, se alargando o campo em que deve incidir a tarefa fundamental, que o artº 109 da Constituição incumbe aos Estado de promover a igualdade real entre sexos. Em 1912, nos colóquios, direcionados a diversas comunidades, deu-se primazia ao associativismo sénior, divulgando o modelo português das chamadas universidades ou academias seniores, que, entre nós, são maioritariamente frequentadas, e até dirigidas por mulheres, da geração mais velha. Em 2014, olhou-se o panorama de “40 anos de migrações em liberdade" uma data que é ainda mais importante para os mais discriminados, como as mulheres e os emigrantes - numa série de conferências e reuniões organizadas com associações e com a Universidade Aberta de Lisboa, e as universidades de Berkeley, San José da Califórnia, Sorbonne e Toronto. Nos últimos anos, a Associação "Mulher Migrante" vem homenageando, em conferências e em publicações, personalidades que são fonte de inspiração, por terem feito das suas vidas prova da qualidade humana que lhes conferia o estatuto de igualdade, muito antes das as convenções e as leis da República o admitirem- caso de Archer, Maria Lamas, Maria Barroso, Ruth Escobar, Natália Correia, figuras nacionais, assim como outras das próprias comunidades, muitas delas pioneiras do "Encontro" de Viana, que não pode deixar no esquecimento, designadamente, Malice Ribeiro, Fernanda Ramos, Manuela Chaplin, Benvinda Maria, Mary Giglitto, Laura Bulger, Berta Madeira... A prioridade ou saliência reconhecidas pela AMM ao campo do associativismo, um legado do encontro de Viana, mantêm-se, ancoradas na constatação, ainda atual de que tem sido bem mais fácil a afirmação do estatuto cívico e profissional das emigrantes nas sociedades de acolhimento do que no interior das comunidades portuguesas e suas instituições, onde a rígida e tradicional divisão de trabalho entre os sexos é comum, poucas sendo as que conseguem ascender a cargos diretivos. Os progressos que, desde a década de oitenta do século passado, se podem registar são globalmente poucos, lentos e muito desiguais na geografia das comunidades, em prejuízo da regeneração do tecido associativo, que necessita de se redimensionar na junção da metade feminina, de, com ela, se adaptar à evolução das migrações. Para o demonstrar, a AMM vem, crescentemente, ensaiando a composição paritária dos seus eventos, levando o debate sobre a reconfiguração dos papéis de género a cenários improváveis, onde, como a experiência comprova, tem perfeito cabimento, caso da agenda cultural dos festejos do 10 de junho, dos grandes Encontros dos Portugueses do Cone Sul da América, de comemorações do Dia da Comunidades Luso- Brasileira, das tertúlias de Academias do Bacalhau, das Bienais de Artes Plásticas (a Bienal de Espinho, a de Gaia, que se considera "uma Bienal de causas") ... Nem por isso a AMM desvaloriza o papel histórico, ainda hoje insubstituível, das diversas formas de ativismo feminino, ONG's em que se corporizam (nas quais se incluem as suas próprias delegações e associações filiadas), movimentos com os quais, na sua trajetória de vida, tem somado colaborações, nomeadamente "A vez e a voz da Mulheres", "Mulheres em Movimento", PIKO, Liga das Mulheres da RAS, Sociedade das Damas Portuguesas de Caracas. Da periferia em que, no associativismo das comunidades, foi colocado o feminino, se pretende, agora, por diferentes vias, atingir a igualdade, ainda utopia. Nas últimas eleições para o CCP (em 2015), a fraca proporção feminina, não obstante se lhes aplicar a Lei da Paridade, veio comprovar quão longe estamos dessa meta! Contudo, num contexto geral dececionante, a inesperada vitória eleitoral das dirigentes das Associações “Mulher Migrante", quer na Argentina, quer na Venezuela foi, por contraste, revelador da importância da expansão do associativismo de pendor cívico, que a AMM vem fomentando. Aqui deixamos um simples apontamento de momentos chave de uma caminhada, do impulso que a moveu, dos instrumentos de que se serviu - que foram afinal, o modo como fez valer as suas causas nas circunstâncias que, em tempos irrepetíveis, se lhe ofereceram. Não procedemos a uma enumeração da longa lista das suas realizações, ou das muitas individualidades que a marcaram, construindo o seu pensamento, desde a fundação. Apenas lembraremos a memória de Rita Gomes, que, por largos anos, encabeçou e sustentou o projeto e com ele se identificou. Nesse projeto cabe todo um coletivo complexo e heterogéneo, de mulheres, que a história da emigração, padronizada no masculino, sempre ocultou, mas que, na realidade, se emanciparam pelo trabalho, se abriram à modernidade de outras sociedades, foram e são, verdadeiras construtoras de pontes entre nações e culturas. Referências bibliográficas: Aguiar, Maria Manuela; Guedes, Graça; e Santiago, Arcelina [coord.] (2015). Entre portuguesas. Edição Mulher Migrante - Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade, Lisboa/Espinho: Associação Mulher Migrante. Aguiar, Maria Manuela; Guedes, Graça; e Santiago, Arcelina [coord.] (2014). 1974-2014. 40 anos de Migrações em Liberdade. Edição Mulher Migrante - Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade, Lisboa/Espinho: Associação Mulher Migrante. Aguiar, Maria Manuela e Aguiar, Maria Teresa [coord.] (2009). Cidadãs da Diáspora. Edição Mulher Migrante - Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade, Lisboa/Vila Nova de Gaia: Associação Mulher Migrante.

CCP VOTO NA AR

GRUPO PARLAMENTAR   Grupo Parlamentar do PSD apresenta Voto de Congratulação pelos 40 anos do Conselho das Comunidades Portuguesas PROJETO DE VOTO N.º …. /XIV/1.ª DE CONGRATULAÇÃOPELO 40.º ANIVERSÁRIO DA CRIAÇÃO DO CONSELHO DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS Ao longo das últimas quatro décadas, o Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP) assumiu um papel central no plano da representação e da organização das comunidades portuguesas no estrangeiro. Embora a sua estrutura tenha evoluído profundamente, passando de um órgão representativo do movimento associativo para uma espécie de parlamento, com os seus membros eleitos diretamente pelos cidadãos eleitores, a verdade é que o CCP soube ser absolutamente central no domínio do debate das grandes questões que afetaram as nossas Comunidades.Faz assim pleno sentido, assinalar de forma especial, o momento em que, há 40 anos, por iniciativa de Manuela Aguiar, a então Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas do Governo liderado por Francisco Sá Carneiro, se realizou o Congresso que deu origem a este Conselho.Assim, a Assembleia da República, reunida em Sessão Plenária, assinala os 40 anos do Conselho das Comunidades Portuguesas, felicitando muito especialmente a Dra. Manuela Aguiar e todos os representantes das mais diversas Comunidades, que participaram na sua criação.  Palácio de São Bento, 23 de setembro de 2020  Carlos Alberto GonçalvesDeputado GP PSD  - Círculo Eleitoral da EuropaVice-Presidente da Comissão deNegócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas

domingo, 9 de agosto de 2020

MEMÓRIAS DA MÃE NO BLOGUE

MÃE - BLOGUE E MEMÓRIAS da adolescência MARIA ANTÓNIA BARBOSA AGUIAR nasceu em Gondomar, a 28 de Agosto de 1920.
A Mãe tinha regressado, definitivamente, do Rio de Janeiro poucos meses antes. Quando fez a última travessia do Atlântico já estava esperando a menina. E, por isso, a Maria Antónia se considera brasileira! Ou brasileira e portuguesa. Mas não conhece o país de origem (hoc sensu...). Eu tê-la-ia convidado para uma viagem até lá, se ela estivesse disponível para essa "aventura". Não está. O mais longe que consegui que fosse, de avião foi à Madeira, em 1977, juntamente com a Maria do Carmo, também minha convidada. O susto enorme que todos apanhámos com a aterragem no Funchal ("todos" incluía ainda a Tia Lola e o Tio Gustavo e a Rosa Maria Gayoso) foi, para ela, dissuasor de futuros "voos"...
Voltando à sua história, muito sintética:
Tem um olho de cada cor, um azul esverdeado e outro mais verde, verde. Quem descobriu a anomalia foi o Pai. "Maria, a menina tem os olhos de cor diferente", disse à mulher, um pouco abalado. Não sei se ela se preocupou muito com isso. Pela forma como, mais tarde, me contou esse episódio, parece-me que não... Certo é que a filha sempre gostou da singularidades! Uma das primeiras coisas para que chamava a atenção dos namorados de juventude (vários!) era para esse detalhe.
O pior é a forte miopia, de que sofre e o facto de não terem detectado, a tempo, a diferença de diopetrias entre os seus belos olhos, que acabou por lhe provocar, a partir dos 4 ou 5 anos, a cegueira funcional do olho esquerdo. Nada que a tenha tornado infeliz. Soube, em regra, escolher bem os óculos - e para as fotografias quase sempre os retirava.
Do Pai, lembra-se mal. Morreu quando tinha 6 anos. A irmã "quase gémea", a Tia Lola (Glória Doroteia), apesar de mais nova, parece guarda mais memórias do Papá, que lhe chamava "a minha molequinha", por ser muito morena, como ele e muitos dos Aguiar. Curiosamente, uma das lembranças que ambas partilham é a do Pai a colher morangos, a lavá-los, um a um, na água corrente do tanque da quintq, e a oferecê-los, nuns cestinhos bonitos, às duas meninas. Era um apreciador de frutas e elas também.
As duas suportaram e detestaram a vida no Colégio da Esperança. Eram cábulas, irreverentes e tão mal comportadas que as colegas lhes chamavam "os galos doidos". Podemos imaginar o que fariam para merecer o epíteto...
A Maria Antónia era brilhante em história e geografia, boa aluna a línguas - não a matemática ou a ciências. Fez o antigo 5.º ano (hoje 9.º), em "disciplinas singulares", selecionando as que lhe agradavam -  uma modalidade, entretanto, desaparecida..
Do que gostava mais era de música, de  piano, que aprendeu, desde pequena, com a prima mais velha Nucha Aguiar. Um dos seus amigos , o pianista Fernando Marques Ribeiro, a quem chamavam o "Chopin português", considerava-a talentosa! E, por sinal, o seu compositor preferido era o Chopin original... Ainda é.
Os romances de jovem, em Gondomar, foram variados, mas superficiais. O primeiro, a sério, foi o jovem viúvo, João Dias Moreira, de Avintes. Conheceram-se, num encontro, porventura, programado pelas famílias, na capelinha do Monte da Virgem, em Gaia. No curriculum, ele tinha duas qualidades muito apreciadas pela Avó Maria: em 1.º lugar, o ser muito católico, em segundo, o facto de ser filho único de pais ricos.

Para a Mª Antónia terá contado mais o ele ser um belo rapaz, alto e loiro, poeta romântico, comunicativo e divertido.
Namoraram pouco tempo, mas intensamente, a partir de umas muito faladas férias em Branzelo, na quinta de uns amigos da Avó. Casaram em Novembro de 1941, em Gondomar. Lua de mel no itinerário do Vouguinha ( o combóio, claro...) de Espinho até Viseu!

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CV Breve

Estudos
Primária na Escola de Gondomar, com a Professora Dona Clarinda Bismarck de Melo, "uma senhora muito chique", segundo esta antiga aluna.
Exame da 4.º classe, com distinção.
Liceu no internato de Nª Sª da Esperança - Porto
Fez o antigo 5.º ano do liceu (actual 9.º), escolhendo as cadeiras que mais lhe agradavam, como história, geografia, francês, inglês. Chamava-se a esse regime optativo: "singulares".
Era óptima também em dactilografia, mas não trouxe para casa o diploma porque não lhe apeteceu ir ao Porto para a prova final de exame!

Música
Piano desde os 8 anos, com professora em casa - a Nucha Aguiar. Prosseguiu no PORTO. Fez o 5º ano do Conservatório. Em Gondomar, retomou as aulas com a Nucha. Compositores favoritos: Chopin, Mozart, Shubert
Considerada talentosa. Muito elogiada pelo compositor e amigo José Fernando Marques Ribeiro.

Casamento e descendência
Casamento na Igreja Matriz de Gondomar, em 15 de Novembro de 1941 (depois do casamento civil, no início do mês).
Filhas nascidas em Junho de 1942 e Dezembro de 1943: Mª Manuela e Mª Madalena.




Nos primeiros anos de casados viveram na Vila Maria - o enorme casarão, onde com a Avó já só morava o filho José Augusto. Mais tarde, mudaram-se para outra casa espaçosa, a da Tia Rozaura, que era a madrinha e uma verdadeira segunda Mãe para a Mª Antónia e segunda Avó para a Lecas e para mim.
A partir dos anos 60, seria a Tia Rozaura a mudar-se para o Porto, para o nosso andar da Rua Latino Coelho, e, depois do 25 de Abril de 1974, para Espinho.
Passamos temporadas em Avintes, com os Avós Olívia e Manuel, de quem nós, as crianças, éramos muito amigas, mas com quem a Mãe nunca se entendeu bem. Muito boa era a ligação ao círculo da família do marido,  os Tios Reis, Francisca e António, os primos,  Mª Angélica, Corinto Marques, António e a mulher, Amélia Soares de Albergaria, desde o seu casamento na Sé do Porto, em que os meus Pais foram padrinhos do noivo - e outros primos de Avintes, a Nini e o Chico Marques, os Fernandes Capela, Alda Mª Helena, Manuel e Alberto.
A Mª Antónia nunca trabalhou fora de casa - e não gostava da tarefas domésticas. À época do casamento, nem sequer sabia fazer chá ou café! Em casa da Mãe ou da Tia Rozaura, não tinha de se preocupar com isso. Ia quase quotidianamente passear para o Porto, com a Tia Lina, e lanchar na Ateneia ou encontrar-se com a prima Cristina, que gostava mais de frequentar o café Ceuta. Às vezes, optavem por uma sessão de cinema. O Pai também era "cinéfilo", acompanhava-a nas sessões da noite. Aos fins-de-semana, grandes passeios, com lautos almoços e jantares, sobretudo "minhotos", com irmãos, cunhados e sobrinhos - e a Avó Maria. Fátima, era outro dos destinos, o preferido da Avó, que, porém, estava sempre disponível para sair, fosse para onde fosse... As corridas, em Vila Real, ou no Porto: um "must"!
A maior tragédia da sua vida foi a doença e a morte da Lecas, de leucemia, aos 20 anos, em 1964. A Mãe andou de preto durante anos, até que eu decidi oferecer-lhe um vestido de cores garridas e convenci-a a usa-lo. O desgosto não diminui, nunca, nem a lembrança, mas o luto absolutamente inútil e deprimente, terminou, de vez.
Os Pais celebraram as bodas de ouro, em Espinho, com uma festa alegre e muito animada, ao som das canções dos Aguiar Pereira!
O pai morreu, subitamente, sem um sinal de aviso, a meio de uma frase, num domingo de Páscoa, ao jantar. Foi terrível, mas,desta vez, a Mãe não se transformou numa velhinha vestida de negro. Os sobrinhos têm sido uma boa razão para viver, com entusiasmo, como se deve sempre viver.
Está cada vez mais excêntrica, e faz gala da sua excentricidade. Insiste em se vestir bem. Mas os pormenores ficam para os comentários. Aqui está o convite, a contar histórias sobre uma Tia muito especial ( um pouco à Mourinho, num outro terreno de jogo...)

Ei-la nas várias idades : com um ano, doze, vinte e tal, quase quarenta, cinquenta e muitos, à beira dos oitenta, e aos oitenta e oito (quem diria?).





































Parabéns à GIJA
Para a melhor tia do mundo que, nestes anos tem feito o papel "Super Avó"...
muitos beijinhos
manelinha
Anónimo disse...
Maria Antónia disse: hoje comprei um grilo e chamei-lhe Isidoro.
Lembrei-me de um Isidro Isidoro, do Gondomar, que morreu, ainda eu era pequena. Ele tinha, em vida, deixado bem claro que queria ir no caixão com um cravo vermelho na lapela. Por isso, quando soube da sua morte, pedi à Maria Póvoas que me levasse ao velório para o ver. Nem a Mamã nem a Tia Rozaura consentiram, mas a Maria levou-me, em segredo. E lá estava o morto, de flor vermelha ao peito!
O Isidoro recordou-me outras figuras típicas do Gondomar dessa época:
o Arregalado, que era o trolha da Tia Rozaura;
Pichela;
as Amarelas, que viviam,logo abaixo da casa da Adriana, na Pedreira;
a Ana Facas e o Caminha, que moravam ao lado da casa da D. Aurora e da Marília Montenegro, perto da Pedreira, numa bonita casa com um mirante ladeado de glicínias, como o da casa da minha Avó Carolina.
Memórias...

Estou preocupada com o grilo!
Não que eu seja sequer capaz de lhe pegar...
De qualquer modo, com 7 gatos em casa, que, à falta de ratos, caçam e desfazem tudo quanto move, temo pela vida do Isidoro e preparei o melhor lugar para a sua estada segura, nas alturas!
A Mãe serviu-lhe uma refeição de verduras e pedaços de maçã. Pobre bicho... O que ele mais anseia é sair da gaiola.
Esteve aqui, de tarde, a Lélé e propôs-se libertá-lo, lá na aldeia pacífica onde dá aulas. Se calhar é o melhor, embora possa ser comido por sardões ou outros inimigos não menos letais do que os nossos gatos...
A propósito da história que a Mãe lembrou, sem quaiquer referências ao 25 de Abril, que hoje se comemora - mas que ela não comemora nada... - pergunto a mim própria até que ponto, sem se dar conta, foi influenciada pela efeméride revolucionária, ao prender na gaiola o grilo com nome do homem do cravo vermelho - muitas décadas antes de década de 70!
Descrição: https://img1.blogblog.com/img/blank.gif
Anónimo disse...
Maria Antónia disse:
Não me falem de 25 de Abril!
Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Vi, na rua, uma mulher a vender grilos. Tinha muitos, numa bacia grande.
E eu lembrei-me de ter, uma vez, andado com o meu irmão Zé, a apanhar grilos, quando íamos dar um recado ao Dr. Cardoso, em corta-mato.
Eu não tinha mais de 12 ou 13 anos.

Estou mesmo a ver os dois irmãos, a atravessarem a vila, numa missão muito concreta, mas em correrias, e não resistindo à tentação de se divertirem um pouco, fosse com o que fosse, a meio da empreitada. Acha a Mª Antónia que foi o Zé quem teve a ideia:
"Maria, e se fossemos agora aos grilos, ali, naquele mato?"
E ela, logo pronta para a distracção, disse que sim... (tinham acabado de passar "os 7 caminhos", interessante nome, esse!).
Aranjaramin loco, umas palhinhas, procuraram cuidadosamente e foram recolhendo vários exemplares, que o Tio Zé guardava no bolso.
Não devem ter tido problemas, em casa, porque a Avó Maria também gostava de grilos.
Eu tenho uma vaga recordação de tentar, em excursões campestres, despistar pequenso buracos no chão, e de sondar o seu interior com as tais palhinhas... E até de ver grilos. Mas parece-me que sempre preferi deixa-los no seu meio ambiente!
Do que gostei foi de encontrar, hoje, e pela 1ª vez, no meu mini-jardim, mal cuidado, uma linda joaninha. Há anos, sem conta, que isto não acontecia!... A Mãe veio logo que a chamei, pegou na Joaninha e começou a recitar a lenga-lenga:
"Joaninha voa, voa
Que o teu pai foi para Lisboa..."
Depois, como ela não queria voar, foi pousa-la na trepadeira, ao fundo do seu mini-jardim.
No qual andou, ontem, a plantar roseiras novas. Não sei se resistirão a "pipi" de gato...

Casamento oficiado pelo pároco de Gondomar, Abade Andrade e Silva, um grande amigo da Avó Maria.
Foi também ele que casou a Tia Lola, no ano seguinte, na capela da casa de Rio Tinto.
O copo de água, em ambos os casos, foi na Vila Maria, naturalmente.

Os CV's escolares das manas são semelhantes, assim como a relativa importância que lhes atribuiam - ambas destinadas a serem senhoras casadas e mães de família, como foram.
Divergências, registam-se algumas, por exemplo, na música, mais clássica para a Mª Antónia, mais ligeira para a Glória Doroteia. Também no namoro - uma constelação de namoradinhos para a mais velha, uma só paixão juvenil para a Lólita - o Eduardo.
E até no casamento - durável o de uma, não tanto o de outra...

A Mª Antónia recusa, firmemente, ser considerada "dona de casa". De coisas e tarefas de casa, quis sempre o menos possível...
Profissão: Senhora!
O feminino do que os ingleses designam por "gentleman of leisure"...
Já a Tia Lola foi, sem dúvida, uma prendada "dona de casa", que tudo sabe fazer ou mandar fazer, na perfeição. Caso, igualmente, das outras duas irmãs, Lina e Lena...
Mª Antónia é a excepção. Cultivou e praticou a excepção, sempre, pela vida fora.
Isto já nasce com a pessoa. Eu saio à mãe, nesse aspecto, embora tenha profissão ou profissões exteriores ao lar...
Lecas, pelo contrário, era muito dotada para as artes domésticas. Mas não só: também para o canto, a dança, o desporto, a condução de automóveis... Embora tivesse, face a estudos curriculares, a mesma atitude da geração anterior.
Do que a nossa famosa "lady of leisure" gosta é de fatiotas chiques, perfumes caros, champagne (doce, hélas!), para além das telenovelas brasileiras, dos escritores brasileiros (Jorge Amado,
Érico Veríssimo...), da música clássica ou dos fados de Amália e de revistas "ligeiras", a Holla, A Semana, a Caras, a Gente, etc, etc...
E adora fazer palavras cruzadas! É uma perita. Rapidíssima!
Com tanta revista espanhola que lê, acho que até já faz palavras cruzadas em espanhol...

Maria Manuela Aguiar disse
À conversa com a Mãe e a Tia Lola sobre 
VIZELA
 - Ficavam, em regra, numa pensão que pertencia ao Sr João e à Senhora Mariquinhas, pais da Aurora, de quem gostavam. Era bonita, ruiva e divorciada - uma raridade, então.
 - Lembram-se também do tolinho que, um dia, viu uma mulher nua nas águas da Mourisca 
 - O Hotel Sul Americano era uma atração, sobretudo o salão, profusamente iluminado, onde pares, elegantemente vestidos, davam espetáculo, em infindáveis danças. E as duas pequenas irmãs olhavam e invejavam os adultos. Quem lhes dera ser grandes para deslizarem também, entre eles, ao som da música. Excelente era um outro hotel, o "Cruzeiro do Sul", mas a Avó Maria mantinha-se fiel à simpática pensão da  Aurora, onde a esperavam, anp após ano.
 - Uma diversão que a idade lhes permitia era andarem de burro, em cima de uma cadeirinha... E mirarem o bazar com muitas bonecas na montra - mesmo ao lado da pensão. Ou a bica de água sulfurosa, que ficava no centro de Vizela.
De Vizela para o rio Douro.
O Tio Eduardo era um excelente nadador e praticante de vários desporto nauticos. Era dono de uma canoa para duas pessoas, que fazia sucesso entre os amigos. Até que o amigo Licínio caiu ao rio e morreu afogado. No funeral, o Tio chorava e dizia. "Foi no men barco!"
De seguida, vendeu a canoa...
VILLA MARIA
Ao longo da divisória com  o terreno do Monteiro ficavam as ramadas com suporte  em bardos,  ocupando metade da quinta agrícola, desde a casa da eira ao mirante do fundo do terreno. Entre as vinhas, havia americano preto e, junto à eira, americano branco (nunca foram cortadas, escaparam ao massacre imposto por lei) e à esquerda, o "Chance la rose", que era reservado para a Avó Maria, grande apreciadora,
Os primeiros bardos eram de moscatel de Hamburgo.
O piso térreo da casa era ocupado por lojas, garrafeira e adega. Do interior, descendo a escada víamos, em frente, a garrafeira, e, passando uma porta verde, a enorme adega, com o lagar e as pipas de vinho.  A Mãe recordava os homens a pisar as uvas, e, no fim do trabalho,  a comer na cozinha, enormes pratos de bacalhau e carne de porco.
A mais famosa história ligada à garrafeira, aconteceu numa visita Pascal, quando era Pároco o Abade Andrade, pessoa muito discreta e cerimoniosa. Foi o Tio Serafim quem abriu as garrafas de vinho branco e de champanhe recém chegadas da garrafeira.  A primeira não saiu com o estrondo habitual, parecia ter perdido força. Outras foram circulando, mas ninguém parecia ter a habitual vontade de beber. Alguém comentou "É fraquinho, perdeu a força". Quando já os hóspedes se haviam retirado, a Avó Maria decidiu fazer a prova dos vinhos e descobriu que em quase todos a percentagem de pura água era elevada - adicionada pelos filhos para substituir o original, que tinham partilhado em noites de paródia secreta com amigos...
Imagine-se o sermão materno que se seguiu - dirigido mais a uns do que a outros, conforme o grau de suspeição. O Tio Zé batia de longe os demais...
Uma prole sempre difícil de controlar.  Eles e elas. Assim, por exemplo, das filhas só a Tia Lina a acompanhava na visitação dos doentes. A Mãe recusava-se, firmemente e não consta que as Tias Lola e Lena fossem muito assíduas.

Maria Manuela Aguiar disse
O COLÉGIO da ESPERANÇA
As colegas
 - Zita Seabra, muito bonita, loira, de olhos azuis, mãe da Zita Seabra, antiga deputada 
 - Renia Finkelstein, que veio ainda muito pequena da Polónia, de onde trouxe muitos "pins", que lhe ofereceu
 - Miriam Gabriela Cavalier, outra amiga muito especial, que viria a ser uma excelente médica
 - Manuela Abrantes, que as convidava para os aniversários, numa belíssima casa, que ficava ali perto, no Prado do repouso   - ocasião para saírem do colégio, com autorização da mãe, primorosamente falsificada.
 - a Olímpia e a Julieta, transmontanas, que tinham casa em Espinho, as únicas com quem manteve convívio frequente
(A Mãe ainda foi algumas vezes a reuniões de antigas alunas, onde reencontrava Miriam. Acabou por desistir, porque ficava sempre deprimida, Quando perguntava por esta ou aquela, a resposta era "morreu", "morreu"...  Com exceção da Miriam, estavam praticamente todas irreconhecíveis, desinteressantes, velhas, de muletas...).
Nos últimos anos já a Tia Lola namorava o futuro marido, que não só tinha uns anos mais do que ela, como parecia ainda mais velho, visitava-a, apresentando-se como tio! Manifestavam-lhe toda a consideração, davam-lhe acesso ao salão, cumprimentavam-se com um beijinho na face, como mandava o parentesco. Ela de soquetes, com lacinhos vermelhos no cabelo. (Vermelho era a sua cor favorita. A da Mãe foi sempre o amarelo) . A quinta-feira era o dia reservado às visitas de família. Um dia o irmão Manuel apareceu , em substituição da Mãe, que estava doente, levando-lhes os presentinhos do costume (bolachas, queijo, marmelada, chocolates...).  A certa altura, subiu a um banco, desatarrachou a lâmpada e levou-a, deixando as manas apavoradas! 
Ambas detestavam o internato. Choravam noites inteiras - ou seja, até adormecerem. Ficavam em camas pegadas. A 
encarregada do dormitório chamava-se Beatriz. Só iam a casa no Natal, no Carnaval e na Páscoa - e nas férias grandes, evidentemente. Tentavam adoecer, caminhando com as meias ou soquetes molhados, mas poucas vezes conseguiam apanhar a desejada constipação... Também planeavam fugas, não concretizadas. Os muros da quinta eram baixos. Na capela, havia uma porta com grade e uma chave enorme. Não lhes faltava vontade de roubar a chave, para sair. Uma vez, quase o iam fazendo e foi a amiga Maria Laura Horta que as convenceu: "Não façam isso"!
Gostavam de jogos, a Mãe era ótima no ping-pong

PAIS na VILA MARIA
No verão, ficavam no quarto grande, no 2º andar (e, por isso, ai nasci, no mes de junho de 42), no inverno mudavam para baixo, para o 1º andar ( em 12 de dezembro 43 , aí veio ao mundo a Madalena)
Para o Pai, os cunhados agiam perigosamente, quando havia ladrões noturnos na quinta, depois do criado fechar os portóes e ir dormir, tranquilamente, num pequeno anexo, perto da eira. O Tio Zé avançava no escuro, armado de um pau. O tio António, com o seu ar muito sereno  usava pistola.  (Tinha uma pontaria fantástica, começou por treinar com fisgas, em criança, depois passou a armas de fogo). O ladrão tentava saltar o muro ao lado do portão e o tio disparou para as pernas e acertou-lhe. No dia seguinte, havia vestígios de sangue no local, mas nunca se soube quem era o homem.
Noutra altura, foi o Tio Zé, que vislumbrou, entre as sombras do jerdim, um estranho, às duas ou três da manhã. Foi acordar o Pai. "João, depressa, depressa! Vamos apanhar um ladrão". O Pai só dizia à mãe: "O teu irmão é tolo", mas ela respondeu-lhe: "tens de ir, não podes deixar o meu irmão sozinho!" E ele foi, sem convicção. Enquanto o cunhado corria em direção ao suposto vulto, empunhando um pau, e ordenava ao cunhado que guardasse a saída do portão, o pai tropeçou, magoou-se, queixou-se que tinha rachado a cabeça e tratou de facilitar a fuga ao ladrão. Mas o Zé queria mesmo ir à guerra. Com um pacifista por companheiro, foi uma guerra perdida...

Tia LINA NA VILA DEOLINDA
Vila Deolinda foi a terceira  casa dos Tios Lina e Serafim (Depois da residência no Souto e antes da vivenda da Cónega e, finalmente, a Vila Maria)
 A Vila Deolinda era de uma prima (Beatriz?), que a arrendou quando foi viver para Lisboa.
As manas Maria e Lolita passavam lá tardes inteiras. Lanchavam no terraço, em frente ao Largo Manuel Guedes (um tio avô materno), e de lá era fácil darem uma escapadela até aoCrasto
HOBBYS da AVÓ MARIA e da Mãe
Bordados, ponto de pé de flor, rendas de bilros, flores (não deixava ninguém podar as rosas do Avô Aguiar - só ela, com um grande chapéu de palha na cabeça para se proteger do sol...), compotas maravilhosas, de cereja, de chila... Chila que crescia no lugar de separação do jardim para a quinta agrícola. Dizia a Tia Lola: a mamã era absolutamente perfeita em tudo o que fazia". Tb gostava imenso de música, sobretudo de piano. Todas as meninas aprenderam a tocar piano com a Nucha, que tinha o conservatório e era talentosa. Muito excêntrica - no inverno usava dois sobretudos um a fechar atrás, outro a abrir à frente. As lições sucediam-se na mesma tarde. Tinha dois filhos  que sobreviveram. Homero e Álvaro. A irmã Lucinda, madrinha da mãe teve 3 filhos, todos regressaram ao Brasil, onde ela tinha vivido.
A Avó era também uma visitante assídua do centro do Porto. Ia muitas vezes de elétrico até ao Bolhão, onde a linha 10 terminava. Muitas vezes me levava com ela, lanchávamos na Villares, fazíamos compras na Lã Maria, no Bazar de Sá da Bandeira, Para fotografias, o escolhido era a Foto Vieira, em Santa Catarina - na montra tinha sempre jogadores do FCP.
Um dos amigos do genro, o meu pai era o Danilo, que tinha uma sapataria elegante, salvo erro, em S Catarina. Foi ele que ofereceu à Tia Lola os sapatos do seu casamento. Em matéria de sapatos. lembravam o caso curioso do Tio António, que quando gostava de um modelo de sapatos, comprava não um mas dois ou três pares. A Mãe seguia o exemplo, variando as cores, por ex Chanel branco e beige, branco e preto
 Não a Avó , mas os meus pais e os primos António e Chico  frequentavam muito o Guarani, que, já nesse tempo, oferecia espetáculos de música e canto. Ali perto, nos "Leões" a Xana fazia um tratamento experimental químico para uma doença de pele. O Mário então estudante frequentava o café de estudantes "O Piolho"
Ali perto a Tia Lena frequentou o Colégio Liverpool (Rua dos Bragas, perto da Fac de Engª), depois que a mana Lolita foi expulsa do Colégio da Esperança (por delito de liberdade de expressão . uns escrito contra a diretora do colégio, entre outras  heterodoxias. Ao que parece admiravam muito a anterior diretora Dona Mª Luísa, uma verdadeira Senhora. A sucessora era, na expressão da Tia Lola uma mulher sem maneiras, que às refeições punha os cotovelos em cima da mesa. O precioso escrito num caderno escolar foi apreendido, As suas companheiras de protesto, Tina Ramalheira e Gracinda Andrade, ao que  parece, tiveram a mesma sorte  (o mesmo se passaria comigo no Sardão - não cheguei a ser expulsa mas o caderno foi apreendido. Graças à minha esplêndida memória, nas férias reproduzi-o, palavra por palavra...).
Lojas de que a mãe gostava - Vogue, Vicent, Armando de Sá, jóia... Tb Clérigos...

10 de Julho de 2011
MARIA ANTÓNIA DISSE
 - Chapéus e fatos de praia
A Mamã  gostava de imaginar os modelos dos nossos chapéus de praia - cortava os moldes, com muita habilidade, e mandava-os à Maria Folhelha para cozer e para enformar as abas, que ficavam impecáveis. Abas largas, para proteger do sol. Era também uma artista a tricotar.  E havia ainda os chapéus de ráfia, muito bonitos, para condizer com os vestidos e fatos de praia.
Os fatos de banho eram de malha, que a Mamã comprava e mandava fazer a uma modista do Porto. Curtinhos, sem exagero, pelo meio da coxa,  alça larga e decote pequeno. Por baixo da saia usávamos calções justos à perna. Escolhia sempre cores neutras.
 - O Tio Alexandre
Quando iam para o Colégio, o Tio dava-nos 20 escudos a cada uma para comprarmos  doces e chocolates. E levava-nos muitas vezes ao Porto a fazer compras, sobretudo vestidos e sapatos. A Lolita era rápida a escolher o que queria. Eu não gostava de nada, corríamos o Porto inteiro, de loja em loja, sem eu me decidir. O Tio, muito paciente dizia-me: "Quando vires uma menina com uns sapatos de que gostes, eu pergunto à Mãe dela onde os comprou. Depois que o emu Pai morreu, ele ocupou o seu lugar
Sobre o seu Pai:
Gostava de reunir os amigos no jardim. Sentavam-se nos bancos e cadeiras verdes, de ripas de madeira, à volta de uma mesa redonda. Mandava buscar vinho à adega e discutiam longas horas sobre política da terra, sobre a República, que ele considerava uma desgraça. Costumava dizer " monarca passa, Buíça, chiça"
Mas dava-se bem com os cunhados republicanos. Já depois da sua morte o Tio António esteve escondido na Vila Maria. Era o mais radical de todos, chegou a estar exilado em Angola, onde teve negócios que, por acaso, correram bem. Mas no Porto não. os investimentos acabaram mal e voltou a ser funcionário público.  Recordo-me da Mamã recomendar às criadas:  "Viste aquele senhor lá em cima, mas não podes falar dele a ninguém". Ele era muito simpático com as senhoras e tratava bem as criadas. Nunca foi denunciado. Também era bom para nós. Tinha com ele o seu cão, que apresentava às primas (nós).
O Tio António chorou muito, quando morreu o irmão Alexandre. "Lá se foi o meu segundo pai!" Morava, então, numa casa pequena, em Quintã, perto do irmão José. o juiz, que morava na casa que tinha sido dos meus avós Carolina e Joaquim.
 - O pianista Marques Ribeiro
Foi um dos meus pretendentes, mas zangou-se quando soube que eu namorava, ao mesmo tempo, dois rapazes de São Cosme. o Jacinto e o Albino.  O Marques Ribeiro soube pelo Eduardo e levou a mal.  Disse.me: "Gosto muito de si, e espero encontra-la mais tarde, quando deixar de ser criança". Quando veio eu já estava casada com o João. e já tinha uma filha.
 Nessa primeira visita a Mamã recebeu-o  muito bem, ficou encantada de o ouvir tocar Chopin, Liszt, Beethoven. À saída ele perguntou, "Posso voltar na 5ª feira?" "Claro que sim", respondeu ela. Ele voltou algumas vezes, até se zangar comigo. E até queria que eu desse um concerto com ele, no Porto, achava que eu tocava muito bem, A Mamã não consentiu...
O Albino, Jacinto, Adriano e João
Estava na tropa e quando terminou o serviço encontrou-se com o Jacinto e tiveram uma grande discussão sobre quem era o meu namorado, Chegaram mesmo a envolver-se numa cena de pancadaria. O Licínio ficou curioso e veio perguntar-me qual era, realmente o meu namorado e eu dei-lhe a resposta: "Oh Licínio, eu gosto dos dois". Mas pouco depois acabei, primeiro com o Albino e, depois, com o Jacinto.. O seguinte foi o Adriano de rio Carreira,  mas o namoro não durou muito. Decidi que era cedo, que não queria comprometer-me com nenhum, Tinha 20 anos quando fui na camionete do Coelho ao Monte da virgem à Missa Nova do Padre Eduardo Soares Pinheiro, onde conheci o João. Já tinha havido uma troca de correspondência entre a Mamã e a mâe dele, mediada pela Dona Arminda. Por ela sbiam que a Dona olívia tinha um filho viúvo. Na capela fiquei com a Lolita longe da Mamã e junto de dois rapazes. Um deles era, com certeza, o viúvo. Qual seria? Os dois pareciam interessados nela, um era loiro, outro moreno, ambos bonitos. Afinal foi o loiro que veio ter comigo, cá fora. Era o viúvo, o joão.
VILA MARIA MEMÓRIAS DA MÃE (2011)
O meu Pai era apologista de comparar caro - para durar
Por sinal, pagou caro pela propriedade onde construiu a casa, Foram lavradores ricos, seus amigos, que condescenderam em lha vender, mas não precisavam, não queriam e não facilitaram no preço. O lema de todos eles era "não vendemos, compramos" (o Zé do Paço, um Paciência e o Cosme Ribeiro). Iriam pertencer ao grupo que se reunia com o meu pai no jardim..
O negócio concretizou-se quando o Papá ainda estava no Brasil, foi o avô Joaquim, que era notário, quem tratou de tudo.
Na altura o Papá pensou em comprar a quinta que agora pertence aos frades Capuchinhos, uma bela casa antiga, do século XVI ou XVII, mas a mamã não quis. Achava o lugar solitário, muito longe do centro. Não ficava assim tão longe de quintã, mas, na altura era, de facto, isolada.
A Mamã não se arrependeu da escolha.. Tinha uma paixão pela sua casa nova, a dois passos do Souto, da Ala Nuno Álvares  e da Igreja. A Vila Maria, com o seu próprio nome posto pelo Papá

MÃE EM PARIS
Pequeno almoço delicioso no Flash Rouge - não melhores Croissants
La Sainte Chapelle. Louvre. Não subiu ao alto da Torre Eifel, mas subiu ao Arco do Triunfo. 8 de maio.  Passeios de bateau mouche,  Opera, Madeleine, Champs Elysées...Ficou na Cité Univ, no meu quarto, entre os meus simpáticos colegas (eu migrei para a Casa da Noruega). De noite, com o Padre Micael e o Padre Mário. 
MontmartreSacré Coeur. Paris iluminada.

MARIA MANUELA AGUIAR DISSE
EM AVINTES
Lecas doente. A Mãe recusava-se a comer. O Pai ameaçava que se absteria também, mas mas , mal ela voltava costas, subia as escadas para ir ver a menina, ele apressava-se a engolir tudo o que havia no prato. Uma imagem que me ficou.
Gostava de grão de bico, de melância, de amendoins. Também de lagosta e de todos os mariscos. De bons bifes. De vinho tinto e de whisky, mas só bebia socialmente, em festas. Então se tornava um homem alegre e despreocupada e a Mãe que o era, em qualquer caso, dizia: "este homem só fica normal quando bebe", Recordo uma noitada divertida em casa dos tios Reis, Para lá, o Pai foi devagarinho, queixava-se do mau estado da estrada, De volta, veio em boa velocidade e sem notar os buracos da rua!
Era uma ótimo condutor e nunca teve um acidente. Já a Mãe era um desastre! Conseguiu a carta à primeira tentaiva - graças, suponho, a uma cunha do irmão António - mas arrancava a sua predileta "Joaninha" (Renault), como se fosse um avião a levantar voo. A amiga Maria do Carmo era igualzinha., mas não consta que batesse em paredes. A Mãe, sim. Célebre ficou o acidente num subida íngreme, ali para os lados do Freixo. falhou a bateria, uns homens vieram ajudar, empurrando o carro. Em vão. A Lecas saiu, também, e juntou-se ao grupo, o que deixou a Mãe aflita, porque a menina era doente e não podia fazer esforços. Sem pensar duas vezes, também ela deixou o volante abriu a porta, saltou para fora---e o carro começou a deslizar, imparavelmente para trás até bater, em linha reta num portão de ferro, antes da curva da estrada...
A Mãe só gritava: Deixem ir! Fujam todos!
Não houve feridos, só um embate dramático, que o portão e o pequeno Renault aguentaram, para surpresa geral, O motor da Joaninha era nas traseiras, mas as amolgadelas foram relativamente ligeiras. (Já não se fazem automóveis assim..). Houve que chamar o João - que se preocupava sempre até com a mais pequena arranhadela na pintura...
Outro percalço que ficou para a história, aconteceu em Gondomar, numa festa de Natal, na entrada mal sucedida para os jardins da Vila Maria. O carro era minúsculo, branquinho, parecia de brincar, numa pista de feira.  E o portão era largo, largo, dava para um enorme StudebakerCadillac, ou até um camião. Mas a Mãe prudentemente não
 ousava tentar. Imprudentemente, o meu "ex" incitou-a. Entendiam-se muito bem, Tratavam-se pelo nome e por "tu": "Vai, Maria Antónia, tu consegues!". Quase conseguiu fazer um "pião" e sair sem desastre. Apontou ao portão, carregou no pedal (demais) e bateu com o farol direito na aresta da pedra que segurava o portão - à esquerda!
Mais uma preocupação e despesa para o João

Maria Manuela disse:

O CARNAVAL DE 1962
Grande festa nos dois andares do R/C da Rua Latino Coelho. A Mãe e a Maria do Carmo Razzini pediram aos vizinhos para fechar a porta da entrada e usar o átrio como pista de dança, a continuar a sala dos meus pais, Na sala dos Razzini era a ceia, com mesa cheia de doces, salgados e bebidas.. Todos fantasiados, O Dr Figueiredo fazia um chinês convincente, embora muito alto (Tb há chineses altos). O Pai com vestido, chapéu e sapatos da Maria do Carmo fez sucesso (ele calçava 42, ela 40, deve ter sofrido de aperto e,talvez, dado cabo dos sapatos - possivelmente velhos. Havia muita gente, o Domingos, muito engraçado, sempre a falar da "minha Berta". Os donos do Café Príncipe, a Ester e o Sr Rosas, ela com farda de magala e ele com um traje de vianesa, Simpático casal - gostaram tanto da festa, que, no ano seguinte, a organizaram na sua casa. Foi igualmente uma festa esplêndida. Moravam perto de nós, numa vivenda grande. A recordação mais viva que guardo é a da Madalena a cantar a Índia e outras das suas músicas preferidas, com um voz maviosa - a grande estrela da noite

 A AMÁLIA NO CAFÉ RIALTO
Tanto a mãe como a Tia lola adoravam a Amália, cantavam as suas músicas constantemente - não tão bem, porque isso é impossível, mas muito bem.
A primeira vez que a viu de perto foi no Café Rialto, lindíssima, vestida de preto
Outra celebridade que conheceu, mas em circunstâncias mais anómalos foi o ator Rogério Paulo. Num cinema do Porto, onde na companhia da Maria do Carmo chegou atrasada. Foram conduzidas até à fila, à luz da lanterna, depois, ficaram por conta própria no escuro, A mãe enganou-se na cadeira e sentou-se ao colo do ator (pediu as devidas desculpas e só viu quem era no abrir das luzes para o intervalo). Grande embaraço...
Melhor foi, muitos anos mais tarde, o convívio com Virgílio Teixeira, amigo maravilhoso que fiz nas lides da emigração. Em Espinho, durante o Congresso Mundial de Mulheres Migrantes. Virgílio era para ela, o homem mais belo do mundo, Em nova chegara a dormir com o seu retrato debaixo do travesseiro. Já depois de casada, apesar de recolhida numa gaveta a fotografia, tanto o gabava que o meu pai chegava a sentir ciúmes (antigamente tinham ciúmes por tudo e por nada . sempre considerei normal que o meu "ex" tivesse uma paixão estética por Catherine Deneuve, e ele que eu sentisse o mesmo por Gérard Philippe.
),
Sorte teve a Mãe que, de nós três, foi a única a conversar com o seu "idealtipo". Virgílio não era só bonito e talentoso, era uma pessoa maravilhosa. Um verdadeiro amigo, com uma mulher também encantadora, a Vanda. E com Amália, nos anos 80 a Mãe falou longamente pelo telefone, num dia em que eu estava com ela em Connecticut , na casa do primo Seabra da veiga - outro querido e saudoso amigo meu.

CONVERSA SOBRE O TIO ALEXANDRE (a 7 de fev de 2012)

A conversa sobre o Tio Alexandre começou com uma pergunta;"Já atravessaste os Pirinéus?"
Disse que sim. Continuou:"E paraste em alguma aldeia?"
"Que me lembre, não; talvez, não sei..."
Era para saber se eu tinha visto artefactos de lã dos Pirinéus. Depois, falou dos Xailes de  (dos Pirinéus, certamente), que o Tio Alexandre lhe comprou no Porto. Um era cor-de-rosa, comprado numa loja dos Clérigos, na Rua dos Lóios. Outro beije. A Tia Lola não quis nenhum. Não devia gostar...
Ambas as sobrinhas iam só com ele, talvez para evitar que a irmã, a Avó Maria, interferisse nas livres escolhas das meninas.
No verão lanchavam sempre na Brasileira. Mandava vir enormes pratos de bolos e insistia: "Comei os bolos todos!". Nas outras estações, às vezes, variava. Gostava de  um pequeno café, na esquina em frente à Brasileira, na rua que vai dar à Av dos Aliados.  
E de outro, junto à Igreja dos Congregados. Ótimo, até tinha música! Descia-se para a Rua por um pequeno degrau

UM ZEPPELIN EM GONDOMAR
(um relato recolhido no início de 2019)
Depois da guerra, quer dizer, em utilização pacífica, um enorme avião, diferente de tudo quanto se conhecia, atravessou os céus de Gondomar, semeando pasmo e emoção em toda a gente. Segundo a mãe, parecia um gigantesco melão voador. Foi busca-la ao quarto, para ver o fenómeno, uma criada que chamavam "Maria nariz de pau". Correu para a varanda que ficava à saída da cozinha, ainda a tempo de contemplar aquela coisa estranha, que avançava com a majestade e do  das suas dimensões e do seu peso, um prodígio que parecia impossível voar como um pequeno pássaro. Era meio dia. Para além da providencial Maria nariz de pau, não se recorda se a sua mãe ou alguns dos irmãos partilhou com ela a experiência. Talvez não.
Mostrei à Mãe as maravilhas da internet, Procurei em Zeppelin e logo apareceu a precisa imagem que ela viu naquela manhã dos anos 40.

CINEMA NOS ANOS 40


Maria Manuela Aguiar

14:47 (há 3 horas)

para eu
O cinema fazia parte de um modo de viver. Ir ver um filme numa sala bonita, (São João, Batalha, Rivoli...) era um ritual que pontuava o dia, como lanchar naAteneia ou na Villares ou tomar um café no Guarani, na Brasileira, no Imperial, Estivessem em Gondomar ou em Avintes, o centro da animação era sempre a cidade do Porto. Era lá que tudo acontecia. De tarde, a sétima arte era só para as senhoras (os homens trabalhavam). A Tia Lina era uma companheira constante. Quando gostava do espetáculo repetia. No São João viram juntas a Madame Butterfly três vezes.  À noite, geralmente ao sábado o acompanhante era o pai. Era altura para luzir uns vestidos mais chiques, pois havia dois intervalos, ocasião propícia de olhar e comentar as indumentárias alheias. A Mãe punha os seus óculos escuros (muito graduados, a miopia era forte). Um toque de singularidade -  não se usava, na altura, nem era muito prático, suponho, pois veria no ecrã as imagens de outra cor. Para ela era um gesto de afirmação feminina.
Mais difícil era a conciliação de gostos. O Pai tendia para filmes de ação, de guerra, westerns", policiais.   A Mãe adorava comédias, Cantinflas, Doris Day. Talvez o ponto de consenso fosse musicais, e dramas com os grandes nomes de Hollywood. Havia tempo e ocasião para alternarem os géneros. Começavam a noite, antes do filme, sempre num café, onde o Pai bebia mesmo café e a Mãe um "peppermint" e acabavam, uma vez mais, num café, antes de rumarem a casa, a pouco quilómetros de distância.
Depois que a Lecas e eu chegámos aos 6, 7 anos, levava-nos frequentemente, com ela, às "matinés". E eu tive de suportar as comédias do Cantinflas, que já dessa tenra idade, considerava excessivamente "infantis" (habituada que estava a ir ao cinema com o Avô Manuel assistir a espetáculos sérios, incluindo westernse operetas, tão do agrado desse querido avô, o mais cinéfilo de toda a família).

OLD FRIENDS

Falava-se do ISCTE, do seu aniversário, e a Mãe relembrou os tempos em que o Pai ali estava a terminar o seu curso de sociologia, em que ela o acompanhava nas frequentes idas a Lisboa. Os voluntários do Porto beneficiavam de aulas especiais nos fins-de-semana e enquanto o pai assistia às aulas, de vez em quando, a mãe combinava um encontro com o velho amigo Maestro Fernando Marques Ribeiro. Para falarem dos tempos da juventude e daquele romance interrompido para sempre. Se o pai ia diretamente do ISCTE para minha casa, o Maestro levava-a de carro à Av do Uruguai. Nunca contou nem a marido nem a filha. Que pena! Eu gostava de o ter conhecido
Impossível no caso de Celina, desaparecida anos antes do casamento do seu viúvo com minha Mãe e tão fácil no caso do Maestro, que, então, vivia em Lisboa, como eu... Assim, tal como Celina, Marques Ribeiro é uma imagem guardada num retrato. Mais uns fragmentos de histórias que fui recolhendo...


FESTAS NA VILA MARIA

A Vila Maria foi um paraíso terreal para várias gerações da família Aguiar, embora a sua vida, por desleixo e descaso de quem manda no município, fosse relativamente curta, do início doa anos 20 ao fim do século, quando foi permitida a sua demolição (uma barbaridade, porque a casa com o terreno circundante teria tido fácil utilização para turismo, a mais evidente, ou para uma clínica ou um Museu, até para um centro comercial, ou condomínio de luxo, se soubessem aproveitar o enorme espaço que ladeia o edifício de época, em construções a que o ligassem harmoniosamente). Comprada por um pato bravo que faliu está hoje transformada em parque de estacionamento. Dizem. Nem a mãe nem eu o vimos com os nossos olhos, porque os fechávamos, firmemente, sempre que passávamos pelo local
A casa ficava dentro do jardim, distantes uns 30 metros da rua principal e separada de roseirais simétricos um metro mais altos e bordejados a granito, por um caminho largo, que permitia fazer à sua volta gincanas com os carros, como as que algumas vezes se organizaram. Ladeando o portão de ferro as japoneiras, de camélias cor-de-rosa. No extremo norte, à face da estrada, o mirante (que chamávamos o mirante da frente para o distinguir do mirante que ficava no outro extremo, dava, então, para um caminho de terra batida, onde agora é uma escola). Ao lado, espalhando os ramos sobre o mirante e o muro, um enorme diospireiro, A sul, também à face da estrada, o “chalet”, que fora destinado a cavalariça ou garagem, e, depois da morte do Avô, acabou arrendado a vizinhos tranquilos, gente respeitável da terra
A simetria dos canteiros, terminava nas espaços que ladeavam a casa - de lado do mirante, prolongava-se até a pequena "casa do forno e à área em que  o pomar confinava com as vinhas. Do lado do chalet, o início do pomar e, por trás, num retângulo fechado por muros de granito, a pocilga. Vista de fora, sem porcos à vista, dir-se.ia uma longa   casa térrea, discretamente avistada entre muitos troncos e ramos das árvores de frutos. Havia sempre dois porcos e, quando chegava o dia da matança, as meninas era fechadas na sala, tão longe quanto possível, para não ouvirem os grito do tenebroso ato sacrificial. Ouviam, mesmo longe ouviam e recordaram o horror do som, sem imagem. Quem vinha executar o ritual era o dono do talho, negociante próspero e homem simpático. pai da Felismina, que era amiga das meninas e aluna de piano da prima Nucha
Depois, era dia de comer rojões, esquecendo a sua origem trágica...
Não só a carne de porco era guardada numa arca, antes limpa com areia e, depois, cheia de quilos e quilos de sal. A Avó Maria não só conservava os pedaço de porco, como, por exemplo, as laranjas numa grande arca de castanho, em areia.ou os dióspiros em gavetões, embrulhados em papel...
Para além da Felismina, outra amiga do círculo das lições de piano era a Maria Amélia da Estrela (que não era apelido, mas alcunha. Seu pai tinha construído um palacete muito original, em  forma de estrela. Foram muito próximas, durante muito tempo - da Maria Amélia e de uma irmã, a Madalena, Faziam parte do grupo que ia , muitas vezes, lanchar à Ateneia. Há muitas fotografias do casamento da Maria Amélia, mas depois perderam contacto. ela foi viver para Viana. A irmã casou com um rapaz de Avintes que não tinha grande fama. Gostava dele, e não quis saber dos vaticínios. Casou com ele, e perderam-lhe o rasto, um armador de barcos.
A Felismina, rapariga bonita, alta e loira, foi a primeira a casar, com um Ramos, a quem chamavam o "Ramitos". Contou às colegas das lições de piano, pormenores pedagógicos sobre a noite de núpcias.  e um conselho: "Não vale a pena gastarem dinheiro na camisa de noite. Não vele mesmo a pena..."

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No colégio, roubaram-lhe uns brincos muito bonitos, dados pela Tia Rozaura. E ela até viu, a rapariga a mexer nas suas gavetas. Mas hesitou. Depois, a Miriam, que também era amiga da ladra, pediu-lhe que não a denunciasse. E, assim, nunca mais recuperou os brincos...
Há outros relato de um roubo de brincos, com especial valor afetivo, porque tinham pertencido à Tia Glorinha. Não foram achados, mas a ladra foi chamada à diretora e expulsa. Esteve lá apenas no 3º ano do Liceu e, no dormitório ficava ao lado da Mãe, Do outro, estava uma grande amiga a Fernanda Málem (que viria a ser freira)
Anos mais tarde, numa reunião de antigas alunas, a Mãe encontrou a ladra. Talvez tenha sido nessa ocasião , tantas décadas depois, que a Miriam lhe pediu que fizesse silêncio sobre esse escândalo.
Os dormitórios estavam separados pela sala de piano. O das mais pequenas completamente aberto, sem cortinas. O das maiores com a privacidade relativa de cortinas que podiam fechar-se 
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(conversa a 1 de agosto de 2012) - A sala de piano foi a que melhores recordações lhe deixou.. A Profª Margarida Portela, que era uma extraordinária executante, e que a considerava uma aluna especial, uma futura grande pianista, e ofereceu-lhe as valsas de Chopin, com uma dedicatória. A Mãe deu-as à única pianista da família na nova geração, a Sameiro, mas esqueceu-se de copiar a dedicatória,e tinha muita pena desse esquecimento. Nas festas, as painistas eram sempre a Mãe e a Amélia, que era de Avintes - chegaram a tocar a quatro mãos, Amélia morreu jovem, vítima da tuberculose, com a Celina. Foi a costureira da terra, que conhecia a Mãe da Amélia que quis e conseguiu que se conhecessem. Parece que a costureira era uma rapariga nova, muito engraçada.
A profª era muito bonira e tal comoa Mãe, muito míope,  
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O seu sonho de ser pianista ou atriz, não se concretizou...Os únicos palcos que pisou foram os do Teatro Nuno Álvares de São Cosme.E, pelos anos fora, atraiu com as suas canções, as suas histórias e as suas benignas excentricidades, a família próxima, um grande número de sobrinhos nets e bisnetos.
Curioso é que até o seu dentista, o Dr Morris, um dia, sem saber dessa ambição secreta. lhe disse: Devia ter sido atriz. Vê-se que tem jeito!"
Até na cadeira do dentista representava bem a sua personagem. "tem a certeza de que isto está limpo?  Não usou essa agulho nos dentes do anterior?"
Claro que sim, serve para todos e nunca é limpa - respondia ele a rir-se, Muito simpático e bonito. A Maria Antónia gostava de médicos bonitos. E foi tendo vários, ao longo da vida, o anterior dentista, do Porto, o Dr Figueiredo, o cardiologista...Até no hospital de Gaia, um mês antes de morrer, o neuro cirurgião era um rapaz de expressivos olhos
azuis. E o motorista do táxi que nos trouxe para casa também.
Ao Dr tratou-o por tu, começando por perguntar "És meu sobrinho?"
Quando ele veio falar comigo, para lhe dar alta, dizendo que o TAC estava perfeito, disse-me: "Está muito bem. Só achei um bocadinho confusa, porque me julgava um sobrinho!
Esclareci que não era assim tanto anormal, pois era senhora de muitos sobrinhos, alguns médicos, (sendo certo que os médicos não me parecem ter olhos dessa cor. Mas confusão não era - antes uma maneira de fazer conversa com um jovem interessante, que poderia ser, mas não era, da família.
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O Encontro com o Pai contado pela Mãe

13 de outubro. Um dia de chuva e frio para a missa nova do Padre Eduardo Pinheiro na capela do Monte da Virgem. Levava um casaco comprido  cor de rosa (feito por uma modista de alta costura do Porto. Sua Mãe de preto, como de costume. Foram numa camionete de excursão, guiada pelo Sr Coelho..A mãe julga que o encontro não foi 

inteiramente casual, Uma tia da Nucha e da Lucinda. madrinha da Mariazinha, casada com um farmacêutico, Homero Figueiredo (teve farmácia no Porto e, depois, em Avintes). a Tia Arminda era, em simultâneo, amiga de Olívia Capela, Mãe do João, e de Maria Aguiar, a mãe da Mariazinha e já levara livros religiosos emprestados por uma à 
outra. No caso da Avó Maria brochuras sobre o Frei Bernardo, por exemplo, que deviam ser raridade. Morava em Avintes, perto da Avó Olívia e da farmácia, por trás da qual ficava a Escola do Magarão, onde eu fiz a 2ª classe. e já tinha vivido na casa do Tio João Aguiar. Mais tarde, emigraram para o Brasil, com os filhos, um deles também chamado Homero, como o filho mais velho da Nucha. O Tio João era o pai de Lucinda e Nucha.
A Avó Maria era  muito empreendedora, em tudo o que dizia respeito à sua paróquia e à pratica e devoção religiosas, Com facilidade organizava excursões ou peregrinações à sepultura de Frei Bernardo ou a Fátima, ou a uma missa nova... Chamava o Sr Coelho,(um homem muito simpático e delicado, cujas filhas estudavam no Porto), dizia-lhe o número de participantes e o destino da peregrinação, e ele tratava de tudo e era sempre o motorista de serviço. Foi assim na camionete do Sr Coelho, com a lotação esgotada, entre jovens e seniores, que rumaram nesse domingo ao Monte da Virgem . Estavam a entrar na capela, quando chegaram o viúvo e a mãe. A Mariazinha, não tinha a certeza que fossem, mas achava provável, pois naquele par havia uma diferença de idades, pertenciam obviamente a diferentes gerações.
A excursão de Gondomar ficou no fundo do templo, enquanto ele, o eventual viúvo e um amigo alto e moreno  estavam junto ao altar.. No final da missa, enquanto  as "velhas" se dirigiam à sacristia para os cumprimentos, os jovens saíram para o adro. A Mariazinha distanciou-se, quis ver um cruzeiro, subiu os degraus de pedra e foi ler os dizeres  gravados na cruz e ouviu uma voz que lhe perguntava: "Boa tarde, dá-me licença?
Olhou para trás - era ele, o jovem viúvo loiro e bonito! Pedia licença para lhe oferecer uns soquinhos- miniatura de couro, ligados por um fio de prata. Aceitou. Ele tinha acabado de os comprar num lojinha que vendia, terços, imagens religiosas e artesanato. E assim começou a conversa, Contou que no dia seguinte ia para Lisboa com um primo, o António, visitar a Exposição do Mundo Português.
As apresentação formais das minhas (futuras) Avós Maria e Olívia foram feitas pela Tia Arminda e a conversa decorreu animadamente até à hora de partir. De Lisboa, João enviaria um soneto à bonita menina de Gondomar e.seguidamente muitas outras cartas. A Avó Maria estava sempre atenta à chegada do correio. Era ela que abria as cartas, Li-as e so depois as entregava às filhas. 
Nunca teve nada a opôr às dele. Um católico de missa e comunhão quase diária era tudo o que queria para genro. Tudo, não , mas era " condição "sine qua non"
A Mariazinha gostava dele, mas não queria um viúvo. Em conversa com a Tia Rozaura, desabafava: " Ó Titia, um viúvo...não quero!"
E a sábia Tia disse-lhe: "Não te importes. De facto todos os homens são viúvos. Antes de casar connosco, andaram com outras mulheres. quer estejam vivas ou mortas.
Passados poucos dias ele telefonou. Na altura, só a irmã Carolina tinha telefone privado. Chamou-a a casa e falaram, combinando um encontro, que aconteceu logo.
Passou a ir lá com frequência. Às 3.00 da tarde. Ia diretamente para a igreja, era a hora do Terço.. Acompanhava-as a casa e ficava a conversar com a Mariazinha no terraço. 
A Avó não aparecia, ficava no quarto ou na sala, mas mandava a Lolita atravessar a sala de jantar, que dava para o terraço - como se fosse à cozinha... Ao fim da tarde ele regressava como tinha vindo, a pé pela Gândara e São Gemil, até Gramido, onde atravessava o Douro, de barco, para Avintes.
Anos depois, contou à Mulher que se ela lhe tivesse dito "não"  junto ao Cruzeiro do Monte da Virgem, tentaria uma de outras duas de quem gostava - a irmã Lena e  a Teresa "da Pinta" - uma de várias irmãs, todas bonitas, que viviam numa daquelas grandes e famosas casas de lavoura de São Cosme).
No verão, se seguissem a agenda habitual de férias familiares, estariam mais longe um do outro, ela nas termas de Vizela e na Foz, ele em Espinho, na casa da rua 7. Nesse ano, porém, a Lena estava a recuperar de uma primo.infeção e os médicos receitaram  uma longa estadia no campo. Passaram o verão em Branzelo. numa quinta de amigos (Novais da Cunha?). A casa era enorme, os convidados foram muitos, incluindo os primos do João, a Alda, a Maria Helena e o  Manuel. O joão, também , aos fins de semana. E um Rangel, que morava numa quinta próxima, e era mais velho do que o grupo das meninas Aguiar.
Não faltava pessoal doméstico - os caseiros da quinta, e as filhas, muito prestáveis. Em fins de outubro, estiveram todos numa desfolhada de lavradores de lá. Dias muito animados! Passeavam pelos campos, jogavam as cartas, ao som da música - uma "caixa de música, último modelo. Estavam, contudo, proibidas de dançar. Regras da austera e catolicíssima Mãe...