quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

MENSAGEM DE NATAL in Defesa de Espinho dez 2021

O TESTE DO NATAL 1 - O Natal de 2021 vai ficar na memória como aquele em que milhões de familiares ofereceram, uns aos outros, um presente que não terá faltado em nenhuma casa portuguesa - o cuidado e a solidariedade de um teste anti-Covid! As longas filas para compras de última hora, desta vez, não aconteceram tanto nos centros comerciais como nas farmácias de bairro... Quatro ou cinco horas de espera à porta da botica constituíram ritual que chegou aos telejornais (nada de surpreendente num país, onde conseguem fazer intermináveis reportagens a propósito seja do que for, de uma banalidade simétrica em todos os canais, à mesma hora). Não me lembro de em algum momento terem particularmente assinalado o que me parece ser a perfeita singularidade deste gesto, milhões de vezes repetido: a preocupação altruísta, porque o teste é quase sempre feito mais a pensar na família e nos amigos do que na própria pessoa - assim é, muito em especial, no caso dos jovens na sua relação com os idosos. A cadeia geracional ganha visibilidade numa girândola de afetos, no reencontro feliz, preparado com alguns sacrifícios e não apenas com o que aquilo que o dinheiro pode facilmente comprar numa loja, entre o cintilar das luzes e o som da música. E assim, por vias travessas, nesta atitude de responsabilidade e civismo no vai-vém de uma perturbante peste dos tempos modernos, se redescobre, de algum modo, o significado, que andava um pouco perdido, do Natal cristão. A celebração do Natal há muito se tornou apenas festa da família, de cada família, no seu círculo estreito. E esse enfoque lúdico, com a tradição dos presentes, há muito divorciada da saga dos Reis Magos, da condição do nascimento de Jesus e do seu destino na Terra, levou o Natal muito para além das fronteiras do cristianismo. Os tons de ouro e de prata cruzam-se com o vermelho vivo nas montras das lojas e nos enfeites das ruas, sejam as de Espinho, de Paris, de Nova Iorque, ou as de Tóquio. A árvore de Natal, a música, os reclames, os postais de Boas Festas, na forma digital ou física, de papel colorido, são iguais em quase todo o mundo. O papel de embrulho dos presentes, também, e até os presentes - os que os amigos trocam entre si, os que as empresas oferecem aos colaboradores e clientes, os que as crianças pedem aos pais (creio que já não ao Menino Jesus - ou cada vez menos...), a partir de catálogos e de anúncios de TV... 2 - A mensagem de Natal do Primeiro-Ministro, obsessivamente centrada na Covid 19, foi coisa para esquecer. Ou talvez não... Se a temática da pandemia vier a ser dominante no discurso de campanha eleitoral das legislativas, como é previsível, poderemos dizer, que a apagada tristeza da comunicação natalícia foi, afinal, o hábil lançamento de uma campanha, a colocar, em alternativa, "nós ou o caos". Curiosamente, nas eleições autárquicas, o Primeiro Ministro andou de terra em terra a anunciar o próximo advento da "bazuca" europeia, prometendo mundos e fundos aos candidatos do seu partido. Agora, pelo Natal, em vésperas de legislativas, adota a tão contrastante estratégia de falar de combates (ao vírus), agitando. Nem parece ser, mas é o mesmo político que, há apenas algumas semanas, proclamou o "dia da libertação" pandémica e levantou medidas restritivas de direitos e liberdades, que agora reintroduz em dose reforçada... e com o despropósito e irracionalidade, a que a DGS, desde o início nos habituou. Um exemplo: estamos todos lembrados do critério do distanciamento. Primeiro era um metro, mais tarde, dois metros, com x pessoas por metro quadrado. Nos estádios, ao fim de muitos meses, uma escassa percentagem da lotação total, que se foi alargando até aos 50% até que o dia da libertação permitiu "casa cheia". Concomitantemente, o "certificado de vacinação" dava livre acesso aos estádios e aos espetáculos que movem multidões. Agora, tudo mudou, e, mais uma vez, sem razão aparente - a vacinação, mesmo com 3ª dose, tornou-se, para este nobre fim, irrelevante e, em seu lugar, fica o "teste certificado",obrigatório: o antigénio, com validade de 48h, prestes, ao que consta, a ser reduzida a 24h (e depois se verá...talvez 12h , ou menos) e o PCR, válido por 72 h - para já. O cúmulo dos cúmulos é ser exigido um destes testes para uma ida ao cinema! Onde, antes do "dia da libertação", o problema se solucionava com simples restrições de lotação, deixando cadeiras ou filas de intervalo, agora não - a sala pode encher, porque todos estão testados, logo, supostamente, "covid free"... É uma certeza política, não científica. No tempo em que a Senhora DGS era anti - máscaras, alegava, que, entre as suas imperfeições, se contava o facto de darem uma "falsa sensação de segurança" . Não era, como se sabe, verdade no que respeita à proteção assegurada pela máscara, mas é-o, sem dúvida, quando aplicado aos testes, que são falíveis, sobretudo os de antigénio. Pelo menos os negativos - ou porque o infetado tem ainda uma baixa carga viral, ou porque veio a sofrer o contágio nas horas seguintes...E nesse estado vão conviver, muito mais despreocupadamente do que se não estivessem testados. Voltando à temática do teste obrigatório para ir ao cinema, direi que é o perfeito exemplo de uma medida nociva e insensata. Priva os cidadãos de um bem cultural a que têm direito e prejudica, gravemente, as salas de espetáculos, que ainda resistem à crise, ignorando o contexto atual em que, na sua maioria, funcionam - sobretudo as que não servem cartuxos de pipocas. É o caso daqueles que mais frequento: o Multimeios de Espinho e o Trindade, no Porto. À entrada, antes de comprar o bilhete, pergunto sempre quantas pessoas estão na sala e só concretizo a compra se tiver baixa ocupação. (não por causa da Ómicron, ou dos conselhos da DGS, mas por minha própria iniciativa, desde o início desta praga). Até hoje, tive de desistir... Aqui em Espinho, raramente estão mais de dez pessoas num espaço com capacidade para 280! Ora, havendo, em geral, tão escassa assistência, os limites impostos não eram atingidos, pelo que ficavam salvaguardados tanto os interesses do negócio, como a saúde dos espectadores. A que propósito mudar o bom critério, que valeu anteriormente? Quem estará disponível para gastar mais horas na fila de espera dos testes do que no espetáculo que pode sempre ver mais tarde? Um filme não é um "happening" único e irrepetível como um jogo de futebol ou um concerto musical... Estes ziguezagues não ajudam a manter a credibilidade que resta à DGS". Não dá para esquecer que, primeiramente, nos dizia não haver contágios nas escolas e agora, para convencer os pais a vacinar as criancinhas, já coloca as escolas no "ranking" dos maiores focos de contágio". Ao lado das discotecas...Estranhamente fora da lista de perigo continua tudo o que é da responsabilidade direta do Estado - caso dos transportes públicos... Por favor, deixem-nos, ao menos, ir ao cinema, para esquecer desgraças... No dia de Natal, seguindo o conselho de Isabel II, fiquei em casa a ver um filme antigo. Gostei, mas não é a mesma coisa..

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