terça-feira, 30 de março de 2010

Prefácio de um livro de leitura obrigatória.

O prefácio que o Sr Sadoeira me pediu para o seu novo livro sobre aqueles processos chamados "dos apitos", com que se tentou, instrumentalizando órgãos do Estado e as instância directivas do desporto, destruir o obra do FC PORTO - através de um ataque pessoal ao Presidente Pinto da Costa - foi enviado a 30 de Março. Aqui o deixei em "rascunho", para editar só depois da apresentação pública da obra - naturalmente!

Essa esssão aconteceu ontem, 16 de Abril, no salão dos Fenianos, completamente cheio.
Falaram o dirigentes do tradicional clube portuense - um monumento da cidade! - depois coube-me apresentar a obra e ouvir as palavras inspiradas do Autor (esplêndido, como sempre!). Para mim, foi uma honra inesperada, este convite - aceitei com imenso gosto, sabendo embora que muitos portistas haveria que o fariam muitíssimo melhor do que eu!
Os comentários ficam para o fim. Primeiro, o texto do prefácio:

"O Dr. Fernando Sardoeira Pinto pertence a uma estirpe rara de homens do desporto que são também, homens de cultura e homens de carácter. E é, para além disso, um nortenho e portuense, dos que citam Sofia de Mello Breyner para evocar a "pátria dentro da pátria", um "dragão de causas", símbolo do espírito inquebrantável do FC Porto, voz dos seus adeptos, que se sentem, como me sinto, esplendidamente representados por ele.
Presidente da Assembleia Geral do FC do Porto a partir de 1982, desde o primeiro mandato de Jorge Nuno Pinto da Costa, é, com o amigo e aliado de sempre, artífice da aventura que levou à transformação de um clube regional, ou de " província", como era depreciativamente chamado, para o clube de renome universal, que deu ao País títulos europeus e mundiais de futebol, jamais alcançados pela própria selecção nacional.
Aventura colectiva que começou por aproveitar os ventos de mudança do Portugal democrático para repor a verdade das capacidades e dos talentos de quem era secundarizado pela força de um centralismo implacável, imposto pelo regime, que da política extravasava para todos os domínios, como era o caso particular do futebol.
A ascensão do FC Porto deve-se, antes de mais, a estes dirigentes que trouxeram a democracia e a igualdade de oportunidades para o terreno de jogo, permitindo, num segundo momento, aos próprios atletas e às equipas técnicas colherem a glória e os louros da uma superioridade real.
Os “senhores” do velho sistema renderam-se a um fenómeno, que julgavam transitório, vendo azuis e brancos somarem, ano após ano, troféus a nível nacional e internacional. Todavia, quando a excelência portista principiou a dar mostras de se ter convertido em organização sólida e realidade perene, perdida a esperança de vencer, em campo, com armas iguais, eis que começam a desenhar estratégias que passam por outros campos e outras armas!
Este livro faz, em português de mestre, em palavras que fluem com a simplicidade, a precisão, a vivacidade, características de grandes jornalistas, a crónica de um tempo do futebol profissional português, o início do século XXI, marcado e manchado pelas tentativas de abater o gigante em que convertera, fulgurantemente, o FCPorto, decapitando-o da liderança do Presidente Pinto da Costa - à falta de meios legítimos para atingir o mesmo escopo...
A relação minuciosa dos factos e a clara explanação das razões subjacentes, constituem, assim, um contributo mais do Dr. Sardoeira Pinto para a causa da justiça, e um subsídio precioso para a reconstituição de um período deplorável da justiça - ou injustiça - portuguesa, dos processos que dão título à publicação.
Acções e recursos que se arrastaram pelos tribunais de várias instâncias, incluindo as desportivas, no país e na Europa, e cujo eco ultrapassou fronteiras, com foros de escândalo, deliberadamente provocado ou instigado para a pura e simples destruição desportiva e moral de um competidor, de outra forma invencível.
Os processos dos "apitos", e, bem assim, outros episódios e casos de época, que ajudam à sua descodificação e plena compreensão, são aqui escalpelizados e sistematizados, com nomes, datas e lugares, tomadas de posição e decisões, actos, omissões, contradições, intrigas, mentiras – tudo descrito ao pormenor, num precioso e abrangente registo, que faltava, para memória futura.
Mas, para além da cronologia dos factos, da elucidação dos argumentos, de natureza eminentemente jurídica, do manancial de informação de toda a ordem, de sapientes comentários e reflexões, a narração ganha densidade humana e societal ao retratar, num impressionante fresco, figuras e figurantes, com as suas interacções e comportamentos insólitos, geradores de um clima de irresponsabilidade e insânia, em que vimos decair instituições do mundo do desporto e do próprio “Estado de Direito”. Na expressão do Autor, foi a “caixa de Pandora” que se abriu… Consequência dessa ânsia incontida de retornar ao passado, de interferir, deslocando o centro de excelência do futebol português do seu ponto norte para a antiga “sede geográfica do poder”, artificialmente criada ou, mais exactamente, recriada.
Temos vindo a considerar as questões de fundo, que, assim ordenadas e explanadas, são uma mais-valia extraordinária, para que os vindouros não esqueçam nem tolerem a recorrência da viciação do “fair-play”. Mas não podemos deixar sem uma referência a originalidade da forma e da metodologia, que igualmente recomendam a leitura desta obra.
A singularidade do fio condutor da narrativa é a procura de resposta à indagação de um jornalista sobre qual fora o melhor momento da vida do Autor. Fiel a si próprio, quer dar uma resposta verdadeira, pensada, definitiva. E, logo nas primeiras páginas, parte em demanda da memória de acontecimentos felizes, numa fascinante "viagem interior", conduzida pelo olhar sobre um mundo de emoções e de vivências, que quer partilhar connosco, e em que revela muito de si, dos seus valores éticos, dos seus afectos e paixões, entre elas, a "pátria dentro da pátria" e o clube do coração.
Será que vai surpreender os leitores ao incluir no número extremamente selectivo dos melhores momentos da sua vida o epílogo dos processos dos "apitos finais, dourados... e outros mais"?
Sem antecipar o desfecho final, direi que acompanho, com imensa alegria, o Dr. Sardoeira Pinto, na rememoração dos momentos em que se fez justiça a um grande clube e a um grande homem, garantindo o lugar do campeão nacional na “Champions League” e recolocando o Presidente Pinto da Costa na rota do futuro do FC Porto.
Este é, tenho a certeza, o livro que todos os adeptos portistas queriam ver escrito e que todos os autênticos desportistas vão gostar de ler".

Maria Manuela Aguiar

8 comentários:

  1. Sobre a apresentação que fiz do livro, começo por dizer que o mais difícil foi encurtar tudo o que queria dizer - e também dizer as coisas de uma forma menos veemente do que gostaria, pois isso poderia envolver a obra em polémicas que não me cabe atiçar.
    O ilustre Autor sabe melhor do que eu ser preciso e contundente, num estilo sempre elegante e adequado - nem de mais nem de menos!

    Tinha o Autor , com esta preciosa iniciativa, por objectivo principal desocultar por completo uma "trama" ou conspiração que atingiu o foro do incrível, da "insânia", para usar um termo seu, na tentativa de liquidar a grandiosa organização vencedora, que é o FCP, não no terreno do jogo jogado, onde isso não seria possível, mas em pleno território jurídico - judicial, disciplinar, para tanto instrumentalizando ou tentando instrumentalizar, a Procuradoria- Geral da República, os tribunais e os òrgãos jurisdicionais do desporto, a nível interno e europeu.
    Traça, pois, comr rigor, as etapes e vicissitudes de uma longa batalha, recheada de "golpes de teatro". de avanços e recuos, de decisões contraditórias, de episódios vergonhosos e caricatos, como vergonhosos, toscos, grosseiramente improcedentes ou inadmissíveis foram métodos e argumentos usados para alcançar os fins - e que atingiram o seu expoente máximo nas atitudes, nos escritos e palavras do presidente da Comissão Disciplinar da "Liga", um licenciado em Direito, de fresca data (visto que é ainda muito jovem, embora tal não possa servir de desculpa, porque, em qualquer caso, não é ininputável...) chamado Ricardo Costa.
    "Questões de Escola", como a inversão do ónus da prova, a presunção de inocência (o "in dubio pro reo"), a retroactividae, inconstitucionalidades várias foram vulgarizadas - nem sempre bem... - nas notícias de imprensa.
    E questões de senso e honestidade com aquelas se misturaram: a ilegitimidade, de utilização de escutas em processos disciplinares, a absoluta falta de credibilidade de testemunhas, convertidas em motor de arranque de perseguição, a utilização de indícios travestidos em provas, que não foram nunca produzidas - nem poderiam ser, por pura inexistência, a pseudo descoberta de "factos novos". que eram mais do que velhos, para reabrir processos ...
    Uma longa lista de malfeitoriase atropelos da lei e deprincípios gerais de Direito, que nenhum caloiro ignora - daí que o Dr. sardoeira afirme, com razão, que Costa chumbaria no 1º ano do curso, se defendesse, em acto de exame, o que veio a defender em acordão...
    Tudo com o fito de rapidamente internacionalizar o caso, para barrar ao FCP o acesso à Liga dos campeões, conquistado no campeonato nacional com 23 pontos de avanço, sobre o 2ª classsificado.
    E quem era o 2ª? Quem era o candidato a tornar-se o orgulhoso "campeão na secretaria"? O SLB...
    Quem entrava directamente na Champions? O SLB...

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  2. Essencial é mencionar este "quem era quem", para se compreender, para além do lado técnico, jurídico da problemática o seu lado humano, emocional, agravado pelo sensacionalismo mediático. O drama que, a partir dos títulos de jornal, das reportagens, lançava sofrimento ou esperança, em lados opostos da contenda, assim artificialmente gerada.
    O livro conta-nos uma história, feita de muitas histórias, de interesse humano, social, cultural, tanto quanto de interesse jurídico - ou político. Todos estes ingredientes se fizeram presentes, numa escrita viva e comunicativa em que adivinhamos o grande jornalista, o grande advogado, o grande portuense e portista, o grande defensor de uma causa justa!

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  3. Dá-nos, pois, rigorosa e minuciosa conta dos processos, na sua componente jurídica, traçando em simultâneo, o cenário vivencial de emoções, de interesses, de mentiras e intrigas, e, sobretudo, de uma vontade e capacidae de luta de quem se via denegrido e injustiçado. Este é também uma história de resistência nortenha e portuense, a lembrar outras semelhantes que ao longo de séculos, em diferentes domínios, nos deram uma identidade dentro do todo nacional - que a esta parte tanto deve e o A. não deixa de realçar, com inteligência e erudição. E de vitória! Mais uma e das mais importantes da vida do FCP, porque foi, bem vistas as coisas, uma luta pela própria sobrevivência.
    Basta vermos que, sem a mesma força anímica e jurídica, nesta teia complexa se asfixiou o segundo maior clube da cidade, e um dos maiores do país - o Boavista...
    Não resta dúvida que esse era o destino que alguns sonhavam para o FCP!
    Pelo menos para o FCP na sua dimensão actual: o maior clube português, desde a restauração da democracia, o clube que mais títulos soma neste período, a nível interno e universal.
    O maior fenómeno de afirmação fulgurante no futebol contemporâneo: do anonimato a campeão europeu e mundial, por duas vezes já...
    Este era o gigante que se visava abater, retirando-lhe "ex post facto", os títulos brilhantemente ganhos, envolvendo-os numa nebulosa de suspeições e, sobretudo, excluindo-o dos títulos a ganhar futuramente e do acesso a Liga dos Campeões.
    Este era o objectivo: dar o título nacional a Lisboa, colocar Lisboa na Champions League - por Lisboa se entendendo o SLB...

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  4. O apito dourado era coisa pequena, acusação de corrupção por ofertas a árbitros de pequenos artefactos de ouro, de uma terra de ourives e de filigranas dos arredores do Porto.
    O processo só ganhou a sua dimensão histórica (porque fez história do Direito em Portugal, misturando o pior e o melhor do nosso sistema de justiça...) quando, através de escutas, sem especial significado, frases menos significativas do que algumas que do sul se ouviram, em outras escutas, se ofereceu o que parecia uma oportunidade de envolver o presidente do FCP...
    Destruir o Homem, destruir o Clube, como exemplo de justicialismo à portuguesa, eis o escopo!
    Uma das sedes estratégicas estava na PGR: constitui-se com o maior espalhafato mediático uma "equipa de luxo", com uma guerreira à frente, e ordens para recorrer de todas as decisões judiciais que, neste caso lhe fossem desfavoráveis! (muito trabalho e poucos frutos alcançados - destinado a uma derrota final, muito merecida, com vitória do DIREITO, como agora sabemos...)
    A outra sede estava na Liga - em especial, na Comissão de Disciplina da Liga, com uma equipa chefiada por Ricardo Costa, quiçá, ainda mais espalhafatosamente mediática, diga-se...
    A este nível valeu tudo, como o livro deixa abundantemente demonstrado: utilização indevida de escutas, fabricação da credibilidade de testemunhas sem o mínimo de crédito, de "factos novos", que eram velhos, de fracos indícios "graduados" como provas...
    Foi esta "sentença" desportiva, que, pelas mãos inábeis da Federação, mal apresentada em termos de direito comparado, mal traduzida do português jurídico, chega à UEFA e determina, numa 1ª deliberação, a tão almejada exclusão do FCP da "Champions".
    Cantam vitória os litigantes anti-portistas. Mas o FCP, que no campo vencera o campeonato com 23 pontos de avanço sobre o SLB, vai jogar, agora no campo do Direito com outra grande equipa - de advogados evidentemente.
    Ò recurso para o Tribunal Arbitral do Desporto vem repor a justiça, a verdade jurídica e a verdade desportiva!
    Isto de aplicar a factos alegadamente ocorridos em 2002-03 (ainda por cima, a época em que o FCP não só ganhara o título caseiro, como o europeu e mundial!) um regulamento UEFA de 2007, não lembrava a ninguém - nem a um caloiro de Direito, que quisesse passar no exame de 1º ano...

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  5. A obra do Dr. Sardoeira é um serviço prestado à história do Direito e das instituições do fim do seculo XX e início do sec XXI em Portugal.
    Imprescindível a sua consulta, a sua leitura, para juristas ou não - para portisatas ou simplesmente, como eu escrevi, "desportistas".
    Como o próprio Autor diz, no final "a montanha pariu um rato". Mas é uma montanha que interessa dissecar, feita de muitos episódios e de muitos personagens, que importa conhecer de perto, para evitar que possam repetir a sua cruzada de intrigas e malfetorias.
    Nos jornais, nos media, na nossa memória, tudo se iria dissipando ou diluindo. Este registo não permite esse efeito corruptor do tempo. Aqui a história está intacta para sempre!

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  6. Uma palavra para a capa de autoria da grande artista que é Maria Eugénia - com uma mensagem bem conseguida.
    A dourado, não os imaginários apitos, mas as taças internacionais ganhas pelo FCP, em épocas de ouro!
    E a ligar os troféus, um fio condutor, que pela mão do nosso Autor vai avançando!

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  7. Este é, pois, o fiel e completo registo "do estado dos processos" ao longo do seu curso, mas também a apaixonante narrativa dos "estados de alma" que foram suscitando.
    Há muito de auto-análise e de autobiografia, nas páginas que lemos, com tanto prazer!
    Há muito de inesperado e de surpreendente, num relato que não é apenas o dos factos do domínio público - ainda que estes estejam lá todos.
    O Autor vive-os subjectivamente, na recordação das alegrias das muitas vitórias portistas, as do campo e as dos tribunais - e de outras que preenchem um percurso extraordinário, na veste de homem de família, de profissional, de dirigente desportivo, de apixonado pelo Porto e pelo FCP.
    A procura do melhor momento da sua vida!

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  8. Fará o feliz epílogo destes processos dolorosos -conhecido naquele sábado, dia 12 de Dezembro de 2009 - parte desse reduto de grandes momentos?
    Sem dúvida...
    Mas em que posição?
    Deixo a pergunta sem resposta, para que cada um a encontre, individualmente.
    Mas termino dizendo, como disse nos "Fenianos", na 6ª feira, dia 16, que os momentos passados a ler este livro foram, sem dúvida, alguns dos melhores momentos da minha vida!

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