sexta-feira, 10 de junho de 2011

O nosso amigo RUSSEL

Pedro Roseta e eu recebemos, em São Bento, Lord Russel-Johnston, à época Presidente da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa.

Com imensa honra e grande alegria.

Russel-Johnston, antigo presidente do Grupo Liberal, a que pertencemos, era um figura emblemática do "Conselho de Europa", um verdadeiro humanista, homem de cultura, de convicções e de coragem, temível pela sua linguagem directa e frontal e frequentemente heterodoxa, no fundo e na forma... Russel era um grande, grande amigo de nós os dois. Não tenho dúvida em elege-lo, na esfera internacional, como aquele que mais admirava, que mais acompanhava na maioria das suas posições políticas e que, pelo estilo, pela irreverência, mais me divertia! (Aqui, em pose de Estado, ninguém diria, mas é a pura verdade!)

Nós gostavamos tanto de Russel como ele gostava de nós. Mostrou-o bem quando se bateu por ambos, para ocuparmos as candidaturas às comissões que caberiam ao Grupo liberal - Pedro para a Cultura e eu para a Comissão de Migrações, Refugiados e Demografia. Isso significava que 100% das Comissões dos Liberais ficavam a pertencer a Portugal. Quando algumas vozes tímidas se levantaram contra a "hegemonia" lusitana, ele respondeu, alto e bom som, que ali não se discutiam nacionalidades, antes se escolhiam os melhores. E mais protestos não houve. Vivemos no criativo consenso que Russel sabia criar à sua volta!

Fui uma das mais activas participantes na sua canpanha eleitoral para a presidência da Assembleia, que não foi muito fácil, dado o jogo partidário. Mandou-me depois uma foto, com legenda: A minha melhor activista da campanha, desempenhando a sua tarefa favorita. A foto mostrava-me a votar na eleição que ele ganhou, destacadamente. Nunca me esquecerei do cerimónia da sua solene tomada de posse, nesse cargo supremo da APCE. Da Escócia veio a família, os filhos de Kilt, com as cores do clã... Disse as coisas que se esperavam ouvir de um dos mais formidáveis parlamentares britânicos, daqueles que falam sem papel escrito... um humanista, um inovador. Mas, ainda assim, o mais inovador foi o começo do discurso, aquele onde o "nosso Russel" se mostrou como era em privado, àquem da solenidade. Com a graça com que os anglo-saxónicos sempre se permitem, antes de entrarem na parte filosófica ou política da intervenção, partilhou connosco o desejo de ver ali, incrédulo, espantado, (por o ver naquele lugar, o seu velho "mestre- escola", com quem tinha tido tantos contenciosos, a ponto de sonhar, como as crianças sonham, fazer, um dia, por artes mágicas, jorrar do tinteiro da secretária, golfadas, vagas gigantescas de tinta de escrever, a ponto de afogar toda a escola, fazendo-a desaparecer do mapa da ilha e da sua vida...

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