terça-feira, 22 de junho de 2010

O DOURO DE BALBINA MENDES

Balbina com a sua nova e fantástica exposição sobre máscaras rituais, estará, de Julho a Agosto na grande galeria do Museu Municipal de Espinho.
É altura de recordar a anterior exposição sobre o rio Douro, e a apresentação que fiz do livro dessa exposição na cidade de Gaia

" Nesta publicação de 50 óleos de Balbina Mendes, duriense de Miranda, podemos acompanhar e refazer, a nosso modo, com a nossa própria sensibilidade, uma singular "viagem de achamento" de 900 KM de curso de um dos mais fascinantes rios do mundo, o Douro, da nascente, na serra de Urbion à foz, à vista da serra do Pilar, passando Porto e Gaia para se fundir nas águas do Atlântico.
A ideia, em si, era tão esplêndida quanto exigente! A sua transposição para a tela conseguiu tornar-se em verdadeira homenagem ao rio, num retrato multifacetado que no livro encontra a forma de se manter aberto ao nosso olhar, em cada sucessivo manuseamento. É o Douro na sua dimensão maior, o que se vê e o que se vislumbra, serpenteando, cheio de mistérios, entre arribas, vinhedos, amendoeiras em flor, nas nas sombras e nas presenças, por vezes só pressentidas das suas gentes - as que , em duros labores, transformaram a fisionomia de montes e vales. As que contam histórias na pedra dos monumentos e castelos, nos costumes e ritos ancestrais, guardados na memória dos povos ribeirinhos, na pena dos mais insignes cultores literários,de Pascoais a Junqueiro, a António Machado,a Unamuno e Torga.

Uma das facetas que gostaria de salientar nesta perfeita simbiose das duas linguagens, a das imagens e a das palavras, neste pôr em diálogo as várias artes de que se constroi a totalidade (a arte da pintura de Balbina Mendes, recriando, com paixão, a arte da natureza - o "poema geológico", na expressão de Torga - e a arte da escrita de poetas e prosadores, a ilustrar cada uma das 50 obras, com a citação que os "enquadra") é o dar aso ao nosso subjectivismo,, ao nosso próprio imaginário, que nos leva a adivinhar outras visões e prespectivas do uma realidade que nos é familiar e nos reelmbra experiências vividas e logo revividas. Assim fazemos a nossa própria "peregrinação sentimental inspirada nas cores de bruma e ocre eouro, com que Balbina nos transporta consigo a um Douro mutável, como um estado de alma, mas perene, como a verdade das coisas e das pessoas que lhe pertencem , vomo nós pertencemos.
O Douro merecia um tributo assim. Esta magnífica publicação só foi possível por se ter convertido em projecto comum de todos os que se uniram para lhe dar ser: autarcas,,governadores civis, departamentos regionais da cultura e do turismo, o IPTM, o Parque Nacional do Douro Internacional, ONG's como a Associação Ibérica dos Municípios Ribeirinhos do Douro, A Fundação Hispano-Portuguesa Rei Dom Afonso Henriques, companhias seguradoras, a banca, empresas como a Taylor's - nome do vinho fino, que não podia faltar a este chamamento. Sem esquecer o patrocínio do ministério da Cultura, discreto embora, para que o enfoque principal incida nos seus departamentos regionais. Destarei, se me permitem, o coordenador, Dr. António Pires, que tem uma parte fundamental na finalização desta obra, tanto pela forma como viabilizou a grande "expedição cultural" de Balbina, aos confins do douro, como pela qualidade dos seus textos introdutórios, que apetece citar e citar, porque é impossível expressar melhor o sentir comum. Só resisto a fazê-lo aqui, para que, numa relação directa, os leitores tenham o prazer de o descobrir, eles mesmos.
Balbina oferece-nos a baleza primorosamente captada de um Douro para além das fronteiras da nosa geografia - que são, infelizmente para muitos portugueses as fronteiras do rio como o conhecem - indo às suas origens castelhanas e leonesas do "Duero".
Sublinho a importância desta vertente internacional, em imagem e na escrita, na várias línguas do douro, o português, o castelhano, o mirandês. convite à união das suas gentes, à volta de uma herança e um património partilhados. O Duero de Tordesilhas, do castelo de Penhafiel, de salamanaca e zamora, tanto quanto o Douro de Miranda, de freixo-de-Espada-à-Cinta e do pinhão - ou o que já prenuncia a proximidade do mar, sob as velhas e as novíssimas pontes que ligam o Porto a Gaia.
Rio peninsular legendário, que pela espectacularidade das paisagens, tantas delas trabalhadas pela mão dos seus povos se ergueu às alturas de património universal da Humanidade.
A artista, todavia, naõ cedeu à tentação de retratar a limpidez e a formosura correntes de água que desliza, lenta ou apressadamentwe entre as margens, em cenários da "beleza absoluta" de que fala Torga e que Unamuno elege como a mais bela, a mais agresta, a mais impressionante da Espanha inteira. Quis dar-nos, também, a dimensão da sua envolvente humana, da vivência multisecular de usos e costumes, num apelo a que se mantenham como factores da nossa identidade: as eiras de pedra, as cozinhas antigas, os instrumentos musicais, a pastorícia, os barcos rabelos, as juntas de bois, os burricos, os pombais, os ninhos de cegonha, a raposa ibérica, sa tonalidades raras das uvas e das ceifas...
"Caíram as primeiras chuvas de outono e a terra brilha" no dizer de Manuel Mendes e na tela de Balbina assim a vemos!
Do mesmo modo acompanhamos Machado quando penetramos no pinhal coado de luz pela pela subtil pincelada da Artista e logo a imaginamos habitada pelos vultos "que cabalgan em pardas mulas bajo el pinal de Vincesa".
tal como a narrativa dos namorados que trocam beijos à vista da torre vermelha do farol, na Foz do Dourose desenha num diálogo de contrastes com o mar embravecidoempano de fundo do gestos ternos do quotidiano: "Con tu poema hasta al mar".
Poema do rio, das tonalidades fulgurantes de balbina, do verbo inspirador dos pensadores durienses eis o livro que reune e perpetua a ideia original feita em obra de arte.
Os quadros vão ainda cumprir o seu roteiro de exposições, que terminará em newark, a 10 de Junho, depois seguirão o seu destino de dispersão em colecções particulares, mas estão todos no livro que vamos guardar. Nas suas páginas poderemos, a nooso bel prazer, revisitar este Douro, da sua nascente, longe, ao seu porto de chegada, a sua Foz, tão nossa!

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