domingo, 21 de março de 2010

O "meu" centenário

O meu centenário. Honni soi...
Assim chamo, simplesmente, às comemorações do centenário da República que me cabe organizar, em Espinho.
Têm algumas especificidades em relação às que ocorrem por esse país fora: começaram no feminino, em Março, que é o "mês" do "dia"internacional da Mulher, homenageando as mulheres feministas e republicanas de 1910; falarão de um século de migrações, da questão de género, de municipalismo, de laicismo, de humor gráfico, de cinema, poesia e música e outros assuntos interessantes (do meu ponto de vista!). E incluirão reconstituições históricas de serões e festas e comícios de época - coisa que muito entusiasmou a própria comissão nacional das comemorações, pelo que, deduzo, não será muito comum em outros festejos municipais.
Outra originalidade: a promotora é assumidamente monárquica (adepta de uma monarquia que nunca houve e, desconfio, não haverá nunca no nosso país, de modelo nórdico - monarquia constitucional e com direitos sucessórios iguais para mulheres e homens).
Mas, também apaixonada pela história e pela verdade histórica, tanto quanto a ela podemos chegar. E não esqueço que, na família, há as duas tradições - monárquica e republicana. Predominam largamente os primeiros, mas, bem vistas as coisas, os mais activos foram os minoritários. Um deles dá o nome à praça do município de Gondomar - Manuel Guedes (Ferreira Ramos, irmão da bisavó Carolina). O Tio-Avô António (Mendes Barbosa), que passou temporadas no Aljube e chegou a ser exilado para Angola. Os outros irmãos da Avó Maria: o Tio Alberto, também aprisionado no Aljube, nos períodos adversos. O Tio José, aposentado, por razões políticas, no tempo de Salazar - ele que fora o mais jovem conselheiro de sempre do Supremo Tribunal de Justiça. O Tio Alexandre, que foi proeminente a nível local, mas nunca preso nem demitido. Acho que era tão boa pessoa, que nem os adversários lhe queriam tocar.
Na família paterna, não há registo de tanta agitação política na vida de nenhum dos antepassados. Mas o Avô Manuel era um fervoroso monárquico, tal como o Avô António Aguiar.
Monárquica é também a minha mãe, mas não o pai, convicto republicano (democrata, embora conservador, muito anglófilo, durante a guerra - e depois da guerra, também).

Voltando ao presente: início do centenário ideal, com uma grande conferência da Drª Maria Barroso, ela mesma uma grande senhora a República.
Com um braço partido, nem por isso deixou de vir a Espinho, como prometera. De combóio que, nas circustâncias, era o meio de transporte menos penoso. (A foto documenta o momento da partida. À direita, a Mª João Sande Lemos, que é a nova secretária-geral da Fundação Pro Dignitate, e a Leonor Fonseca, assessora do presidente da Câmara de Espinho).
Coragem, sentido do dever, espírito cívico, inteligência e dons de oratória fazem da Drª Mª Barroso um caso singular. A sua presença foi uma honra para Espinho! (e para o "meu" centenário).

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