sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

sobre a Bienal"Mulheres d'Artes


A 1ª Bienal Mulheres d'Artes foi uma ideia original, logo levada à pratica numa iniciativa inédita em Portugal, e de que não se conhecia precedente em qualquer  outro País. Não se quis organizar apenas uma grande exposição colectiva de Mulheres, que se reuniam em Espinho, num tempo datado: a intenção foi, desde o início, a de a projectar nos horizontes do  futuro, a de a convocar repetidamente, animada pelo mesmo espírito e propósito, que é, antes do mais, o de testemunhar capacidade de criação artística e de inovação no feminino
Uma Bienal é sempre um desafio de resistência ao efémero, ao ocasional, como o exige a etimologia da palavra, a sua lógica diacrónica, a sua vontade de institucionalização - ou seja, de ganhar vida própria, num percurso longo, a fazer história das Artes.
Em boa verdade,uma 1ª Bienal é uma declaração de intenções - para ser mais do que isso, exige a seguinte, ou as seguintes, só elas lhe dão a certeza de existência, lhe acrescentam corpo à alma...
O sucesso da colectiva de 2011 ficou, assim, à espera do sucesso  da de 2013, que aparece desde já assegurado num crescendo de adesões, na sua internacionalização, na atracção de novas presenças da nossa Diáspora.
Uma aventura de descoberta ou de confirmação de talentos  e de novos caminhos para as Artes no feminino. E, também, da procura de novas respostas para questões que a 1ª Bienal viera colocar em agenda;
Porquê só Mulheres?
Talvez pela mesma razão que levou, nos anos 40, Maria Lamas a organizar uma grande mostra mundial de livros escritos por mulheres...Para recentrar a História na Humanidade toda e não apenas numa metade, que em todos os dominios e, também no das Letra e das Artes, tem marginalizado o outro, ainda que mais no passado do que no presente
Ou, simplesmente, porque é sempre interessante mostrar as expressões artisticas de quem aceita a ideia de o fazer num determinado contexto, , de sintonias de género ou de geração ou de correntes, ou de de regiões, países, cidades...
No 40ª ano de elevação a cidade, a Bienal parece poder tornar Espinho na cidade das artes, das mulheres, das mulheres d' artes...

Natália sobre Gardel

 Sobre a influencia de pintar a Carlos Gardel, é porque o Fado e o Tango têm similitude, na melancolia da sua letra. E, depois, era um homen bem bonito para a época.
Pintar a Gardel foi para mim um grande  prazer por ter logrado, com muita humildade , um retrato parecido com ele, Pintar caras nâo é nada fácil... Também lhe mandei a obra pintada a óleo  de Jorge Luis Borges e da María Kodama , por mail.
 E estou acompanhada na Fotografia tirada no Museu por María Kodama   e pela minha grande amiga a Escritora  Ana María Cabrera.

Relato de uma despedida - em Montreal como deputada, pela última vez



MANUELA AGUIAR:

NO CÍRCULO DA EMIGRAÇÃO

Reportagem de
Vitália Rodrigues

Manuela Aguiar, deputada pelo círculo da Emigração e Carlos Oliveira, cônsul-geral de Portugal em Montreal

Círculo de livros ao centro da mesa. Livros que Manuela Aguiar ofereceu aos presentes.



Francisco Salvador, Conselheiro das Comunidades Portuguesas no Canadá, ladeado por Manuela Aguiar e Corinne Descombes

Manuela Aguiar autografa o seu último livro


Dr. Carlos Oliveira em amena cavaqueira com o docente do Instituto Camões, dr. Luís Aguilar


Mário Conde e Corine Descombes ladeiam o representante de Portugal em Montreal, dr.Carlos Oliveira, retribuindo-lhe a visita que o diplomata fez aos Estudos Portugueses da Universidade de Montreal
Vitália Rodrigues e Manuela Aguiar
Luís Aguilar com alguns dos Representantes da Comunicação Social de Montreal presentes: Luís Tavares Belo, Conseição Rosário e Sylvio Martins

É difícil, numa figura humana, política, social, artística, económica e, até literária, como é vista Manuela Aguiar por aqueles que tiveram o privilégio de com ela contactar, acreditar na sua partida da vida política activa. Um retiro, local para onde os descendentes de Viriato, muitas vezes querem remeter figuras incómodas, que configuram uma postura independente, não-alinhada e, sacrilégio maior, pensam pela sua própria cabeça, descarrilando vezes de mais, das correias de transmissão do partido a que pertencem.
É quase consensual ter sido Manuela Aguiar a conseguir a mais significativa actuação, quer como Secretária de Estado da Emigração, quer como deputada pelo círculo da emigração, nas várias localidades deste país da América do Norte, em particular e por todo o reino da Emigrolândia, em geral.

E ela cá esteve, de novo, desta feita, para lançar um livro que reúne documentos que testemunham a sua permanente batalha em prol das comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo: No Círculo da Emigração. Na última quinta-feira, dia 6 de Janeiro de 2005, na sala multiusos do Consulado-Geral de Portugal em Montreal, no círculo restrito dos órgãos de informação deste círculo da emigração portuguesa que acaba de comemorar o seu cinquentenário. Incansável, com uma energia bastante superior à que demonstrou na anterior visita a Montreal, Manuela Aguiar foi questionada sobre a sua
anunciada retirada. Uma resposta simples e imediata: - Não, eu não me retiro de coisa nenhuma. Eu apenas saio do Parlamento, o que, afinal, é muito pouca coisa.
Manuela Aguiar decide, fazer perguntas que ninguém colocou, apesar do bombardeamento de questões a que foi submetida pelos jornalistas da diáspora:
- O que falta para que se consiga fazer uma Federação Internacional das Comunidades Portuguesas Espalhadas pelo Mundo? Se ninguém perguntou, naturalmente, ninguém se mobilizou para responder a este apelo à unidade, cooperação e solidariedade.
É uma iniciativa que muitas comunidades de polacos, italianos, romenos, gregos, etc., têm levado a cabo, estranhando-se que as associações portuguesas não sigam a ideia de criar uma Federação Internacional que tanta falta faria para articular iniciativas, desenvolver projectos de cooperação, etc. Mas é a trica política - lá como cá- que mobiliza os lusos para o debate. É que Manuela Aguiar, com as questões que coloca, politicamente incorrectas, insiste numa série de medidas ameaçadoras para alguns reumatismos que habitam a comunidade portuguesa de Montreal em particular e as comunidades portuguesas, na sua generalidade.
Manuela Aguiar demonstra uma certa incompreensão, ou mesmo desespero, pelo abandono de mulheres de todos os partidos que muito ajudaram à construção de uma estranha forma de fazer política e intervir socialmente. Sente-se, por ventura, incompreendida quando olha para cada um dos presentes e percebe o desfile de olhares que se escondem por detrás de cada cumplicidade com aqueles que julgam que a diferença que marcou (e esperamos que continue ainda a marcar) um outro modo de ver as coisas, foi derrotado pela cartilha de compressão de obediências, que o politicamente correcto quis e quer impor. Com efeito, Manuela Aguiar tem um pensamento límpido, obsessivo e grávido de coerência que compagina dificilmente com o alinhamento que se espera de um político, geralmente, o oposto disso mesmo.
Respira-se outro ambiente na sala multiusos do Consulado-Geral de Portugal, ambiente a que não será alheia a postura discreta, mas empenhada, disponível, experiente e humorada do novo cônsul-geral de Portugal, cuja curiosidade pelas pequenas e grandes coisas também não cessa de espantar quem a tal não está habituado na diplomacia portuguesa. Faz-nos falta, a dinâmica presença da Maria Luísa Fernandes que, temos a certeza de que, num contexto destes, se sentiria como peixe na água.
Admiramos a extrema paciência que detém, a nossa deputada e Secretária de Estado, como muita gente de todos os quadrantes políticos gosta de chamar-lhe aqui em Montreal, para, com a pinderiquice lamecha de alguns representantes de um Portugal queixinhas, trajado de pobreza franciscana, que se esgueiram da varanda da hipocrisia, sempre a verter lágrimas de crocodilo, penduradas da algibeira oportunista.
Manuela Aguiar, entende Portugal como uma nação de comunidades e, quanto a nós, entende aquilo que, afinal, de Portugal, se espera, porque, foi esse sempre o grandioso, misterioso e glorioso significado que tem e que sempre teve como Nação do V Império visionário de Pessoa ou religioso do Padre António Vieira ou mesmo profético do sapateiro Bandarra. Isso mesmo leva um número crescente de estudantes universitários, luso-descendentes ou estrangeiros a estudar a língua de Camões e a cultura lusitana.
Foi nesse sentido que dois estudantes do programa de Mineur en langue portugaise et cultures lusophones da Universidade de Montreal, acompanharam o docente de língua portuguesa, Luís Aguilar, a este encontro: o Mário Conde, de origem galega e a Corinne Descombes uma gaulesa da Haute-Savoie que ficaram fascinados, tanto com a deputada Manuela Aguiar como com o dr. Carlos Oliveira. Foram acolhidos com simpatia os estudantes de Português, pelos dois políticos, num encontro que ficou pautado pela espontaneidade, por uma dinâmica de troca, de curiosidade e até por um certo carinho por serem eles aprendentes da nossa cultura e magna língua.
Nenhum dos dois representantes de Portugal correspondeu à imagem que eles têm dos políticos e diplomatas, pois a deputada manteve um discurso frontal e desprovido de superioridade e snobismo e o cônsul-geral, constantemente à procura da novidade e a não faltar a uma possibilidade de dois dedos de conversa que lhe apeteça.
O livro de Manuela Aguiar, cujo lançamento serviu de pretexto para este Encontro informal, mais parecido com uma tertúlia do que uma conferência de imprensa como foi alcunhado, apresenta documentos escritos na primeira ou na terceira pessoas, a actividade parlamentar da deputada e os percursos percorridos nos tempos de exercício de funções e de avidez de comunicação. Nele podemos encontrar o que escrevíamos na edição do jornal LusoPresse do dia 1 de Janeiro de 2000, a propoósito do lançamento do seu livro anterior, Manuela Aguiar. Migrações sem Fim ( Manuela Aguiar, cita-nos na página 168 deste seu novo livro):
]...[ Os temas abordados durante cerca de duas horas foram variados, mas com vincada insistência sobre o problema da nacionalidade. Manuela Aguiar voltou a esclarecer a importância da lei de

No Círculo da Emigração
1981, que veio acabar definitivamente com a lei salazarista e fascista de 1959, a qual retirava automaticamente a nacionalidade portuguesa a qualquer indivíduo que optasse por outra. Com esta nova lei, velha de 18 anos, é possível através de um processo burocrático, infelizmente moroso, reaver a nacionalidade portuguesa e manter a dupla nacionalidade. Lei libertadora, mas não menos discriminatória para todos os portugueses que se naturalizaram Canadianos entre 1959-1981. Antes de partir a deputada prometeu fazer tudo o que estivesse ao seu alcance a fim de facilitar e diminuir este processo burocrático. Esperemos que consiga obter a aprovação de um decreto, de uma alínea, de algo que permita restabelecer de uma forma simples e rápida a nacionalidade portuguesa. Boa sorte.
Hoje, aqui estamos a anunciar e a render homenagem a quem soube levar a bom porto, uma batalha de Bom Senso e Bom Gosto, mas nem por isso fácil. Cinco anos depois.
Aplica-se a Manuela Aguiar o que o povo muitas vezes diz: Água mole em pedra dura tanto dá até que fura. Furou! As pedras duras que são a burocracia lusa e a ociosa e sonolenta actividade parlamentar portuguesa.
E à Manuela Aguiar dizemos, como habitualmente, até à próxima e Boa Sorte com o seu No Círculo da Emigração, e com o novo Círculo da Emigração por e para onde não concorre desta vez, mas que, nem por isso, estamos certa, deixará de marcar o caminho desta emigrolândia, onde muito se ressona, pouco se inova, muito se grita, quase nunca se reconhece e, permanentemente se insiste em agir de costas voltados uns para os outros. Uns porque são do Benfica e outros do Sporting, uns porque são de São Miguel e outros da Terceira, uns porque são da Voz de Portugal e outros do LusoPresse, uns porque são da Escola Portuguesa do Atlântico e outros porque são da Escola de Santa Cruz, etc. Enquanto, paralelamente, todos se queixam da falta de meios e de recursos humanos. Não parece.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

A EMIGRAÇÃO PORTUGUESA versão substituída (Visão)


1 - A emigração portuguesa distingue-se de todas as outras, na Europa e, porventura, no mundo, pelo seu carácter persistente e pela dispersão universal. E ainda por uma extraordinária propensão associativa, a par de uma tradição de convivialidade com outros povos e costumes – duas coisas que pareceriam antagónicas e que explicam uma grande capacidade individual e coletiva de integração e, consequentemente de sucesso. Sucesso comum, talvez possamos ousar dizer mesmo" regra geral" - com as suas exceções… Até daqueles de quem menos se esperaria – por exemplo, dos que partiram “a salto”, no século passado, e que Eduardo Lourenço, três décadas depois, em jeito de balanço, qualificou como “uma geração de triunfadores".
A emigração é, neste sentido lato da palavra, um fenómeno, cujo início remonta à época da "Expansão", mas que se prolongou para além do seu tempo histórico, e do seu âmbito geográfico. Cerca de um terço da nossa população tem vivido, desde então, fora das fronteiras europeias do País. E não certamente apenas pelo gosto das viagens e do movimento, mas por causas mais prosaicas e confrangedoras. – atraso económico, desigualdade social, pobreza…Um êxodo infindável, não todavia uniforme, antes em ciclos que se encadeiam –princípio, meio, fim …E recomeço…
Estamos agora em pleno recomeço de ciclo – quem diria há três ou quatro anos apenas? É, de todos, o mais imprevisto, o mais dececionante…porque sobrevém depois de ter sido oficialmente anunciado o fim dos tempos da emigração portuguesa… De facto, pouco depois da adesão à CEE, num discurso ufanista, que , em boa verdade nem sequer tinha total ajustamento à realidade, Portugal, era apresentado como um novo país de imigração, que tinha deixado de ser um velho país de emigração.
Uma forma de significar que nos colocávamos no restrito clube europeu dos mais prósperos e dos  ricos. Essa Europa da solidariedade e da coesão, a Europa democrática da "távola  redonda", já não existe e esse Portugal cheio de autoconfiança também não,,,
Com um governo que tem por meta confessada empobrecer o país, destruindo inevitavelmente as classes médias, o único escape é partir, outra vez, talvez para sempre...
1  -Fala-se da nova emigração, jovem e qualificada (enfim, o que nos  faltava ainda, o "brain.drain"!).
Mas a fuga à pobreza é bem mais abrangente do que se diz - vão todos, os mais e os menos qualificados, os mais e menos jovens, os homens (os tradicionais protagonistas deste processo) e as mulheres, autonomamente, em pé de igualdade (na emigração mais qualificada, acrescente-se -  que não , por exemplo, na temporária, em que o sexo masculino predomina, como dantes, largamente).
Um parêntesis, para salientar esta tendência portuguesa para sobrevalorizar o que é inédito, mesmo quando coexiste som o que vem de trás. O mesmo aconteceu quendo  da transição das migrações transoceânicas para aa europeias, em meados de novecentos. Colocou-se o enfoque na  França, como o" novo Brasil", e é certo que foi o grande polo de atração, mas esqueceu-se a emigração em massa, através do Atlântico, para a Venezuela e para o Canadá, precisamente  nos anos 50 e 60... Assim como a que havia ainda, mais limitada embora, para os EUA, para a África do Sul ou para a Austrália.
Coexistência de destinos próximos e longínquos que, curiosamente,  podemos constatar hoje em dia, com as centenas de milhares de portugueses que procuram e encontram trabalho não só na Europa , mas no Brasil e em Angola, e, em menor número, num sem número de outros países.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Bienal - o Encontro


  • Maria Manuela Aguiar Neste esplêndido cenário das Galerias Amadeo Souza Cardoso, cheias de obras de Mulheres de muitos países teve a Associação de Estudos Mulher Migrante o privilégio de iniciar as comemorações dos seus 20 anos. O título genérico dos colóquios e encontros que esperamos levar por diante em 2013 é "Expressões Femininas da Cidadania". Havia que começar pela Cultura, pelas Artes, que são uma expressão maior da cidadania!

  • Maria Manuela Aguiar As Caravelas, que são muito bonitas não integram propriamente a Bienal - são trabalho colectivo e "paritário" de alunos da Escola Domingos Capela de Espinho. E estes jovens vão colaborar connosco, fazendo a história de vida das diferentes artistas da diáspora presentes na Bienal - através de questionário escrito, porque não houve tempo para o fazer "in loco".

  • Maria Manuela Aguiar Gostamos de envolver os mais jovens nas nossas iniciativas e , aqui em Espinho, isso tem sido possível graças à colaboração de Arcelina Santiago, que é associada da Mulher Migrante e professora daquela escola. Uma mulher extraordinária, também ela vinda da Diáspora (Macau).

  • Maria Manuela Aguiar O Secretário de Estado, Dr José Cesário, esteve connosco de princípio a fim do Encontro, fez várias excelentes intervenções, algumas em resposta a perguntas da audência e já o sol tinha descido sobre o mar quando um grupo de jovens fez questão de lhe mostrar as caravelas (todas construidas com material reciclado). Há por ali futuras Joanas Vasconcelos!...

  • terça-feira, 29 de outubro de 2013

    A abrir o ENCONTRO MUNDIAL

    Uma primeira palavra de agradecimento por estarem nesta reunião a que todos somos convocados por uma grande vontade de "fazer futuro" com as forças e as dinâmicas criadas pelo movimento constante das migrações.
    É este o sentido que queremos dar a uma comemoração tão especial, porque, mesmo que nos permitamos alguns momentos de nostalgia  na memória de pessoas e de acontecimentos, é, sobretudo, a visão prospectiva que nos motiva.
     
    São 20 anos da "Mulher Migrante- Associação de Estudos, Cooperação e Solidariedade".
     
    20 anos de intenso envolvimento na vida das comunidades da Diáspora, olhando a sua situação e o seu evoluir, através da acção, das perspectivas e projectos de mulheres, que estão, ainda quando não parecem estar, na base da sua construção e das suas profundas transformações.
     
    20 anos de estudo: de apelo constante a um encontro de mundos, não muito fáceis de aproximar - o mundo do "saber de experiência feito" e o da investigação científica - que sempre, com excelentes resultados, procurámos pôr em diálogo nos numerosos congressos, colóquios, jornadas de reflexão, em que é pródigo este passado de duas décadas.
     
    20 anos de cooperação e solidariedade com instituições de muitas comunidades e países e com sucessivos governos, no que poderemos chamar políticas de emigração, com uma componente fundamental de género..
     
    Em Portugal, o embrião das políticas para a igualdade e promoção activa da cidadania, através da audição das mulheres da diáspora, vem de longe, da meia década de 80, podendo nós, por isso,  reclamar neste domínio um inquestionável pioneirismo, em termos europeus e universais -  mais um dos assomos de  vanguardismo com que o nosso País surpreende os outros, de vez em quando... 
    Mas foi preciso esperar pelo início do século XXI para podermos falar de políticas desenvolvidas com caracter sistemático, no cumprimento assumido, dentro e fora do País, das tarefas que o legislador constitucional impõe ao Estado para promover o aprofundamento da democracia, que passa necessariamente pela efectiva igualdade para as mulheres na vida da República, ou "res publica". 
    Julgo que podemos afirmar que e emergência de um novo ciclo de políticas para a igualdade, se abriu com os " Encontros para a Cidadania - a igualdade entre homens e mulheres"., realizados em diferentes regiões do mundo, entre 2004 e 2009, e agora continuados  em Encontros Mundiais de caracter periódico, numa parceria entre o Governo e a "sociedade civil", conforme o previsto na inédita Resolução nº 32/2010, proposta pelo então deputado pela Emigração José Cesário.
     
    A AEMM, cujas fundadoras haviam estado, quase todas, na organização do 1º Encontro Mundial em 1985, ligou, de uma forma explícita, querida e afirmada, o seu destino a este processo histórico - e o tê-lo conseguido até ao presente reforça a vontade de se transcender em novas iniciativas e colaborações cívicas, levadas a cabo, como sempre aconteceu, em espírito de puro voluntariado e com o impulso de fortes convicções.
    As políticas de género na emigração - e a AEMM pode bem testemunha-lo enquanto parceira de governos de diferentes quadrantes político partidários - são um exemplo de continuidade, de respeito pelos princípios constitucionais, vazados em boas práticas  - uma continuidade que é coisa rara em Portugal,  cuja vida pública é marcada pela tentação de destruir tudo o que vem do passado, por vezes até dentro do mesmo governo (com a simples mudança do titular da pasta), num quadro de permanente instabilidade, em rupturas e recomeços que significam tremendos desperdícios de meios e energias...
    É, pois, muito bom poder, em contracorrente, nesta excepção à regra, prosseguir, com o Dr José Cesário, o trabalho encetado com o Dr. António Braga, com a Dra Maria Barroso. a Presidente  dos Encontros para a Cidadania, grande cidadã Portuguesa, que nos deu a honra de connosco ter estado, como inspiradora e aliada, desde o início.
    20 anos, a perseguir a utopia igualitária!
     Utopia ainda, mas a permitir-nos falar em certezas de progresso, nas expressões femininas da cidadania, pondo em foco realizações e projectos, nos múltiplos domínios em que interagem  com os homens no espaço nas comunidades do estrangeiro. Na verdade,  o todo das comunidades, os homens, como as mulheres, não estão ausentes das nossas preocupações, porque o equilíbrio que desejamos é necessariamente construído também com eles`.
    É a emigração toda que está no horizonte das nossas preocupações, nesta conjuntura dramática que atravessamos, perante um êxodo desmesurado em que as mulheres, pela primeira vez autonomamente, ombreiam com os homens, e os trabalhadores menos qualificados, com o melhor da "inteligentzia" nacional...
     
    Os movimentos migratórios actuais  criaram novos estereótipos. que levam à negação da existência, ou, melhor, da coexistência de uma emigração de perfil tradicional, num eterno recomeço... Portugal é o "País das migrações sem fim", como eu não deixei de lembrar nos tempos em que nascia a AEMM e em que a "classe política", se me posso permitir esta generalização, acreditava que a adesão à CEE, com a sua promessa de desenvolvimento imparável, pusera termo a um fenómeno até então considerado como inelutável...
     
    Vamos agora, ao longo de dois dias de diálogo,  reflectir e falar  sobre a emigração feminina, sobre as jovens envolvidas nestas grandes vagas migratórias  e, igualmente, sobre as que têm já um longo percurso nas comunidades, questionando a relação entre género e formas de expressão na política, no associativismo, nas artes, na prática empresarial...
    É ainda cedo para sabermos se os que partem deixam o País para trás, ou o levam afectivamene consigo, se são "desistentes" ou "resistentes"...
    As mulheres terão a palavra para fazer prognósticos sobre o seu futuro no movimento para o futuro das comunidades, enquanto parte integrante da nação portuguesa em diáspora.

    Maria Manuela Aguiar

    quarta-feira, 16 de outubro de 2013

    Entrevista de As Artes entre as Letras

    1 - Este ano o Encontro da AEMM tem como tema geral "Expressões femininas da cidadania". Que aspectos esperam abordar a partir desse "mote"
     
    As muitas faces femininas da cidadania...
     Os direitos e a prática da cidadania, no caso particular das mulheres da Diáspora, têm estado no centro das iniciativas da AEMM, desde o seu início, há 20 anos. Cidadania no sentido mais amplo do conceito. E são as suas formas várias de exercício que consideraremos, ao longo do Encontro, passando da política e do associativismo, para a iniciativa empresarial, ou para a afirmação do “feminino” no espaço da cultura" – onde, aliás, o feminismo nasceu, em Portugal, com o envolvimento de notáveis escritoras e jornalistas. Não esqueceremos, muito em especial, as que foram emigrantes. As primeiras palavras serão  para Maria Lamas, que viveu a dolorosa experiência do exílio, em Paris. Uma cidadã exemplar, que faria neste mês de Outubro, 120 anos.
    Sabemos que a emigração feminina, ainda hoje, é muitas vezes tratada num capítulo aparte, como que num pequeno compartimento isolado de uma casa grande. Neste congresso vamos contrariar essa tendência, olhando a evolução do fenómeno migratório actual a partir da história ou das histórias de vida das mulheres, da sua capacidade de afirmação, de influência nos destinos que partilham com os homens, nas comunidades portuguesas do estrangeiro.
     
    2 -O primeiro tema do debate será "Mulheres Migrantes na política -um princípio de paridade". Há paridade nesta área, ou procuram aqui denunciar a falta dela?

    A meu, ver há, como se denuncia no título do painel, apenas o seu princípio... A perfeita paridade é uma Utopia, com que queremos apressar o futuro. O nosso mundo é ainda feito de repúblicas dos homens - veja-se a imagem de uma cimeira europeia ou mundial de governantes, a relação dos prémios Nobel, a lista dos mais poderosos  do planeta... Todavia, a emigração tem sido, contra o previsto e o previsível, um factor de mais igualdade de género, pelo menos no caso português. Mas, sem dúvida, mais no campo da cultura do que no da política, ou em qualquer outro.
     
     3 - A Lei da Paridade foi uma medida positva para ajudar à igualdade entre os sexos?
     
     Sim, sem dúvida, apesar de cumprir o princípio da "paridade", de uma forma modesta e gradualista – garantindo, para já, apenas um mínimo de 1/3de cada um dos sexos nas listas eleitorais. Num país onde os partidos, que livremente ordenavam as listas, eram e são estruturas herméticas, onde o eleitorado, o povo, não é "quem mais ordena", foram os partidos mais fechados às mulheres os que mais se opuseram às novas regras… Não ousando desafiar o princípio em abstracto, são muitos os que, no campo conservador, contestam os meios de o impor "ex vi legis". Criticam-na por "fabricar" artificialmente a igualdade... Eu penso precisamente o contrário - considero que as  organizações partidárias, a começar pelas da juventude, pelas chamadas "jotas" , é que, de uma forma artificial, promovem  habitualmente os amigos e marginalizam as mulheres...De facto,  as "quotas" não põem em causa o "mérito" (que dentro dos partidos, não abunda...),  antes abrem portas a quem se presume ter méritos iguais ao dos escolhidos no interior das fortalezas partidárias. As quotas são, assim, uma fenda na muralha... 

    4- Quem são hoje as mulheres da diáspora?
     
     Não resisto a dizer que, agora, como no passado, são mulheres de coragem e de visão,  verdadeiras construtoras de pontes entre culturas e países. O seu papel e o seu relevo no quadro global das migrações não será muito diferente, hoje, do que era na segunda metade do século XX - a percepção que deles se foi ganhando é que é mais ajustada às realidades. O primeiro grande contributo veio do associativismo feminino, apesar do sua posição periférica no movimento geral... Depois, das primeiras audições das próprias mulheres pelos governos e, sobretudo, da investigação científica, de estudos pioneiros, como, por exemplo, os de Engrácia Leandro, em Paris, na década de 90. Hoje em dia, é crescente a atenção por parte dos “media”, dos políticos, das próprias organizações das comunidade que eram bastiões tradicionais do dirigismo masculino.
    A emigração revelou-se uma via inesperada de emancipação para um sem número de mulheres portuguesas, no seu trânsito de uma sociedade rural para meios urbanos, onde aproveitam a influência de novos paradigmas de relacionamento familiar e, sobretudo, da autonomia pessoal que lhes dá o acesso a trabalho remunerado ( às vezes mais ou melhor do que o do marido)...
    Actualmente dá-se muita visibilidade a um novo perfil de mulheres emigrantes, mais qualificadas e independentes -  as que partem por sua conta e risco e que estão conhecendo o sucesso profissional noutros patamares. De todas-  das primeiras gerações, aparentemente mais conformistas, e das jovens, em regra, mais competitivas e conscientes da sua competência profissional- se faz o mundo da emigração feminina, cada vez mais complexo e heterogéneo.

    5 - Os  problemas da mulheres migrantes são muito diferentes hoje?
     Alguns novos e graves problemas podem surgir, contrariando o clima de optimismo, de crença numa mais fácil integração de uma superior formação académica e profissional (que, em média, é uma realidade, para mulheres e homens). Temos de admitir, ao menos em alguns casos, ou numa primeira fase, o possível não aproveitamento dessas qualificações, a falta de oportunidades concretas, e o consequente sentimento de frustração e de desânimo. O êxodo a que assistimos é tremendo, é uma fuga generalizada, apressada. São muitas, muitos os que partem cegamente à aventura, ignorando  advertências e conselhos...E não sei se terão por parte da "sociedade civil", do associativismo, que na história das nossas migrações sempre se soube substituir ao Estado, o mesmo apoio, a mesma solidariedade de que beneficiaram gerações sucessivas de emigrantes. Talvez à nova emigração corresponda um novo associativismo, ou uma renovação do antigo, com a importância que isso tem na ligação colectiva ao País.  Talvez... certezas, não tenho...

     6 - A componente cultural continua a ser uma aposta destes Encontros, especialmente nas Artes plásticas Encontram nesta área em concreto mais necessidade de intervenção?
     
     O programa que a AEMM preparou, num ano de comemorações (que é sempre, sobretudo, um ano de especial reflexão, retrospectiva e prospectiva) tem um enfoque especial nesta componente,  antes de mais pelo facto da ligação das comunidades a Portugal se originar e se fortalecer  no seu âmbito, com o ensino da língua e o culto das tradições, das artes, da música, do teatro, da dança, no quadro de um associativismo felizmente omnipresente nas nossas comunidades. E também porque muitas são as mulheres  que estão à frente dos projectos e acções, neste domínio fundamental. O dar-lhes reconhecimento e visibilidade é, em si mesmo, um factor de mobilização  para o exercício dos direitos da cidadania.  Tem sido prioridade constante da AEMM. Já o acento colocado nas Artes Plásticas é coisa mais recente, bem justificada pela proeminência de  geniais Artistas da diáspora  - Vieira da Silva, Isabel Meyrelles, Paula Rego...
    Foi a Drª Nassalete Miranda,  a impulsionadora e a comissária da 1ª exposição colectiva de Mulheres, que realizámos em 2011, durante o Encontro Mundial na Maia. Uma nova colectiva será inaugurada durante o Encontro de Lisboa, reunindo pintoras das comunidades e outras cujas obras têm corrido o mundo.
     
     7 - São iniciadas no Encontro Mundial as comemorações dos 20 anos da AEMM. Há outras acções previstas?
     
     Este Encontro de Outubro dá continuidade a um primeiro Colóquio, que teve lugar em fins de Maio, em Espinho, no contexto da II Bienal Internacional “Mulheres d’Artes", com uma marcante adesão do SECP  Dr. José Cesário. O tema foi “Migrações e artes no feminino” . Contámos com mais de 200 presenças. e um diálogo vivo sobre a especificidade (ou não) do feminino na arte, sobre percursos de vida muito concretos, interinfluências culturais que se transmutam nas artes…  com esplêndidas introduções das Professoras Ana Gabriela Macedo e Isabel Ponce de Leão. Esse colóquio foi seguido, em Agosto, de um Encontro, na mesma Bienal e na mesma linha de análise e indagação, com estudantes dos cursos de língua portuguesa da Professora Deolinda Adão, nas Universidades de Berkeley e S. José (Califórnia) e com alunos finalistas das Escolas Secundárias de Espinho. 
    Ainda em 2013 está prevista a organização de um  Colóquio sobre “As Mulheres na Carreira Diplomática” e a abertura, no Brasil, uma nova Delegação da AEMM, por iniciativa da Dr.ª Berta Guedes, que foi recentemente candidata à Prefeitura dessa cidade. Finalmente, em Dezembro, contamos fazer o lançamento da publicação das actas do Encontro de Outubro.
     
     8 - O que pode adiantar sobre as ASAS, Universidades Seniores?

    A ideia da criação de universidades seniores impõe-se numa emigração onde esta componente é tão grande e pode dar muito mais do que dá às instituições das comunidades, em voluntariado.
    A cidadania é para ser vivida em todas as idades e há nos mais velhos não só experiência e sabedoria, mas também muito mais energia do que aquela que se lhes reconhece... E temos em Portugal incontáveis exemplos de sucesso deste modelo de animação cultural, de aprendizagem e convívio permanentes. 

    Foi o que procuramos levar ás comunidades, com o projecto das US ou das ASAS, "Academias Seniores de Artes e Saberes". Na África do Sul,  em  diferentes cidades, por acção da Liga da Mulher, na Argentina, graças à Associação Mulher Migrante , em Toronto, pela mão da Profª Manuela Marujo da Universidade de Toronto  a ideia vai tomando formas concretas. Mas, em muitas associações portuguesas do estrangeiro há já  iniciativas semelhantes, ainda que com outras designações - iniciativas que podem ser redimensionadas, partilhadas, renovadas.