sexta-feira, 12 de junho de 2020

W37 OLÍVIA FERNANDES CAPELA revisto


Maria Manuela Aguiar mariamanuelaaguiar@gmail.com

01:45 (há 51 minutos)
para Adelaide, Bcc:Maria

uarta-feira, 5 de novembro de 2008


W37 OLÍVIA FERNANDES CAPELA


PARADIGMA DO EXERCÍCIO DO PODER NO FEMININO

Olívia Fernandes Capela - Um encanto de Avó

5 de Novembro, dia de aniversário da Avó Olívia, dia de muitas saudades.
O título é uma homenagem à Mulher que foi. À sua força, sagacidade e coragem, à forma como as punha em acto, no dia a dia. Era amável e discreta, não fazia alarde das decisões, que tomava, não falava alto. Mas sabia mandar. Não, por sinal, à maneira de sua mãe, Bisavó Joaquina, uma senhora enorme e esfíngica, pelo menos na visão de criança, que dela guardo. Também mandava, mais ostensivamente, até num marido, com fortíssima personalidade, o Avô João Fernandes Capella. Com a sua própria família, os Capellas da Foz do Sousa, donos Quinta dos Órfãos, rompeu definitivamente, e, ao que sempre ouvi dizer, por causa dela. Belo romance contrariado... Porquê, não se sabe. Joaquina da Rocha Gonçalves era filha de um farmacêutico. Ou tinham outros planos para o herdeiro, ou não gostavam, pura e simplesmente, da noiva (que não era para graças...). Atendendo a que eu também nunca a achei simpática, parece-me esta uma hipótese plausível....  Curiosamente, não me recordo de nada que me tenha dito. Não creio que eu fizesse o seu género, o seu ideal de bisneta.  Era madrinha da Madalena, que adorava, e a quem dava muito dinheiro, em notas imaculadamente novas, na Páscoa e no aniversário.
A Avó Olívia venerava sua mãe, e tratou dela, dedicadamente, no fim da vida - triste, porque foi vítima de demência senil, ou "Alzheimer". Já não reconhecia ninguém perguntava à filha: "Quem é a senhora?"
O Avô Capella era mais simpático, com uma distinção natural, embora, igualmente, figura distante e circunspecta. Um sagaz empresário, que teve de começar a vida do zero, e enriqueceu, depois do corte radical com os pais.
Tiveram duas filhas: Clementina e Olívia. A Tia Clementina era uma senhora magra, elegante, chique, sempre vestida de escuro, (já viúva , no meu tempo de infância). Teve 4 filhos, nenhum com o porte dela...
Que contraste com a irmã Olívia, mais alta,mais bonita, com o seu ar suave e doce,  mas muito mais modesta e descuidada a vestir!
 Guardo dela as melhores recordações -  uma grande amiga, generosa comigo, como com todo o mundo. A dar, estava no seu elemento! O Avô era mais poupado, se bem que justo e compreensivo, sobretudo, com empregados e caseiros, como aprendera com seus pais. A Avó Olívia ajudava meio mundo, contribuia, largamente, para os peditórios da Igreja e tal como a Avó de Gondomar, abria portas a recepções constantes,  privilegiando o convívio com padres e religiosas (uma das tias, Deolinda, era  Doroteia, a Madre Capela, que, no Colégio do Sardão, foi , sempre, particularmente exigente comigo). De casa, que era o seu espaço de conforto, não saía muito... Só para ir à Igreja, diariamente, para visitar algumas amigas, a quem tinha de retribuir, para pequenos passeios, em família e, de longe a longe, para compras em Santa Catarina, no Porto, com as netas... Estranhava que nunca acompanhasse o marido ao cinema ou ao teatro (e, muito menos,  ao Clube Avintense, aliás, aberto a  senhoras só excepcionalmente, a um qualquer café, onde não me recordo de a ter visto -  nunca!), ou a um simples passeio pelas ruas do Porto, a ver montras! Apesar disso, eram um casal muito unido, e, à medida que os anos avançavam, mais unidos ficavam. Na última semana de vida, lembro-me do Avô, no quarto do hospital, olhar para nós as duas e a dizer: "Aqui estão os meus dois amores!".
O casamento, celebrado em 1916, durou mais de 50 anos. Tinha ela 19 anos, quando nasceu o seu primeiro filho, João em 6 de junho de 1918, tinha ela 19. Seguiram-se, em 1922, Maria e, no ano seguinte, os gémeos - os três vítimas de complicações hepáticas. Desse desgosto, nunca falava, não lhe ouvíamos um queixume...
Do que nos apercebemos foi do seu temor de doenças cancerosas. O pai não resistira a um cancro na língua, depois de inúmeros dias no Instituto de Oncologia, em tratamentos dolorosos. A Avó recorria aos melhores dentistas do Porto, constantemente, preventivamente, e levava-nos com ela. Mas, de facto, no seu caso, nunca esteve aí o risco. Não gostava, também, de ser chamada "avó", palavra que conotava com a velhice.
 A Lecas e eu fomos ensinadas a tratá-la por "Madrinha", embora não o fosse, nem dela nem minha. Pequeno complexo, de uma mulher sem outros complexos, extraordinariamente inteligente, ativa e eficiente, com um sentido prático das coisas da vida. Se fosse mulher de hoje, teria muito mais oportunidade de mostrar inatas qualidades de gestão e visão de negócios - como seu pai.
E que bem se adaptou aos novos tempos, nos seus últimos anos! Tornou-se condescendente com a evolução dos acontecimentos e costumes - rejuvenescendo, em vez de envelhecer... Reagiu à adversidade da viuvez. Aceitou, muitas vezes, o meu convite para passar temporadas em Lisboa. Revelava-se óptima companhia para a Maria Póvoas, para mim e para a irrequieta cadela Endora. Tudo, para si, estava bem! Adorava os passeios pela costa, pela Arrábida, por Sintra, onde a levava com o meu Peugeot. Só não conseguimos fazê-la parar de nos oferecer presentes. Estava -lhe nos genes... Lembro-me, por exemplo, de um excelente rádio Grundig, que mandou a Maria comprar, na Av. do Uruguai, quando se apercebeu de que o que meu não era grande coisa...
Outra sua notável faceta era a determinação de nunca incomodar os outros com os seus problemas. Não se queixava de nada, nem do passado, nem do presente.
Sei pouco da sua vida de criança ou de jovem. Não contava muitas histórias pessoais, ao contrário do Avô Manuel ou da Avó Maria. Não era dada à leitura (excepto literatura religiosa), nem às artes, salvo as domésticas. Cozinhava maravilhosamente! Comandava o seu universo "feminino" habilmente, com tendência para a liberalidade. Era, porém, mais de partilhar os bens do que o "poder": mais de dar o peixe do que a cana de pesca, pelo menos, no que respeitava ao filho, e às netas, enquanto pequenas. Com ela, não havia "mesadas". Decidia, caso a caso, com os seus critérios. A minha irmã não receava pedir-lhe isto e aquilo, constantemente... Raras vezes a resposta era negativa. Eu, que sempre me governei com o que tinha, acabava por ser a grande beneficiária, já que a Avó fazia questão de não me prejudicar face à pedinchona... Outra das atrações que nos oferecia, em Avintes, era o convívio com os seus gatinhos, muitos e lindíssimos... Quando veio morar na pequena casa de praia, em Espinho, já não tinha os seus famosos "Titos" peludos, mas logo outros, também muito engraçados, os substituíram. Companhia nunca lhe faltou, o meu Pai vivia a dois passos, as sobrinhas Capela, a Alda, a Maria Helena eram visitas frequentes, a Maria Póvoas e eu, também,  E tinha a criada, a Arminda, uma tonta, que só ela sabia controlar...
Aos 80 anos, foi-lhe diagnosticado um cancro do esófago, que enfrentou com coragem e paciência. Na última visita que lhe fiz, no quarto do Ordem do Terço, no Porto, sorria o tempo todo, e falava muito da Endora, então já a viver em Espinho, depois da morte da Maria Póvoas. A Endora era o tema mais alegre e preencheu toda a nossa conversa...  Um ou dois dias depois recebi o telefonema do meu Pai, muito resignado: "Ela sofria muito. Foi melhor assim. Está com Deus".
A haver céu (espero que haja, sem as certezas absolutas de meu Pai...), a Avó foi, certamente, directa para lá.





















































































Publicada por em 17:19   

15 comentários:

Maria Manuela Aguiar disse...
Hoje esteve aqui o António, antigo caseiro de meus avós, nas terras do Paço. E por um seu pequeno comentário ocasional, confirmei o que penso da relação entre marido e mulher. O António queria um pequeno favor, e ele disse que sim, mas que fosse pedir antes à Avó Olívia, que também concordaria... Sabia que ela gostava do exercício do "poder de dar."
Outro pormenor: quando o caseiro começou o contrato, começou por o tranquilizar: " Vê se podes pagar tudo. Se não, não precisas de pagar. Só o que podes". Era assim mesmo o meu Avô! Ainda bem que o António me contou isto.
quinta-feira, 06 novembro, 2008 
Maria Manuela Aguiar disse...
As últimas fotografias da Madrinha, como lhe chamava, foram tiradas com a famosa Endora, de quem ela gostava tanto. Já na Ordem do Terço, tão consumida com dores, ainda tinha disposição para perguntar o que ela andava a fazer, lá por casa, vigiada pela Arminda. Uma tola, disléxica e tudo o mais, que adorava bichos, gatos ou cães, por igual.
A Madrinha nunca tratava a Endora por "cadela", por considerar o termo ofensivo. Dizia "a tua cãozinha",de brincadeira, mas dizia...
sábado, 07 fevereiro, 2009 
Maria Manuela Aguiar disse...
Uma das mais dramáticas histórias da minha infância passou-se em Avintes e com a Madrinha. Teria eu uns 5 anos.
Vi, na sala de estar - coisa rara, porque, em regra, tudo o que era de comer ou estava na cozinha ou na sala de jantar - um enorme prato de doces de côco, grande especialidade da Avó, doceira de categoria. Possivelmente o prato estava ali para fugir do meu alcance... Se assim era, correu tudo ao contrário do previsto.Vi. Entrei. Fui experimentar. Para meu espanto, não só aquele, como todos os outros côcos, estavam queimados na base: pretos! Eu, para prestar serviço, fui buscar uma escova e sabão e lavei-os, todos. Muito rapidamente, como era meu timbre. A Madrinha apanhou-me ainda a executar a tarefa e, para surpresa da criança que eu era, ficou muito zangada. Não aceitou as minhas explicações e, pela primeira e única vez, até me deu uma palmada. A sensação de injustiça perdurou!
Sendo eu "enfant terrible", presumiam que o fazia por mal. Mas, não, estava mesmo de boa fé...
sábado, 07 fevereiro, 2009 
Maria Manuela Aguiar disse...
A Madrinha não era apenas especialista de doçaria, mas de culinária em geral. Ofereciam-lhe, muitas vezes, lampreias, ou sável, pescado no Douro, e ela cozinhava-os divinamente.
O pior era quando queria mostrar-nos, à Madalena e a mim, o coelho caseiro, que ia matar para o almoço. Nenhuma de nós queria ver! Nunca fui capaz de comer um animal "meu conhecido"... Parece que estou a ver a Madrinha, com um coelhinho branco dependurado pelas orelhas, e nós a olharmos, de longe, desoladas.
sábado, 07 fevereiro, 2009 
Maria Manuela Aguiar disse...
Nas vésperas das minhas partidas para Coimbra, no início de cada ano lectivo, a Madrinha vinha ao Porto comigo, fazer as compras que eu achasse precisas. Camisolas, meias, sapatos, camisas de noite... A Lecas acompanhava-nos, sempre, para prover às suas necessidades de roupa - invariavelmente maiores do que as minhas.
Não sei o porquê dessa espécie de ritual. Devia apreciar uma pequena "excursão de compras" para as netas,  por Santo António e Santa Catarina. Tinha, como já disse, um evidente prazer em "presentear-nos". Para ela... nada!. Andava sempre vestida com simplicidade. Até exagerava... Muito diferente do Avô Manuel, a quem eu oferecia gravatas, que eram altamente apreciadas.  Difícil escolher prendas para ela!
Recordo-me que, quando estava doente, no que seria o derradeiro aniversário, pensei oferecer-lhe uma coisa especial. E o Pai disse-me: "Não faças isso. Ela vai perceber que achas que está muito doente".
domingo, 08 fevereiro, 2009 
Maria Manuela Aguiar disse...
A morte do meu Avô foi, naturalmente, um momento de viragem na sua vida. Eram um casal tão harmonioso nas suas diferenças! Ele sempre nos cafés, ela sempre em casa, por opção sua... Mas ambos gostava, por exemplo, de piqueniques - a que, infelizmente, as netas, eram, ambas,  avessas...Ainda fomos, algumas vezes, para os pinhais da Barrinha. Estendiam-se as mantas no chão, os petiscos eram óptimos, mas no meio de poeira, de  formigas... que desconforto! Não  para os velhinhos... Aliás, não pareciam assim tão velhos, ele conservava a agilidade e a força, que lhe davam, aos 80, o aspecto de 60. Ela, embora com problemas de circulação, varizes, etc, ainda bonita, sem muitas rugas, bem disposta, espírito vivíssimo. Por causa dos achaques, não dispensava as termas, no fim do verão - Vizela, Monte Real, Famalicão,  para tratamento de varizes, com um reputado mágico das medicinas alternativas(?). A Maria Póvoas, sofria do mesmo mal, fazia-lhe companhia. O marido ia, sempre, porque gostava da terra e dos restaurantes.  Estava, precisamente em Famalicão, feliz e contente, queixando-se só da falta da minha correspondência menos assídua, nesse ano, quando sofreu o AV, que seria fatal.
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domingo, 08 fevereiro, 2009 
Maria Manuela Aguiar disse...
Meu Pai preocupava-se muito com a Mãe, depois que enviuvou. Levava-a a passear pela ria de Aveiro, pelo Furadouro, Ovar , como eu fazia quando a recebia em Lisboa.
Que pena não termos feito o mesmo com o casal!
domingo, 08 fevereiro, 2009 
Maria Manuela Aguiar disse...
Neste aspecto, o meu Avô não era nada bafejado pela sorte... Até na minha festa da "Queima das fitas", em Coimbra, se perdeu de nós. Não chegou a ver-me, de bengala e cartola, embora tivesse assistido ao cortejo. E o que nós, o Manel e eu, o procurámos...
As duas Avós vieram de automóvel, com os meus Pais, e ele, como o carro era pequeno, preferiu fazer a viagem de comboio. Estávamos à espera, em Coimbra B. Ainda hoje não percebo como nos desencontrámos.
Das Avós, há abundante documentação fotográfica. Dele, nada...
domingo, 08 fevereiro, 2009 
Maria Manuela Aguiar disse...
Nessa altura eu era Secretária de Estado da Emigração. Como o Avô Manuel teria ficado orgulhoso de me ver no Palácio das Necessidades, nas minhas infindáveis viagens, ou com as minhas múltiplas condecorações (uma das quais até me tornou "Honorary Dame of the British Empire", dando azo a divertida conversa com o Duque de Edimburgo - e não esquecer que o Avô era monárquico...). Pelo contrário,  a Avó Olívia preocupava-se comigo, com aquela agitação louca em que me via, e um dos últimos conselhos que lhe ouvi foi: "Deixa isso! É um cansaço e não vale a pena". Sabedoria feminina...
domingo, 08 fevereiro, 2009 
Maria Manuela Aguiar disse...
Devido à sua hipocondria, que eu herdei, a Avó Olívia passou muitas tardes nos melhores dentistas do Porto, o Dr. José de Freitas, o Dr. Alcino de Magalhães. E bem tentou cuidar dos meus dentes tortos, com aparelhos de correção. O Dr. Magalhães conseguiria endireitá-los, dizia, com o triplo do trabalho normal, tratava-se de um caso complicado, a exigir três movimentos diferentes! E eu estava pronta para o sacrifício, mas a minha Mãe não consentiu. Tinha lido, no Readers Digest, ou literatura científica semelhante, que a manipulação dos dentes pode causar transtornos mentais!!!
Verdade seja dita, a família de Avintes era bem mais sensata. De um Aguiar, pode sempre esperar-se o melhor e o pior. Como detesto ter os dentes tortos, compreende-se a minha irritação, que subsiste, até hoje.
terça-feira, 10 fevereiro, 2009 
Maria Manuela Aguiar disse...

Enquanto a Avó Maria era uma senhora de idade, sempre de escuro vestida, sempre a lembrar a viuvez, um certo lado trágico da vida, a Avó Olívia nunca pareceu ter 70 ou  80 anos. Interessava-se pelas coisas de sempre, e até se "modernizou"
Embora eu gostasse, por igual das duas Avós - reconhecendo o maior "glamour" da materna, e até, também, maiores afinidades com ela, desde a mais tenra infância - o certo é que houve pelo menos um episódio que mostra a forma oposta como lidavam com a "mudança de comportamentos - sinal dos tempos".
Estávamos no verão, em Espinho, onde eu costumava passar temporadas, e onde ía para a praia, de manhã, para o cinema ou esplanada, à tarde, para o café, ver televisão, à noite - sozinha, excepto quando o Avô cá estava ou quando o Manel, que fazia o serviço militar em Lisboa, vinha passar o fim de semana.
A Avó Maria, a dada altura, foi convidada a juntar-se a nós, na casa da Rua 7, durante uns tempos. Eu segui o meu programa normal, que nunca tinha levantado sombra de objecção por parte da Madrinha. À noite, fui ao café, como em Espinho, é normalíssimo. Ao chegar a casa, deparo com as duas Avós à janela!
Ao entrar, a Madrinha diz-me, mais ou menos isto: "Sabes que não fica bem a uma senhora casada sair sozinha à noite?"
Imaginam a minha resposta... qualquer coisa como: "Vou já fazer as malas e voltar para o Porto!".
E a Avó Olívia lá começou a desculpar-se e a dizer que eu tinha toda a razão. Dava bem para perceber quem tinha levantado a questão... Porém, a Avó Maria não proferiu nem uma palavra. Era como se nem estivesse ali...
Uma grande senhora, sem dúvida, mas tão conservadora,  moralista e prosélita (ainda que por interposta pessoas)!....
terça-feira, 10 fevereiro, 2009 
Maria Manuela Aguiar disse...
Faz hoje 28 anos que a Avó Olívia morreu, na Ordem do Terço, onde fora internada, de urgência, depois de ter sentido mal, em Espinho. Eu estava no MNE, em Lisboa, e as sobrinhas, Alda e Maria Helena,  tinham vindo para a casa da Rua 7,, tratá-la - a Arminda sozinha era competente, e não muito, para fazer limpezas e recados... (fora herdada da bisavó Joaquina).
Quando recebi a notícia, pelo Pai, vim imediatamente. Só me lembro de ver a Madrinha já na capela mortuária da Ordem. Parecia tão pequena, tão magra, de vestido escuro, sobre um fundo muito branco, acetinado, no caixão.
A missa de corpo presente, como ela gostaria, reuniu grande número de sacerdotes. O Padre Pinheiro, o Abade Álvaro e vários outros. Foi o Padre Leão quem falou, a meu pedido. Breve e muito bem, como sempre. Salientando as qualidades de bondade, de religiosidade, de rectidão da minha Avó!

quinta-feira, 12 fevereiro, 2009 
Maria Manuela Aguiar disse...
Foram mortes quase seguidas, a da Maria Póvoas, no verão de 1979, e a da Madrinha, no início de 81 - e com a mesma doença terrível: cancro do esófago.
Tenho esta sensação de proximidade das duas fatalidades, até porque o Pai me preveniu da doença, praticamente irreversível, da Avó, logo depois, no outono de 79. Ao contrário da Maria, que só muito tardiamente foi diagnosticada e tratada, a Madrinha ainda fez "quimio", mas só valeu mais uns meses de vida. Mal, mal, sentiu-se nas últimas semanas, em que pedia a Deus para a levar depressa.
Agora que a eutanásia está em discussão, penso sempre em ambas, na Madrinha e na Maria, se bem que nenhuma delas, por razões de ordem religiosa aceitasse essa solução... A mim, apesar de tudo, também me repugna. O meu fundo católico leva-me a sonhar com milagres, no meio da maior desgraça...
quinta-feira, 12 fevereiro, 2009 
Maria Manuela Aguiar disse...
Quero agora lembrar, de preferência, coisas alegres.
Por exemplo, um 14 de Agosto, aniversário do meu casamento, em que a Madrinha me deu um presente, para me animar. Eu já estava tão convictamente divorciada, que nem sequer me tinha recordado da efeméride!
quinta-feira, 12 fevereiro, 2009 
Maria Manuela Aguiar disse...
Na azáfama inerente a novas funções de vereadora, com pelouro, na Câmara de Espinho nem sei, como diz o povo, "a quantas ando"... Não reparei que ontem era o dia 5 de Novembro, dia dos anos da Madrinha.
Reparei nas datas e logo me vieram à memória palavras suas, quando já estava muito doente: "Não trabalhes tanto, não te canses tanto! Não vale a pena..." Era a sabedoria de quem estava a fazer um último balanço de vida, e dava um óptimo conselho - que não consigo seguir! Shakespeariano, embora ela não tivesse lido a célebre frase:
Life is a tale, told by a fool, plenty of sound and fury, signifying nothing.
sexta-feira, 06 novembro, 2009 

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