quinta-feira, 11 de junho de 2020

AMM CV comentado

Maria Manuela AGUIAR DIAS MOREIRA


 Nasci  em 1942, na casa grande da avó materna - uma das chamadas "casas de brasileiros" -  no centro de Gondomar, muito perto do
 Porto. Aí vivi os anos felizes da infância, num ambiente em que a cultura brasileira estava realmente presente, e mais nas narrativas,
 nas memórias, na música, na gastronomia do que propriamente na traça do edifício, ao gosto dos anos 20 do século XX.  

Depois de dois anos na escola pública, sete no Colégio do Sardão, e dois no Liceu Rainha Santa Isabel do Porto, completei o curso de
 Direito na Universidade de Coimbra. Era excelente aluna, estudava por gosto, e com entusiasmo, embora sofresse o mais que é possível sofrer
antes de todos os exames, que acabavam por correr bem. Terminei o Liceu com 18 valores, em 1960, e Direito com 17, em 1965. Como bolseira
 da Fundação Gulbenkian, voltei à vida de estudante, em Paris, entre 1968 e 1970.  Parecia-me o lugar e o tempo certo para me iniciar na sociologia
do Direito e foi-o em mais do que um sentido. Conclui o ano de titularização na École Pratique des Hautes Études, com Alain Touraine , vários
 certificados avulsos em Vincennes, e o Diplôme Supérieur d' Études et de Recherche en Droit, na Faculdade de Direito e Ciências Económicas
do Instituto Católico de Paris (única instituição onde os ventos da revolução não tinham chegado).
 Residia na Cidade Universitária, primeiro na Casa de Portugal, depois na Fundação Argentina – senti-me em vários países, em simultâneo, e
 em todos fiz amigos que ficaram para sempre. O que António Vitorino de Almeida diz de Viena, posso eu dizer desta outra geografia : "A França
 não é o meu país, mas Paris é a minha cidade". (a par de Coimbra e só perdendo para o Porto).
Aquando da minha migração parisiense, já era assistente do Centro de Estudos do Ministério das Corporações e Segurança Social (1967/74), onde
tive colegas excecionais e dois diretores de boa memória, que sempre me deram liberdade de expressão e de circulação (com bolsas
da OIT, da OCDE, da  Nações Unidas…). Um homem do regime (Cortez Pinto), o outro progressista e genialmente inteligente (António
 da Silva Leal).
Os meus incipientes estudos de sociologia proporcionaram-me um inesperado convite de Álvaro de Melo e Silva para ser sua assistente
na Faculdade de Ciências Humana da Universidade Católica de Lisboa(1972/73). Um segundo convite, não menos
 inesperado, levou-me  para Faculdade de Economia de Coimbra, (onde tomei posse no último dia do velho regime,
24 de abril de 1974), e um terceiro, no mesmo ano, para a Faculdade de Direito. Fui assistente de Rui Alarcão e Mota Pinto, regi o curso
 de Introdução ao Estudo de Direito, integrei a linha de investigação de Direito de Família de Pereira Coelho. Tempos felizes
 e agitados, nos dias seguintes de uma outra revolução singular, vivida por dentro na comunidade académica! Não tinha partido, era social-democrata “à sueca”, como Sá Carneiro, que não conhecia, e como os meus caríssimos amigos de Coimbra e ideólogos do PSD ´
Em 1976, deixei a Faculdade para ser assessora do Provedor de Justiça, instituição inspirada no “Ombudsman” sueco, que acabava de abrir as portas.
Aí trabalhei com o primeiro Provedor, um dos grandes “militares de Abril” , Coronel Costa Braz e, poucos meses depois, com o segundo, o mais
 admirável de todos os notáveis dirigentes  com quem colaborei - o Dr José Magalhães Godinho
Só muito mais tarde, no início da década de 90, regressei ao ensino, como docente convidada na Universidade Aberta, (mestrado de Relações Interculturais).

O contacto com os jovens nessas três universidades foi simplesmente esplêndido – ajudaram-me a rejuvenescer com eles
 e a interagir com audiências numerosas. Considero que sem essa aprendizagem, não teria conseguido fazer caminho no campo
 da intervenção política no governo e no parlamento – coisa que não estava nos meus planos … Era, sim, uma feminista assumida
nas coimbrãs tertúlias de café, em círculos fechados, e foi o Doutor Mota Pinto que me lançou o desafio de passar da teoria à prática,
 no seu governo de independentes. Ou aceitava ser Secretária de Estado do Trabalho ou ficava responsável pelo défice feminino
 no seu Executivo. Aceitei. Seria por alguns meses, serviço público, não carreira política. Em Agosto de 1979, estava, de volta,
à Provedoria, deixando como legado, bem delineada e negociada com os parceiros sociais, a Comissão para a Igualdade no
 Trabalho e Emprego (CITE). Mas não resisti a mais uma surpreendente chamada à política, por Sá Carneiro.
 (para a pasta da Emigração). Fui e fiquei na arena da política, em mais três governos e no parlamento durante mais de 25 anos,
 sempre ligada à problemática das migrações, dos Direitos Humanos, da igualdade de género

.

 1992,  fui eleita em sucessivas legislaturas como representante de Portugal na Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa (APC
E) e da Assembleia da União da Europa Ocidental (AUEO), Chefiei a Delegação portuguesa nessas organizações, a partir de 2002 .
No plano nacional como internacional, a minha prioridade de ação foi invariavelmente a luta 

Na política a nível local, fui deputada na Assembleia Municipal do Porto, nos anos noventa, e vereadora da Câmara de Espinho (200
5/2011).

Das condecorações e distinções ligadas ao trabalho na emigração, refiro algumas, como a Grã- Cruz da Ordem do Infante Dom Henrique, atribuída pelo Presidente Jorge Sampaio, em 1998, a Grã Cruz da Ordem do Cruzeiro do Sul e a da Ordem do Rio Branco (Brasil), o Título de "Cidadão do Rio de Janeiro", em 1990, a Medalha de Mérito Cívico da Câmara de Gaia (classe ouro), em 2014. E embora não esqueça, pelo significado que têm para mim, outras condecorações, e muitos títulos de sócia honorária de associações portuguesas, não poderei nomeá-las, como gostaria.

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