terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

POR UMA SELEÇÃO DOS MELHORES 1 - Fernando Santos é, desde há muitos, muitos anos, o primeiro selecionador nacional que se preocupa em escolher os melhores para a equipa que representa o país, sem olhar a regiões de origem, clubes, nomes, idades, isto é, sem qualquer preconceito. Estranho é que tenhamos de considerar excecional o que deveria ser, imperativamente, a regra. A história anterior é uma história triste, que foi de mal a pior, com cada mudança de titular. Refiro-me a Scolari, Queiroz e Bento. Os três fizeram da seleção o seu clube privado, onde os favoritos tinham lugar cativo. Alguns deles até eram indiscutíveis, o problema é que faltavam outros… Scolari era um homem da Lisboa imperial, que, desde a primeira hora, tratou o Porto como uma pequena colónia, situada nos confins do planeta, Quem não se lembra de ele declarar que não podia vir ao Norte, fazer observação direta, porque era muito longe? A perceção da distância é coisa relativa, admitamos, e 300 km pode ser longe para um monegasco, ou um luxemburguês, mas para um brasileiro não é, de certeza. Tratava-se de uma desculpa estúpida. Mas estúpido o homem não era, e acabou por vir ao FCP buscar meia equipa pronta e feita por José Mourinho. Contudo, "esqueceu " Vitor Baía e isso custou-lhe o título europeu - título que Baía garantiu ao seu clube, precisamente nesse ano, recebendo o galardão de melhor guarda redes europeu. O plano inclinado acentuou-se com Carlos Queiroz, a sua arrogância e incompreensíveis opções, expressivamente criticadas no momento da derrota final, por gestos e palavras do intocável Ronaldo. E veio a bater no fundo com o mais limitado e prepotente destes fracos "reis" do futebol, que "fizeram fraca a forte gente" nos tórridos campos de combate do mundial do Brasil. Na verdade, levou em excursão os mais fracos, mais cansados, quando não lesionados com gravidade - houve até os que, mal deram uma corrida no relvado, saíram de maca... .. 2 - O Eng.º Fernando Santos fez "obra de engenharia", de prospeção, de entrosamento, com seriedade, sem dar seguimento às querelas que lhe deixaram por herança, recuperando do ostracismo a que estavam condenados jogadores de classe universal como Ricardo Carvalho, Tiago ou Ricardo Quaresma. Preferência à qualidade, pura e simples, às mais valias do presente! Em jogos decisivos, lugar à experiência (assim fizera já na ´Grécia, recorrendo a Katsouranis e Karagounis e outros da mesma idade"), em partidas amigáveis, oportunidade às jovens promessas, que têm o tempo futuro para se revelarem plenamente. .Transformou, num ápice, um "onze" desclassificado, desmoralizado e perdedor num coletivo eficaz, que ganha, pragmaticamente, mesmo quando não deslumbra, com nota artística. Como nortenha, direi que é uma lição que o Porto precisa de aprender depressa - e o Engenheiro até já abriu caminho, testando, com sucesso, num "particular" um excelente trio de meio campo - Ruben, Danilo e André André - que, por insondáveis razões, o FCP raramente põe em campo. 3 - É, pois, tão necessário, ir detetando talentos, « quanto é incongruente prescindir dos mais velhos, ainda no seu apogeu, em favor de quem só beneficia em esperar, para aprender com a maturidade dos outros, em vez de aprender à custa dos seus próprios erros. A idade é coisa relativa, como se vê pelos exemplos de Ricardo Carvalho ou de um Helton renascido, depois de lesão que parecia fatal - um Helton muito mais ágil e seguro, agora, aos 37, do que há dez anos, quando, prematuramente, substituiu na baliza o grande Vitor Baía. Há que aceitar a força das evidências. O rejuvenescimento “à outrance” é coisa tão má como o respeito reverencial por mitos em decadência ou má forma conjuntural - o caso de Ronaldo na humilhante campanha do Brasil. . No futebol, como globalmente na vida do país, o essencial é aproveitar recursos humanos disponíveis em cada momento, num sábio cruzamento de gerações, pelo que Fernando Santos, com visão e coragem, criou, para além de uma equipa verdadeiramente nacional, um paradigma válido em todos os domínios da sociedade e da "res publica" portuguesa.

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