quarta-feira, 10 de junho de 2020

23W CRISTINA EM AALEN

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

23W - CRISTINA em AALEN

Cristina Fernanda Aguiar Saraiva

Nasceu a 15 de Setembro de 1930

Há 32 anos, nesse dia,  eu estava em Aalen, a festejar o aniversário da Cristina. Longe de imaginar que seria o último, que depois de voltar das férias aí passadas, como se tornara já habitual, não a veria nunca mais. 
A Cristina, que esta gente nova não teve a sorte de conhecer, era "muito Aguiar", com todas as qualidades e sem qualquer dos defeitos dos demais "Aguiares".
Bonita, morena, cabelo preto, preto, como o da Tia Lola ou o da Docas. Olhos grandes, imensos! Parecida com a prima Lolita, mas bastante mais alta. Elegantíssima! Lembro-me de a seguir, um dia, na piscina de Espinho, de ver toda a gente a olha-la, com espanto, como se fosse uma "star" de Hollywood. Ela, serena, segura de si, imperturbável, no seu muito sóbrio fato de banho verde, não retribuía os olhares. Era criança e nunca tinha visto nada de semelhante... A Cristina era 10 anos mais nova do que a minha mãe, 12 anos mais velha do que eu. Conseguia conviver tão bem com a mãe, como com as filhas. Para a prima Mariazinha, era a mais divertida das companhias. Entendiam - se maravilhosamente. Para a Madalena e para mim, era um verdadeiro ídolo!  Além de ser tão atraente, era inteligentíssima e com um enorme sentido de humor, constante, inesgotável. E, também, um símbolo de independência feminina, e de cosmopolitismo - geria a empresa do irmão António Maria, viajava para o estrangeiro, constantemente. Coisa rara, naquele Portugal tacanho e misógino da década de 50 . Gostava muito de nós, levava-nos à piscina, ao cinema, a lanchar a Vila do Conde... Chegámos a passar dias com ela e a Rosinha, no andar da rua Santa Catarina, enquanto não vivíamos, ali perto, em Latino Coelho. Até ao dia em que casou com o Ernst Lamb, um alemão, antigo empregado do António Maria, e foi viver para longe. Primeiro, na região de Mainz. Depois, em Aalen, a algumas dezenas de quilómetros de Stuttgart. O Ernst era um exemplo de sucesso profissional. Nos anos 70, foi director da Zeiss, seguidamente da Rodenstock . Ia muito ao oriente, Japão, etc. A Cristina "virou" dona de casa. Uma pena, uma perda de talentos... Era muito comunicativa, tinha amigos em todo o lado, porém, não tantos por lá, até porque o marido tinha feitio completamente diferente, fechava muito o círculo de convivialidade... Ela adorava vir a Portugal, vinha todos os anos, passar um mês, quase sempre sozinha, quando ele andava em viagens . E ficava sempre  feliz quando recebia a família lá! Uma anfitriã incomparável. Eu passava, na Alemanha, com ela, pelo menos, uma semana no verão. Depois, a partir de Stuttgart, partia ,em excursões de autocarro, para a Itália ou a Áustria (agora detesto excursões!) . Em geral, escolhia ocasiões em que ela estava só e podíamos passear à vontade. Mas também me entendia muito bem com o Ernst. Era a única visita portuguesa que comia, gostosamente, peixe cru e bifes tártaros, o que me tornava especial... Em Roma, sê romano. Na Alemanha, faz como os alemães... Para mim, era fácil, sou uma genuína admiradora do país, da música, das cidades, paisagens,  cerveja, gastronomia e de uma jovialidade alemã, que não é óbvia para todos os estrangeiros! A própria "Frau Lamb", tão sociável à maneira mediterrânica, não me companhava, nesta minha visão da vida germânica, onde .nunca se integrou, completamente... 
Querida Prima! Morreu no verão de 1977, subitamente, de enfarte do miocárdio, na cidade de Munique, e na véspera de uma vinda a Portugal . Quando a irmã Belita me falou, a dar a notícia, eu julgava que me ia dizer a hora a que devíamos sair para o aeroporto. Um choque, uma tristeza sem fim... Que saudades da Cristina !





Publicada por em 21:30   

4 comentários:

Maria Manuela Aguiar disse...
A Lé voltou a recordar os tempos que passavam em minha casa em Lisboa, os excelentes cozinhados da Maria Póvoas  e as brincadeiras da Endora, rainha dos "Serra de Aires" e lá veio à baila a prima Docas, que elas achavam misteriosa e fascinante. Partia para os fins de semana, com saias "hippies" e um minúsculo "necessaire" na mão. 
Na verdade, só faltava mesmo "a flower in your hair". Consideravam-te a quinta essência da modernidade! Ao ouvi-la, pensei logo no sentimento de admiração da Lecas e meu pela Cristina, a fascinante  prima mais velha. Não pelas mesmas razões... Moderna sim, mas muito sóbria e senhoril...
sábado, 20 setembro, 2008 
Docas disse...
Foi em Genebra e não propriamente na Alemanha, onde nunca mais voltei, desde o ano de 1963, que tive contacto com a Cristina. Estávamos num lar de freiras, eu de férias, a Manela num curso do Instituto de Estudos do Trabalho da OIT e a prima veio passar uns dias connosco. Instalou-se num bom hotel, como o Ernst queria. Por ela, teria ficado no Lar... De facto, era um espírito jovem, parecia da nossa idade - então, em 1968, 23, 26 anos. Divertida, risonha! Sabia falar de tudo, de trivialidades da moda a política internacional. Que belos dias, de passeios, cinema, almoços e cházinhos, em esplanadas com vista para o lago e conversas infindáveis. Depois, não voltamos a estar juntas, mas fiquei para sempre a gostar imenso dela.
sábado, 20 setembro, 2008 
Maria Manuela Aguiar disse...
Ela muito bem vestida, tu e eu, nada de comparável, mas mesmo assim, tu e ela com uma parecença de parentes próximos! Eu não. Hélas! Fisionomicamente falando, sou muito pouco Aguiar... Recordo bem essa visita da Cristina, enquanto o marido estava do outro lado do mundo - que era quando ela tinha tempo para si e para a família. Foi, certamente, tão agradável para ela, como para nós. Passámos metade de tempo a rir à gargalhada e a outra metade a falar de coisas sérias, mas nunca "chatas". Com ela, era sempre assim. Fazíamos-lhe confidências e ela retribuía.Era boa psicóloga. Sabia em quem podia confiar. Tu, Docas, passaste, logo, ao "inner circle"
sábado, 20 setembro, 2008 
Maria Antónia disse...
A Cristina e eu costumávamos passear pelo Porto. Umas vezes, íamos lanchar à Leitaria da Quinta do Paço ou tomar um café ao Ceuta, quando não almoçar lá - uma refeição ligeira, bife no pão, acompanhado de "Grande Jó". Tínhamos uma mesa habitual, ao fundo, à direita de quem entra. À esquerda, no único sofá que havia, estavam sempre duas senhoras velhas, bem vestidas, de chapéu. E a Cristina dizia : "Mariazinha, olha para as velhas. Somos nós daqui a 40 anos..." Tinha muito sentido de humor! Quando o António Maria (irmão com quem trabalhava) lhe emprestava um carro - o que era frequente, e até podia ser um grande Mercedes, novo, a estrear...- dávamos uma volta pela Foz, Matosinhos, Leça... Muitas tardes passámos, também, na livraria Lello ou na Latina, em Santa Catarina. Os donos eram amigos dela e muito simpáticos. Quem me dera ir agora com ela ao Ceuta- já decorreram os tais 40 anos...
sábado, 20 setembro, 2008

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