sábado, 13 de junho de 2020

W34 TIO ALEXANDRE MENDES BARBOSA revisto 13 junho

Maria Manuela Aguiar <mariamanuelaaguiar@gmail.com>

16:10 (há 0 minutos)
para mim

sábado, 18 de outubro de 2008

W34 - ALEXANDRE MENDES BARBOSA


UM PAI PARA OS SOBRINHOS

Alexandre Mendes Barbosa
Nasceu em São Cosme, a 18 de outubro de 1977. Faria hoje 131 anos!  
As sobrinhas não o esquecem. É ele a figura masculina mais importante da sua infância e juventude. Perderam o pai tão pequenas, que só o recordam em episódios desgarrados. Minha mãe quase só guarda a memória dele no caixão, gelado, quando lhe deu um último beijo...
A partir daí, contavam, sobretudo, com aquele tio bondoso, disponível, sempre pronto a contrabalançar a rígida disciplina imposta por uma jovem viúva deprimida e insegura...Também para a irmã, a Avó Maria foi o confidente, o aliado na educação dos filhos e na complexa administração do património- área para a qual a preparação das senhoras de então era nenhuma... Estava habituada era a gastar, sem pensar duas vezes, de fundos sem fundo. Houve que se adaptar a fazer contas, embora com rendimentos confortáveis. O tio Alexandre foi um bom e prudente gestor, soube ultrapassar a crise brasileira e o afundamento bolsista do fim da década de vinte. Os rendimentos  pagavam os colégios dos meninos, as férias na Foz, as termas de Vizela, as despesas com o casarão, mantendo as criadas e jardineiro, as esmolas e contribuições para a paróquia...  Até no aspecto material o irmão Alexandre ajudava, A mais nova- a tia Lena- foi especialmente "adoptada" por ele e pela tia Hermínia, ainda hoje se distingue dos outros seis - émais tranquila e serena, como era a tia Hermínia... Ao mais velho dos rapazes- o tio Manuel-  se encarregou de pagar os estudos, a ida para Coimbra. Todavia, a "devoção", o carinho, com que dele falam os outros, prova como os tratava a todos, por igual. Os elogios das sobrinhas não satisfazem completamente a minha curiosidade sobre um tio que gostaria de ter conhecido (mal me recordo dele, era muito pequena quando faleceu, em 1945). 
Obviamente, era contemporizador como seu Pai, o amável Bisavô Joaquim, nunca ralhava aos sobrinhos, aconselhava-os, brandamente, embora às vezes, os arreliasse, com o tom finamente trocista dos Ferreira Ramos...  Um exemplo mais da facilidade de manter diálogo entre gerações é a sua participação num projecto inédito da comunidade académica gondomarenses, que deu brado, no ano de 1938: uma revista "à Parque Mayer", de crítica de factos e costumes da vida local, "O Nabo", em que os rapazes foram autores e actores, com o Tio Manuel Aguiar em grande plano, nos dois papéis. Com surpresa, vimos o nome do Tio Alexandre nos cartazes, há pouco encontrados numa gaveta,. Como encenador! É um dos três únicos representantes de uma geração mais velha, juntamente com o autor da música, o Maestro Moura e ao Abade, Padre Crispim - com certeza, para evitar excessos de crítica... 
E daí, talvez não devesse estranhar esta novidade... Ele era um grande frequentador do Teatro Sá da Bandeira e das tertúlias do Café "A Brasileira", com uma faceta de "bon vivant", sem prejuízo do tempo dedicado ao emprego e à família...
  Procuro, assim,  reconstruir o seu perfil, a partir de generalidades com que as sobrinhas o descrevem, somando pormenores, episódios, que vão ressaltando de conversas, de um ou outro documento, que sobreviveu. Não muita coisa!
Profissionalmente, fez carreira como funcionário da Câmara de Gondomar, foi Chefe de Repartição, Secretário da Administração, e foi ainda Administrador do Conselho.
É pela monografia "Concelho de Gondomar", de Camilo de Oliveira, que soube do seu prestígio como funcionário: "...fazemos menção do Chefe de Repartição, o Sr. Alexandre Mendes Barbosa, espírito vivo e culto que há muitos anos se familiarizou com os serviços do seu cargo,nos quais tem revelado não só competência e solicitude, mas também merecido os louvores das autoridades que têm intervenção nos assuntos das suas atribuições".  
Na vida social e política intervinha, na primeira linha. Foi fundador e dirigente do Clube Gondomarense, membro de diversas Irmandades e associações... Ideologicamente, era, como os irmãos, exceptuado o Padre Américo), laico e republicano. O seu feitio, menos radical e agressivo, em comparação com António, Alberto e José, manteve-o longe do Aljube (ao contrário do sucedido aos dois mais velhos) e de "saneamento" de funções públicas (de que foi vítima, o mais novo, José, o Juiz Conselheiro do STJ)
 Na família, nas tertúlia e no trabalho, aplauso unânime. Sempre igual a si próprio... Um gondomarense de alma e coração, que adorava a sua terra. Como já não há poucos! Andamos hoje muito esquecidos de que a Pátria começa na nossa terra...
Publicada por em 15:39   

15 comentários:

Anónimo disse...
Glória Doroteia disse: O tio Alexandre foi, de facto, o nosso pai. Era muito bom! Lembro-me, por exemplo, de que nos dava, a cada uma, quando nós partíamos, sempre de má vontade, para o colégio interno, uma nota de 20 escudos- na altura, anos 30, bastante dinheiro. Com ele, comprávamos "extras", como chocolates, através de colegas, que estavam em regime de externato. Gestos que nos confortávam e nos tornávam mais felizes, ou menos infelizes, lá dentro. Ele compreendia isso, conhecia-nos bem.Vivia muito para nós.
domingo, 19 outubro, 2008 
Maria Antónia Aguiar disse...
Faço minhas as palavras da Lólita! Tive a sorte de poder contar com ele e, também, com os meus padrinhos, a tia Rozaura e o tio Manuel Marques, que me tratavam como filha, apesar de ele ter um filho, o Armando, do primeiro casamento (era viúvo, quando conheceu a tia Rozaura). me sentia "órfã" de pai... Essa mesada de 2o escudos era fundamental para resistirmos às ementas do "Colégio da Esperança", mas eu mandava vir os chocolatinhos pela recoveira.
domingo, 19 outubro, 2008 
Glória Doroteia disse...
 O nosso Tio era republicano e anti-clerical. Nem ia à Igreja, nem abria as portas da casa ao "compasso"... Mas, quando estava moribundo, pediu-nos que chamássemos um padre para se confessar. A Lininha falou ao Sr.Abade e ele veio imediatamente, apesar de mal o conhecer. Conhecia e era amigo da Mamã, isso sim! Ficou com ele, a ouvi-lo, nesses últimos minutos. Quando saiu, estava emocionado e disse-nos :"morreu um santo".
domingo, 19 outubro, 2008 
Maria Manuela Aguiar disse...
 O que a Tia Lola descreve sobre os seus últimos momentos, corresponde  quase "ipsis verbis" ao que ouvi contar,em criança. Pela voz da Avó, da Mãe, da Tia Rozaura...Sem dúvida, impressionou muito a família toda. E eu, devo dizer, quando se falava no Tio Alexandre, pensava logo nesse fim dramático, e nessa benção da "conversão" à fé. E achava que aquele Tio, do qual me lembrava mal, mas do qual todos diziam tão bem, merecia a "chamada de Deus".
segunda-feira, 20 outubro, 2008 
Maria Manuela Aguiar disse...
 Que pena só ter a vaga imagem do Tio já velhinho e doente- no seu quarto, deitado na cama. ( O tio morreu com cancro de pulmão - ao olhar o último retrato, em que aparece com a Tia Hermínia, notamos que está de cigarro na mão...). De qualquer modo, prevalece a memória da alegria da sua casa. Aí voltei, claro, muitas vezes, porque a Tia Hermínia, que lhe sobreviveu, era nossa amiga e gostava muito de gatos. Nós também. Nunca nos faltava assunto para conversa.
segunda-feira, 20 outubro, 2008 
Maria Madalena Aguiar disse...
Era costume o Tio Alexandre ir- me buscar a casa. Passava o dia com ele e a Tia Hermínia, jantava e, depois, ele trazia-me, de volta, à Vila Maria. Daí seguia para o Clube Gondomarense, onde se encontrava com os amigos - a Tia Hermínia nunca se opôs. Pelo contrário, achava muito bem. De inverno, o Tio Alexandre usava um capote, com o qual me abrigava. Eu chamava-lhe "Tá", e à Tia Hermínia "Tátá". Quem também os visitava muitas vezes era a Luísa, uma sobrinha da Tia, nascida poucos meses depois de ter morrido, num parto difícil, a única filha deles . Todos nos dávamos muito bem. Naquela casa nunca me lembro de ninguém ter, alguma vez, sequer, levantado a voz!
segunda-feira, 20 outubro, 2008 
Maria Manuela Aguiar disse...
A Tia Lena lembra-se de um episódio muito divertido, que aconteceu com um carro imparável - isto é, um carro que não conseguiam travar, a fim de saírem, como era normal, à porta de casa. Sei que andaram às voltas, entre o Souto e Quintã, e a Tia Hermínia lhes dizia: "Não entrem em pânico. Sorriam!"
segunda-feira, 20 outubro, 2008 
Maria Madalena disse...
A dada altura, o Tio Alexandre comprou um carro - um daqueles carros antigos, que, na época, eram modernos. Passeávamos pelo arredores, Ramalde, Covelo, escolhendo estradas com pouco movimento. Muitas vezes quem guiava era o Tomás, motorista do Tio Zé, que também lhe tratava do jardim e da horta. Era bom condutor e foi quem lhes ensinou a conduzir (não havia escolas de condução - quando estavam preparados, apresentavam-se a exame ). À noite, o carro ficava em casa da Mamã, debaixo do terraço e os meus irmãos saíam com ele, davam cabo de tudo... As avarias eram constantes. O Tio Alexandre teve imensa paciência. Mandava, constantemente, arranjar as avarias, quando o Tomás não conseguia resolver o problema. Um dia fomos à Aboinha, visitar o Sr. Morgado, com o Tomás ao volante. Tudo correu perfeitamente, até ao momento em que ele tentou estacionar à porta da casa. O carro não travava! Primeiro deu a volta a Quintã. Tentou parar, mas o carro continuava em movimento. Mais uma volta ao Souto e seguimos no sentido de Quintã... Depois, talvez sem mais gasolina, ficamos parados à porta de Rosa Marques (irmã dos Ferreira Marques), onde agora está uma casa de linhos. E não houve remédio: tivemos mesmo de passar pelo embaraço de deixar o veículo ali, e de caminhar até a casa, onde fomos todos vistos a chegar a pé, depois de tanta voltas de carro. Mas sempre sem perder o sorriso...
segunda-feira, 20 outubro, 2008 
Maria Madalena Aguiar disse...
O carro do Tio Alexandre não era o único que os meus irmãos desarranjavam. Faziam o mesmo ao do enteado da Tia Rozaura, o Armando Marques, que, à noite, ficava guardado nas lojas da casa dela, com acesso por um portão grande, no Largo da "Pedreira". A Tia Rozaura ficava aflitíssima, e o Armando furioso...
segunda-feira, 20 outubro, 2008 
Maria Manuela Aguiar disse...
 Estive há pouco à conversa com a Tia Lena e fiquei mais tranquila, em relação a certas "deduções", ou conclusões a que cheguei sobre o Tio Alexandre. Vi-as confirmadas, por quem o conheceu tão bem! Mas a Tia acrescentou pormenoree significativos, que reforçam certos traços do "retrato". Era sereno. Era compreensivo. Tinha, porém, uma "autoridade natural", sem precisar de a impor ruidosamente, ou pela força. Um exemplo: na Administração da Câmara (não sei exactamente em que qualidade, nos últimos tempos, mas, segundo a Tia Lena, talvez como substituto do Administrador do Concelho) a sua simples presença num interrogatório de um suspeito, levava o homem, quando culpado, a confessar os cometimentos... Pelo contrário, o agente policial, responsável pelas averiguações, que, por sinal, era temperamental e mesmo violento, não conseguia nada. O Tio era, de facto, muito considerado. Era justo. Inspirava confiança. Respeitavam-no. Dentro e fora de casa. Até os "terríveis" sobrinhos (os rapazes. que eram bem piores do que as meninas...). Outro detalhe: o gabinete do Tio Alexandre, na Câmara, dava para o fontenário.
segunda-feira, 20 outubro, 2008 
Maria Manuela Aguiar disse...
 A minha curiosidade sobre a tia Hermínia foi suscitada, muito recentemente, quando li duas cartas, que escreveu à cunhada Maria, minha Avó, por volta de 1912, quando ambas esperavam o próximo nascimento de filhos, cada uma do seu lado do Atlântico. Aquela jovem, que escrevia tão bem, com tanto espírito e sentido de humor, sobre coisas do quotidiano, não correspondia à imagem que guardava de uma senhora pacata e convencional, cuja principal originalidade era, para mim, a "militância" pelos direitos dos animais, sobretudo gatos próprios ou alheios... E fiz a pergunta à Tia Lena. Qual era a origem, a formação da tia Hermínia? Por ela soube que era de Paredes. Ficou órfã de mãe, ainda criança, quando frequentava, como aluna externa, um colégio de freiras (Santa Quitéria), perto de Felgueiras. Todos os dias era levada e trazida a casa numa carruagem do colégio, puxada a cavalos (uma versão antiga das actuais "carrinhas", que eu desconhecia, em absoluto!). Daí em diante, o pai deixou-a no mesmo colégio, como interna - o que não lhe custou muito. Nas férias, uma tia (Joaquina) tomava conta dela e da irmã, Sara. A Sara veio a casar com um conterrâneo, que tinha uma casa brasonada , em Paredes, e era a mãe da Luísa. 
Uma das filhas da Luisa, a Tininha, é a companheira do Tónio, naquela primeira foto, em que aparece no blog. Uma óptima fotografia do marido da Luisa, de apelido Moreira, mas não meu parente. Fotógrafo amador, que tinha laboratório em casa. Outra pergunta para a Tia Lena: como terá o Tio Alexandre conhecido a mulher? Seria em Paredes, a terra do Bisavô Joaquim Mendes Barboza?
terça-feira, 21 outubro, 2008 
Maria Manuela Aguiar disse...
 Embora isso não venha salientado, quando se fala do Tio Alexandre, (a imagem que prevalece é a da sua seriedade e amabilidade de trato), era também divertido, à maneira dos Barbosa, a implicava, jocosamente, com a criançada. Chamava "Lena, Caprena" à tia Lena. A mãe e a tia Lola contam que lhes desfazia os elaborados caracóis dos penteados, para as arreliar... Um bocadinho, não demais. É por isso, porque lhe achavam graça, que estas coisas só são apreendidas em conversa, a meio de uma conversa comprida. Precisámos de especialistas em entrevistas...Começam sempre por garantir que não se lembram de nada. Mas lembram, se se lhes fizer a pergunta certa ...
quinta-feira, 23 outubro, 2008 
Maria Manuela Aguiar disse...
 Perguntei à tia Lena como era o dia a dia com a tia Hermínia e o Tio Alexandre. Passava o dia em casa deles, mas ia sempre para a Vila Maria, depois de jantar (o mesmo acontecia com a minha mãe, nas suas frequentes visitas aos padrinhos, na "Pedreira"). Quer isto dizer que a Avó Maria fazia questão de ter toda a sua prole reunida consigo, quotidianamente. E a tia Lena não esqueceu um dia em que a criada a veio recolher mais cedo - já não se sabe porquê... Estava ela, como de costume, na sala da Tia Hermínia, sentada a uma pequena mesa redonda, de camilha, por baixo da qual o borralho mantinha o calor, as duas a ouvir rádio, um programa de variedades, quando veio a ordem de retirada. Mandou a Tia a criada de volta, a sugerir que deixasse ficar a menina até mais tarde, porque estava num ambiente muito quente, e, saindo, podia constipar-se. Voltou a criada para levar a menina, imediatamente... Era assim a Avó Maria!
quinta-feira, 23 outubro, 2008 
Maria Manuela Aguiar disse...
Até no que respeita ao gosto pelos animais, a Tia Hermínia e o Tio Alexandre se entendiam bem. Numa das cartas escritas à Avó Maria pela cunhada, ela conta que o marido tinha andado apoquentadíssimo pelo desaparecimento do seu cão, que, pelo descrição, tratava quase como um filho... Por fim, o cãozinho regressou e houve grande festa! Era o Diu, que está com pose muito tranquila, na foto de grupo, que se inclui na "reportagem" iconográfica, supra. Depois desse mítico e bonito Diu, durante décadas, só houve gatos lá em casa. O cão que se seguiu, o Nero, era da Tia Lena. Mas ficou com a Tia Hermínia, quando a Tia Lena casou, e depois da morte da Tia Hermínia, foi acolhido na "Vila Maria". Aparece na minha primeira foto, em junho de 1942, com os pais, sentados num banco do jardim, em frente à casa.
quinta-feira, 23 outubro, 2008 
José Barbosa disse...
Só um pormenor documental, (que temo família e as minhas primas em matérias de fé.... parece que sou o último herdeiro da tradição anti-clerical do clã, mesmo que muito dessorado: até tenho amigos padres!!!!)
O pormenor, então, é que a primeira fotografia, de cara e busto, é do meu avô José e não do tio Alexandre, que de resto deu nome ao Paulo, que por essas custas, leva também Alexandre no nome.
Lembro-me de grandes legendas contadas e temperadas, pelo meu Pai sobre os Tios. Eis algo que merece ser fixado, se ainda houver memórias dos feitos.
quarta-feira, 10 dezembro, 2008 
  Maria Manuela Aguiar disse...   
Oh Zé! O retrato é mesmo do Tio Alexandre, confirmei olhando para várias outras fotos de grupo, com os dois irmãos, lado a lado... Ouvi, também, narrativas dos lendários feitos desse quarteto de Tios (excluindo o Padre, tão bem comportado!), mas não me atrevo a reproduzir, faltam-me demasiados detalhes...

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