terça-feira, 15 de novembro de 2022

RUTH ESCOBAR

Foi num jantar na residência do Cônsul-Geral em São Paulo, que conheci a Ruth. Nunca mais me cruzei com aquele nosso diplomata, que era bastante jovem para posto tão importante e extremamente simpático, comunicativo e elegante. Um homem encantador! Eu era, então, deputada pelo círculo "fora da Europa" e nessa qualidade visitava o Estado. Recebeu-me esplendidamente, com um jantar para o qual convidou personalidades interessantes da nossa comunidade. A meu lado ficou Ruth Escobar, que eu conhecia de nome, como toda a gente (ao menos no Brasil, não em Portugal, onde à partida, todos os emigrantes são esquecidos e só muito poucos conseguem a merecida notoriedade...). Grande atriz de teatro, produtora, empresária, mas também uma lutadora pela democracia, que levantou a voz no tempo da ditadura e acabou sendo pioneira da participação política feminina. Na verdade, foi, em todo o Brasil, a primeira mulher eleita deputada a uma Assembleia Legislativa estadual - e logo no Estado de São Paulo... Candidatou-se ao abrigo do estatuto de igualdade de direitos entre portugueses e brasileiros, como portuguesa, sem nunca ter pedido a nacionalidade brasileira! Ruth era extrovertida e divertida. Começámos por descobrir que éramos ambas do Porto, que víamos e amávamos a cidade da mesma maneira. Falámos das ruas, dos bairros velhos, da ribeira, da Foz, das festas, dos liceus, da burguesia portuense, do estado da política, do Terreiro do Paço, de machismo e do feminismo... De imensas coisas. As afinidades eram inúmeras. E ríamos, ríamos... Parecíamos, embora não fossemos, amigas de longa data que punham a conversa em dia. Até o nosso Cônsul caiu nessa suposição. Ainda recordo o seu ar de espanto, quando lhe disse que não, que nos encontráramos pela primeira vez, graças à sua esplêndida hospitalidade. À distância de tantos anos (não sei quantos, mas diria que esse convívio aconteceu em 1982 ou 83, quando deixei a SECP durante o 2º governo de Balsemão) guardo dessa noite memorável, também, o meu quinhão de surpresa ou espanto. Não só pela personalidade eletrizante de Ruth Escobar, o seu brilho, o seu carisma, mas, acima de tudo, pelo facto de ela estar tão bem integrada no Brasil continuando tão portuguesa, a par de tudo o que se estava a acontecer, no modo de falar e de ver o mundo - como se tivesse chegado na véspera do Porto, a nossa terra, a nossa primeira afinidade. Voltei a encontra a Ruth várias vezes, em São Paulo e em Lisboa. O segundo encontro até chegou, ao contrário do primeiro, às páginas sociais da imprensa - e incuiu Natália Correia, que estava em S Paulo com uma agenda cultural intensa. Nova ocasião de fazer graça e reforçar amizades. E na última vez em que voltámos às conversas de tertúlia, do lado de lá do Atlântico, ía eu integrada numa delegação parlamentar e fomos todos convidados para assistir à mais recente produção da Ruth - a teatralização de "os Lusíadas", um espetáculo muito bem conseguido, que ela quis e conseguiu trazer a Lisboa. Mulher vanguardista, cosmopolita, tão acarinhada no Brasil e tão fiel às origens, como o comum dos emigrantes! "Os Lusíadas" fora um tema imposto pelo coração, é claro como símbolo da cultura de ambos os seus países! Vi ainda a Ruth, de novo, mais chique e imponente do que nunca, numa sumptuosa festa em São Paulo, já no século XXI. Mas a sua memória esmorecia e não deu para recordarmos o Porto da nossa juventude. Mesmo assim, foi bom revê-la, já mais como mito do que como simples pessoa e pessoa simples. E portuense, como eu. RUTH ESCOBAR, CIDADÃ LUSO - BRASILEIRA Ruth Escobar foi, bo Brasil do século XX, mais célebre portuguesa, como atriz, empresária teatral de vanguarda, ativista de direitos humanos e pioneira na vida política brasileira. Sem nunca ter adotado a nacionalidade do país, ao abrigo da Convenção de Igualdade, fez historia como a primeira mulher eleita deputada, em dois sucessivos mandatos, à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Nascida e criada no centro da cidade do Porto, onde, no Liceu Carolina Michaelis se iniciara na artes cénicas, em autos de Gil Vicente, emigrou com a mãe aos de. Duas mulheres sozinhas, a mãe com a vontade de melhorar a vida, a filha cheia de sonhos que haveria de cumprir, grandiosamente. Nas suas próprias palavras: "quando embarquei para o Brasil, no Serpa Pinto, com a minha mãe, levava também a certeza de um destino, pois soube que tudo o que sucedeu na minha vida, mesmo antes do meu nascimento, estava moldado por uma força universal, cósmica, transcendente". No colégio paulista, logo se destaca e ganha o prémio de "raínha", pelo seu carater expansivo e talento para representar. Aos 18 anos, troca o estudo pelo trabalho, e, com apoios da comunidade portuguesa, cria a sua própria revista, "Ala Arriba". Como jornalista amadora, lança-se numa campanha pela presença portuguesa em Goa e percorre o mundo, ombreando com os melhores correspondentes de imprensa internacional, entrevistando uma lista de celebridades, como Foster Dulles e Christian Pinaud, Bulganin e Krushev, o Principe Norodan Sihanouk, o presidente das Filipinas, os primeiros-ministros da Turquia e da Tailândia, o mítico Nasser (a única a ter esse privilégio, no meio de quinhentos jornalistas presentes no Cairo), os governadores de Macau e da Índia e até Salazar. Os seus exclusivos são disputados por revistas como a "Life" e por grandes jornais de S, Paulo e Lisboa. Com pouco mais de vinte anos, torna-se produtora teatral, depois como atriz. Constrói um teatro com o seu nome, em São Paulo, faz sensação com a fundação, em 1963, do Teatro Nacional Popular, que leva ao povo das periferias do Estado, a muitos milhares de pessoas, espetáculos de qualidade (Martins Pera, Suassuna...), Durante a ditadura, o seu teatro é um palco de luta pela liberdade de expressão, Sucediamm-se as ameaças, os interrogatórios e prisões, os ataques de comandos para-militares, a violência sobre os próprios atores, mas Ruth Escobar tudo afrontava com a sua coragem de guerreira. Em Lisboa, conhece as três Marias, e por sua influência descobre a atualidade do feminismo, uma metamorfose que contribuirá para a conduzir aos hemiciclos da intervenção parlamentar, a ser a primeira presidente do "Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres" e, durante muitos anos, a representante do Brasil nas Nações Unidas para o acompanhamento da Convenção contra a discriminação das Mulheres. No mundo do teatro, organiza, a partir de 1974, os primeiros Festivais Internacionais de Teatro., reconhecidos como a força renovadora do panorama da arte dramática brasileira. Nos anos noventa, deixa a política, mas não a intervenção cívica, e regressa aos palcos, como atriz e empresária . A sua herança teatral, enraizada no Gil Vicente da juventude, e no vanguardismo em que projetou o seu génio e a sua energia, ao longo de décadas, mudou a face do moderno teatro brasileiro . Ruth recebeu, em vida, as mais altas condecorações brasileiras. a Legião de Honra da França,e, por fim, até a Ordem do Infante Dom Henrique. Esta ilustre cidadã luso.brasileira, tão famosa no Brasil, não é, ainda, e queremos contribuir para que seja, conhecida e homenageada na sua terra de origem
------------------------------------------------------------- RUTH ESCOBAR, MULHER DO PORTO, (QUE NÃO É NOME DE RUA...) 1 - Numa das minhas rondas pré-pandemia pelos alfarrabistas, fiz um pequeno achado - um interessante livro sobre a toponímia feminina do Porto, da autoria do historiador César Santos Silva, com um prefácio de Joel Cleto. A edição é de meados de 2012, não muito recente, mas receio que mantenha, no que respeita à gritante desigualdade de género neste domínio, toda a atualidade. Não parece ser tema de que as (e os) feministas façam bandeira, e de que os autarcas, poder eminentemente masculino, tenham consciência. O Autor apresenta 146 topónimos femininos, no Porto. mas entre eles, com boa vontade e simpatia, somando dezenas e dezenas dos mil e um nomes da Nossa Senhora, um bom número de Santas, a começar por Santa Catarina, cuja existência continua envolta numa nebulosa, e algumas, poucas, rainhas e princesas, entre outras ruas que pertencem, gramaticalmente, ao género feminino, mas não designam mulheres individuais. E, em alguns casos, nem se sabe, ao certo, o que designam... Se nos concentramos nas celebridades dos últimos dois séculos, o número desce, dramaticamente, para apenas 33... Entre estas, antes de 1974, apenas seis: Florinha da Abrigada, a Sãozinha (1948), Felicidade Browne (1949), Guilhermina Suggia, (1951), Aurélia de Sousa (1954), Cecília Meireles (1971) e Amália Luazes (1973). Carolina Michaelis já dava nome ao liceu, porém, só teve direito à sua rua em 2001. A partir de 1974, mais 27 senhoras ilustres receberam essa honra, sendo, maioritariamente, nascidas ou residentes na cidade. A percentagem de estrangeiras (sete, no total) é relativamente elevada, e maior seria se incluíssemos santas e rainhas. Entre as nacionais não portuenses se encontram - e muito justamente - figuras como Natália Correia, Maria Lamas, Sarah Afonso ou Vieira da Silva. Olhando os domínios em que se distinguiram, concluiremos que predominam a escrita, a música (de Suggia às nossas grandes pianistas), o professorado (universitário, sobretudo) e as Artes plásticas, algumas acumulando a excelência no campo artístico ou académico com a intervenção cívica e política. Mais raras são as mecenas (duas), as santas populares (duas) e aquela outra que alcançou a fama como modista (a Candidinha). Na área do Desporto, abundam campeãs do mundo, de Aurora Cunha a Fernanda Ribeiro. Contudo, só Rosa Mota mereceu destaque, e não numa pequena via citadina, mas num grandioso pavilhão polivalente. A década mais fausta ao reconhecimentos dos méritos femininos na toponímia foi a de noventa, (com um pico em 1991/1992), seguida dos primeiros anos do novo século - 2000/2006. Note-se que houve mulheres que foram, assim, homenageadas pelo poder municipal pouco após o falecimento, caso de Virgínia de Moura, Helena Sá e Costa, ou Sophia e outras que esperaram mais de um século para alcançarem o seu lugar na toponímia - por exemplo, Ana Plácido e a feminista e republicana Albertina Paraíso, de quem, felizmente, se lembraram, tardiamente embora, nas comemorações de 2010. Não há, neste seleto círculo, uma só portuense da Diáspora. Há mulheres que vieram do estrangeiro ou que lá, transitoriamente, estudaram ou viveram. O que não há é emigrantes não retornadas, pelo menos do Porto... longe da vista, longe do coração! A exceção que confirma a regra, a pintora Maria Helena Vieira da Silva, é lisboeta e, ao mesmo tempo, parisiense, o que lhe confere um grau particular de visibilidade e prestígio. La France!... Longe, verdadeiramente longe, fica o Brasil, para onde foi Maria Ruth do Santos, a menina de Campanhã, que morava na Rua do Bonjardim e se transformou, em São Paulo, na tão brilhante e mediática Ruth Escobar. 2 - Após a morte de Ruth, em 5 de outubro de 2017 - uma perda evocada em todo o Brasil, com eco em Nova Iorque, nas Nações Unidas - fez-se sobre ela, no país de origem, um estranho silêncio. Na sua terra, só uma associação, da qual sou fundadora, a Associação Mulher Migrante, lhe prestou a homenagem possível durante um colóquio sobre relações luso-brasileiras. Alguns meses depois, influenciada pela leitura do livro de César Santos Silva, que tivera apoio institucional da autarquia, tomei a iniciativa de me dirigir à Comissão de Toponímia da Câmara Municipal do Porto, lembrando a personalidade desta portuense, a sua ligação afetiva à cidade onde passou os primeiros dezasseis anos de vida e o extraordinário percurso que a tornou a portuguesa da sua geração mais conhecida e admirada no Brasil, como atriz, produtora teatral, mulher de Cultura e ativista dos Direitos Humanos. Uma imigrante singular, admirada pela inteligência, pela audácia e pelo modernismo, uma mulher que nunca receou desafiar os poderes constituídos, em ditadura, nem enfrentar grandes polémicas. Aos compatriotas impressionava o orgulho com que se afirmava portuguesa e portuense. A sua autobiografia, publicada em 1987, começa assim: "Lembro-me do trajeto invariável de todos os dias: da Rua do Bonjardim subo a João das Regras, atravesso a Praça da República, desço a Rua dos Mártires da Liberdade, e entro na Praça Coronel Pacheco - onde ficava o Liceu Carolina Michaelis". Liceu, onde descobriu a vocação teatral, representando, um a um, todos os Diabos, dos Autos de Gil Vicente. Esse primeiro capítulo do livro "Maria Ruth" é, todo ele, dedicado à vivência na cidade, aos passeios ao Palácio de Cristal, ou à Foz, às sessões de cinema no Rivoli, às festas populares de São João. As boas recordações da adolescência são, sobretudo, desses ambientes com que se identifica. Como confessa: "só consigo lembrar os barulhos de fora, da rua, da cidade, dos outros. De dentro de casa, do dia a dia, nada..." . Até que, um dia, partiu à aventura: "quando embarquei para o Brasil, no Serpa Pinto, com a minha mãe, levava também a certeza de um destino, pois soube que tudo o que sucedeu na minha vida, mesmo antes do meu nascimento, estava moldado por uma força universal, cósmica, transcendente". E, de facto, foi cumprindo os seus sonhos de jovem imigrante, a ritmo vertiginoso. Aos 18 anos, editava uma revista "Ala Arriba" e, na qualidade de jornalista (amadora), corria o mundo, entrevistava uma longa lista de líderes famosos, como Foster Dulles, Kruschev ou Nasser, via as suas reportagens serem disputadas por revistas como a "Life", e por prestigiados jornais de S, Paulo e Lisboa, Entre os seus 20 e 30 anos, impôs-se como empresária e produtora de teatro e, depois, como atriz talentosa. No Teatro a que deu o nome, (já não Maria Ruth dos Santos, mas Ruth Escobar, apelido do segundo marido, o poeta, dramaturgo e filósofo Carlos Escobar), levou à cena tanto os prediletos autos Vicentinos como peças contemporâneas. Em 1963, criou o Teatro Nacional Popular, itinerante, que chegava às periferias do Estado, a muitos milhares de pessoas, com espetáculos de grande qualidade (Martins Pera, Suassuna...), em palco improvisado num velho autocarro. O seu terceiro marido, o arquiteto Wladimir Cardoso, viria a ser o cenógrafo de peças de enorme êxito artístico, como "Cemitério de automóveis" de Arrabal, com montagem do argentino Vitor Garcia e encenação da própria Ruth. Uma dupla que, em 1969, com "O balcão" de Jean Genet, venceria todos os prémios, no Brasil. A partir de 1964, ainda jovem, na casa dos 30 anos, durante a ditadura, converteu o seu teatro em forum de luta pela liberdade, resistindo a ameaças, interrogatórios, prisões, e ataques de comandos para-militares. E, nessa década, trouxe Portugal, vencendo obstáculos postos pela "Censura", alguns dos seus maiores sucessos, "Missa leiga" e "Cemitério de automóveis" . Em 1974, organizou o 1.º Festival Internacional de Teatro de S. Paulo, levando ao Brasil as melhores companhias do mundo e contribuindo para um movimento renovador das Artes dramáticas brasileiras, que prosseguiu com o 2.ª Festival, em 1976. Em Portugal, por influência das "três Marias", com quem conviveu, acrescentou o feminismo às suas causas, e, no Brasil, voltou a fazer história, como pioneira no terreno da política, tornando-se a primeira mulher eleita e reeleita deputada à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ao abrigo do Tratado de Igualdade de Direitos entre Portugueses e Brasileiros, pois teve sempre só uma nacionalidade, a portuguesa). Foi também a primeira Presidente do "Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres" e, durante anos, a Representante do Brasil nas Nações Unidas para o acompanhamento da Convenção contra a discriminação das Mulheres Depois de quase uma década nos palcos políticos nacionais e internacionais, regressou, nos anos noventa, aos palcos do teatro, como intérprete, empresária e promotora de festivais internacionais, em novos moldes, mais abrangentes de outras artes. A sua herança teatral, enraizada no Gil Vicente da juventude, e no vanguardismo em que projetou a sua criatividade, ao longo de décadas, mudou a face do moderno teatro brasileiro! Uma última grande produção foi uma encenação de "Os Lusíadas", que estreou em São Paulo e conseguiu, depois, trazer a Portugal. .Em vida, Ruth Escobar recebeu as maiores condecorações brasileiras, a "Legião de Honra" de França, e a "Ordem do Infante D Henrique" de Portugal. A sua morte, em 2017, foi notícia impactante no Brasil, onde fica vivo um legado de intelectual vanguardista, que revolucionou o teatro nacional e de feminista portuguesa, que abriu caminho à intervenção política das mulheres brasileiras. Percorro os nomes femininos da toponímia portuense e julgo que Ruth acrescentaria a essa lista tão reduzida, quanto significativa, a mais valia da singularidade. .3 - Estas considerações sobre Ruth Escobar são puramente objetivas, poderia tecê-las sobre alguém com quem nunca me tivesse cruzado, alguém, porventura, de um tempo passado ou de uma geografia desconhecida. Mas, num plano mais subjetivo, vou contar como a vi pela primeira vez, em São Paulo. Não consigo precisar a data, mas, sendo, então, deputada da emigração, entre uma saída e um regresso à Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, terá acontecido entre fins de 1981 e meados de 1983. Recordo que a minha visita foi organizada por um Cônsul-Geral muitíssimo simpático, que, por fim, me convidou para uma receção, na sua residência, com uma dezena de participantes, entre os quais Ruth, a deputada, que fazia furor. Na mesa redonda, o protocolo colocou-nos lado a lado e a sintonia foi imediata. A conversa começou e continuou centrada no Porto, no nosso Porto... Ela era uns anos mais velha do que eu, mas o país, nesses anos, não mudara, em nada... nem o liceu, nem as mentalidades, os costumes, a vida das adolescentes - que voltamos a ser, nas rememorações desse jantar, rindo e extravasando genuína e juvenil alegria. No dia seguinte, o Cônsul contou-me que ficara muito surpreendido ao constatar que Ruth e eu éramos amigas de infância. Acho que, de novo, muito o surpreendi, ao dizer-lhe que não, que tinha conhecido a famosa Escobar naquela noite... Pouco depois, segundo encontro inesquecível, também em São Paulo, com Natália Correia. Natália e Ruth.! A corrente passava entre ambas - qual delas a mais heterodoxa, a mais fulgurante, a mais carismática... Ruth, tal como Natália, parecia viver, sempre, vertiginosamente e em festa, cada momento, cada ideia, cada projeto...Bem gostaria de as ver, um dia, reunidas na toponímia do Porto. -------------------------------------------------------------------------------------- À Comissão de Toponímia da Câmara Municipal do Porto Tenho a honra de apresentar a V. Excelências uma proposta de homenagem a Ruth Escobar, pela inclusão do seu nome na toponímia da cidade onde nasceu e onde viveu os primeiros 16 anos, até dia em que emigrou para São Paulo. Aí a encontrei, muitas vezes, quando era Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas e Deputada pela Emigração, nas décadas de oitenta e noventa. Ruth Escobar era já, nesse tempo, a portuguesa da sua geração mais conhecida e reconhecida no Brasil, como atriz, produtora teatral, mulher de Cultura, ativista dos Direitos Humanos, política carismática, voz poderosa na defesa de causas. Uma imigrante singular, que o Brasil admirava pela inteligência, pela audácia e pelo modernismo. Aos compatriotas, como eu, impressionava também o orgulho com que se afirmava portuguesa do Porto.. Não é por acaso que a sua autobiografia, publicada em 1987, começa com esta frase: "Lembro-me do trajeto invariável de todos os dias: da Rua do Bonjardim subo a João das Regras, atravesso a Praça da República, desço a Rua dos Mártires da Liberdade, e entro na Praça Coronel Pacheco - onde ficava o Liceu Carolina Michaelis". O Liceu onde descobriu a vocação teatral, representando, um a um, todos os Diabos, dos Autos de Gil Vicente.. Esse primeiro capítulo do livro "Maria Ruth" é, todo ele, dedicado à cidade do Porto, aos passeios ao Palácio de Cristal, ou à Foz, às sessões de cinema no Rivoli, às festas de São João. As boas recordações da adolescência são, sobretudo, dos ambientes portuenses com que se identifica. Como diz "só consigo lembrar os barulhos de fora, da rua, da cidade, dos outros. De dentro de casa, do dia a dia, nada..." Nas suas próprias palavras: "quando embarquei para o Brasil, no Serpa Pinto, com a minha mãe, levava também a certeza de um destino, pois soube que tudo o que sucedeu na minha vida, mesmo antes do meu nascimento, estava moldado por uma força universal, cósmica, transcendente". E, na verdade, foi cumprindo os seus sonhos de jovem imigrante a um ritmo vertiginoso. Aos 18 anos editava uma revista "Ala Arriba" e na qualidade de jornalista (amadora) corria o mundo e entrevistava uma longa lista de líderes famosos como Foster Dulles, Krushev ou Nasser. As suas reportagens eram disputadas por revistas como a "Life" e por prestigiados jornais de S, Paulo e Lisboa, Entre os 20 e os 30 anos. impôs--se como empresária e produtora de teatro e, depois, como atriz talentosa. No Teatro a que deu o nome, (já não Maria Ruth dos Santos, mas Ruth Escobar, apelido do segundo marido, o poeta e dramaturgo Carlos Escobar), levou a cena tanto os prediletos autos Vicentinos como peças contemporâneas. Em 1963, inovou com a criação do Teatro Nacional Popular, que chegava às periferias do Estado, a muitos milhares de pessoas, com espetáculos de grande qualidade (Martins Pera, Suassuna...) em palco improvisado num velho autocarro. O seu terceiro marido o arquiteto Wladimir Cardoso, viria a ser o cenógrafo de peças de enorme êxito artístico - como "Cemitério de automóveis" de Arrabal, com montagem do argentino Vitor Garcia, e encenação da própria Ruth: Uma dupla que, em 1969, com "O balcão" de Jean Genet, venceria todos os prémios do ano, no Brasil. A partir de 1964, na casa dos seus 30 anos, Ruth atravessou o período conturbado da ditadura e.o seu teatro converte-se em espaço de luta pela liberdade, apesar das ameaças, interrogatórios, prisões, ataques de comandos para-militares e violência sobre os atores e sobre ela. Nesta década trouxe a Portugal alguns dos seus maiores sucessos, "Missa leiga" e "Cemitério de automóveis" . Em 1974, organizou o 1.º Festival Internacional de Teatro de S Paulo, levando ao Brasil as melhores companhias do mundo e contribuindo para um movimento renovador das Artes dramáticas brasileiras, que o 2.ª Festival, em 1976, veio aprofundar. Ruth voltou a fazer história, como pioneira no domínio da política, ao tornar-se a primeira mulher eleita e reeleita deputada à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ao abrigo do Tratado de Igualdade de Direitos entre Portugueses e Brasileiros, pois teve sempre só a nacionalidade portuguesa). Foi também a primeira Presidente do "Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres" e, durante anos, a Representante do Brasil nas Nações Unidas para o acompanhamento da Convenção contra a discriminação das Mulheres Depois de quase uma década nos palcos políticos do Brasil e da ONU, regressou, nos anos noventa, aos palcos do teatro, como intérprete, e como empresária e promotora de festivais internacionais, em novos moldes, mais abrangentes de outras artes . A sua herança teatral, enraizada no Gil Vicente da juventude, e no vanguardismo em que projetou a sua criatividade ao longo de décadas, mudou a face do moderno teatro brasileiro . A sua última grande produção seria, por sinal, uma encenação de "Os Lusíadas". .Em vida, Ruth Escobar recebeu as maiores condecorações brasileiras, a "Legião de Honra" da França, a "Ordem do Infante D Henrique" de Portugal A sua morte, a 5 de outubro de 2017, foi sentida no Brasil e nas Nações Unidas, onde deixou uma imagem inspiradora. Em Portugal. passou por um quase total silêncio O Município do Porto poderia, agora, destacar este raro percurso cívico, artístico e político da Cidadã Portuense Ruth Escobar, mantendo viva a sua memória na toponímia da cidade. Desde já agradeço a atenção que a proposta venha a merecer a apresento a Vossa Excelências, com elevado apreço, os meus melhores cumprimentos A partir de 1964, na casa dos seus 30 anos, Ruth atravessou o período conturbado da ditadura e.o seu teatro converte-se em espaço de luta pela liberdade, apesar das ameaças, interrogatórios, prisões, ataques de comandos para-militares e violência sobre os atores e sobre ela. Nesta década trouxe a Portugal alguns dos seus maiores sucessos, "Missa leiga" e "Cemitério de automóveis" . Em 1974, organizou o 1.º Festival Internacional de Teatro de S Paulo, levando ao Brasil as melhores companhias do mundo e contribuindo para um movimento renovador das Artes dramáticas brasileiras, que o 2.ª Festival, em 1976, veio aprofundar. Ruth voltou a fazer história, como pioneira no domínio da política, ao tornar-se a primeira mulher eleita e reeleita deputada à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ao abrigo do Tratado de Igualdade de Direitos entre Portugueses e Brasileiros, pois teve sempre só a nacionalidade portuguesa). Foi também a primeira Presidente do "Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres" e, durante anos, a Representante do Brasil nas Nações Unidas para o acompanhamento da Convenção contra a discriminação das Mulheres Depois de quase uma década nos palcos políticos do Brasil e da ONU, regressou, nos anos noventa, aos palcos do teatro, como intérprete, e como empresária e promotora de festivais internacionais, em novos moldes, mais abrangentes de outras artes . A sua herança teatral, enraizada no Gil Vicente da juventude, e no vanguardismo em que projetou a sua criatividade ao longo de décadas, mudou a face do moderno teatro brasileiro . A sua última grande produção seria, por sinal, uma encenação de "Os Lusíadas". .Em vida, Ruth Escobar recebeu as maiores condecorações brasileiras, a "Legião de Honra" da França, a "Ordem do Infante D Henrique" de Portugal A sua morte, a 5 de outubro de 2017, foi sentida no Brasil e nas Nações Unidas, onde deixou uma imagem inspiradora. Em Portugal. passou por um quase total silêncio O Município do Porto poderia, agora, destacar este raro percurso cívico, artístico e político da Cidadã Portuense Ruth Escobar, mantendo viva a sua memória na toponímia da cidade. Desde já agradeço a atenção que a proposta venha a merecer a apresento a Vossa Excelências, com elevado apreço, os meus melhores cumprimentos A partir de 1964, na casa dos seus 30 anos, Ruth atravessou o período conturbado da ditadura e.o seu teatro converte-se em espaço de luta pela liberdade, apesar das ameaças, interrogatórios, prisões, ataques de comandos para-militares e violência sobre os atores e sobre ela. Nesta década trouxe a Portugal alguns dos seus maiores sucessos, "Missa leiga" e "Cemitério de automóveis" . Em 1974, organizou o 1.º Festival Internacional de Teatro de S Paulo, levando ao Brasil as melhores companhias do mundo e contribuindo para um movimento renovador das Artes dramáticas brasileiras, que o 2.ª Festival, em 1976, veio aprofundar. Ruth voltou a fazer história, como pioneira no domínio da política, ao tornar-se a primeira mulher eleita e reeleita deputada à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ao abrigo do Tratado de Igualdade de Direitos entre Portugueses e Brasileiros, pois teve sempre só a nacionalidade portuguesa). Foi também a primeira Presidente do "Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres" e, durante anos, a Representante do Brasil nas Nações Unidas para o acompanhamento da Convenção contra a discriminação das Mulheres Depois de quase uma década nos palcos políticos do Brasil e da ONU, regressou, nos anos noventa, aos palcos do teatro, como intérprete, e como empresária e promotora de festivais internacionais, em novos moldes, mais abrangentes de outras artes . A sua herança teatral, enraizada no Gil Vicente da juventude, e no vanguardismo em que projetou a sua criatividade ao longo de décadas, mudou a face do moderno teatro brasileiro . A sua última grande produção seria, por sinal, uma encenação de "Os Lusíadas". .Em vida, Ruth Escobar recebeu as maiores condecorações brasileiras, a "Legião de Honra" da França, a "Ordem do Infante D Henrique" de Portugal A sua morte, a 5 de outubro de 2017, foi sentida no Brasil e nas Nações Unidas, onde deixou uma imagem inspiradora. Em Portugal. passou por um quase total silêncio O Município do Porto poderia, agora, destacar este raro percurso cívico, artístico e político da Cidadã Portuense Ruth Escobar, mantendo viva a sua memória na toponímia da cidade. Desde já agradeço a atenção que a proposta venha a merecer a apresento a Vossa Excelências, com elevado apreço, os meus melhores cumprimentos

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