terça-feira, 6 de julho de 2010

ENTREVISTA TORONTO - Drª HUMBERTA

1 - A Associação Mulher Migrante tem tido um papel importante na abordagem das questões do género e do fenómeno das migrações. Em termos práticos como avalia o papel da mesma?
Para quem não conhece a “Associação Mulher Migrante” diria duas palavras sobre a sua instituição, em 1994 : com ela se pretendia dar continuidade ao primeiro Encontro Mundial de Mulheres Migrantes no Associativismo e no Jornalismo, que se realizou em Junho de 1985, pela mão do governo português, cumprindo uma recomendação de Maria Alice Ribeiro, feita através do Conselho das Comunidades em finais de 84 (Maria Alice Ribeiro, a inesquecível jornalista de Toronto e Conselheira das Comunidades!).
Uma das propostas do Encontro (que foi, graças a qualidade e ao entusiasmo dessas mulheres de elite que nele participaram, um sucesso, para alem de ser um evento pioneiro a nível nacional e europeu), pretendia que fosse criada uma organização transnacional capaz de continuar o trabalho encetado de motivar crescentemente as mulheres para a vida comunitária, promovendo reuniões e congressos periódicos.
Eis o que se propunha fazer a Associação, considerando-se herdeira desse projecto e agregando um núcleo de mulheres e homens interessados na problemática das migrações femininas - tanto nos aspectos teórico, de estudo, de conhecimento da realidade, tal como nos aspectos práticos, de acção concreta.
Fazendo um breve balanço destes 16 anos de vida, eu diria que a Associação, enquanto rede de organizações internacionais, tem tido dificuldade de expansão, e de assegurar um funcionamento regular a esse nível, continuando aquém do que desejaríamos que fosse.
Pelo contrário, dentro do pais excedeu as expectativas, tornando-se um verdadeiro parceiro dos departamentos governamentais para a igualdade e para a Emigracao, ao longo destes anos, de uma forma constante e eficaz. Tem contribuído, assim, decisivamente, para a emergência de uma componente de género nas politicas de emigração, que, antes e depois do 25 de Abril, quase não existia ( a menos que, antes de 74, se considerasse como tal as proibições ou limitações acrescidas que as mulheres sentiam para sair do pais...).
Foi sobretudo através do que alguns chamam “congressismo” – dialogo e reflexão em congressos, seminarios, colóquios, reuniões conjuntas entre ONG’s e governo – que se avançou neste domínio, desde o grande encontro de 85.
A Mulher Migrante foi organizadora do segundo Encontro Mundial de Mulheres Migrantes em 95, responsável por muitas iniciativas num circulo mais restrito de especialistas no pais e no estrangeiro, e, mais recentemente, pelos “Encontros para a Cidadania”, que, entre 2005-2009, se levaram a efeito em quatro continentes do mundo para apelar a intervenção civica e politica das mulheres, contando com o patrocínio e a presença de membros do Governo - os Secretários de Estado Jorge Lacão e Antonio Braga.


2- Sabemos que se deve a mulher imigrante o transporte de muitas das tradições e tem sido elas a base invisível do sucesso de muitas das empresas que em diversos ramos da economia estabeleceram o nome de Portugal no estrangeiro: da restauração, limpeza, importação de produtos ligados a gastronomia tradicional, agências de viagens, instituições culturais, imobiliária, creches privadas entre muitos outros. Todavia este poder não tem equivalência em termos de visibilidade ou de poder de decisão. Porque do seu ponto de vista?


Concordo em absoluto com as afirmações sobre a importância do papel das mulheres na vida das comunidades do estrangeiro. Sem elas nem sequer haveria verdadeiras comunidades de língua e cultura portuguesa, pois foi decisiva a entrada das família inteiras nos clubes, mulheres, jovens, para alem dos homens que tradicionalmente os encabeçam, para lhes dar a sua vertente cultural – o ensino da língua, a musica, a dança, o teatro, as festas tradicionais, a gastronomia.
Mas as mulheres, no passado, (no presente as coisas estão a deixar de ser assim...) reproduziam nestes espaços colectivos, o seu papel tradicional no interior da família, aceitando um lugar apagado, ainda que relevante, o que as tornava praticamente invisíveis.
Só se pode sair desta situação por determinação das próprias mulheres e de todos os que compreendem que esse apagamento das suas potencialidades não aproveita a ninguém. As comunidades precisam, cada vez mais, da activa intervenção, do entusiasmo de mulheres, das jovens. Há que lhes dar autoconfiança e orgulho de serem o rosto feminino da comunidade, em instituições mais fortes e equilibradas, do ponto de vista de género e de geração. Em alguns pontos do mundo a sobrevivência das comunidades ja depende dessa sua atitude inovadora!



3 O debate da mulher imigrante nos Órgãos de Comunicação Social tarda. Os problemas são inúmeros. Este e sem duvida um encontro de toda a utilidade. O que espera ele possa trazer para melhorar a situação da mulher repórter na diáspora?

– Sim, tarda e, por achar que sim e que resolvemos apresentar ao SECP Antonio Braga este projecto de organizar em colaboração com os consulados de Portugal de cada área, com meios de comunicação e associações das comunidades e com universidades locais, seminarios sobre “a Acção e representação das mulheres nos media e nos multimédia”.
Com estas iniciativas, queremos, antes de mais, chamar a atenção para o desfasamento entre as contribuições da mulher para a comunidade e para o pais e a sua imagem nos media, quer nacionais, quer também, em gradações diferentes, nos das comunidades da diáspora. Dizia Elina Guimarães que a mulher estava ausente da história porque a sua parte nela não era contada. O mesmo se pode, em certa medida dizer da história do quotidiano, que se regista nos media: lemos as noticias do jornal, assistimos ao telejornal e não ficamos a conhecer o que faz a metade feminina nas artes, na politica, no desporto, na universidade... A proporção de noticias, de reportagens de fotografias sobre os feitos de homens e mulheres e espantosamente desequilibrada, indo alem do próprio desequilíbrio que persiste em certos domínios da vida societal e politica, em desfavor do sexo feminino.
Acho que este fenómeno se pode combater de varias formas, começando por estudos sobre o conteúdo e a iconografia dos media e a sua divulgação e discussão publica – uma legitima e elegante forma de pressão. E, bem assim, por acções concretas, por uma exigência maior das próprias mulheres em ganharem o seu espaço, escrevendo artigos de opinião, utilizando os novos meios tecnológicos - mais acessíveis a todos - lançando campanhas na Net, em blogues, contando as suas experiencias de vida, fazendo carreira nos media, pela qualidade da formação e pela vontade de intervir. Fazer pedagogia, estimular a leitura dos media, com uma maior sensibilidade para os estereotipo sexistas, para a ausência de atenção aos problemas e as realizações das mulheres, na sociedade de hoje. Das mulheres em geral e das mulheres migrantes em particular (eu acrescentaria, no que respeita aos media nacionais, de mulheres e de homens migrantes, porque a nossa emigracao e diáspora anda muito esquecida da Opiniao publica ...).



4 - Falta de formação profissional contínua, a inexistência de uma ligação laboral/sindical que garanta justiça salarial e contratual, acesso aos lugares de decisão nas redacções, um sistema de apoio, informação e uma regulamentação que reconheça o seu trabalho a par dos colegas portugueses para fins de segurança social é algumas das questões levantadas por muitas jornalistas nas comunidades.
Que reposta pode ser dada por parte das entidades portuguesas?

- A resposta a essa questões justas e pertinentes, em termos de medidas concretas, não esta ao alcance de uma ONG com a Mulher Migrante, mas cabe perfeitamente no ambito dos nossos objectivos de estudo e de proposta de soluções, nomeadamente após debates públicos, em colóquios ou reuniões de trabalho, metodologia que, como referi, temos privilegiado.
Assim, num próximo seminário poderíamos dedicar-lhe um espaço adequado. Se houver interesse na nossa colaboração para o fazermos em Toronto ou em Lisboa, em Espinho, num futuro próximo, desde já manifesto toda a disponibilidade.
Poderíamos chamar a essas reuniões as autoridades competentes e ouvir da sua boca a reacção – positiva, esperemos, embora nem tudo possa, eventualmente, ser resolvido do mesmo passo... Pela minha parte, entendo que, como regra geral, devemos olhar solidariamente os portugueses do estrangeiro, como nacionais com os mesmos direitos face ao Estado. No domínio do jornalismo há que saber encontrar a formula concreta para aplicar o principio geral. Em diálogo, naturalmente!


5 - Sem dúvida que a entrada da mulher na tomada de poder nos OCS tem trazido consigo mais justiça e uma imagem mais real dos assuntos abordar pelos media. O que acha pode ser feito junto dos empresários e direcções redactoriais para que haja mais pluralidade e justiça nas redacções comunitárias? Sem dúvida que a entrada da mulher na tomada de poder nos OCS tem trazido consigo mais justiça e uma imagem mais real dos assuntos abordar pelos media. O que acha pode ser feito junto dos empresários e direcções redactoriais para que haja mais pluralidade e justiça nas redacções comunitárias.



Como em todas as profissões e domínios da vida social uma intervenção maior das mulheres, enquanto metade da humanidade tradicionalmente discriminada, assim com a intervenção de grupos minoritários, de estrangeiros representa um enorme enriquecimento, para alem de ser um acto de justiça.
Em Portugal, como e sabido, as jovens são, por puro mérito das classificações, hoje, uma maioria nas universidades e começam a ser maioritárias em muitas profissões que lhes estavam vedadas pela lei , como a magistratura ou a diplomacia, ou pelos usos, como o jornalismo. Mas a sua presença, em massa, nos media portugueses, hoje em dia, contribuindo para a qualidade do jornalismo que temos, com já contribui, não significa por si so uma mudança na forma de representar as mulheres nos media. Para isso seria necessário que elas próprias estivessem conscientes do problema existente (umas estarão, outras não...) e que tivessem acesso aos centros de decisão, de forma igualitária. Estamos longe disso... Uma razão mais para não parar o trabalho, que, na medida das nossas modestas possibilidades, estamos determinadas a continuar: porque não, por exemplo, novas acções de sensibilização desses aliados preciosos que são os directores e empresários dos media.




5 - A terminar questões da língua.
As questões salariais e laborais não atraiam jovens para os OCS. A par disso há o problema da língua Portuguesa. Muitos dos que escrevem para os jornais em português, por questões de idade e outras, acabarão por abandonar o que para muitos não passa de hobbies. Como chamar jovens profissionais interessados/as pela profissão ou pela língua para garantir o futuro da nossa média.


– Na agenda da Mulher Migrante para a promoção da participação feminina, os media tem um lugar central, a par do associativismo, porque são os pilares em que se fundam as comunidades, os meios através dos quais se afirmam e se dão a conhecer. Por isso e tão importante que as portuguesas neles estejam presentes e deles se sirvam para potenciar meios de valorização e de transmissão da língua, dos projectos, das aspirações. Estamos conscientes da importância de lutar pela língua, através da “media”, de a engrandecer literariamente e como veiculo de formação e informação. Acho que seria possível por em pratica um sistema de intercâmbios com estudantes dos cursos de jornalismo existentes nas universidades portuguesas, ou dar bolsas de estudo para sua frequência, ou facilitar, em larga escala, estágios nos meios de comunicação “de referencia”. Independentemente do problema do estatuto salarial e laboral, sem negar a sua importância num jornalismo de qualidade, que possa atrair os melhores (o que tem muito a ver com outra questão impossível de abordar em poucas palavras - a capacidade empresarial dos próprios meios de comunicação e a receptividade e apoios que encontram nos meios associativos e empresariais de cada comunidade), creio que também e preciso motivar os jovens para a aprendizagem da língua e para a admirável “aventura” de fazer com essa bela língua, ainda que sem as condições materiais mais aliciantes, jornalismo de causas, de ” intervenção” – intervenção em prol da cultura, da democracia, da igualdade, das tradições portuguesas, e também da historia, que o grande jornalismo pode e deve traçar em cada época, em cada comunidade. Eu sei que há nas nossas comunidades profissionais tão bons ou melhores do que os melhores que estão no pais. Preciso e que os jovens, de ambos os sexos, sejam apoiados, nas suas comunidades e, também através de programas governamentais, como os que referi, e outros, para que aceitem o grande desafio do jornalismo em português

terça-feira, 22 de junho de 2010

O DOURO DE BALBINA MENDES

Balbina com a sua nova e fantástica exposição sobre máscaras rituais, estará, de Julho a Agosto na grande galeria do Museu Municipal de Espinho.
É altura de recordar a anterior exposição sobre o rio Douro, e a apresentação que fiz do livro dessa exposição na cidade de Gaia

" Nesta publicação de 50 óleos de Balbina Mendes, duriense de Miranda, podemos acompanhar e refazer, a nosso modo, com a nossa própria sensibilidade, uma singular "viagem de achamento" de 900 KM de curso de um dos mais fascinantes rios do mundo, o Douro, da nascente, na serra de Urbion à foz, à vista da serra do Pilar, passando Porto e Gaia para se fundir nas águas do Atlântico.
A ideia, em si, era tão esplêndida quanto exigente! A sua transposição para a tela conseguiu tornar-se em verdadeira homenagem ao rio, num retrato multifacetado que no livro encontra a forma de se manter aberto ao nosso olhar, em cada sucessivo manuseamento. É o Douro na sua dimensão maior, o que se vê e o que se vislumbra, serpenteando, cheio de mistérios, entre arribas, vinhedos, amendoeiras em flor, nas nas sombras e nas presenças, por vezes só pressentidas das suas gentes - as que , em duros labores, transformaram a fisionomia de montes e vales. As que contam histórias na pedra dos monumentos e castelos, nos costumes e ritos ancestrais, guardados na memória dos povos ribeirinhos, na pena dos mais insignes cultores literários,de Pascoais a Junqueiro, a António Machado,a Unamuno e Torga.

Uma das facetas que gostaria de salientar nesta perfeita simbiose das duas linguagens, a das imagens e a das palavras, neste pôr em diálogo as várias artes de que se constroi a totalidade (a arte da pintura de Balbina Mendes, recriando, com paixão, a arte da natureza - o "poema geológico", na expressão de Torga - e a arte da escrita de poetas e prosadores, a ilustrar cada uma das 50 obras, com a citação que os "enquadra") é o dar aso ao nosso subjectivismo,, ao nosso próprio imaginário, que nos leva a adivinhar outras visões e prespectivas do uma realidade que nos é familiar e nos reelmbra experiências vividas e logo revividas. Assim fazemos a nossa própria "peregrinação sentimental inspirada nas cores de bruma e ocre eouro, com que Balbina nos transporta consigo a um Douro mutável, como um estado de alma, mas perene, como a verdade das coisas e das pessoas que lhe pertencem , vomo nós pertencemos.
O Douro merecia um tributo assim. Esta magnífica publicação só foi possível por se ter convertido em projecto comum de todos os que se uniram para lhe dar ser: autarcas,,governadores civis, departamentos regionais da cultura e do turismo, o IPTM, o Parque Nacional do Douro Internacional, ONG's como a Associação Ibérica dos Municípios Ribeirinhos do Douro, A Fundação Hispano-Portuguesa Rei Dom Afonso Henriques, companhias seguradoras, a banca, empresas como a Taylor's - nome do vinho fino, que não podia faltar a este chamamento. Sem esquecer o patrocínio do ministério da Cultura, discreto embora, para que o enfoque principal incida nos seus departamentos regionais. Destarei, se me permitem, o coordenador, Dr. António Pires, que tem uma parte fundamental na finalização desta obra, tanto pela forma como viabilizou a grande "expedição cultural" de Balbina, aos confins do douro, como pela qualidade dos seus textos introdutórios, que apetece citar e citar, porque é impossível expressar melhor o sentir comum. Só resisto a fazê-lo aqui, para que, numa relação directa, os leitores tenham o prazer de o descobrir, eles mesmos.
Balbina oferece-nos a baleza primorosamente captada de um Douro para além das fronteiras da nosa geografia - que são, infelizmente para muitos portugueses as fronteiras do rio como o conhecem - indo às suas origens castelhanas e leonesas do "Duero".
Sublinho a importância desta vertente internacional, em imagem e na escrita, na várias línguas do douro, o português, o castelhano, o mirandês. convite à união das suas gentes, à volta de uma herança e um património partilhados. O Duero de Tordesilhas, do castelo de Penhafiel, de salamanaca e zamora, tanto quanto o Douro de Miranda, de freixo-de-Espada-à-Cinta e do pinhão - ou o que já prenuncia a proximidade do mar, sob as velhas e as novíssimas pontes que ligam o Porto a Gaia.
Rio peninsular legendário, que pela espectacularidade das paisagens, tantas delas trabalhadas pela mão dos seus povos se ergueu às alturas de património universal da Humanidade.
A artista, todavia, naõ cedeu à tentação de retratar a limpidez e a formosura correntes de água que desliza, lenta ou apressadamentwe entre as margens, em cenários da "beleza absoluta" de que fala Torga e que Unamuno elege como a mais bela, a mais agresta, a mais impressionante da Espanha inteira. Quis dar-nos, também, a dimensão da sua envolvente humana, da vivência multisecular de usos e costumes, num apelo a que se mantenham como factores da nossa identidade: as eiras de pedra, as cozinhas antigas, os instrumentos musicais, a pastorícia, os barcos rabelos, as juntas de bois, os burricos, os pombais, os ninhos de cegonha, a raposa ibérica, sa tonalidades raras das uvas e das ceifas...
"Caíram as primeiras chuvas de outono e a terra brilha" no dizer de Manuel Mendes e na tela de Balbina assim a vemos!
Do mesmo modo acompanhamos Machado quando penetramos no pinhal coado de luz pela pela subtil pincelada da Artista e logo a imaginamos habitada pelos vultos "que cabalgan em pardas mulas bajo el pinal de Vincesa".
tal como a narrativa dos namorados que trocam beijos à vista da torre vermelha do farol, na Foz do Dourose desenha num diálogo de contrastes com o mar embravecidoempano de fundo do gestos ternos do quotidiano: "Con tu poema hasta al mar".
Poema do rio, das tonalidades fulgurantes de balbina, do verbo inspirador dos pensadores durienses eis o livro que reune e perpetua a ideia original feita em obra de arte.
Os quadros vão ainda cumprir o seu roteiro de exposições, que terminará em newark, a 10 de Junho, depois seguirão o seu destino de dispersão em colecções particulares, mas estão todos no livro que vamos guardar. Nas suas páginas poderemos, a nooso bel prazer, revisitar este Douro, da sua nascente, longe, ao seu porto de chegada, a sua Foz, tão nossa!

segunda-feira, 31 de maio de 2010

PORTUGAL
Território e Cultura

"Fazei, Senhor, que nunca os admirados
Alemães, Galos, Ítalos e Ingleses
Possam dezer que são pera mandados
Mais que pera mandar, os Portugueses"

Há anos, um dos nossos grandes políticos, intelectual, professor catedrático, propôs que o Dia de Portugal passasse a ser aquele em que se comemora a batalha que consolidou no trono o primeiro rei, Dom Afonso Henriques, como sendo o dia em que, por esse facto, se abre o caminho à independência nacional.
Nunca me tinha encontrado em maior desacordo com ele - pessoa que estimo e admiro... A meu ver, uma Nação pode fundar-se em inevitáveis confrontos bélicos, mas é na vivência, na persistência, na cultura que se refunda, duravelmente, pelo que acentuar este último aspecto, sem desvalorizar o primeiro, só é de enaltecer...
Foi preciso, é certo, um território nosso para existirmos, mas a Nação construiu-se pela vontade política de sermos Portugueses, com a nossa língua, crenças, tradições, feitos e projectos colectivos, independência verdadeira (para dedidir, e "pera mandar", na expressão do Poeta), com a capacidade de continuar um percurso histórico, cada vez mais longo, cada vez mais disperso, pelas sete partidas do mundo, com uma presença universal encarnada em milhões de cidadãos expatriados...
"Portugal é mais uma cultura do que uma organização rígida".
Lembro-me de ouvir estas palavras do Dr. Francisco Sá Carneiro, em 1980. Ficaram comigo, para sempre, como uma síntese feliz do que somos e queremos ser: uma cultura em expansão - em comunidades situadas na geografia de todos os continentes. Uma língua das mais faladas a nível planetário, no século XXI, um elo de ligação entre povos que partilham passado, presente e, previsivelmente, partilharão futuro.
Por isso, mais do que guerras, confrontos, conflitos, dentro de fronteiras e no espaço de um império (que também os houve e foram uma parte do processo de "Expansão"...), o que perdura, como matriz deste Portugal maior, é a sua cultura e experiência de convívio com outras culturas.
Que imagem do País, captado nesta sua essência esplêndida e eterna, poderíamos nós encontrar, melhor do que a dos poemas Camões, melhor do que a da Diáspora - a dos portugueses habitam, ainda agora, muitos dos lugares do nosso mítico passado?
A proposta que comecei por referir é, afinal, bem característica de uma certa forma de insatisfação nacional, a obsessão da mudança pela mudança, ou de uma subserviente a imitação de exemplos estrangeiros. Tendo nós encontrado uma fórmula ideal de nos olharmos, de nos mostrarmos, de bem connosco e com os outros, no simbolismo do dia nacional, ainda assim havia quem quisesse uma alternativa, evocando querelas e pelejas entre mãe e filho, entre clãs da aristocracia da época, apartando a Galiza, hoje cada vez mais próxima, distanciando de nós, na celebração, a memória dos Lusíadas de tempos idos, e dos novos Lusíadas, os emigrantes do tempo que corre!
Não teve acolhimento a sugestão e, assim, Portugal continuará, de uma forma tão original e tão expressiva dos seus valores, a rememorar Camões e as Comunidades Portuguesas, a 10 de Junho.
E, como bem sabemos, os que tivemos, como eu tive, a sorte de viver esta comemoração, ano após ano, junto de muitas e diversas comunidades da Diáspora, a celebração é mais sentida, mais emotiva, mais agregadora, fora do próprio território pátrio do dentro dele.
Esta é para mim, por tudo isto, uma data muito especial, cheia de recordações e de saudades. Uma ocasião para dizer aos amigos do Brasil e de outras comunidades, que eles são, para nós, motivo de imenso orgulho e, sobretudo em momentos de assustadora crise e de incerteza, como os que atravessamos, uma razão de esperança!
É a hora de reler os versos do Poeta, e, nas suas palavras inspiradas, adivinhar ou buscar a profecia:
"Olhai como depois de um grande medo
Tão desejado bem logo se alcança".

Maria Manuela Aguiar

sexta-feira, 28 de maio de 2010

As Mulheres na República dos Homens

Tertúlia no salão com vista para o mar da Biblioteca Municipal.
Primeiro, uma simbólica homenagem a Carolina Beatriz Ângelo, no dia em que se completam 99 anos sobre a data em que ela se tornou a primeira mulher portuguesa, e uma das primeiras no mundo, a votar na eleição parlamentar. Alunos da Escola Domingos Capela reconstituiram a cena, revelando-se como promissores actores de teatro.
O guião ficou a cargo da Professora Mestre Arcelina Santiago, que se inspirou na carta da própria Carolina, a descrever as vissicitudes que rodearam o histórico acto eleitoral. Muito bem!
Eles, os jovens, não esquecerão mais esta notável Mulher. Vamos ajudar a ressurreição da sua memória. Para o ano, havemos de celebrar, com pompa e circunstância, o centenário deste voto.
Na 2ª parte, uma mesa redonda com mulheres da República de hoje, que continua a ser, fundamentalmente, uma república de homens. Mulheres pioneiras no concelho de Espinho:
Profª Elsa Tavares, a primeira vereadora e presidente da Câmara; Drª Saudade Teixeira Lopes, a primeira deputada da Assembleia Municipal; Profª doutora Graça Guedes, a 1ª presidente da Assembleia Municipal e a mais jovem, Lígia Santos, a 1ª mulher no executivo da Junta de Freguesia de Espinho.
Uma sala cheia, inundada pelo sol, num ambiente simpático, avivado pelas cores alegres das camilhas de pequenas mesas redondas, com os alunos do curso de hotelaria da Escola Domingos Capela a servirem biscoitos de Valongo, acompanhados de refresco de capilé.
Do debate falaremos depois.

terça-feira, 25 de maio de 2010

CV resumido

Maria Manuela Aguiar Dias Moreira
Licenciada em Direito pela Universidade de Coimbra(1965)
Pós graduação em Direito pela Faculdade Livre de Direito e Ciências Económicas do Instituto Católico de Paris (1970)

Profissão
Assistente do Centro de Estudos do Ministério das Corporações e Segurança Social(1967/1974)
Assistente da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica de Lisboa(1972/73)
Assistente da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra/1974/1976)
Assessor do Provedor de Justiça (desde 1976)
Docente do Mestrado de Relações Interculturais da Universidade Aberta(1990/1993)

Actividade Política
Secretária de Estado do Trabalho do Governo Mota Pinto (1978/79)
Secretária de Estado da Emigração e das Comunidades Portuguesas do Governo Sá Carneiro (1980/81)
Idem, no Governo Pinto Balsemão (1981)
Deputada pela Emigração (1981/83)
Secretária de Estado da Emigração do Governo Mário Soares- Mota Pinto (1983/85)
Secretária de Estado das Copmunidades Portuguesas do Governo Cavaco Silva (1995/1997)
Deputada eleita pelo Porto e Vice Presidente da Assembleia da República (1987/1991)
Presidente da Comissão da Condição Feminina (1987/1989)
Deputada eleita pelos círculos de Aveiro (1991/95) e pela Emigração (1995/2005)
Representante de Portugal na Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa APCE) e na Assembleia da UEO (1993/2005), Presidente da Delegação Portuguesa à APCE e AUEO (2002/2005)
Presidente da Comissão da Migrações e Refugiados da APCE, Vice-Presidente das Comissões do Regimento e da Igualdade. Vice-Presidente do Grupo Liberal, seguidamente, Vice-Presidente do PPE na APCE. Vice-presidente da AUEO.
Membro Honorário da AUEO e da APCE, desde 2005.
Actualmente, Vereadora da Cultura da Câmara de Espinho

CONDECORAÇÕES
Portuguesa
Grã-Cruz da Ordem do Infante Dom Henrique (Portugal)

Brasileiras
Grã-Cruz da Ordem do Cruzeiro do Sul
Grã-Cruz da Ordem do Rio Branco

Estrangeiras
Grã- Cruz da Ordem de Mérito (Alemanha)
Grã-Cruz da Ordem de Mérito (Itália)
Grã-Cruz da Ordem do Império Britânico
Grã-Cruz da Ordem Leopoldo II (Bélgica)
Gr~-Cruz da Odem Fénix (Grécia)
Grã-Cruz da Ordem Francisco Miranda (Venezuela)
Grande Oficial da Ordem da Estrela Polar (Suécia)
Grande Oficial da Ordem de Mérito (França)
E outras

segunda-feira, 24 de maio de 2010

FEST em ESPINHO

O FEST tem o seu lugar cimeiro entre os eventos que, ano a ano, animam Espinho.
Vemo-lo, antes de mais, como um meio esplêndido de continuar as tradições de uma história rica de expressão de valores humanos e de criatividade artística, renovando uma antiquíssima ligação à "7ª Arte", uma vez que teremos sido a terceira terra de Portugal a visionar um filme, certamente com o sentimento de participar num momento pioneiro e mágico.
E, ao longo das décadas seguintes, em que se vai construir uma estância de turismo de renome nacional e internacional, vários foram as salas e os espectáculos de cinema a fazer parte do seu desenvolvimento e poder de atracção.
O Festival Internacional de Cinema Jovem não é, com certeza, uma volta ao passado, antes promete, com a qualidade e o prestígio que se lhe reconhece, transportar para o futuro a magia eterna de uma arte a que Espinho se afeiçoou.
Merece, assim,naturalmente, o encorajamento e o apoio de quem é responsável pelo pelouro da Cultura neste Concelho, ciente de que mais do que a dimensão geográfica estática de um urbe pequena importa a sua superior e dinâmica dimensão cultural, que o FEST contribui para engrandecer e projectar.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Teresa, de novo...

É muito curioso o modo como, num país onde as mulheres são ainda raras na política, a nível nacional, as pessoas as reconhecem, pondo-lhes, porém, o 1º nome que lhes vem à memória- e que nunca é o nome delas. Pelo menos no meu caso, não é.
Quando estava no governo conjuntamente com Leonor Beleza e Teresa Gouveia, muitas vezes me chamaram um desses nomes e apelidos...
Nos últimos tempos, não por confusão na personalidade, mas por "lapsus linguae", saía a muitos, após o acertadíssimo "Manuela", um mais habitual "Ferreira Leite" do que "Aguiar".
O mais divertido de todos os lapsos foi o de um jornal de Espinho que recentemente escreveu que a mandatária de Passos Coelho, em Espinho, era a Drª Manuela Ferreira Leite... Obviamente não era. Era eu mesma, Aguiar de apelido.
Estive na reunião onde o Dr.Pedro Passos Coelho fez uma simpática referência à mandatária e sei que ele não se enganou. Tratou-se, pois, de um genuíno "lapsus calami" .
Hoje, estive na festa de 1º aniversário da revista "As Letras entre as Artes", no auditório da Biblioteca A. Garrett, e escolhi uma cochia lateral, ao lado de um senhor a quem perguntei se a cadeira estava ocupada. Respondeu que não e que era, para ele, uma satisfação que eu me sentasse ali. Deduzi que me conhecia da tv, mas, a certa altura, ele indagou, com a interrogação na voz, tipo "dúvida quase certeza": É a Drª Teresa Gouveia, não é?