sábado, 1 de agosto de 2020

rep RESPOSTAS a A. S.

Em sua opinião, quem foi o melhor Primeiro-ministro?

Em pleno governo maioritário de Cavaco, no auge da sua popularidade, respondi a essa mesma pergunta, posta pelo jornal Expresso, com o nome de Sá Carneiro.
A qualidade de um grande 1º Mº, como a qualidade de um grande corredor, ao volante de um carro da mesma categoria, torna-se patente logo nos primeiros quilómetros... não é preciso uma longa viagem.
Só em dois governos (ambos, infelizmente, de breve duração) tive sempre a certeza do que devia fazer, sem perguntar a ninguém, e sem qualquer dúvida sobre a consonância com o 1º Mº: no de Mota Pinto e no de Sá Carneiro - por igual.
Neste aspecto, o pior foi o de Cavaco. O MNE, um irremediável erro de "casting" (um exemplo: falava publicamente de "Rússia", para significar a "União Soviética"!) era pouco sensível às questões da emigração e, nesse governo, o 1º de Cavaco Silva, os secretários de Estado passaram a ser considerados "adjuntos de ministro". Os ministros tinham sempre razão... Para mim, foi o fim...o último governo a que pertenci. Em outro parecido, como se diz no Brasil, "nem morta"!

Acha que se S C não tivesse falecido o País teria tido outro rumo?

Sobre isso não tenho qualquer dúvida. No governo ou na oposição faria com as coisas acontecessem mais depressa e melhor. A maneira portuguesa de resolver as coisas é adiar, de preferência. Por razões eleitoralistas ou outras, por receio das consequências de fazer o que deve ser feito - e que, depois, acaba por o ser, tarde demais.
Quem imagina Sá Carneiro a esperar que um qualquer Sócrates apodreça no poder, e com ele o país, sem avançar como alternativa, com a força da sua palavra e do seu carisma?
Aliás, acredito que, com ele, a degradação do pessoal político não teria sequer acontecido - no seu partido, e, por bom contágio, também, talvez, nos outros... Não teria havido aquela passagem ritual de Chefe de Gabinete a Secretário de Estado e de Secretário de Estado a Ministro... Os fundos CEE não teriam acabado em cimento a mais e formação profissional a menos... Sim , por detalhes importantes como estes, para a consolidação do progresso democrático, assim como pela imagem e liderança internacionais que Portugal teria assumido, a história não seria a que aconteceu e nos trouxe até onde estamos. (alguém o imagina, por exemplo, a referir o seu país, como "o bom aluno" da Europa civilizada?

NESSA ALTURA CONHECEU PERSONALIDADES QUE AADMIRAVA.QUEM ERAM?

Com mais de 25 anos de política nacional, ninguém em actividade nesta área escapou ao meu conhecimento, ao menos ocasional.
Quando era pequena, ouvia as histórias da Tia Rozaura, que tinha participado nos funerais do rei Dom Carlos e do Príncipe Real, viu a Rainha e o Rei Dom Manuel II, de perto, e que, por essa época, encontrou em casa de amigos, políticos como Afonso Costa. Os tios republicanos, também tinham confraternizado com "meio mundo", mas desses nunca ouvi relatos (alguns morreram antes de eu nascer e crescer). Achava que estar face a vultos da História era qualquer coisa de extraordinário. Mal podia imaginar que, em muito maior dose e proximidade, isso iria acontecer comigo! Foi, sem dúvida, uma das razões poruqe valeu a pena ter passado pela política.
Como é evidente, alguns dos protagonistas já eram amigos antes. Mas não a maioria.
O primeiro a quem achei muita graça, em recepções, em jantares de Embaixadas, foi o Dr. Mário Soares. À época, era tudo menos "soarista", mas o facto de poder ter com ele conversas pouco ortodoxas, o seu à vontade, a sua descontracção logo me encantaram. Em termos pessoais, nada políticos. Uma simpatia, também, a Drª Maria Barroso. Um género completamente diferente - 100% "sage", sempre impecavelmente vestida, sempre a dizer as palavras certas.
No governo, dos que acabava de conhecer, admirava, muito em especial, o Secretário de Estado da Cultura, David Mourão Ferreira.
1980, foi o meu ano de Sá Carneiro! E de Freitas do Amaral, outro político de uma área diferente, que ganhou em ser conhecido de perto, no trabalho quotidiano - uma revelação! Foi um relacionamento perfeito. Até 4 de Dezembro, o melhor ano da minha vida! Outro político que passei a estimar como amigo: Eurico de Melo. Um "Senhor"!
Ao nível de Chefes de Estado do pós 25 de Abril, só nunca cheguei a estar com Costa Gomes. Spínola era fascinante, com o seu monóculo, o seu garbo de Marechal, o seu carisma de herói de guerra, que tantas vezes, tinha visto na televisão francesa, quando vivia em Paris.
Se me dissessem em 80, não acreditaria, mas a verdade é que Ramalho Eanes foi uma revelação, a partir da primeira vez que com ele troquei umas palavras...
Soares è Soares, figura maior da Democracia, a quem admiro, como tal, e a quem acho uma graça infinita (quantos episódios poderia contar...).
Jorge Sampaio é um Homem que foge a todos os estereótipos da política, pela sua simplicidade espantosa, pelo seu trato, pelo seu humor... Bem-educado, bem formado, bem pensante. Nunca percebi a sua fama de "esquerdista". Nas muitas conversas que com ele tive, quase sempre me achei de acordo com os seus pontos de vista.
De Cavaco Silva fui adepta e apoiante, sobretudo nos tempos difíceis em que ele era, com Eurico de Melo, a face da oposição ao "balsemismo".. Acho que tem sentido de missão e que o seu destino lhe reservou um lugar de longa duração, à frente dos destinos pátrios. Aprecio a sua tenacidade, a sua seriedade. E o que normalmente não é tão evidenciado: a sua vontade de promover a participação feminina. Nenhum primeiro-ministro, até hoje, nomeou tantas mulheres para lugares importantes da governação - e outros - como ele.

OS ESTRANGEIROS
O facto de estar à frente de uma das Secretarias de Estado do MNE permitiu-me conhecer, também, muitos políticos estrangeiros, muitos Chefes de Estado, Reis e Raínhas e presidentes. A lista é infindável, se considerar apenas um cerimonioso cumprimento, breves conversas: de sul para norte, os Reis de Espanha (que simpático, o Rei Juan Carlos!), Mitterand, Isabel II, Carlos e Diana, o Rei Balduíno (o que mais me impressionou, com o seu ar de imensa bondade), a Raínha Beatriz da Holanda (encantadora, extrovertida, cheia de vida), o Grão Duque e a Grã-Duquesa do Luxemburgo (menos exuberantes do que Beatriz da Holanda, mas não menos simpáticos), a actual Grã-Duquesa Maria Teresa (com quem dialoguei em seminários do Conselho da Europa - surprendente na defesa de boas causas, inteligente e bem informada), a Rainha Margarida da Dinamarca (simples e brilhantíssima) o Rei e a Rainha da Suécia, Gorbachev. Da África, Mandela (talvez o maior Homem do século XX), Sisulo, o Presidente De Klerk e a mulher Marika (que era de remota origem portuguesa e me convidou para almoçar na Cidade do Cabo), Pick Botha (a esse ofereci-lhe eu, em nome do MNE, um almoço nas Necessidades e tive, depois, vários contactos em reuniões e recepções- era um orador fulgurante, espectacular e um homem muito sociável e divertido). Sem esquecer o rei Hassan II e o actual Rei de Marrocos. Do Brasil, meros cumprimentos formais a sucessivos Presidentes, Sarney, Cardoso, Lula, conversa e almoço restrito com Collor de Mello. Da Venezuela, Chavez (divertidíssimo a nossa conversa na AR, pouco depois da sua tomada de posse). Dos EUA, Jimmy Carter (na Ajuda), Ted Kennedy (em Washington, numa missão parlamentar em defesa de Timor) e Hillary Rodham Clinton (na Embaixada dos EUA em Lisboa, numa restrita mesa redonda só com mulheres portuguesas, Maria Barroso, deputadas - gostei sou uma indefectível da srª Clinton, que seria, naturalmente, a minha candidata nas últimas eleições americanas).
A maior das surpresas, o caso mais evidente de "conversão" foi Jacques Chirac. Não gostava nada dele, pelo que até aí vira na TV e tive a oportunidade de mudar de opinião durante as conversações da visita do Primeiro-Ministro de Cavaco e Silva a Paris, em 1987. o "charme" de Chirac! A vivacidade, o humor - um certo ar iconoclasta. Foi particularmente simpático comigo e, se outros não tivessem interferido, acho que, através dele, teria resolvido a reivindicação "impossível" doe emigrantes de então - que era o pagamento integral do abono de família aos filhos que viviam fora do território francês.
Com Chissano e Com Xanana Gusmão "a corrente" passava. A Xanana, não resisti, dei um abraço retribuído, durante a sessão de cumprimentos, quebrando o protocolo - depois de o ouvir no Senado, em lágrimas. Ramos Horta era mais da "casa", esteve muitas vezes conosco nas comissões, em conversações. Sempre unidos por Timor. Em 87 ou 88 fui peticionária, a convite de organizações timorenses, nas Nações Unidas, em NY.
Outro extraordinário líder africano, que recebi ne AR foi Jonas Savimbi. Dele podem dizer o que quiserem, excepto que encheu os bolsos de diamantes e foi viver à grande num paraíso estrangeiro, como um corrupto igual a tantos outros . Não! Ele morreu pobre e solitário, de armas na mão, a combater, até ao último minuto de vida, por aquilo em que acreditava. Quando digo que o recebi, assim , na 1ª pessoa, é porque fui eu que o convidei e que requisitei ao Presidente Crespo o uso da sala do Senado, para uma reunião com ele. Eu era então Vice-Presidente da Assembleia e ele não se opôs (eram outros tempos: agora até para receber o Dalai Lama esse ou outro os espaço nobre é recusado!). Savimbi era um homem inteligentíssimo, um orador fantástico, com o senado cheio (de voluntários, evidentemente), discursou e respondeu a perguntas durante cerca de uma hora. Houve jornalistas e muito mediatismo, pois er a sua 1ª viagem a Portugal. Foi através da Fátima Roque, minha amiga, que me vi nesse inesperado papel de anfitriã. Mas nunca pude ir à Jamba.

Estas algumas das personalidades com que cruzei em vários continentes. Mas há, também, os amigos, que ficam para toda a vida, mesmo que os contactos possam rarear. Destaco três, que admiro imenso:
A Ministra da Imigração de Olaf Palme, Anita Gradin, presidente da Internacional Socialista de Mulheres, mais tarde Comissária da Suécia na UE.
A Secretaria de Estado da Imigração de Mitterand, Georgina Dufoix, depois Ministra e porta voz do Governo.
O Secretário de Estado responsável pela Imigração do Luxemburgo Jean Claude Junkers, hoje Primeiro-ministro.
Com Anita fui sempre mantendo o contacto, passei dias em sua casa e ela na minha. Com Georgina, não. Reencontrei Junkers, ao fim de muitos anos, em Estrasburgo, no hemiciclo do Conselho da Europa. Maria Elisa, então aí minha colega, assistiu ao reencontro com o seu olhar de jornalista, e descreveu-o, minuciosamente, na sua crónica do DN...

E há, também, alguns Embaixadores em Lisboa que entram neste muito restrito círculo. Os brasileiros (que, para mim, não são verdadeiramente estrangeiros), Alberto e Vera da Costa e Silva e José Aparecido de Oliveira, o "pai" da CPLP. E a notável mulher forte de Israel, Colette Avital,que, depois, enveredou pela política, no partido de Shimon Peres


OS POLÍTICOS E$TRANGEIROS
O facto de estar à frente de uma das Secretarias de Estado do MNE permitiu-me conhecer, também, muitos políticos estrangeiros, muitos Chefes de Estado, Reis e Raínhas e presidentes. A lista é infindável, se considerar apenas um cerimonioso cumprimento, breves conversas: de sul para norte, os Reis de Espanha (que simpático, o Rei Juan Carlos!), Mitterand, Isabel II, Carlos e Diana, o Rei Balduíno (o que mais me impressionou, com o seu ar de imensa bondade), a Raínha Beatriz da Holanda (encantadora, extrovertida, cheia de vida), o Grão Duque e a Grã-Duquesa do Luxemburgo (menos exuberantes do que Beatriz da Holanda, mas não menos simpáticos), a actual Grã-Duquesa Maria Teresa (com quem dialoguei em seminários do Conselho da Europa - surprendente na defesa de boas causas, inteligente e bem informada), a Rainha Margarida da Dinamarca (simples e brilhantíssima) o Rei e a Rainha da Suécia, Gorbachev. Da África, Mandela (talvez o maior Homem do século XX), Sisulo, o Presidente De Klerk e a mulher Marika (que era de remota origem portuguesa e me convidou para almoçar na Cidade do Cabo), Pick Botha (a esse ofereci-lhe eu, em nome do MNE, um almoço nas Necessidades e tive, depois, vários contactos em reuniões e recepções- era um orador fulgurante, espectacular e um homem muito sociável e divertido). Sem esquecer o rei Hassan II e o actual Rei de Marrocos. Do Brasil, meros cumprimentos formais a sucessivos Presidentes, Sarney, Cardoso, Lula, conversa e almoço restrito com Collor de Mello. Da Venezuela, Chavez (divertidíssimo a nossa conversa na AR, pouco depois da sua tomada de posse). Dos EUA, Jimmy Carter (na Ajuda), Ted Kennedy (em Washington, numa missão parlamentar em defesa de Timor) e Hillary Rodham Clinton (na Embaixada dos EUA em Lisboa, numa restrita mesa redonda só com mulheres portuguesas, Maria Barroso, deputadas - gostei sou uma indefectível da srª Clinton, que seria, naturalmente, a minha candidata nas últimas eleições americanas).
A maior das surpresas, o caso mais evidente de "conversão" foi Jacques Chirac. Não gostava nada dele, pelo que até aí vira na TV e tive a oportunidade de mudar de opinião durante as conversações da visita do Primeiro-Ministro de Cavaco e Silva a Paris, em 1987. o "charme" de Chirac! A vivacidade, o humor - um certo ar iconoclasta. Foi particularmente simpático comigo e, se outros não tivessem interferido, acho que, através dele, teria resolvido a reivindicação "impossível" doe emigrantes de então - que era o pagamento integral do abono de família aos filhos que viviam fora do território francês.
Com Chissano e Com Xanana Gusmão "a corrente" passava. A Xanana, não resisti, dei um abraço retribuído, durante a sessão de cumprimentos, quebrando o protocolo - depois de o ouvir no Senado, em lágrimas. Ramos Horta era mais da "casa", esteve muitas vezes conosco nas comissões, em conversações. Sempre unidos por Timor. Em 87 ou 88 fui peticionária, a convite de organizações timorenses, nas Nações Unidas, em NY.
Outro extraordinário líder africano, que recebi ne AR foi Jonas Savimbi. Dele podem dizer o que quiserem, excepto que encheu os bolsos de diamantes e foi viver à grande num paraíso estrangeiro, como um corrupto igual a tantos outros . Não! Ele morreu pobre e solitário, de armas na mão, a combater, até ao último minuto de vida, por aquilo em que acreditava. Quando digo que o recebi, assim , na 1ª pessoa, é porque fui eu que o convidei e que requisitei ao Presidente Crespo o uso da sala do Senado, para uma reunião com ele. Eu era então Vice-Presidente da Assembleia e ele não se opôs (eram outros tempos: agora até para receber o Dalai Lama esse ou outro os espaço nobre é recusado!). Savimbi era um homem inteligentíssimo, um orador fantástico, com o senado cheio (de voluntários, evidentemente), discursou e respondeu a perguntas durante cerca de uma hora. Houve jornalistas e muito mediatismo, pois er a sua 1ª viagem a Portugal. Foi através da Fátima Roque, minha amiga, que me vi nesse inesperado papel de anfitriã. Mas nunca pude ir à Jamba.

Estas algumas das personalidades com que cruzei em vários continentes. Mas há, também, os amigos, que ficam para toda a vida, mesmo que os contactos possam rarear. Destaco três, que admiro imenso:
A Ministra da Imigração de Olaf Palme, Anita Gradin, presidente da Internacional Socialista de Mulheres, mais tarde Comissária da Suécia na UE.
A Secretaria de Estado da Imigração de Mitterand, Georgina Dufoix, depois Ministra e porta voz do Governo.
O Secretário de Estado responsável pela Imigração do Luxemburgo Jean Claude Junkers, hoje Primeiro-ministro.
Com Anita fui sempre mantendo o contacto, passei dias em sua casa e ela na minha. Com Georgina, não. Reencontrei Junkers, ao fim de muitos anos, em Estrasburgo, no hemiciclo do Conselho da Europa. Maria Elisa, então aí minha colega, assistiu ao reencontro com o seu olhar de jornalista, e descreveu-o, minuciosamente, na sua crónica do DN...

E há, também, alguns Embaixadores em Lisboa que entram neste muito restrito círculo. Os brasileiros (que, para mim, não são verdadeiramente estrangeiros), Alberto e Vera da Costa e Silva e José Aparecido de Oliveira, o "pai" da CPLP. E a notável mulher forte de Israel, Colette Avital,que, depois, enveredou pela política, no partido de Shimon Peres

Um Príncipe, não muito político


Em relação a alguns dos nomes citados, não dá para dizer mais nada. Com outros há. Mas alguns dos episódios mais divertidos, só posso contar em círculo fechado, porque não sei se os ilustres interlucutores achariam mal. É um natural dever de reserva. Só perde sentido, obviamente, se isso já é do conhecimento público - ou porque havia muita gente por perto, ou porque chegou aos "media" ...
A minha primeira conversa com o Principe Filipe (de Inglaterra) está neste último caso. Estávamos na Ajuda, num daqueles soleníssimos banquetes de uma visita de Estado, em que quem tinha recebido condecorações as devia ostentar, desde logo por uma questão de cortesia. Assim, sobre um vestido comprido, de cor beije, usava eu, a tiracolo, a larga faixa da minha Grã-Cruz da Ordem do Império Britânico. O casal régio e o casal presidencial desfilavam entre filas de convidados, cumprimentando graciosamente com um simples olhar e sorriso, à esquerda e direita. O Príncipe estacou, quando me viu, tão grande foi a surpresa. Seguiram os outros e ficou ele para trás à conversa comigo, pouco ralado com o protocolo. Jovialmente, foi directo ao assunto, apontando a vistosa Grã-cruz:
"Como conseguiu isso?"
E eu, no mesmo tom, muito embora com "Your Highness" ou "Sir", pelo meio das frases: "Pelo facto de ser Secretária de Estado da Emigração"
"Sim, claro - continuou - há muitos portugueses, sobretudo na Ilha de Wight".
Não era nessa ilha, mas eu acenei com a cabeça, sorrindo muito, como se fosse, poupando palavras, porque acho que a realeza não se corrige ou desmente, em conversas de salão. Ele próprio se deu conta do erro: "Não é em Wight, é em Jersey e Guernsy".
Era, pelo que recuperei o uso da palavra e confirmei. Nessa altura, o Principe inesperadamente, indagou: "E como é que eles foram para lá?"
"Primeiro foram dois ou três. Gostaram, contaram à família e aos amigos, e eles seguiram-nos. Cada vez em maior número, até serem milhares e milhares".
Filipe de Inglaterra aceitou como boa a explicação, despediu-se e foi em demanda do "grupo da frente", que já ía bem longe.
Achei-o muito descontraído, no género do Doutor Soares .






SISULU
Só mais uma, passada em Capetown, muito pouco tempo depois da libertação de Mandela e de vários dos seus famosos companheiros de luta, um dos quais Walter Sisulo:
Cutileiro era o nosso Embaixador. Fez um trabalho excelente, foi o primeiro, ou um dos primeiros embaixadores a contactar os líderes do ANC e a proporcionar a visitantes portugueses os encontros possíveis com esses futuros dirigentes do país. No meu caso - era, então, vice-presidente da AR - um encontro foi marcado com a Srª Sisulo, uma feminista, no gabinete do advogado dela, de Mandela e de outros.
Estava antecipando a sintonia de posições com a velha senhora, quando a porta se abre e entra um homem, muito extrovertido, sorriso largo, braços aberto, dá-me um grande abraço e exclamou: “A minha mulher está com gripe, de cama, e eu venho substitui-la”. Era Walter Sisulo, é claro. Gostei imenso dele – a conversa não teve tempos mortos!
Acabava de sair de anos e anos de prisão, sem ódio, sem ressentimento, e só parecia querer recuperar o tempo perdido e apressar o futuro democrático da África. O milagre que ai aconteceu só foi possível, porque eles são assim. Guardo essa sua imagem como a premonição do grande momento da história que a RAS, se preparava para viver.


De volta à infância...

Também há memórias do que era menos bom, do que ensombrava um dia perfeito. Por exemplo, aqueles enormes laçarotes de seda, que me encaixavam com longos ganchos nos cabelo muito lisos. Detestáveis, todos! Ou os enormes chapéus de palha que era obrigada a usar em dias de sol e os vestidos cor-de-rosa, uma côr que ainda agora evito, instintivamente. Era o tempo em que, para além de tecidos estampados de florinhas, se usava para meninas, essencialmente, o rosa, o branco e o azul. Preferia o azul, mas esse estava sempre reservado para a minha irmã, que tinha uns bonitos olhos dessa cor e, para mim sobrava o rosa...
Decepcionantes, também, os presentes que recebi no dia da comunhão solene: uma grande quantidade de terços de prata, uma canete permanente verde e feia, uma máquina fotográfica tipo cubo, grande e já então com um ar arcaico - -em verdade, nada de que me recorde pela positiva...
E a crise que provoquei mesmo à hora de sair para a Igreja em Avintes. Não podia comungar! Acabava de me lembrar, subitamente, de um pecado grave, cometido na véspera. Felizmente, em casa da Avó Olívia, tal como em casa da Avó Maria, eram frequentes as visitas de Padres e, nesse dia de festa, estavam lá 2 ou 3. Um foi logo voluntário para me ouvir em confissão e para me absolver. Só ele soube o que acontecera na véspera... Regressava eu sozinha a casa, descendo a 5 de Outubro, quando uns rapazes me disseram qualquer coisa imprópia. Corri atrás deles, apnhei um e bati-lhe. Na altura achei natural a reacção. Mas já de longo vestido branco e véu a acompanhar, veio-me ao pensamento o episódio e fiquei cheia de problemas de consciência. Depois de perdoada, rezei as "Avé Marias" da penitência e lá segui em paz, e tudo o mais foi bonito de viver...
Também em outro momento de glória, tempos antes, tinha eu 4 ou 5 anos, outro incidente perturbou a beatitude exigida pelo traje: estava eu vestida de anjo - amarelo - com grandes asas para participar numa procissão em Gondomar (depois de um braço -de -ferro entre os meus pais, que eram contra, e a Avó Maria, que compreendia melhor a aspiração da neta...). E eis que vem a prima Inês, sabe-se lá porquê, resolve dar-me um grande estalo na cara. Com as asas a abanar, eu, anjo amarelo, parti em perseguição da prima, até lhe retribuir a bofetada, em triplicado... A Avó ficou siderada com a impropriedade da conduta. Recuperei, depois, a pose, e as fotografias que há só mostram o anjo sereno, radioso e radiante...

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