domingo, 9 de agosto de 2009

Tio Zé III comentários

FOREVER YOUNG
O nosso tio Ze´nunca envelheceu no sentido em que as pessoas envelhecem, aos 80 anos. Sempre feliz e divertido com as nossas visitas, insistia em nos convidar, todos os dias, para grandes jantares no Ibéria (o Sr. João era um amigo) ou no cabana Carioca, que era perto de casa. Marisco em quantidade era um "must". E bom vinho!
E como era conversador! Tinha uma memória fantástica. Ria das suas próprias histórias... E nunca falou de doenças, mesmo quando estava muito doente. No hospital, dizia a todos que a sobrinha Manuela estava a chegar. Mas só cheguei no dia seguinte ao da sua partida deste mundo. Eu já não o vi. Ele viu-me. Já muito mal, confundiu-me com uma amiga, que o foi visitar... Contou-me isso o Sr. João ( do restaurnte Ibéria) que o acompanhou até ao fim.
Deu-me um enorme consolo. Sentia-me tão triste, por ter faltado, com a minha presença.


9 comentários:

Docas disse:
O meu tio Zé da América era uma pessoa extravagante no vestuário. Desinteressado de valores materiais. E um óptimo profissional, que podia ter feito fortuna. Um dia confessou-me que só trabalhava de manhã e não queria mais clientes do que aqueles que tinha arranjado, quando chegou a NY . Eram três judeus riquissímos, muito amigos dele,para quem fazia lóias assinadas "José Aguiar". Assinatura que era uma referência de qualidade nos EUA.Só quando vinha a Portugal. ou quando tinha visitas de amigos ou família, é que trabalhava mais umas horas para poder oferecer grandes almoçaradas ou jantaradas. Felicíssimo por dar! Na companhia dele, pobre ou rico, ninguém pagava nada.
Ele morava no 40º andar, com uma vista fantástica sobre o rio Hudson.
Segunda-feira, 01 Setembro, 2008
Manela disse...
O tio Zé era imcomparável e inimitável! Generoso demais! Nunca disse "não" a um pedido de ajuda. Recebeu em casa verdadeiros "sem abrigo", como aquela brasileira, que encontrou na Penn Station a chorar, em cima de uma mala... Parece telenovela, mas é verdade! Essa, eu até a conheci- mais tarde, muito mais tarde, foi casada com um americano, professor de uma universidade.
Sempre considerei o tio Zé uma espécie de santo "laico", praticante, da forma mais espontânea, de todas as virtudes cristãs, mas irreverente, iconoclasta.
Lembram-se dos primeiros calendários que mandou de NY? Destinavam-se a chocar o povo, como as esculturas do Cutileiro... Efeito conseguido! Mais se distinguia da Madre Teresa de Calcutá por gostar de beber uns copos de bom vinho. E como desafinava a cantar!
Restaurantes e bares, pela noite fora, eram a sua ideia de divertimento. Mas já nos seus tempos de juventude, em Gondomar, dava aos rapazes pobres as suas melhores roupas, se lhe pedissem, e, quando a mãe descobria as dádivas e protestava:"Porque não deste o casaco velho?", ele respondia, inevitavelmente," Porque ele não é menos do que eu". Para ele, era isso que fazia sentido. E sempre foi!
Obrigada tio Zé, por ter sido assim. A assídua visitante de NY
Manela
Segunda-feira, 01 Setembro, 2008
Docas disse...
O tio Zé (como eu ) viajava sempre com uma única mala de roupa, de tamanho mínimo. E, quando estava prestes a regressar a NY, ficava muito consumido com as ofertas que era obrigado a transportar. Um dia, em casa da Manela, antes da iminente partida para o aeroporto, apareceu a minha mãe, trazendo-lhe, de presente,uma camisola de algodão, às risquinhas - muito bem embrulhada, é claro. O tio Zé abre o embrulho, acha bonita a camisola, mas diz: " Lolita, agradeço imenso, mas já não cabe na mala. Vais dá-la ao Nestó. Eu levo comigo o cartão de parabéns, que é uma boa recordação". A minha mãe insistiu, insistiu, mas ele era muito teimoso (como eu), deixou a prenda e levou o cartão. Como eu o compreendo!
A sobrinha(e afilhada)
Docas
Quarta-feira, 03 Setembro, 2008
Manela disse:
Tenho uma vaga lembrança do episódio, e confirmo os comentários da Docas sobre as suas semelhanças com o padrinho, pelo menos nos referidos aspectos... Nunca me poderei esquecer do dia em que chegou a Genebra, para passar um mês de férias, sem mala alguma: apenas com um saco minúsculo, onde trazia pouco mais do que a pasta de dentes. Eu estava a fazer um curso no Instituto da OIT. Fui esperá-la com um colega paquistanês. O homem nem queria acreditar que ela não trazia mais pertences com ela! Numa paquistanesa seria impensável... E em qualquer portuguesa "normal"também. Mas nós,na família, estamos cheios de excêntrcos...E são todos estimáveis.
Ps: A Docas fartou-se de comprar roupa nova lá na Suiça- a OIT era um espaço muito "social", ela apresentou-se sempre "chiquérrima" (uma surpresa para quem a conhece...).
Fez um enorme sucesso! O curso era frequentado por 34 homens e eu - a única mulher. Sinal dos tempos. Corria o ano de 1986, um pouco antes de Maio.
Quarta-feira, 03 Setembro, 2008
Manela disse:
Ainda sobre o tema da teimosia, outra história do tio Zé, esta com nova protagonista- a Manuela Aguiar, minha afilhada.Fui aos EU, em missão da UEO, e levei-a comigo. Durante os dez dias em que andei pelas bases militares americanas, deixei-a, naturalmente, no apartamento do tio. Apesar de serem ambos muito teimosos ,deram-se lindamente, discutindo, de forma amigável, o tempo todo. Quando cheguei e saímos para jantar, começou a disputa logo à esquina do prédio: Ele achava que era mais perto ir em frente, ela queria virar à esquerda. Eu resolvi prontamente a questão, dando razão ao tio (2-1...). Como é evidente, para quem conhece aquela cidade, e o seu traçado geométrico, era indiferente seguir um ou outro dos caminhos...
Quarta-feira, 03 Setembro, 2008
Manela disse...
O tio Zé não pensava regressar a Portugal. Apesar de ser muito ligado à família, mesmo à gente mais ou menos desconhecida, da nova geração - que identificava como o "filho ou neto de A ou B", transferindo, automaticamente, a estima de uns para outros - gostava de NY, do seu apartamento, da vida que ali levava. Mas, estranhamente, na última vez que falámos, ao telefone, participou-me que ia voltar, deixando o apartamento a uma brasileira ( a da história da mala, na Penn Station...). Fiquei encantada! Convidei-o a vir para o meu andar de Espinho - ou para outro, que então tinha em Quintã, Gondomar, onde estaria mais próximo da maioria da família, sobretudo do irmão António.
Sentir-se-ia doente? Não era pessoa para se queixar... Ou terá tido um pressentimento de um fim próximo? Não sei. Sei que teria vindo e nós queríamos que viesse.
Quarta-feira, 03 Setembro, 2008
Lélé disse...
-Vem aí o Tio Zé da América - dizia o papá.
-Ena!!!- diziam os sete manos em coro.
-Papá ele vai trazer presentes, e eu vou apalpar-lhe o "molete", que é muito macio e fofinho!-dizia a Lélé.
Era com esta alegria que recebia o tio Zé da América...que saudades!
P.S. Atenção que o "molete" era a sua careca fantástica, nada de confusões.
Quinta-feira, 04 Setembro, 2008
Docas disse:
O tio Manuel vinha, muitas vezes, a Lisboa e convidava-me para almoçar. Contava-me, então, muitas histórias antigas da família. Eis uma delas, sobre o tio Zé: A pedido de uns amigos, sem posses para pagar explicações, converteu-se, ele próprio, em professor. (andavam todos no mesmo ano...). Dava aulas num res do chão e gritava tanto com os "alunos", que o alarido se ouvia no 1º andar. Mas aprenderam a lição! Os alunos passaram todos. Conseguiram, depois, empregos em bancos, etc...
Quem "chumbou" foi o mestre...
Sexta-feira, 05 Setembro, 2008
kika - Manelinha disse...
O "Tio Zé da América", como nós lhe chamávamos. Era uma pessoa fantástica... Sempre que cá vinha lá tinha de haver uma visita ao "foguetão(????)"... e o tio sempre com as sua calças com suspensórios e sapato de tacão!!! Era adorável... Não me posso esquecer da minha 1ª ida a NY, em que fiquei nesse já falado 40º andar... Foi o cicerone perfeito. Todos os dias tinha um programa para mim: uma visita ao Central Park, uma ida a um museu, um passeio à Estátua da Liberdade, Torres Gémeas, Empire State, etc...
Nos 15 dias que com ele privei, fiquei a conhecê-lo melhor e ouvi umas quantas histórias dos manos “Aguiar”- incluindo a minha avó - bem divertidas…
E o "Cabana Carioca, ah!"Saudades "Tio Zé da América"
Manelinha - kika

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