quarta-feira, 10 de junho de 2020

21W ANTÓNIO JOSÉ BARBOSA AGUIAR PEREIRA

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

21W - ANTÓNIO JOSÉ BARBOSA AGUIAR PEREIRA


UM AGUIAR MÍTICO E SAUDOSO

Nasceu no dia 10 de Setembro de 1931, na Villa Maria, em S. Cosme Gondomar.
Faria hoje 77 anos.
O meu primo Tónio, como eu o chamava, ou Toninho, para muitos outros, na família, foi , na sua geração, a quinta essência da divertida "lenda" dos Aguiares (abrangendo, como sabemos, os Barbosa, Ferreira Ramos e mais apelidos do lado da Avó Maria...).
Fazia coisas extraordinárias, nunca antes tentadas por antecessores de renome. Grande empreendedor de brincadeiras aguerridas e barulhentas, de que eu muito beneficiei! E, no minuto seguinte, podia estar ao piano, a tocar, de ouvido, qualquer música, clássica ou "pop", ou a dar vida nova a canções ou a áreas de ópera, com a sua assombrosa voz. Depois, podemos imaginá-lo a partir a louça toda - e não como figura de retórica: louça mesmo, da cozinha da Avó ou da Mãe. Um dia, até exclamou, perante uma apreensiva criada: "Hoje ainda não parti nada!" E, rápido, antes que ela esboçasse um gesto de resistência, lançou mão a uma pilha de pratos bem lavados e fez um monte de cacos no chão de mosaico. (não sou testemunha ocular do evento, que ficou para sempre na memória da Avó, que o adorava e achou graça - ainda não era nascida, mas haveria de o imitar muitas vezes, até no refeitório do colégio...). Do que me lembro é do enorme ruído que o Tónio e o Mário, em dueto, conseguiam fazer,  descendo, simplesmente, as escadas do 1º andar: pareciam um exército! Ou dos seus jogos de ping-pong na comprida mesa da sala de jantar, a impulsionar a pequena bola branca , com uma tal destreza e "violência", que eu fugia para longe, convencida de que a bola, àquela velocidade, era uma verdadeira bala! Ai de quem apanhasse uma bola, ou bala, perdida...
O Nestó e eu , com menos 11 ou 12 anos, éramos os "aprendizes", e sofremos o rigor de algumas "praxes", na grande escola lúdica e desportiva da "Vila Maria". Aguentamos, firmes, considerando um privilégio partilhar as aventuras dos mestres (o "comandante" era o Tónio, mas o Mário nunca desafinava... Tínhamos ao dispor um espaço ideal para correrias, fugas e esconderijos, em exercícios por eles inventados para nós. Foram tempos esplêndidos!
De repente, tudo mudou. O Tónio adoeceu. De novo, a tuberculose, como na geração da Avó. E, mesmo com recurso a penicilina, um caso grave, por contágio, no colégio João de Deus, tardiamente detectado. Ele tinha 17 ou 18 anos, era eu criança, fui, como regra geral, proibida de o visitar, mas a minha mãe, às vezes, levava-me com ela, quando ia vê-lo, quase todos os dias. Para o alegrar, eu presenteava-o com os meus horrorosos desenhos, com os quais ele se ria, perdidamente! Era, ele próprio, um talentoso desenhador - de carros, sobretudo Teve, sempre, uma paixão por carros! O meu tema favorito era retratar  matronas, com grandes cabeleiras e chapéus exóticos - de perfil para ser mais fácil...
Felizmente recuperou depressa, tratado pela mãe, em casa. E, mesmo que já não galopasse pela escada acima e abaixo, tinha - teve sempre! - a mesma graça a contar histórias, a mesma alegria a cantar, o mesmo "carisma", com os pequenos, com toda a gente.
E, um dia, apresentou-nos a mulher mais bonita e mais elegante que imaginar se pode. Estava apaixonado. Ia casar com ela: a Xaninha. minhota de Barcelos. Uma simpatia, ganhou, rapidamente, simpatia geral
Nenhum outro Aguiar desta geração foi pai de tantos filhos, bonitos e talentosos - sete! Avô de tantos netos, por nascer no seu tempo de vida! Como eles gostariam dele!  Esperamos contribuir para que o fiquem a conhecer melhor!
















































































12 comentários:

Isabel Aguiar disse...
Olhar austero que num ápice se tornava terno e meigo (bastava um sorriso dos seus meninos). Muito alegre mas também às vezes silencioso e pensativo!
O papá era um ser humano com tantas qualidades... fé, grande responsabilidade, sensível, generoso, inteligente, amigo...sempre pronto a ajudar!
Como sinto falta do teu abraço, como sinto falta da tua protecção! A teu lado estava segura! Fazes-me falta!
Muita saudade...
Maria Teresa Aguiar disse...
Manela,
Muito obrigada por, ao correr da "pena", traçares tão bem o perfil do papá. Era isso mesmo e muito mais. Este teu pontapé de saída é um desafio à família e amigos para nos contarem os testemunhos deste Aguiar multifacetado.
Concordo com a Bia, quando fala da falta que nos fez, faz e continuará a fazer. A sua partida prematura, para quem tinha 16 anos acabados de fazer, como eu, foi, até à data, o maior desgosto da minha vida. Deixou marcas. Marcas, muito, muito profundas, de tal forma, que, de uma ou de outra maneira, condicionaram as nossas vidas. Como estou a ficar com um nó na garganta, é sinal para parar. Papá tenho muitas saudades...
Da tua filha Nózinha (como me chamava, bem como "vidrinho de cheiro", quando eu amuava!)
Quanta saudade...
Lélé disse...
"Meu querido Papá!"
Tu sabes que eu sou uma chorona, e mal abri o blog as lágrimas caíram-me sem eu querer...que saudades tenho de ti!...a falta que nos fazes!...Como adorava que estivesses connosco para conheceres a neta linda que eu te dei!...ias ter orgulho nela,  eu sei!!!
Bom, vou- me deixar de choradeira e relembrar a todos o Papá maravilhoso que tive, meigo, inteligente, generoso, arreliador, brincalhão e de muito, muito bom coração, que amava, acima de tudo e de todos, a sua família.
Eu era a "filhésas" era assim que me chamava quando me queria arreliar, se não, era a Lézinha ou Lélé, a quem ela achava imensa graça. Achava-me parecida com a sua mãe (avó Lina), segundo ele, a terceira de sete era, de todos, a mais refilona, alegre e chorona. Com o meu jeitinho, eu dava-lhe a volta depressa, e ele ficava derretido!
Muito mais haveria que contar...mas...
Tenho muitas saudades!
Maria Manuela Aguiar disse...
O Tónio adorava os seus meninos. Nós também! Sempre que possível, trazíamos para Espinho, no verão, um ou dois. Em regra, vinham aos pares (Nó-Lé ou Carlos-João Miguel) O Tónio não queria, nunca, separar-se, mesmo por poucos dias, de qualquer uma das atractivas criancinhas. Mas como dizer "não" à tia predilecta? Eu bem podia pregar no deserto..."tens tantos filhos,que não vais notar a falta de um"! Argumentação improcedente! Ele achava que eram ainda poucos. Lembro-me de me contar, um dia, que gostava de chegar aos 11, como uma equipa de futebol ...
Maria Manuela Aguiar disse...
É natural usar comigo a linguagem futebolística: ia com ele e o tio Serafim, regularmente, aos jogos das Antas.Todos portistas de alma e coração!
Anónimo disse...
Manela, obrigada pelo texto lindo que fizeste sobre o nosso pai...tem provocado muitas lágrimas...mas são lágrimas de saudade...esqueci-me de comentar que eu era, muito carinhosamente apelidada de "Chilinha"...que depois foi adoptado pelo meu querido irmão António...aliás, confesso, que ainda hoje quando o Tó me chama "Ó Chilinha" fico embevecida...sim porque de imediato me lembro do Papá....

já agora:

Manela, não nos queres contar a história do gatinho que o meu pai e o Tio Mário atiraram pela janela?
Disseram-me que eles queriam que o gato voasse? É verdade?
Maria Manuela Aguiar disse...
A pedido, passo a narrar a vera história do "gato paraquedista", que não presenciei, pois ainda não era nascida, mas que ouvi de boas fontes. Começo por salientar que Tónio e Mário adoravam animais e fizeram a "experimentação" científica na convicção de que resultava. Aposto que a ideia foi do Tónio... Abriram um guarda- chuva, amarraram o gato ao respectivo cabo. Da janela do 1º andar (alto...), lançaram o gatinho, pendurado no guarda-chuva, como se fosse um paraquedas... Nada funcionou como previsto... O guarda-chuva caiu sobre o assustado bichinho, que, ainda assim, se sobreviveu! Eles terão aprendido a lição! Não há mais nenhuma história de gatos. De cães, sim! O mais carismático foi o "Mirão" (nome de uma quinta do Douro,  dos tios  Clara e Manuel, onde nasceu e de onde veio). Era um animal espertíssimo. E dava-se ao respeito, não se prestou, nunca, a episódios pungentes.A idade dos rapazes também já era outra - conheci bem o "Mirão", um "Pequinês" bege alaranjado, com aspecto sisudo e aristocrático.O Tónio costumava dizer que, quando lhe ralhavam , ele ia em frente, e "assobiava", olhando de passagem o interlocutor... Essa tirada ficou célebre...Ele e o Mirão eram inseparáveis. Estou a vê-los, de memória, a descer a escada, sincronizados. O Mirão não queria saber de mais ninguém...
Manuela Aguiar disse...
Choro pelo que li, pelas fotos que vi e choro de orgulho ao ouvir falar assim do meu Pai... Pelo que a Manela escreveu e descreveu. Choro ao ler histórias do meu Pai... que a muito custo consigo lembrar... E às vezes, pergunto-me se me lembro das festinhas do meu Papá, da sua cara, das suas mãos, da sua voz, ou será que sou eu, no meu subconsciente, que "invento" estas lembranças para não me sentir tão “à parte” de todas essas recordações de que os meus irmãos falam. Têm a sorte de se lembrarem do Papá e, assim, de não terem que “inventar” recordações...
Saudades...
OBRIGADA MANELA por estas “memórias”...
kika
matilde disse...
De facto, em relação ao "Tio Toninho", não tenho memórias! Mas gosto de saber a pessoa formidável que transmitem ter sido e, o imenso e incondicional amor que tinha pelos seus 7 filhos!
Qd menos esperamos, temos o grande Tabu "morte" à porta e não sabemos e não estamos nem nunca estaremos preparados para o "entender"...
Olhemos à nossa volta, e pensemos bem naqueles que já "partiram", deixando imensa saudade e fazendo tanta falta!
É fantástico, como hoje, presente, é possível homenagearmos os nossos, que estão perto e vivos. Amanhã, "logo", não sabemos o que Deus nos guarda. Não há uma noite, em que, antes de adormecer a Laura, uma manhã, antes de acordar ao seu lado e ver os seus lindos olhos a sorrirem para mim,  não lhe diga que a AMO! E assim, deveria ser sempre, independentemente da idade, sexo ou religião. Por isso, o carinho e amizade que tenho por Vós, sendo uma forma de Amor, permite-me dizer-vos que vos amo.
Maria Teresa Aguiar disse...
A Manela tocou num assunto muito engraçado, a "retirada dos filhos", no Verão, pela Tia Jijinha, Tio João e Manela.
De facto,o papá detestava que lhe levassem os filhotes. O Tio João, como um bom british, não se pronunciava, a Manela falava, falava, mas para o meu pai tudo caía em saco roto. Só a Tia Jijinha, que ele adorava, o conseguia convencer, não a dizer sim, mas a não dizer "não", o que era diferente! E conta a minha mãe, que depois dos "raptores" partirem, o mau pai muito triste dizia: - Oh Xana, não sabias dizer não! Eu não gosto que me levem os meninos". "Não tiveram, quando podiam, e agora vêm "roubar" os filhos dos outros - dizia triste e amuado. Ao que a minha mãe, que era tímida, retorquia:
- Toninho, como posso fazer isso, são os teus tios!
Este é só um episódio. Há mais. Aos poucos, vamos registando para deixarmos para os nossos descendentes, que não o conheceram, nem conhecerão.
Maria Manuela Aguiar disse...
 Lembro-me bem das "guerras", que travávamos com o Tónio para trazer os meninos "de férias" para Espinho-  quase sempre dois a dois, ou Nónó- Lélé ou Carlos - Jão-Jão (o Tó era demasiado endiabrado e as mais novas demasiado "agarradas" à mamã - deste trio só a Isabelinha passou um longo fim de semana connosco, resistindo à vontade de pedir que a levassem de volta a casa...). Claro, o Tónio sabia que gostávamos imenso das crianças... Na última vez que o vi, ele estava muito mal, já não falava, mas pareceu-me consciente e fiquei com a impressão de que me queria passar uma "mensagem": olhava os meninos, ali por perto, e olhava para mim, como quem diz: "continua a segui-los". Foi assim que interpretei esse olhar...Ele estava sem os óculos (era muito míope, como minha mãe), e eu lembrei-me da Avó Maria dizer que os mais lindos olhos verdes do mundo eram os daquele neto, logo depois dos do Avô. De facto, impressionantes! Na cor, na dimensão na expressão! Que pena, ele usar óculos o tempo todo... Estávamos a 1 de Novembro de 1977. Nesse dia, levamos connosco o João, que se escondia atrás das portas, de onde fazia sinais à minha mãe para sair com ela. Sempre "voluntário"! Eu costumava dizer que ele tinha vocação para filho único. Mas entendia-se bem com o irmão, e, por isso, faziam frequentemente uma dupla feliz. O Tónio morreu dois dias depois, exactamente no mesmo dia em que, em 1964, tinha partido a minha irmã Madalena.
Tété disse...
Este é o meu 1º comentário para o concurso do blog, e por isso decidi fazê-lo em homenagem ao meu avô Toninho, que eu gostaria muito de ter conhecido. Ao ver as fotografias do meu avô quando era mais novo, reparei que, antigamente, os rapazes usavam fato de banho como as raparigas usam agora!
E também dá para perceber, pelas fotografias, que era um rapaz muito divertido!
Tété

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