sábado, 16 de junho de 2012

25 Abril 2012

O 25 de Abril de 1974 é, para mim, hoje um data já marcada pela nostalgia, pela memória de um dos períodos fascinantes da nossa História, que então se iniciava. Durante os muitos anos em que estive envolvida na política nacional, convivi sempre com a certeza de que a evolução nos levaria em frente, num percurso reformista ascensional - e nenhum dos obstáculos encontrados no percurso abalou o meu invariável optimismo. Afinal, havia liberdade (coisa admiravelmente inédita no meu tempo de vida), havia eleições, respeito pelo veredicto popular, qualquer que ele fosse, havia políticos de grande estatura moral e intelectual, havia mais direitos e mais igualdade, também para as mulheres. Estávamos na Europa, não só pela geografia, mas pelas afinidades políticas e pela abertura da sociedade aos ventos de mudança, que arejavam mentalidades e encorajavam um novo relacionamento entre portuguesas e portugueses e entre eles e o Estado. Para usar um termo datado, sentia que se iriam “cumprir as promessas de Abril”. E penso que, na verdade, se cumpriu fundamentalmente o projecto de democratização e de europeização do País, num ciclo em que a sua consecução foi alcançada na dupla vertente nacional e internacional. Todavia, com a chegada ao poder de uma nova geração de homens (de homens, porque as mulheres são ainda uma pouco influente minoria nas instâncias do poder...) a coincidir com o fim de novecentos, e com a alteração substancial da realidade dos poderes fácticos da Europa, agora também com outros protagonistas e outras formas de liderança, podemos falar de uma nova época sombria, num inseguro novo século...
Aprendemos, à nossa custa, que a qualidade da governação democrática não é nunca uma conquista definitiva, antes deriva das pessoas que pela inteligência, pela visão e capacidade de acção política, ou pela falta delas, a conservam ou a perdem.
Estamos hoje de volta a um passado de pobreza, de emigração forçada pela miséria (que é uma forma de exílio), e até de dependência - dependência dos credores, da “soi-disant” União Europeia, dividida numa linha Norte/Sul, descrente do seu futuro como um todo, na medida em que descrê de muitos dos seus Estados membros, entre os quais nos contam.
Esta já não é bem a democracia construída a partir da Constituição de 1976, num Estado soberano, em que o Povo se via como senhor do seu destino, num Estado Social, a que íamos acedendo, e num Estado de Direito. Tudo parece posto em causa no presente… Não há certezas, nem sobre Portugal, nem sobre a Europa. A Europa dos Tratados assinados por iguais, a Europa da távola redonda, que olhávamos como o garante da irreversibilidade da nossa democracia e do nosso Estado Social, parece pronta a regredir ao tempo e ao lugar dos egoísmos nacionais e da prepotência dos mais fortes, sobre o pano de fundo de um capitalismo selvagem. Será, se assim for, o princípio de uma decadência fatal.
Todavia, em qualquer caso, continuo a acreditar em nós, talvez porque, a partir de fora, no longo contacto com as comunidades da emigração, aprendi que Portugal existe na sua gente, na sua cultura, no espaço da lusofonia.
Portugal, como há, mais de um século, profetizava António Cândido (hipotizando um cataclismo que nos afundasse, neste rectângulo europeu...) estará para sempre vivo na língua e na cultura que deixou em outros continentes, entre outros povos.
É pela cidadania e pela cultura que havemos de resistir, num interregno de indefinida duração, até à entrada num futuro ciclo de ressurgimento.

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