sábado, 13 de junho de 2020

W33 MÁRIO BARBOSA AGUIAR CAETANO PEREIRA revisto

33 W - MÁRIO BARBOSA AGUIAR CAETANO PEREIRA


TÃO IMPORTANTE NA VIDA DE TANTA GENTE
O Mário nasceu em Gondomar, a 17 de Outubro de 1932.
É, a meu ver, individualidade mais extraordinária da família, nas várias gerações, cuja história conhecemos. A sua carreira foi excepcional ( dentro e fora do país), como médico, cirurgião, investigador, professor, pioneiro dos transplantes em Portugal (ainda era, quando se reformou, presidente da Associação Portuguesa de Transplantes). Tão grande era o reconhecimento que alcançou no mundo científico, quanto parco a nível mediático - para ele,  forma de notoriedade  prescindível, quando não nefasta. Concentrado no trabalho, em profundidade, recusava o palco da fama e da glória públicas. Raras vezes dava entrevistas ou publicitava feitos e avanços fora do lugar próprio, congressos e revistas científicas. Mas não criticava a "escola"de Lisboa, que pensava diferentemente...
Genial, mas discreto demais. "Uma sumidade", no dizer do seu colega e amigo Paulo Mendo
Nunca  saberemos quantas pessoas lhe devem a vida, como cirurgião...
Um lutador, a vida toda: pelo ptogresso científico, pela conformação das leis às necessidades da Medicina, pelas condições de trabalho e de atendimento dos hospitais, do "seu" Hospital de Santo António, no Porto. Até aceitou, durante um período difícil, ser director deste hospital... Creio que foi então que se projectou o novo edifício. Lembro-me dos seus relatos, às vezes com um toque de humor, sobre as resistências burocráticas, que enfrentou. Admirava a paciência e a tenacidade com que se envolvia em tarefas administrativas, rotineiras, necessárias a melhorar a organização e abrir caminho ao pioneirismo...E a voz de comando, que, nessa veste, sabia ter. Não era para graças! Para graças era , isso sim, no "inner circle", no nosso círculo, sociável, divertido, disponível - com tempo para todos nós, para nos ouvir, para rir connosco, muitas vezes, das originalidades e peripécias da nossa política e políticos... E, à mistura, para tratar os nossos males de corpo e alma (foi sempre, também, um incomparável clínico "generalista", com o "dom de adivinhar", de diagnosticar, de curar, com remédios, se não apenas com palavras convincentes!
Uma das surpresas que viria a ter, depois que partiu, seria a constatação de que, não só para a família, mas para muitos antigos doentes de Gondomar, dos seus tempos de recém licenciado, continuou a ser o médico de proximidade... "Pro bono"... Disseram-mo, durante o seu velório e funeral, muitos desses (para mim) desconhecidos conterrâneos, de lágrimas nos olhos. Fiquei muito  impressionada, não tanto pela generosidade e simpatia humana desses gestos, de que o achava bem capaz, mas pela forma como geria a sua agenda, abrindo espaço para tanta actividade, tanto convívio, tanta gente, tanta coisa!...
É verdade que todos nós largamente desconhecemos o lado profissional dos nossos parentes, sobretudo se eles se não vangloriam dos suas obras - e o Mário era completamente avesso a isso... Não que fizesse questão de guardar segredos: até contava o que vinha a propósito, como algumas das batalhas "administrativas" ou legislativas, que travou, como eu lhe contava as minhas, noutros domínios. Não estranhei a insistência com que, um dia, numa viagem de Lisboa ao Porto, quando éramos ambos deputados, o Dr. Paulo Mendo me dizia:" O seu primo è uma sumidade!" e eu respondia:"sim, eu sei", mas displicentemente,  e ele repetia, convencido de que eu não sabia mesmo mesmo...E saberei? Não sendo da especialidade, talvez não me aperceba da dimensão total...
Como primo, quase irmão, sim, posso testemunhar que foi único, maravilhoso, insubstituível... Vivemos anos, na minha infância e sua juventude na Vila Maria, e apesar dos 10 anos de diferença, como conseguiu ser o bom companheiro mais velho! Até me ensinou a patinar no rinque do Crasto, ele que era exímio praticante e jogava hóquei em patins...
Em 2005, perder o Mário foi perder esse irmão mais velho, mais sábio e sensato.
E que casal ele formou com a Meira... Perfeitos!
Vemos como normal que uma mulher dê todo o seu tempo a um marido ou a um filho doente. Mas quantos homens há, capazes de deixarem tudo para acompanhar, durante largos meses, a mulher, na fase terminal de uma doença incurável, sem a abandonar um só dia? Foi o que ele fez, pondo fim à carreira privada, e pedindo licenças sem vencimento no hospital, onde voltou só depois que ficou viúvo. Que exemplo admirável!

Hoje, quero antes lembrar a alegria das festas, na sua casa da Rua David Tomé Moutinho, no sopé do Monte Crasto, em São Cosme. Grandes festas, imensos amigos - não apenas colegas médicos, portugueses, ingleses, mas também os companheiros do tempo da "tropa", em Angola, a numerosa família, do lado Aguiar e do lado Caetano Pereira. E as ceias de Natal, os almoços do 25 de Dezembro, os "réveillons", os "compassos" no dia de Páscoa... Primeiro era na "Vila Maria", depois era, quase sempre lá!
E quantas tardes de sábado passadas, ou em Espinho, (aonde, com os filhos, chegaram a vir de férias, para o meu apartamento da Rua 7 ) ou em Gondomar, em conversa amena, às vezes, agitada pela discussão política, quando estavam presentes o Tio David ou o Domingos. E o Paulo , sempre pronto a fazer um cafézinho bem forte para o meu Pai... Com tantas mulheres, em casa, era ele o "voluntário" daquela família esplêndida. Que saudades!







































Publicada por em 21:37   

4 comentários:

Maria Manuela Aguiar disse...
 A primeira pessoa a dar-se conta da excepcional qualidade do Mário, como médico, foi o pai, meu Tio Serafim. Um homem fora de série, muito inteligente. Construiu, sozinho, negócios sempre bem sucedidos, impôs-se socialmente, num largo círculo de amigos. Influente, muito para além das fronteiras de Gondomar. Admirava-o,  apesar das nossas diferenças políticas. De comum, nesse aspecto, só o facto de sermos ambos monárquicos...  mas o Tio miguelista, e eu, o oposto. Sempre contei com ele, como com o Mário,  desde a época em que, com muita paciência, me ensinou a patinar, até àquele dia em que foi comigo à televisão (num programa da Ivone Ferreira, na RTP-Porto ) falar dos nossos tempos lúdicos da Vila Maria. Ele, que nem gostava nada de entrevistas, e, muito menos, sobre a vida familiar. Guardo cópia dessa entrevista, como uma bela e singularíssima recordação dele e da sua amizade.
segunda-feira, 20 outubro, 2008 
Lélé disse...
Tio Marinho, (era assim que nós os filhos do Toninho lhe chamavamos) Realmente, não havia mais ninguém que sentisse tanto orgulho pelo filho que o avô Serafim, uma vez lá em casa disse-nos que o Tio Marinho era o melhor médico do mundo, melhor que o Dr. Bernard. E era, sem dúvida.
Lembrando o Tio, terei que contar as últimas conversas que teve comigo - eu andava triste (na minha fase má), deu-me o braço, à saída da missa, e disse-me: ”Deixa lá, Lélé, não merecias, existem pessoas que não têm os mesmos valores católicos que nós, e tu sabes isso, a vida continua...  Sê a menina boa e alegre que sempre foste, e educa a tua filha como Deus manda…”
Naquele momento o meu Tio ficou tão parecido com o meu Pai, as lágrimas correram-me, e… hoje sei que onde quer que o Tio esteja está junto de meu Pai.
quarta-feira, 22 outubro, 2008 
Maria Manuela Aguiar disse...
Tenho de procurar melhores fotografias do Mário! Aqui a última é do casamento do João Miguel com a Teresa, em que foram padrinhos do noivo a minha mãe (toda de amarelo vestida, para alegrar os seus 83 anos), e o Mário. Aqui, aparece com a família da outra tia, a tia Lola (à esqª, de chapéu preto - são famosos os magníficos chapéus, que usa nos casamentos, sem nunca repetir).
quinta-feira, 23 outubro, 2008 
Lisa disse...
Manela, diz-me pf o teu endereço de mail que eu mando-te outras fotos do meu pai e se quiseres um dos meus filmes.

Beijinhos
quinta-feira, 23 outubro, 2008 

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