sábado, 13 de junho de 2020

35w TIA ROSAURA BARBOSA RAMOS revisto

mingo, 19 de outubro de 2008

W35 - ROZAURA BARBOZA RAMOS

TÃO RARO O NOME COMO A TIA
Nascida a 19 de Outubro de 1879

I - O NOME
O de uma personagem de romance antigo, que o bisavô Joaquim andava lendo, ou relendo, quando nasceu a primeira das suas filhas:

"RETIRO DE CUIDADOS, E VIDA de CARLOS, E ROZAURA."

Pelo P. MATTHEUS RIBEIRO.
Theologo;Prègador deste Arcebiíspado, e natural de Lisboa.


Sou hoje a herdeira deste livro, com a capa de couro castanho, já desgastada, e as páginas papel a ameaçarem desfazer- se ao nosso toque. Assim, muito lido, como deve ser um bom livro, terá chegado às mãos da Tia Rozaura, que prezava, sentimentalmente, as antiguidades e as conservava, como ninguém...Não posso permitir-me submeto-las a "scanning" e reproduzo aqui apenas alguns parágrafos.
" De tudo vivia Alexandre livre; porque nem era pobre, para menos estimçaõ, nem tão rico, para mayor emulaçaõ da inveja: todos o veneravão por quem era, e a todos agradava, porque de nenhum necessitava.
Tinha uma unica filha. de vinte annos de idade, se na belleza tem os annos jurisdicção na idade; que se chamava Rozaura, com quem a roza não podia competir pelo bello. (...) Era Rozaura com tanto extremo bella, que parece, que se a formozura pudéra prder-se, em Rozaura podia restaurar-se. Competia a discricção com a belleza..."
Assim falava Carlos, ao tempo, estudante "de Leis " a residir em Nápoles . 
E, longamente, continuava, num texto repleto de citações de Seneca, de Ovídio, Demóstenes e tantos outros doutos pensadores, que por nós andam esquecidos demais ...
Por fim, a páginas 452 e 453 o fim feliz, com o casamento de Carlos e Rozaura: "...quando voltaraõ por quantas ruas passaraõ choviaõ infinitas flores das janellas, com repetidos vivas, que aos despozados davaõ, e como entràraõ em casa, saindo o governador a recebellos,(...)"
E, a terminar escreve o autor: LAUS DEO


II - A TIA
Um nome faz um destino?
Não sei...Mas frases como " competia a discreção com a beleza" ou Senhora de "muito avizo", são certamente as que rigorosamente a caracterizam. Uma beleza de juventude, de que, com o passar dos anos era , sobrava a expressão vivissima e perspicaz - a lembrar a Miss Marple dos livros de A. Christie. Não  que, com a sua "descrição", se pudesse envolver na investigação de crimes de morte, Mas poderia, nada lhe escapava... Conhecia a natureza humana e as suas fraquezas. Dava-se com todos, mas gostava muito, muito e incondicionalmente, de poucos... Minha Mãe, que era sua afilhada (ou melhor do marido, mas considerava assim também pela mulher). Tornou- se na menina que não teve, em dois casamentos tardios. E a Lecas e eu as suas netas,
Residimos com ela durante alguns anos, numa casa que me deixa saudades, Mais tarde, e por mais de 20 anos, foi connosco que viveu, no Porto e em Espinho.
Faleceu, serenamente, no sono de velhice, no dia 1 de Janeiro de 1979: o ano do seu centenário, uma data que estávamos, todos, ansiosos po comemorar!
Um desgosto perdê-la e perder a sua fabulosa memória das histórias do seu tempo, e da nossa família! Para mim, foi uma Avó, que, no afecto, não sei distinguir das outras duas. Minha Mãe considerava-a também a sua Mãe, e não apenas a segunda.
Assim como o Tio Alexandre "adoptou" Leninha, a Tia Rozaura e o Tio Manuel Marques, (o primeiro marido, com quem foi felicíssima!),"adoptaram" a "Mariazinha".
A nossa "rosa de ouro", como diria o Bisavô Joaquim,  ela gostava do seu nome singular (só uma vez, e em Espanha, encontrou uma homónima) e de contar a razão de lhe ter sido dado... Contava essa e tantas outras histórias, que vamos, recordar em "comentários"...
Hoje, ao folhear as páginas do romance oitocentista, imaginei o meu gentil Bisavô, fazendo o mesmo gesto....
A nossa fabulosa Tia Rozaura, para além de muita  inteligência e sabedoria, tinha mãos fadadas para rendas e bordados, arte a que, já nonagenária, ainda  se entregava. Aos 95 anos, terminou uma última enorme e esplendorosa colcha de "crochet" e teria continuado, mas pedimos-lhe que se entretivesse só com  peças pequenas. .. Por uma razão: o excessivo afã, com que se dava à obra, com o receio de morrer a meio e a certeza de que ninguém a saberia concluir... Um fenómeno de longevidade: a ler jornais, de ponta a ponta,, a ver televisão, a comer saudavelmente, com grande apetite (uma noite, treze indigestos pêssegos, como sobremesa...).
Querida Tia, rosa de ouro centenária e eterna, na lembrança!




O Dr. Manso, Director do Sanatório da Serra da Estrela, seu grande amigo. Daí veio curada da tuberculose.
Fotografia de família para enviar à irmã Maria, então a viver no Rio de Janeiro


Com os sobrinhos Carolina e Manuel

O primeiro marido, Manuel Marques, natural de Braga, funcionário da Contrastaria de Gondomar, padrinho da minha mãe, Maria Antónia. Uma excelente pessoa, o marido perfeito!

Os tios, com amigos, numa viagem a França.

Os tios, Rosaura e Manuel, no fotografo de Gondomar.



O segundo marido Manuel Lima, viúvo, emigrante regressado do Brasil.
























Publicada por em 12:23   

17 comentários:

Lélé disse...
A minha Tia Rozaura!
Recordo-me dela já muito velhinha quando a ia visitar, tinha sempre qualquer coisa para nos dar, a mim e à minha irmã Nó. Não queria que fossemos para o quintal, por causa do poço. Mais tarde já em casa da Tia Gijinha, lembro-me dela a ler o jornal, a fazer croché e a mandar a Olívia fazer tapioca para as meninas merendarem. Quase a fazer cem anos, mas muito lúcida, estava sempre atenta ao que os meninos estavam a fazer, não queria que “bulíssemos” nas coisas, que não eram para estragar. O seu linguajar era muito característico dos cem anos de vida!
Quem me dera lá chegar assim como ela!!!
domingo, 19 outubro, 2008 
Maria Manuela Aguiar disse...
A Tia Rozaura fez o encanto de sucessivas gerações de crianças da sua família! Tinha um particular talento para contar coisas, por mais triviais que fossem. Com ela "visualizávamos" situações passadas no dia anterior ou há muitas décadas, como num filme . Tudo em detalhe, e a cores! Podia ser o encontro de juventude com Afonso Costa, que era amigo do Dr. Manso ou o funeral do Rei Dom Carlos e do Príncipe Real (estava, por mero acaso, em casa de uma amiga, que conhecera num dos sanatórios, onde foi tratada e salva). Monárquica, viveu essa tragédia com infinito desgosto... Falava, sobretudo, do príncipe,tão novo, tão bonito, tão branco e loiro...Quando, dois anos depois, em Lisboa, foi proclamada a República quem estava lá era a Avó Maria, com o Avô, em lua de mel, de partida para o Brasil. O casamento tinha sido celebrado no mês anterior ( a 10 de Setembro). Coincidências...
segunda-feira, 20 outubro, 2008 
Maria Manuela Aguiar disse...
 A juventude da tia Rozaura - a sua vida protegida e despreocupada na plácida vila de Gondomar - foi bruscamente agitada pela "doença fatal" desse tempo, que era a tuberculose. Primeiro, foi contagiada na "Escola Normal" a Glorinha, depois o Américo. A Tia Rozaura terá insistido em os tratar em casa. O pai queria que fossem para um sanatório, eles próprios não terão suportado a perspectiva do isolamento numa clínica de montanha... Ficaram, e  Rozaura foi incansável, sem conseguir evitar o pior. Por fim, foi contagiada. Desta vez, o pai convenceu-a de que só num sanatório poderia curar-se -as hipóteses eram ténues, o estado grave. Resistiu. Passou, pelo menos, por dois sanatórios- o que está, em foto, no blog e o da serra da Estrela,. O Dr. Manso foi o grande médico, que a curou, e o grande amigo, por quem se apaixonou. Um amor platónico e sem futuro, ambos estavam tuberculosos (os directores de hospital não são imunes a contágio...) e receavam transmitir a doença aos filhos que viessem a ter. Não sei se estava cientificamente provado esse risco. Havia, pelo menos, o preconceito! A Tia era, então, nova e bonita, menos exuberante do que as irmãs, mas muito interessante. Discreta, bem educada, medianamente culta, muito sagaz. Preenchia o ideal feminino dos homens desse tempo. Muito em especial, sem dúvida, o do Dr. Manso. Um belo homem, que até numa velha fotografia transmite energia masculina e magnetismo. O retrato aí está, para fazerem uma ideia.
segunda-feira, 20 outubro, 2008 
Maria Antónia Aguiar disse...
Pena não ter terminado em casamento esse romance! A vida da Tia Rozaura teria sido outra! Gostava muito do Tio Marques, ele foi óptimo para ela, para mim. Todos o apreciavam. Era sereno e gentil com a mulher e com toda a gente. Mas já eram ambos de meia idade... Ele viúvo, ela "solteirona"... Nunca esqueceu o "glamour" do jovem doutor do sanatório. Numa caixinha de papel guardava um pacote de cartas, que nunca quis destruir. Deixou a caixa num envelope grande envelope, com a nota de que deviam ser enterrada  com ela. E assim foi! Ninguém ousaria desrespeitar a sua vontade. Não sabemos o que continha. Eu julgo que eram as cartas do doutor, do enamorado...
segunda-feira, 20 outubro, 2008 
Maria Manuela Aguiar disse...
  O tempo passado no sanatório deve ter sido "de susto" para a Tia. Contudo, à medida que o prognóstico melhorava, converteu-se num simpático "resort" na serra. A convivência era de clube de gabarito, e o médico-director atraente demais. Fez muitas amigas, nas casas ou quintas das quais gozaria depois férias, retribuindo na casa paterna de S.Cosme.  ( estava, por umas semanas, numa quinta da Amadoraa, quando se deu o regicídio). Distraiam-se em passeios e piqueniques, pelos montes e vales da "Estrela". Os que se encontravam recuperados conviviam com o mundo exterior - assim conheceu Afonso Costa. O Dr. Manso devia ser outro republicano assumido...
A sobrinha neta (mais neta do que sobrinha!)
Manuela
segunda-feira, 20 outubro, 2008 
Maria Manuela Aguiar disse...
 Esqueci-me de contar um pormenor, que sempre achei "incrível", mas é verídico. Do tratamento intensivo, da dieta, fazia parte uma dose diária de 12 ovos! Entre outras barbaridades. Era preciso uma saúde de ferro (tuberculose à parte...) para resistir a tanto excesso! Não admira que, depois da ingestão de tantos ovos,  a Tia Rozaura tivesse chegado, sem mais maleitas, até aos - quase,quase -100 anos.
segunda-feira, 20 outubro, 2008 
Docas disse...
 Depois de fazer a 4ª classe em Sortelha, fui estudar para o Porto, onde fiquei, durante três anos, hospedada em casa da D. Cândida, na Rua Braancamp, muito próximo da casa da tia Lena e tio David. Foi nesse período que tive mais contacto com a família.
Aos fins-de-semana estava quase sempre com a tia Mariazinha, tio João, Manuela e Madalena, ora na Pedreira, ora em Avintes, ou então, em casa dos meus avós paternos, em Rio Tinto.
Na Pedreira, só me lembro da sala de refeições e de, aos domingos, se ouvir o rádio muito alto, a dar os desafios de futebol (grande distracção do tio João e Manuela), para tristeza minha, que preferia estar a brincar, em vez de ouvir relatos de futebol...
Já na Rua Latino Coelho, no Porto, em casa dos tios, lembro-me da tia Rosaura sentada num sofá a ler, demoradamente o jornal, sempre muito calma, calada, os seus grandes olhos escuros a observarem tudo e todos.
terça-feira, 21 outubro, 2008 
Ma  Mar.
Maria Antónia Aguiar disse:
 Em Gondomar a Tia Rozaura vivia para a família. Todos Os dias visitava a minha mãe. Muitas vezes as cunhadas, Tia Celestina, mulher do Tio José, e a Tia Hermínia, mulher do Tio Alexandre. Quando era nova, depois do internamento nos sanatórios, saia muito, para casa de amigas, em várias regiões do país...Em Lisboa tínhamos também primos : os Harbertz, os Ortigão Ramos, descendentes do primo direito António Ramos (flho do Tio Manuel Guedes) e de uma filha de Ramalho Ortigão, Berta, e outros. Mais tarde, com o Tio Manuel Marques ainda dava grandes passeios - foram a França, em peregrinação a Lourdes, por ex. Mas, nos últimos tempos, preferia ficar em casa, ao contrário da Mamã. As suas saídas, quando vivia comigo, no Porto ou Espinho, eram cada vez menos- na própria cidade, perto, para a igreja. pequenos passeios, de carro, com a Lecas e o Manel Vale (há várias fotos!), idas a Gondomar, nas festas, Natal, etc. Entregou a casa da "Pedreira", apesar de ganhar a acção de despejo (por estar ausente- que, com a idade, era direito seu ausentar-se, para receber assistência, assim julgou o Juiz...) e perdeu aquele "laço" com a terra. Dizia sempre: "Bem faz, quem em casa está em paz"
quarta-feira, 22 outubro, 2008 
Maria Antónia Aguiardisse...
A casa da "Pedreira" era alugada, mas viveu lá, durante muitas décadas! Sua,era uma propriedade rústica, com uma pequena casa de pedra, onde tinha muitas árvores de fruta e hortas. Perto de S. Cosme. Com um nome bonito: "A passagem". Vendeu- a quando o Tio Manuel Lima adoeceu. Uma pena! Pena também não termos comprado a casa da "Pedreira", de que eu gostava tanto, e teria conservado, como era, com as lindas janelas de vitrais coloridos e o miradouro coberto de glicínias...
quarta-feira, 22 outubro, 2008 
Maria Manuela Aguiar disse...
 Entrava-se na casa da Tia Rozaura pelo largo portão de madeira, com acesso, em frente, às lojas do piso inferior, que servia de garagem e arrumos... Subíamos uma escadaria larga de pedra e estávamos, então,no jardim ou quintal. Flores, árvore de fruta, à esquerda o mirante das glicínias (de onde se via o largo da Pedreira e o imenso tanque público de água ensaboada por muitas e ruidosas lavadeiras, assim como, à porta de uma ou outra das casas vizinhas, verdadeiras artistas, a trabalhar, em pequenas bancas, fios de filigrana, a célebre filigrana de Gondomar - um lugar cénico. de teatro vivo). Para entrar em casa, mais alguns degraus de pedra levavam à porta principal, e, ao fundo, outra escada simétrica dava acesso à cozinha cozinha. A porta da cozinha, de dia, estava sempre aberta, como, nessa época era normal... A outra, abria-se para as visitas. à entrada,  um pequeno "hall", entre duas salas: uma saleta, que foi adaptada para quarto das meninas (a Lecas e eu) e a sala de visitas, com um bonito canapé antigo, de palhinha, cadeirões e cadeiraa, pequenas mesas ovais, um lindo relógio de pé... Não me lembro de grandes detalhes - não era aí que brincávamos. O sector dos quartos era separado por uma segunda porta de madeira muito larga. Do lado de lá, um corredor espaçoso, mais salão rectângular do que corredor, iluminado por uma clarabóia, e três quartos: o da Tia, o dos meus pais e o da Maria Póvoas, a estimadíssima empregada, que aí estava desde os tempos de infância da minha mãe. Do lado de cá, um corredor, propriamente dito, estreito e comprido, levava-nos em direcção à cozinha, (em linha recta), e a uma pequena salinha, onde guardávamos os brinquedos, e à sala de jantar (à direita). Também à casa de banho, e a arrumos. Vivemos aí anos felizes, com o gato preto e branco "Lulu", que era da casa, e a minha cadela "Chinita", de pura raça "pequinois", como eu dizia, com vaidade. Nas traseiras, o quintal dava para a casa dos avós da Ana Maria, excelentes vizinhos. E próximos não havia mais nenhuns. Com o declive do terreno, a maior parte da zona de delimitação do quintal era muro, a um nível vários metros acima do terreno da outra vizinha (chamada Adriana se bem me lembro). Uma lástima não termos podido comprar esta relíquia!
quinta-feira, 23 outubro, 2008 
Maria Antónia Aguiar disse...
A casa da "Pedreira" era antiquíssima! Fora, dos dois lados do portão, havia dois compridos bancos de pedra. A fechadura abria com uma gazua. O chão era coberto por uma enorme lage de pedra. Nos degraus das escadas de pedra, havia vasos de nardos brancos, que chamávamos "Madalenas". Cá em cima no jardim havia flores lindíssimas, que agora quase não vemos, em lado algum: Cosmes, de todas as cores, roxos, amarelos, cor de rosa; beladonas; cravos e cravelinas; brincos de princesa, ervilhas de cheiro, lírios, dálias - um festival de cores! Também hortelã, ,e, aos pés de uma laranjeira, pionías raras. Árvores, para além dessa, só um pessegueiro e um loureiro, arbusto grande, perto do tanque e do coradouro. E vinhas: normal, à frente, americana atrás, onde ficava a horta. Quem trabalhava a terra, com habilidade, era a Maria, quase sozinha. Lembro-me também do limonete, ao fundo das escadas da porta de casa.
quinta-feira, 23 outubro, 2008 
Olívia Pessegueiro disse...
Quando fui trabalhar para a Srª D. Rozaura, depois da Maria e de uma outra , que esteve pouco tempo, o jardim já tinha muitas mais flores, além das que falaram - batesónias brancas e rosa, gipsofilas, palmas de Stª Rita, um grande lilaseiro, jarros, e também, alfazema, alecrim, margaridas... Havia muitas árvores -pelo menos, duas laranjeiras, três pessegueiros, duas ameixoeiras, e mais uma que nasceu, sem se saber como, no meio da horta, e dava grandes ameixas amarelas...E muitas videiras - até fazíamos vinho da casa.
sexta-feira, 24 outubro, 2008 
Maria Manuela Aguiar disse...
A Mãe e a Olívia não cessam de acrescentar mais flores e mais árvores ao jardim da Tia Rozaura... Decidi aguardar, até completarem o esforço de memória! Eu só posso dizer que era tranquilo e simpático, discreto, quase escondido, por muros, que não pareciam cercar um "território" tão grande e tão cheio de cores e de cheiros tradicionais. Refectiam muito do que era a Tia Rozaura, com a sua paixão por tudo quanto vinha do passado e precisava de ser conservado. Até aquelas flores, de nomes bizarros para nós, mas, afinal, quase todas simples e campestres... Vivemos vários anos nesse pequeno mundo, que adorávamos. Muito à vontade, como se a casa fosse nossa! Talvez uns seis a sete anos- dos meus 9 aos 15? De lá, fomos para o andar do Porto, e ao fim de algum tempo - meses, um ano ou mais? difícil precisar... - a Tia foi viver connosco. Já tinha mais de 80 anos e estava habituada a companhia. Éramos a sua família próxima: filha, netas, não do ponto de vista biológico, mas no plano afectivo! De princípio, tentou manter a casa da Pedreira. A Olívia pernoitava lá, trazia, de manhã, flores, fruta, legumes. A Tia contestou uma acção de despejo, por abandono do espaço, e ganhou, no tribunal. Mas acabou por a entregar, mais tarde. Era difícil e dispendiosa de manter, com tão pouca serventia... E a Tia Rozaura foi sempre um exemplo de sensatez -  poupada e independente, com rendimentos mais limitados do que os da irmã e irmãos. E conservou, mais e melhor do que qualquer deles, património herdado: jóias, mobílias, serviços de loiça, linhos, rendas, candieiros, relógios e também cartas, fotografias... E é por isso que, hoje, estão em minhas mãos essas preciosidades de valor afectivo.
sábado, 25 outubro, 2008 
Maria Manuela Aguiar disse...
Numa das primeiras recordações dos tempos de residência na casa da Tia Rozaura, vejo-a a mostrar- me uma caixa de música, com a imagem em bronze da Nª Sª de Lourdes. Uma música lindíssima! E, depois, contava muitas histórias do seu passeio a Lourdes, incluindo uma tragédia de uma das excursionistas, que ia com a cabeça fora da janela do comboio. Aconteceu o pior... Eu nunca me debrucei de janelas de carros ou carruagens de caminho de ferro. .. Ah! Tenho de terminar, dizendo que a Nª Sª está no quarto da minha mãe e ainda toca o hino religioso.
sábado, 25 outubro, 2008 
Maria Manuela Aguiar disse...
Tão grandes eram as diferenças de feitio entre a Avó Maria e a sua madrinha de baptismo, Tia Rozaura, como as diferenças de estilo de vida ditadas pelo destino! (destino, sim, porque também a Tia R. podia ter casado com um homem rico, um médico muito prestigiado...). A Tia conservava tudo desde pequenos objectos, a costumes caídos em desuso, ou flores "em vias de extinção", os sabores de uma cozinha simplicíssima, mas deliciosa, com  estrugidos bem morenos, que faziam o arroz escuro. As suas"criadas", como então se dizia, (uma de cada vez, sucessivamente), ficavam anos, enquanto as da Avó (durante décadas, no plural, pelo menos duas - e mais, no tempo dos meninos pequenos...) se revezavam, constantemente. Assim, na casa da Tia R. só conheci a Maria Póvoas, que lá esteve uns 30 ou 40 anos (andou com a minha mãe ao colo) e saiu para viver com uma sobrinha, a Géninha, e a Olívia, que leva quase 50 anos connosco. A Maria cozinhava à moda antiga e divinamente. Ensinada pela Tia Rozaura, é óbvio...
domingo, 26 outubro, 2008 
Maria Manuela Aguiar disse...
A colocação da 1ª foto da Tia pode dar lugar a alguma dúvida entre as Rozauras, sobre qual delas é - a da novela ou a da família. Pois bem, eu esclareço: essa bonita jovem é mesmo a Tia!
quarta-feira, 29 outubro, 2008 
Maria Manuela Aguiar disse...
Neste Maio chegaram à sobremesa as cerejas e os magnórios. Duas frutas que, invariavelmente, nos fazem falar da Tia Rosaura. As cerejas, porque eram da sua predilecção. Os magnórios talvez não tanto. Quem tem um fraco por eles sou eu e os primeiros que recordo foram colhidos das árvores da "Passagem", a bonita propriedade rural da Tia Rosaura. Eu era muito pequena e estava com a Tia e com a Maria Póvoas, que me deu um magnório a provar. E eu comi e disse: É delicioso!
O que elas se riram... E a frase ficou célebre... A "Passagem" era a minha ideia de um paraíso terreal, embora de pouco me lembre com precisão: Espaço, correrias e magnórios! A casa rústica, de pedra, de que fala a minha Mãe, não entra nas memórias que guardo. Infelizmente, por razões económicas - as doenças do segundo marido,  o "brasileiro" Manuel Lima, que era um tio simpático, mas não foi um bom marido - viu-se forçada a vendê-la!

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