domingo, 2 de agosto de 2020

RUTH Escobar na toponímia do PORTO


Maria Manuela Aguiar mariamanuelaaguiar@gmail.com

terça, 12/02, 22:41
para eu
Maria Manuela Aguiar Dias Moreira
Rua João de Deus, 62 - 1º esqº
4100-456  Porto



Ex.ma Senhora Presidente da Comissão de Toponímia
Prof Doutora Isabel Ponce de Leão

Tenho a honra de apresentar a V Ex.cia e a todos os membros da Comissão de Toponímia,  uma proposta de homenagem a Ruth Escobar, pela inclusão do seu nome  na toponímia da  cidade, onde nasceu e onde viveu os primeiros 16 anos, até dia em que emigrou para São Paulo. 
Aí a encontrei, muitas vezes, quando era Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas e  Deputada pela Emigração, nas décadas de oitenta e noventa. Ruth Escobar era já, nesse tempo, a portuguesa da sua geração mais conhecida e reconhecida no Brasil, como atriz,  produtora teatral, mulher de Cultura, ativista dos Direitos Humanos, política carismática, voz poderosa na defesa das suas causas. Uma imigrante singular, que o Brasil admirava pela inteligência, pela audácia e pelo modernismo. Aos compatriotas, como eu, impressionava também o orgulho com que se afirmava uma portuguesa do Porto..
Não é por acaso que a sua autobiografia, publicada em 1987, começa com esta frase: "Lembro-me do trajeto invariável de todos os dias: da Rua do Bonjardim subo a João das Regras, atravesso a Praça da República, desço a Rua dos Mártires da Liberdade, e entro na Praça Coronel Pacheco - onde ficava o Liceu Carolina Michaelis".  
O Liceu onde descobriu a vocação teatral, representado, um a um, todos os Diabos, dos Autos de Gil Vicente!.
Esse primeiro capítulo do livro "Maria Ruth" é, todo ele, dedicado à cidade do Porto, aos passeios ao Palácio de Cristal, ou à Foz, às sessões de cinema no Rivoli, às festas de São João. As boas recordações da adolescência são, sobretudo, dos ambientes portuenses com que se identifica. Como  diz "só consigo lembrar os barulhos de fora, da rua, da cidade, dos outros. De dentro de casa, do dia a dia, nada..." 
Nas suas próprias palavras: "quando embarquei para o Brasil, no Serpa Pinto, com a minha mãe, levava também a certeza de um destino, pois soube que tudo o que sucedeu na minha vida, mesmo antes do meu nascimento, estava moldado por uma força universal, cósmica, transcendente". E, na verdade, foi cumprindo os seus sonhos de jovem  imigrante a um ritmo vertiginoso. Aos 18 anos editava uma revista "Ala Arriba" e na qualidade de jornalista (amadora) corria o mundo e entrevistava uma longa lista de líderes famosos como Foster Dulles, Krushev ou Nasser. As suas  reportagens eram disputadas por revistas como a "Life" e por prestigiados jornais de S, Paulo e Lisboa, 
Entre os 20 e os 30 anos. impôs--se como empresária e produtora de teatro e, depois, como atriz talentosa. No Teatro a que deu o nome, (já não Maria Ruth dos Santos, mas Ruth Escobar, apelido do segundo marido, o poeta e dramaturgo Carlos Escobar), leva a cena tanto os prediletos autos Vicentinos como  peças contemporâneas. Em 1963, inovou com a criação do Teatro Nacional Popular, que levava às periferias do Estado, a muitos milhares de pessoas, espetáculos de grande  qualidade (Martins Pera, Suassuna...) em palco improvisado num velho autocarro. 
O seu terceiro marido o arquiteto Wladimir Cardoso, viria a ser o cenógrafo de peças de enorme êxito artístico - como "Cemitério de automóveis" de Arrabal, com montagem do argentino Vitor Garcia, e encenação da própria Ruth: Uma dupla que, em 1969, com "O balcão" de Jean Genet, venceria todos os prémios do ano, no Brasil.
A partir de 1964, na casa dos seus 30 anos, Ruth atravessou o período conturbado da ditadura e.o seu teatro converte-se em espaço de luta pela liberdade, apesar das 
ameaças, interrogatórios, prisões, ataques de comandos para-militares e violência sobre os atores e sobre ela. Nesta década trouxe a Portugal alguns dos seus maiores sucessos, "Missa leiga" e "Cemitério de automóveis" .
Em 1974, organizou o 1.º Festival Internacional de Teatro de S Paulo, levando ao Brasil as melhores companhias do mundo e contribuindo para um movimento renovador das Artes dramáticas brasileiras, que o 2.ª Festival, em 1976, veio aprofundar.
Ruth voltou a fazer história,  como pioneira no domínio da política, ao tornar-se a primeira mulher eleita e reeleita deputada à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ao abrigo do Tratado de Igualdade de Direitos entre Portugueses e Brasileiros, pois teve sempre só a nacionalidade portuguesa). Foi também a primeira Presidente do "Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres" e, durante anos, a Representante do Brasil nas Nações Unidas para o acompanhamento da Convenção contra a discriminação das Mulheres  Depois de quase uma década nos palcos políticos do Brasil e da ONU, regressou, nos anos noventa, aos palcos do teatro, como intérprete, e como empresária e promotora de festivais internacionais, em novos moldes, mais abrangentes de outras artes .
 A sua herança teatral, enraizada no Gil Vicente da juventude, e no vanguardismo em que projetou a sua criatividade ao longo de décadas, mudou a face do moderno teatro brasileiro . A sua última grande produção seria, por sinal, uma encenação de  "Os Lusíadas".
.Em vida, Ruth Escobar recebeu as maiores condecorações brasileiras, a "Legião de Honra" da França, a "Ordem do Infante D Henrique" de Portugal  A sua morte, a 5 de outubro de 2017,  foi sentida no Brasil e nas Nações Unidas, onde deixou uma imagem inspiradora. Em Portugal.  passou por um quase total silêncio
O Município do Porto poderia, agora, destacar este raro percurso cívico, artístico e político da Cidadã Portuense Ruth Escobar, mantendo viva a sua memória na toponímia da cidade.
Desde já agradeço a atenção que a proposta venha a merecer a apresento  a Vossa Excelências, com elevado apreço, os meus melhores cumprimentos 

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