quarta-feira, 13 de agosto de 2025

MARIA BARROSO PRO DIGNITATE

A maior figura feminina do nosso século XX foi, a meu ver, Maria Barroso. Tem o seu lugar na história da democracia, na história do feminismo em Portugal e tem, igualmente, um lugar muito especial no coração do Povo, conquistado, sobretudo, pela forma como as pessoas se sentiram, de facto, representadas por ela como a "primeira" das portuguesas - não a" primeira dama", que só as poderia representar através da legitimidade eletiva do marido... - alguém que viram justamente, como personagem principal, como exemplo de inteligência, de cultura e de cidadania da mulher do seu tempo. Alguém que estava tão à vontade a receber ou a visitar os mais famosos e os mais poderosos, como a relacionar-se fraternalmente com o cidadão comum. A imagem popular de Maria Barroso construiu-se a partir das origens de um admirável percurso de luta revolucionária, um percurso próprio, bem anterior ao encontro de destinos com Mário Soares, mas foi sedimentada durante "os anos de poder" ao lado do Primeiro Ministro e Presidente da República - anos em que conseguiu, como sempre conseguiu, ser ela mesma, numa afetiva cumplicidade com ele, que não escondia as naturais diferenças, a sua absoluta singularidade e independência de espírito, numa vida que, por isso, nunca ficou na sombra de um grande homem... Foi no momento em que se despedia de Maria Barroso, surpreso e emocionado, que o País redescobriu - ou descobriu - a inteira dimensão da sua personalidade, o pleno significado de uma longa e variada trajetória, que atravessou épocas e regimes, sempre norteada pela coerência dos valores cívicos e humanistas. Uma infinidade de testemunhos, de comentários, de artigos, de reportagens, de entrevistas, acabaram por dar uma ideia mais exata da excecionalidade da sua ação ao longo de mais de sete décadas, até ao seu último dia entre nós, Foi a jovem que ousou querer ser atriz e integrou o elenco do Teatro Dona Maria II e fez da declamação de poemas uma arma pela liberdade. - o que lhe uma cortou uma brilhante carreira artística, e, depois, também, a segunda carreira profissional, a docência, Foi a resistente, que suportou a prisão e o exílio, primeiro, do pai, e, em seguida, do marido e soube ser uma mulher e uma mãe corajosa. Foi a militante socialista, única mulher a falar e a intervir, com a força mobilizadora da palavra nos palcos da política, antes e logo depois do 25 de Abril. Deputada na Assembleia da República Parte ativa no movimento que levou Mário Soares a São Bento e a Belém. Depois, a sua história retoma um curso a que impõe, por inteiro, prioridades próprias, que não passam pela intervenção nas instituições do Estado e, menos ainda, pela política partidária .É a primeira mulher a presidir à Cruz Vermelha. Distingue-se à frente de uma grande instituição de ensino.Torna-se, a nível da sociedade civil, no domínio que escolhe para afirmar os valores humanistas, que gostamos de situar no território comum do socialismo democrático e do fraternalismo cristão, uma individualidade cada vez mais admirada e singularmente consensual. A sua conversão, emotiva e sincera, ao catolicismo, vem naturalmente, reforçar o seu sentido de missão, e acrescentar o número dos seus companheiros de projetos, que, para além de Portugal, encontrou, também, em Roma, na esfera da lusofonia (não esqueçamos, em especial, o seu papel no processo de pacificação em Moçambique), como no universo da Diáspora, que percorreu, presidindo, nas 7 partidas do mundo, aos "Encontros para a Cidadania - a igualdade entre mulheres e homens".(entre 2005 e 2009 - uma parceria com o governo e várias ONG’S, para o arranque das políticas de género e cidadania na emigração, a que, octogenária cheia de vigor e entusiasmo, deu a modernidade do seu pensamento e a força da sua palavra, deixando, como podemos testemunhar todos os que, com ela participámos nessa saga, um horizonte de esperança num novo relacionamento, mais próximo, mais afetivo entre as pessoas, as gerações e o País. Na visão de Maria Barroso, na sua luta pela dignidade de cada ser humano, não havia favoritos - :portugueses, africanos, timorenses, refugiados, imigrantes, velhos, jovens, mulheres, homens... Não foi por acaso que deu à sua Fundação, onde levou a cabo um trabalho notável e multifacetado, a felicíssima denominação de PRO DIGNITATE. Nesta causa cabem todas as que atualmente constituem desafios maiores no novo milénio - os combates por um mundo sem guerras, sem violência,,sem perseguições políticas e religiosas, sem a miséria provocada por chocantes desníveis de desenvolvimento, de acesso à educação. à livre a expressão da cidadania, ao diálogo sobre um futuro de tolerância e de paz, a partir de uma diversidade de heranças culturais, que se descobrem e aceitam mutuamente. Maria Barroso era um símbolo vivo destes combates. Era e é! O mais admirável é, assim, um trabalho incessante, concreto, prático, em todas as áreas em que constantemente a solicitavam. Fez de cada dia da sua vida, um dia de labor sem fim, a resolver problemas, a ajudar, com ação imediata, com uma palavra de encorajamento, com um sorriso, com tempo para todos e para tudo...Os compromissos da sua agenda eram quase sempre excessivos, mas Maria Barroso tinha dificuldade em dizer "não" – parte da sua maneira inigualável de estar com ou outros, de corresponder a pedidos, a gestos de amizade. Por isso, estava sempre em movimento, plenamente envolvida no presente, com uma imensa experiência acumulada, e a sabedoria dos que não envelhecem intelectualmente, porque mantinha o interesse na evolução da sociedade, atenta e interveniente, capaz de agir sempre mais e melhor. Fez tanto e fez tão bem tudo aquilo que assumia como cumprimento do seu dever, da sua ética, na família, no campo profissional, nas instituições públicas, no puro voluntariado, desde muito jovem – sempre, em crescendo! Maria Barroso merece ser lembrada como uma grande Mulher vanguardista, também, no século XXI Maria Manuela Aguiar Agosto 2015-08-30
LONGE E PERTO DE 1910 I - O movimento feminista português, e o seu paradigma de intervenção cívica nos “fora” do "congressismo", tem sido, no âmbito das iniciativas da AEMM, por várias vezes, alvo de especial atenção. O mesmo se pode dizer do associativismo feminino nas comunidades da emigração. Todavia objectivo principal de tais reflexões não foi o de avaliar a projecção do feminismo português na nossa diáspora, o maior ou menor relacionamento entre diferentes formas de organização para a defesa dos direitos e interesses das mulheres dentro e fora do país, e as suas similitudes e diferenças. Propomos esta abordagem, numa visão comparativa de realidades não necessariamente coincidentes no tempo, na busca dos traços persistentes da acção das mulheres portuguesas, em diversas épocas e espaços geográficos. O movimento feminista e republicano do começo de novecentos não teve um grande impacto directo e imediato nas comunidades do estrangeiro, nem mesmo generalizadamente nas colónias de África e do Oriente - embora em algumas cidades, caso de Luanda ou de São Paulo, hajaregisto de actividades da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas e da Associação de Propaganda Feminista (APF). Uma investigação aprofundada do pensamento e acção de emigrantes de ambos os sexos, neste período, está praticamente por fazer e pode vir a revelar novos dados, mas, de momento, tanto quanto sabemos é que as intervenções que ficaram na história devem-se a mulheres que foram parte do movimento em Lisboa, ou noutros pontos do País – eram, pois, como que representantes suas fora de fronteiras e não membros de organizações locais autónomas. É o caso, em 1910, de Domingas Lazary do Amaral em Angola, de Ana de Castro Osório, fundadora da “Liga” e da APF no Brasil, - onde residiu, entre 1911 e 1914, acompanhando o marido, o escritor e jornalista Paulino de Figueiredo, que fora nomeado cônsul de São Paulo - .ou mais tarde, em Luanda, de Adelaide Cabete, a primeira presidente do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas.. E de algumas outras das suas companheiras, que viveram e o exílio ou queescreveram em prestigiados jornais estrangeiros. É particularmente interessante o caso de Ana de Castro Osório, que de S Paulo influenciava, decisivamente o discurso da recém criada APF, e colaborava no seu jornal (“A Semeadora”), publicado ao longo de 3 anos e meio – um dos periódicos mais preponderantes entre os que defendiam os direitos das Mulheres. A Empresa de Propaganda Feminista e de Defesa dos Direitos das Mulheres, que o financiava, era detida em 40% por accionistas de São Paulo, contando ainda, no Brasil, com accionistas da Amazónia (Manaus) ao Rio Grande do Sul, assim como deAngola, Moçambique, Cabo Verde, Índia, EUA (Oackland, Brooklyn). De um total de 64, 14 eram homens, entre eles, Magalhães Lima e o juiz João Baptista Osório, pai de Ana. Não será o suficiente para que se possa falar de movimento feminista na emigração… A singularidade do processo revolucionário no país fazia com que fosse irrepetível no estrangeiro. Era difícil, fora dos casos contados, a aproximação entre portuguesas separadas não só pela distância, como pelas condições de luta cívica e política. E mais difícil era ainda a organização das próprias emigrantes num meio associativo fechado à sua participação – mais fechado certamente do que a própria sociedade portuguesa. Houve, sobretudo no Brasil desta época, algumas colectividades de cariz republicano (ou monárquico) que tiveram vida curta. e não se abriram às mulheres 2 – Sobre o movimento feminista diremos, em síntese, surgiu tardiamente em Portugal, nas vésperas da revolução republicana, embora as suas raízes se possam encontrar em muitas e notáveis precursoras de oitocentos - senhoras de grande cultura, que se afirmavam em salões literários, nas suas próprias casas, ou na escrita e no jornalismo, nas artes plásticas... Ou seja, no que de algum modo poderemos considerar o "espaço privado", ou círculos restritos de vanguardismo, à margem do comum das mulheres. O que é inteiramente novo no início de novecentos é precisamente a travessia da fronteira entre o espaço privado e o público. O movimento feminista nasce da invasão de um domínio proibido, e surge de forma súbita e inesperada, em resultado de uma aliança, que o singulariza face a todos os outras na Europa, entre homens políticosrepublicanos e mulheres igualmente republicanas e feministas. Da parte dos revolucionários há a compreensão da importância das mulheres noesforço de proselitismo e propaganda de ideais, que partilham. É um fenómeno fundamentalmente urbano, envolvendo uma elite cultural e uma mesma família ideológica. Desenvolve-se no contexto da luta aberta ou clandestina pela mudança de regime, portadora de esperanças de grandes transformações – de igualdade para todos, sem excluir a metadefeminina. Na realidade, o florescimento e expansão inicial do movimento deve-se à pura iniciativa partidária. O primeiro passo é precisamente uma solicitação dos líderes do PR Bernardino Machado, António José de Almeida e Magalhães Lima a mulheres do seu círculo de convívio – algumas das quais acabavam de aderir à Maçonaria, no sentido de se organizarem no que a que viria a ser a Liga Portuguesa das Mulheres Republicanas. Corria o ano de 1908. No ano seguinte, a "Liga", presidida por Ana de Castro Osório, seria formalmente integrada nas estruturas do PR., não só em Lisboa, mas de norte a sul do país. Não é um movimento de massas, mas é a maior colectividade feminina do seu tempo. Todas as que são obra exclusiva das feministas, incluindo as que foram fundadas pelas mais conhecidas activistas, como a Associação de Propaganda Feminista (APF) de Ana de Castro Osório e o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesa (CNMP) s, cuja primeira presidente foi a Dr.ª Adelaide Cabete reúnem um pequeno, embora notável número de associadas As ligações familiares destas mulheres, quer as ganham grande notoriedade, quer as relativamente desconhecidas, a nível nacional ou numa infinidade de cidades e vilas pequenas é a regra geral…Os apelidos das dirigentes da “Liga” e dos líderes ou militantes partidários revelam isso mesmo – a luta comum de famílias inteiras. Ao lado de Ana de Castro Osório está o marido, o jornalista republicano Paulino de Oliveira, O pai João Baptista Osório é o juiz que decide favoravelmente a exigência de Carolina Beatriz Ângelo de se inscrever para votar. A Mãe virá a ser presidente da APF. Adelaide Cabete deve ao marido, cujo nome adopta, a sua formatura em medicina e o seu envolvimento cívico. Elzira Dantas Machado é casada com Bernardino Machado. A filha, Rira Dantas Machado é também uma destacada dirigente de várias associações feministas…O mesmo acontecem com aquelas que Fina d’ Armada devolve à nossa memória – as “Republicanas quase esquecidas” que povoam as páginas do seu livro com esse título. Como, entre tantas outras: Maria Clementina de Moura Portugal e das suas 3 filhas, Maria Adelaide, Maria José e Antónia (de Moura Portugal) que, no seu solar da Beira interior, acolheram escolas para meninas, reuniões republicanas e até um grande banquete na recepção a Afonso Costa; as 3 irmãs de Évora, Ana Laura, Cristina e Maria Chaveiro Calhau (Ana tornou-se, em 1908, aos 16 anos, a primeira mulher do sul do país a falar num comício – entusiasticamente aplaudida, como sempre foram as que ousaram a exposição pública em manifestações republicanas). Em Cantanhede, as feministas da família Cortesão, que constam da lista de cidadãos que assinaram a ata da proclamação da República nessa vila; (Maria Ester, presidente do núcleo da "Liga" era irmã de Jaime Cortesão e Maria Cortesão Paes, também dirigente da "Liga”, casou com o activista republicano Avelino de Faria e foi a mãe do cientista António Lima de Faria... Raro é, pois, encontrar, dentro do movimento feminista desta época, mulheres que vão contra a tradição da família, que estejam no campo contrário. Há as que se envolveram no movimento sem apoios nem obstáculos de um clã de parentes, um grupo em que pontificam as professoras primárias, como Maria Veleda, ou que são feministas mas não republicanas - caso de Olga Moraes Sarmento. Esta constatação em nada diminui os feitos das mulheres na sua acção. nem a independência e originalidade do seu pensamento - elas, não eles foram as grandes teorizadoras do feminismo e as grandes protagonistas da sua defesa concreta dos seus princípios. Mas esta aliança ideológica e até partidária, veio, sem dúvida, reforçar a consciência da importância da luta das mulheres como parte de um todo, de um universo, em que queriam ser iguais, solidariamente. Uma consciência muito clara de que a libertação das mulheres é também a libertação dos homens, e que por isso, devem unir-se contra o obscurantismo, contra os preconceitos e contra os regimes que lhes negam a sua dignidade. Não há, entre nós, um confronto numa guerra de géneros. Mulheres e homens devem ser feministas – o verdadeiro feminismo, de que sempre fala Ana de castro Osório, é assim entendido, é, pura e simplesmente, como uma vertente do humanismo. Uma das características do feminismo português é a sua moderação, a sua ausência de radicalismo. Um feminismo muito feminino, em que elas assumem o seu papel de mães, de esposas. Não querem disputar o lugar dos homens, querem reclamar o seu próprio, o que lhes tem sido negado, o seu estatuto de deveres e direitos da cidadania. Anima-as uma ideia que é verdadeiramente moderna no seu tempo, e até no nosso, - a da paridade, da igualdade na diferença. Não querem imitar os homens, querem impor – se com a sua maneira de ser, de agir e de influir nos destinos comuns. A causa do feminismo é uma dos aspectos centrais da transformação societal que o republicanismo anuncia Uma outra características que distingue o sufragismo em Portugal e noutros países, para além da recusa do radicalismo e de qualquer forma de violência, é, como salientei, não ser um fenómeno de massas, mas de um grupo restrito de mulheres de elevado nível intelectual - doutrinadoras, jornalistas, escritoras, profissionais que abrem caminho em sectores até então vedadas ao sexo feminino. As preocupações sociais, a luta contra todas as injustiças que marcam a vida dos portugueses, nas quais se engloba a discriminação de género, é uma constante do seu pensamento.. Muito em especial o combate contra o analfabetismo e pela generalização do acesso ao ensino, em particular para as raparigas. A República não trouxe consigo o admirável mundo novo que as feministas republicanas sonhavam. Uma vez proclamada a República, rapidamente se tornou evidente que alguns avanços se iriam alcançar - nas leis de família, na educação feminina, na abertura ao trabalho profissional, ainda que não no grau e dimensão idealizados - mas que o sufrágio seria inviabilizado pela maioria dos líderes do PR... Foi, por isso um tempo de desilusão e de cisões dentro do movimento, antes de mais entre as que eram mais republicanas do que feministas e aceitavam o passo que o partido impunha ao progresso nas questões de género e as que eram mais feministas do que republicanas e manifestavam abertamente o seu inconformismo, abandonado a Liga e o PR 3 - A revolução, preparada num ambiente tenso de conspiração, nos bastidores, mas também à luz do dia, no combate cívico pelo acesso ao ensino e à justiça social, à modernidade, centra-se muito no país, a partir da capital e, por isso, não tem, como regra, ramificações nas comunidades da diáspora. Embora no período que se seguiu à revolução, nos anos de 1912/13, o êxodo migratório fosse o maior de sempre, e levasse para fora uma proporção crescente de mulheres, não contribuiu para alterar substancialmente este cenário. Era uma emigração de massas, fugindo à pobreza do mundo rural, do que um exílio de aristocratas, fugindo aos ditames do novo regime... Não quero com isto dizer que anão houvesse alguns ilustres exilados ou que a revolução não teve algum eco, despertando contraditórias reacções, no interior das comunidades distantes, no associativismo – nos centros republicanos e centros monárquicos, então criados, que, porém, desapareceram, quase todos, com a chegada ao poder de Getúlio Vargas e o supressão generalizado das organizações de cariz político. Associativismo em que a presença feminina, por demais discreta, não tendo mudado o rumo da história… As instituições tradicionais, ainda hoje, no Brasil, as discriminam, visivelmente…As respectivas lideranças, notáveis a muitos títulos, não se distinguiram nunca pela defesa da sua participação igualitária, à maneira de Magalhães Lima, Bernardino, Teófilo Braga ou Manuel de Arriaga, E também não houve, fora dos breves períodos em que elas próprias estiveram emigradas, activistas como Ana de Castro Osório ou Adelaide Cabete, que, aliás, aí não lograram fazer escola… No associativismo feminino no estrangeiro, uma primeira diferença é a completa ausência da componente política - que tão motivadora foi dentro do país - nas maiores organizações que surgiram, em fins de oitocentos. Penso nas maiores de todas, criadas por uma trintena de emigrantes portuguesas, em Oackland, Califórnia – a Sociedade Portuguesa Rainha Santa Isabel (em 1898) e a União Portuguesa Protectora do Estado da Califórnia (em 1901) ambas inspiradas no modelo mutualista. Uma resposta pioneira e ousado à exclusão das mulheres nas associações fraternalistas constituídas por homens, a partir de 1868. Quer fosse ou não, muito directamente, essa a intenção das fundadoras, o certo é que sua acção consubstanciou a melhor a mais concludente forma de demonstrar a capacidade feminina de gestão económica e de intervenção social. Para além do objectivo primordial de prestar “socorros mútuos”, – cuja boa consecução já era, em si, um feito extraordinário numa época em que às mulheres a lei dos homens negava até a administração dos seus bens…- participaram activamente na sociedade local, no auxílio aos mais necessitados, como no apoio a iniciativas culturais. Essas duas colectividades – e outras houve, de menor dimensão - ao longo de quase um século, agregaram milhares de membros, marcaram a vida das nossas comunidades da Califórnia, combateram preconceitos, dando uma admirável imagem feminina de liderança e de empreendedorismo. Já nos nossos dias, veio a ser, inevitavelmente questionada a razão de existir de companhias seguradoras exclusivamente femininas, e ambas, primeiro a UPPEC, depois a Sociedade Rainha Santa Isabel, optaram pela fusão com outras grandes sociedades do mesmo ramo. Uma segunda divergência de posicionamento face à religião separa o movimento feminista português e o movimento fraternalista feminino português da Califórnia O primeiro, sobretudo o que se enquadra na “Liga” e no Partido Republicano, é profundamente anti clerical, porque acredita que as portuguesas só podem libertar-se lutando contra a influência reaccionária da igreja do seu tempo, enquanto o segundo nasce dentro de uma paróquia católica, assim transformada em espaço da sua emancipação (é certamente esse o caso da SPRSI, que emanou de uma sociedade de “altar”…).A questão religiosa foi, de tal modo central, na mundivisão da “Liga Republicana”, que constituiu factor determinante da primeira dissidência, protagonizada por Ana de Castro Osório e algumas das principais líderes sufragistas, que fundaram, em 1911, a APF, aberta a todos os credos, apartidária e internacionalista, tal como o seria o CNMP (são estas as duas maiores organizações sufragistas portuguesas, a APF com vida efémera, embora influente, o CNMP, com um percurso mais longo, começado em 1914 e terminado em 1947, abruptamente, pela ditadura) As maiores associações femininas da segunda metade de novecentos –a Sociedade de Beneficência das Damas Portuguesas, de Caracas, a Liga da Mulher Portuguesa da África do Sul, a Associação Mulher Migrante Portuguesa da Argentina distinguem-se por uma vontade de intervenção cívica, de solidariedade que também encontramos entre as feministas (todas as suas organizações, incluindo as sufragistas, têm ligação a iniciativas sociais e assistenciais), mas não pelo carácter reivindicativo de direitos da Mulher – quer na sociedade em geral, quer na sua comunidade, onde as não vemos a reclamar para si ou para o seu género, uma participação igualitária nas instituições tradicionais de perfil masculino (o que equivaleria à exigência do sufrágio “circa” 1910...).. A via de um associativismo próprio, separado, parece ter representado não tanto uma reacção de combate frontal à exclusão no associativismo misto, como uma opção para evitar qualquer confronto ou reclamação desse tipo. Falo de colectividades, não de figuras individuais porque algumas portuguesas houve, que defenderam os direitos das mulheres como sua causa primeira, todavia fazendo do seu campo de luta mais a própria sociedade portuguesa ou a estrangeira em que se movia à vontade, do modo mais cosmopolita, do que o interior de uma comunidade fechada de emigração… É o caso das feministas Ana Osório, Adelaide Cabete cujo curto percurso de expatriadas já mencionei, ou das escritoras e jornalistas no exílio Maria Archer e Maria Lamas, que a AEMM tem lembrado em recentes congressos e colóquios, assim como da actriz Ruth Escobar, a primeira mulher eleita para a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, ou da Dr.ª Manuela Santos, a primeira mulher Secretária de Estado no Rio de Janeiro... E muitas outras – agindo, em geral, fora do centro de gravidade comunitário…E a verdade é que a questão de género, de participação igualitária nas comunidades da emigração tem sido suscitada não tanto do seu interior, como de fora, do país…O 1º Encontro Mundial de Mulheres no Associativismo e no Jornalismo foi, de facto, convocado pelo governo português em 1985, ainda que a pedido de algumas dessas “mulheres-excepção”, e contou com muitas das que se haviam notabilizado, até então, naqueles dois domínios. Já no século XXI os “Encontros para a Cidadania (2205-2009), que tiveram como presidente de honra a drª Maria Barroso, e os congressos mundiais de 2011 e 2013 foram promovidos por ONG’s como a AEMM – com sede em Lisboa – em parceria com a Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas. O 1º Encontro mundial foi, há já quase 30 anos, uma ocasião única de olhar uma obra maior do que a sua aparência, levada a cabo por protagonistas quase sempre de perfil discreto, as mais das vezes de ideologia conservadora, que, contudo, cumpriram o ideal feminista de demonstrar o seu valor pelo trabalho, pela acção concreta. Uma asserção inspirada na leitura de Ana de Castro Osório, que considerava feminista “muita gente que se horroriza ou escandaliza com tal palavra” 4 – Muito embora, à primeira vista, sejam mais evidentes as diferenças do que as similitudes entre as correntes de intervenção feminina sobre as quais reflectimos, acabamos por encontrar bastantes e algumas inesperadas constantes na acção colectiva de mulheres portuguesas, dentro e fora de fronteiras, ao longo de cerca de um século, pontuado por duas revoluções, que lhes abriram horizontes. Eis apenas algumas das mais evidentes. Enquadramento no grupo familiar A congregação de famílias inteiras numa luta por causas mais vastas, em que a participação política feminina era pressuposto fundamental da mudança revolucionária, terá constituído, ao tempo, uma originalidade do movimento feminista e republicano, mas o certo é vamos encontrar, com frequência, o mesmo tipo de envolvimento no movimento associativo das comunidades ao logo do século passado, sobretudo na segunda metade. As mulheres ao lado dos maridos, dos líderes das instituições, colaborando, com eles, formal ou informalmente, mais ou menos na sombra – cada vez menos na sombra naquelas em que se foi consolidando o estatuto da mulher do presidente como “primeira-dama” (nas “casas regionais” do RJ, exactamente com esse título). Mas talvez o mais interessante seja verificar que, quando são elas a organizar-se, a “entrar em cena, a recíproca também é verdadeira - é normal que os maridos serem os seus primeiros apoiantes . No passado, como actualmente, são infindáveis os casos que podemos citar – lembrarei apenas algumas das mais proeminentes líderes, que estiveram no 1º Encontro mundial em 85 e os seus maridos e aliados: Natália Dutra e Ramiro Dutra, ele, académico e conselheiro do CCP, ela presidente de uma sociedade de beneficência; Maria Alice Ribeiro, indissociável do António Ribeiro, na direcção do mais antigo jornal da comunidade de Toronto, o “Correio Português”( Natália e Maria Alice foram as autoras da ideia do “Encontro”): Benvinda Maria e o Comendador Marques Mendes, ambos à frente do “Portugal em Foco” do Rio de Janeiro e de constantes iniciativas da comunidade; Manuela da Luz Chaplin – advogada dos emigrantes, conselheira do CCP, escritora, presidente de múltiplas associações, sempre secundada, no seu infindo vaivém de meritórias acções, pelo Charles Chaplin, britânico tranquilo, que falava um impecável português… Uma visão abrangente das questões de género e das questões sociais À aceitação geral da presença feminina, quando ela, contra os cânones de uma tradição misógina, surgiu onde nunca tinha sido permitida – nos palcos dos comícios, ou dos salões associativos, não será alheio o facto de elas não estarem a lutar em causa própria, mas em causa comum - na propaganda republicana, saudada com invariável entusiasmo por multidões de homens., assim como na organização dos rituais festivos ou das escolas de português.... Os clubes puramente recreativos, do tipo do café ou do bar da aldeia, redutos masculinos, transformam-se em agentes de agregação e de cultura popular portuguesa com a chegada das mulheres, da juventude, de famílias inteiras, ou seja, com as festas e a comida portuguesa, o folclore, o teatro, o desporto. Uma evolução que foi bem delineada em muitas das intervenções do 1ºEncontro Mundial, em Viana do castelo, onde se fez, ou refez, pela voz das mulheres, numa primeira audição oficial, a autêntica história do associativismo, com um enfoque essencial no todo, no colectivo, mais do que naquela parte que elas próprias constituíam. Desse discurso ressaltava, claramente a consciência de que o progresso se conseguiria com o grupo e para o grupo – a família, a comunidade, a sociedade. Uma intenção de melhoria das condições sociais, e não só individuais (ou de género)., que já encontráramos nas republicanas do início de novecentos A mesma ausência de radicalismo, de confronto com o outro sexo … A mesma compreensão de que a libertação da mulher se realiza em simultâneo com a libertação do homem…. Uma procura da paridade, muito antes de a palavra tomar o seu sentido actual! Entre o conservadorismo e o vanguardismo A procura de um equilíbrio – entre mulheres e homens, entre a vida familiar e o trabalho profissional, entre velhos costumes e novas ideias – foi apanágio da primeira vaga do feminismo nacional, claramente expresso no discurso como na praxis. Um discurso, forte, moderno, incisivo, que ecoou na praça pública e ficou perpetuado nos seus escritos, porém feito por senhoras na aparência iguais às outras senhoras do mesmo elevado estrato social, nos seus gestos distintos, no respeito pela ortodoxia do traje (que nos recorda a severa crítica de Adelaide Cabete às jovens que procuravam imitar os homens, usando colarinho e gravata e fumando cigarros… Contraste que nos dá um retrato de corpo e alma, destas portuguesas, que bordavam as bandeiras republicanas pelas mãos, com que queriam também votar, escrever, trabalhar para o futuro da democracia… Esta é mais uma faceta intemporal, presente ainda mas organizações femininas, ou mesmo, mais latamente, na actuação da generalidade das portuguesas activas nas comunidades da emigração, São mães de família, que assumem dedicadamente esse papel, até mesmo, numa intervenção pública, em muitos casos, determinada pela preocupação com a escolarização e a formação dos filhos e dos filhos. Do século passado ficou a memória de feministas que eram professoras, pedagogas, escritoras de literatura infantil, protectoras de obras dirigidas à infância desvalida. Essa preocupação persiste ainda hoje. Há poucos anos, numa sessão comemorativa do dia internacional da Mulher, a 8 de Março, pela Federação das Associações Portuguesas de França, eu pude constatá-lo, ao descobrir que todas as presidentes de órgãos sociais, ali presentes, reconheciam ter aceite o encargo para garantir aos filhos o ensino da língua na associação… A Libertação da Mulher pela educação e pelo trabalho O sufrágio feminino, foi uma promessa eleitoral do PR que ficou sempre por cumprir. Mal a República foi proclamada e o PR ascendeu ao poder, tornou-se evidente que receava o voto conservador das mulheres. Em vão as principais dirigentes da Liga tentaram ultrapassar o impasse com uma solução de compromisso, reclamando, de imediato, o voto apenas para as que tinham instrução bastante para tomar uma decisão livre e consciente - livre da influência clerical e, por isso, progressista. Questão religiosa, questão partidária que provocou a primeira cisão na Liga Republicana, com a saída das sufragistas. Ficaram as que, como Maria Veleda, aceitavam a conveniente tese partidária de que primeiro era preciso libertar a mulher pela via fundamental da educação, para que, num segundo tempo, pudesse aceder ao “minus” que consideravam a igualdade de direitos políticos. Mas a rendição das mais notáveis sufragistas à ideia de condicionar o voto em função do nível de educação é bem reveladora da importância que davam à força emancipadora do saber, à expressão cultural da cidadania. A luta pela educação, e, através dela, pela entrada ao mundo do trabalho profissional, foi preocupação central das mulheres nesse início de novecentos, constituindo o máximo denominador comum no interior do movimento feminista. E o mesmo se pode dizer quando se olham as prioridades das mulheres no associativismo de hoje, no feminino, ou no que se quer paritário... A emigração foi, aliás, para uma maioria delas, mesmo para as que vinham de meios rurais ou operários, e não tinham curriculum académico, um caminho de emancipação pelo trabalho, pela abertura a sociedades multiculturais, onde tiveram capacidade de se integrar e progredir… Um percurso que cumpre as esperanças das feministas no futuro das mulheres. Feministas, sem se reconhecerem como tal, no sentido em que o definia. Ana de Castro Osório - o “feminismo” como um humanismo, como a vontade de “humanizar a humanidade”. Se um combate centrado exclusivamente nos direitos da mulher, na injustiça da sua situação, com mais agressividade e menos altruísmo, teria sido mais eficaz é coisa que não saberemos nunca. Sabemos, sim, que a mesma via foi seguida, na emigração, por gerações sucessivas portuguesas, até nossos dias…

PREFÁCIO AUTOBIOGRAFIA DO DR LEMOS

Numa linguagem simples, límpida, coloquial. que nos prende da primeira à última página, esta narrativa na primeira pessoa do singular não cessa de nos surpreender e encantar, através de uma vertiginosa sucessão de factos, de aventuras, e de encontros com pessoas, no quadro de variadas realidades sócio-culturais, em paragens longínquas..É uma trajetória individual meteórica que acompanhamos, aceitando o convite do Autor para uma longa viagem de memórias, que atravessa épocas, regiões, continentes, desde remotos lugares do Alto Minho, como Cousso, Cubalhão, a Serra da Peneda (onde um menino orfão e desprivilegiado pareceria condenado a crescer e trabalhar num confinamento insuperável), até aos espaços imensos, aos horizontes que alargou, com o seu inconformismo e uma insaciável vontade de conhecimento, caminhando, os pés na terra, de terra em terra, incansavelmente, indo cada vez mais longe - primeiro num Portugal que o discurso do "Estado Novo" concetualizava como uma unidade pátria pluricontinental, que, sob a mesma bandeira, se estendia "do Minho a Timor". O jovem Carlos Lemos vai precisamente do Minho a Timor, cruza os mares, ajuda a desbravar matas virgens, nas margens de rios africanos, a explorar as costas das possessões portuguesas do Indico ao Pacífico, ultrapassa fronteiras, converte-se ao destino tão português da emigração, na lonjura do sul da África e da Oceânia... "História de uma vida", assim denomina, discretamente, como é seu timbre, tão fascinante encadeamento de relatos, confidências, observações, comentários e ensinamentos do maior interesse histórico, antropológico, político. A primeira tentação de quem a lê é o de lhe acrescentar adjetivos expressivos, como "vida excecional", ou "vida fantástica"! Desde o princípio, desde a infância, o mais insólito e espantoso é que todas as decisões, afinal tão avisadas, são dele, apenas dele, depois de terminar prematuramente a escola, e de ficar entregue a si mesmo, em trabalhos árduos, trabalhos de adulto, que despertam a sua precocidade e força de ânimo. E, assim, em dificuldades e desafios ilimitados, se forja uma personalidade independente, honesta e tenaz, mas também sensível e gentil. Num dos seus primeiros empregos urbanos, em Monção, num café bem frequentado, um velho e arguto doutor diz-lhe, a certa altura: "és um perfeito diplomata!". Retive, muito em especial, essa exclamação profética, porque, cerca de quatro décadas decorridas, quando o Dr. Carlos Lemos organizou a minha primeira visita a Melbourne, e o conheci mais de perto, não fiz, mas poderia ter feito idêntica apreciação. Ali estava um diplomata nato, amabilíssimo, hábil e pragmático, qualidades que juntas, em regra, não se encontram. Ali estava um emigrante que prosseguia, apaixonada e eficazmente, a missão de enaltecer a história e os valores eternos da lusofonia, e de defender a imagem e os interesses dos seus compatriotas - antes mesmo de ser nomeado cônsul honorário. O seu dom natural de se aproximar das pessoas (independentemente da classe social, do estatuto académico, de tendências ideológicas, de origem étnica, de idade...) a par de uma inteligência invulgar explica, o que, por modéstia, nunca explicita: a facilidade com que, rapaz solitário, vindo de um pequeno povoado rural, é aceite nos círculos mais fechados e "snobs" das elites de então, ou nas tertúlias de estudantes, com quem, sem dúvida, aprende a reflectir e debater sobre quaisquer questões É na sua nova profissão de topógrafo - com formação, em boa hora, adquirida nas Minas da Panasqueira - que conversa, em Cascais, com o Presidente Carmona, e convive com as netas do Presidente, com jovens da alta burguesia. A Póvoa do Varzim é o destino seguinte, e bem marcante, no extenso roteiro que tem pela frente. Faz parte de grupos de estudantes e recém licenciados. É aí que decide retomar os estudo e completa cinco anos do liceu de uma vez só! Mais tarde, em Moçambique, conta entre os seus íntimos Paulo Vallada, João Maria Tudela e, como eles, pertence ao mais seletivo dos clubes, o Clube de Lourenço Marques. Em Pretória, é amigo de Mary, a filha de Henry Oppenheimer, de Tamara, a ex-toureira, em Durban, de Jonathan, o filho de Alan Paton, do próprio Alan Paton, que o estimava muito, e em casa de quem conhece personalidades como Mandela, Oliver Tambo, Sisulu e Lutuli e tem o privilégio de assistir a inúmeras conversações entre eles -, em Hong Kong do famoso português que, como Presidente da Câmara, projetou a cidade para o apogeu, o Comendador Arnaldo Sales, em Timor, de Ruy Cinatti, a quem admira imensamente, na Austrália de Kenneth McIntyre, cujas teses sobre a descoberta portuguesa deste país defende e apregoa por todo o lado, a começar por Portugal e por Macau (onde, por sua influência, o Museu Marítimo dedica, atualmente, uma secção a esse achamento secreto e onde o texto original inglês veio a ser traduzido para a nossa língua). Exemplos, entre centenas. de ilustres personalidades que se nos tornam familiares nas páginas deste livro! De destacar ainda, relacionamentos ocasionais e incomuns, caso de Samora Machel (que dele cuida no Hospital de Lourenço Marques!), e, numa conturbada Indonésia, durante umas férias improváveis, da mulher do General Yani, Chefe do Estado-maior das Forças Armadas, e ela própria uma celebridade. A Senhora Yani, logo convida o simpático casal Lemos para animados passeios por lugares turísticos, receções e jantares, e até para uma visita a casa de Sukarno. Um português de quem, obviamente todos gostam - moçambicanos, timorenses, indonésios, egípcios, sul-africanos, negros e brancos, aborígenes do deserto australiano... artistas, homens de letras e ciências, empresários, embaixadores, políticos de um sem números de países. Uma impressionante rede universal de contactos fraternos, que ficam para sempre, que cultiva e reencontra em intermináveis digressões. Como não olhar, retrospetivamente, séculos de história, e lembrar a velha arte portuguesa de fazer amigos entre gentes de todo o Globo? No século XXI, este português dá-nos a certeza de que somos ainda o mesmo povo, com a ânsia de movimento, de que se teceu o "século de ouro" dos Lusíadas - movimento de caravelas, de homens, de ideias, e, frequentemente, de afetos também… Em meados do século XX, a um ousado Carlos Lemos, com pouco mais de 20 anos, a especialização em topografia e hidrografia faculta modernos meios técnicos de exploração ou reconhecimento da terra e dos mares, primeiramente ao longo do retângulo continental, depois, em Moçambique, nos vales do Limpopo, do Rio dos Elefantes (já na fronteira norte da RAS) , em Timor, de lés a lés, e, posteriormente, nos desertos da Austrália, onde percorre, em trabalho de campo, 34.000 km, inscrevendo o seu nome como pioneiro em diversos lugares então intocados de território austral. Ao tentar esta breve apresentação (certamente arbitrária e redutora....) da sua autobiografia, devo acrescentar que a considero uma digna herdeira da literatura de viagens de sabor quinhentista, na medida em que o Autor vai muito além de uma mera menção de ocorrências, de apontamentos sobre lugares de exótica beleza - que também abundam... - para nos dar a sua visão sobre costumes, conflitos sociais e políticos, sobre personalidades que deixaram indeléveis marcas na história. É a mundivisão de um homem culto e cosmopolita, do sociólogo e do observador político, que já era, antes de terminar os estudos universitários nestes domínios (iniciados na África do Sul, onde conhece Molly, sua futura mulher, e concluídos, uns anos depois, em Melbourne). Um incansável "peregrino em terra alheia" (como o definiria Adriano Moreira), disposto a partilhar com o leitor mil e uma experiências vividas, vicissitudes e sentimentos, mais o seu sentido de humor, que irrompe aqui e ali, direcionado de preferência a si próprio, na menção de alguns pequenos desaires, pelos quais se penitencia, com muita graça... O casamento com Marion Murray, a jovem de origem britânica, doutorada em psicologia, que se lhe junta nessa "ilha do fim do mundo" , Timor , a revelar um simétrico gosto pela aventura e pelo movimento (juntos, levados pelo trabalho de um ou de outro, ou pelo puro prazer do turismo, darão várias voltas ao mundo.....) iria, a breve prazo, ser o início de uma "segunda vida" para ambos - a vida de emigrantes, definitivamente enraizados num novo país. A carreira académica da Professora Marion, centrada na Austrália, será o factor de estabilização. A partir daqui, a autobiografia regista novas profissões exercidas pelo Autor, em Melbourne - professor da universidade, do liceu, agente de bancos comercias, gestor... E revela-nos, também, uma nova faceta: a de líder, de principal construtor de uma comunidade forte e coesa, onde antes só havia portugueses dispersos e ignorados na sociedade de acolhimento... A partir de então, com o seu "ímpeto de Portugal (como diria Pessoa) e capacidade de mobilização, a história dos portugueses em Victoria fica intimamente ligada à sua própria história. Um exemplo que os estudiosos da génese das comunidades da emigração contemporânea e da nossa diáspora precisam de analisar, como um "case study"! Na verdade, muitas famílias portuguesas estavam já radicadas naquele Estado, mas sem qualquer dinâmica de agregação entre si. Tudo muda pela ação e pelo carisma de um "homem de causas". Começa pelo fundamental: cria uma escola de português (em 1972), um programa de rádio em língua portuguesa, do qual é diretor e locutor, uma "Comissão de atividades da comunidade", (a que preside, entre 1976 e 1984). o"Portuguese Community Trust", (1983), cooperativa destinada a angariar fundos para uma sede associativa condigna, projeto que, por obstáculos burocráticos, é reconvertido, dando origem ao famoso "Café Lisboa", restaurante português de alto nível, no centro de Melbourne, que atrai as elites políticas e culturais da cidade e oferece, como era sua vocação inicial, um espaço aberto a iniciativas comunitárias. O Dr. Carlos Lemos vê-se na obrigação de encabeçar o projeto reconvertido, garantindo-lhe um sucesso espetacular. Aí recebe muitas individualidades do mundo lusófono de visita ao país: D Ximenes Belo, o Dr. Ramos Horta, o Dr.Alberto João Jardim, Carlos do Carmo, os escritores da diáspora Vasco Calixto e Marcial Alves, o Secretário de Estado Correia de Jesus, o Governador Rocha Vieira (com quem se inicia uma colaboração estreita com Macau), os sucessivos embaixadores e cônsules de Sydney e tantos outros… A não esquecer o chamativo lançamento de um CD de música para as crianças de Timor, que foi trazido em mão pelo Arcebispo Deacon, depois de aterrar de helicóptero, num terreno contíguo ao Café Lisboa!. Anteriormente, enquanto dirigente da "Comissão de atividades", promovera as primeiras festas a Nª Sª de Fátima, com uma procissão que circulou nas ruas de Melbourne, e à qual não faltaram o Arcebispo da diocese, o Ministro da Imigração, o Cônsul-Geral de Sidney e outras individualidades (que obviamente aceitaram o convite de um amigo especial...), para além de uma multidão de milhares de portugueses, que, assim, ganham visibilidade na sociedade australiana. A visibilidade da Pátria - da sua história, das suas tradições e qualidades bem vivas na emigração - é uma causa maior assumida numa ação constante, em que podemos destacar: a divulgação das teses de Kennett McIntyre sobre a descoberta secreta da Austrália pelos navegadores lusos, corroborada pelas investigações de PeterTrickett (sobre o Atlas Vallard de 1547) e do Professor catedrático John Mollony (sobre vocábulos de origem portuguesa entre os aborígenes) e a procura de outros laços de ligação com a Austrália - como o facto do que é considerado o fundador da nação moderna, o Governador Arthur Philip, ter sido oficial da nossa Marinha, ou o enfoque na nacionalidade portuguesa de Artur Loureiro, o grande pintor portuense, porventura, hoje, mais recordado em Melbourne, onde se radicou por uns anos, do que na terra onde nasceu, ou na solidariedade luso - timorense dada a Bernard Collinan, herói australiano, que comandou a "Coluna independente", na resistência ao invasor japonês, durante a grande guerra, e que também foi seu amigo. Há, porém, um feito que deve ser salientado, como expoente máximo, pois só por si, mais do que justificaria a alta condecoração, que, em 2002, lhe foi entregue pelo Presidente Sampaio: a proposta, bem concretizada, de erguer, em solo australiano, um padrão evocativo dos navegadores portugueses. Foram muitas e morosas as diligências que permitiram garantir o espaço perfeito, numa belíssima colina sobre o mar agreste, em Warrenambool ( onde, em oitocentos, foram avistados, por inúmeras testemunhas oculares, os vestígios prováveis de uma caravela quinhentista) e, ulteriormente, uma inauguração, com honras de presença dos mais altos representantes do Estado: o Governador Geral, o Embaixador de Portugal, Ministros, deputados, Kenneth McIntyre, uma massa imensa de participantes e, o que não é despiciendo, com uma enorme cobertura dos grandes "media"! Warrenambool é, doravante, um lugar de culto da história e da presença portuguesa. O “Portuguese Festival”, de periodicidade anual, atrai milhares de turistas ao monumento (entretanto enriquecido com a inauguração das estátuas do Infante D Henrique e de Vasco da Gama, oferecidas, por proposta do Dr Carlos Lemos, pelo último Governador de Macau – evento muito mediático, a colocar Portugal, novamente, no centro das notícias). Em que outro país ou continente, dos que foram, como sabemos, descobertas secretas de Portugal, conseguiu a nossa diplomacia algo de semelhante? Obviamente, em mais nenhum… É, assim, uma realização esplêndida e única, a coroar uma consistente trajetória de intervenção, em defesa das pessoas e dos valores nacionais, junto dos Governos, de lá e de cá - intervenção lúcida e corajosa nos domínios da emigração, da lusofonia, da política internacional, com uma participação ativa nos “fora” e congressos mundiais da Diáspora, com uma voz que clama, desassombradamente, contra o negativismo dos historiadores, ao renegarem teses verosímeis, favoráveis à grandeza pátria, contra a mediocridade dos políticos e servidores públicos, contra a injustiça e a intolerância. Uma palavra final para agradecer ao Dr. Carlos Lemos a sua amizade e a sua preciosa colaboração de décadas, na luta pelos direitos dos emigrantes e dos timorenses e, também, para manifestar ao Homem e ao Português, a minha admiração, pela forma como soube dar um sentido humanista e fraternal ao movimento incessante da sua vida, que muito ainda nos promete. Manuela Aguiar Espinho, 12 de Agosto de 2015

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

NOSSO PATRIMÓNIO HUMANOS - A CIDADÃ MARIA BARROSO Entre os nomes que constituem o nosso imperecível património humano, há os que revelam a dimensão da cultura portuguesa, na sua essência universalista e fraternal. Um desses nomes é o de Maria Barroso, a maior figura feminina do século XX, a mais intemporal, a mais inspiradora. Cidadã, por excelência, em décadas de participação cívica, cultural e política, que lhe dão lugar na história da democracia, do feminismo, do teatro, do ensino, da lusofonia... Mulher símbolo de dedicação à "res publica", com um percurso de intervenção anterior ao encontro de destinos com Mário Soares, depois com ele continuado, tanto na resistência à ditadura, como na construção de um país democrático e reaberto ao mundo. Corajosa e solidária, ícone de elegância e perfeita diplomata, soube apoiá-lo com uma amável cumplicidade, sem nunca se apagar na sua sombra, ou esconder a independência de espírito, e uma forma própria de estar na sociedade e na política. A jovem revolucionária, que usava a força da palavra, como arma de combate pela liberdade, nos palcos do teatro, nas arenas políticas, ao qual não hesitou em sacrificar a vocação artística e a carreira docente, viria a ser a primeira senadora da democracia portuguesa, sem nunca perder a faceta vanguardista, a lucidez e capacidade de dizer "não" a novas formas de exclusão e violência, a violência nos "media", o tráfico de armas... Com um sentido de missão, que uma repentina e emotiva conversão ao catolicismo, levaria a outros espaços e projetos, afirmou-se no plano internacional, no universo da lusofonia e da Diáspora, que, já octogenária, percorreu, incansavelmente, para presidir aos" Encontros" para a Cidadania e Igualdade. Através da Fundação PRO DIGNITATE, de fora da política partidária, levou a cabo obra notabilíssima e ainda insuficientemente conhecida - caso do seu papel no início do processo de paz em Moçambique. Com a ideia fulcral de dignidade humana respondia a um inadiável desafio civilizacional do nosso tempo: a criação de uma cultura de paz, justiça e liberdade para todos os povos, todos os indivíduos. Nas suas preocupações e na sua ação não havia favoritos - eram iguais portugueses, timorenses, africanos, imigrantes, refugiados, mulheres e homens de boa vontade... Deu cumprimento a essa causa maior, numa relação de proximidade com as pessoas, em gestos concretos de apoio e companheirismo, com rigor e trabalho árduo, quando não excessivo, no dia a dia, até ao seu dia derradeiro! Na hora em que se despedia de Maria Barroso, o Povo Português, espontaneamente, transformou uma simples cerimónia privada em impressionante testemunho público e consensual de admiração e de saudade. Foi o primeiro sinal de que ficaria na memória do País, pelo afeto e pelo exemplo de grandeza de alma, superior inteligência e infinita energia . Maria Barroso, humanista "muito praticante", ao longo de uma longa vida. junho 2018 Maria Manuela Aguiar Entre nomes que a nossa História guarda para sempre, como verdadeiro património humano, há os que nos dão a dimensão da alma portuguesa na sua essência universalista e fraternal. Homens, de diversas épocas, e muito mais raramente Mulheres, porque, como "segundo sexo", nasciam condenadas à invisibilidade e ao esquecimento. Uma dessas Mulheres excecionais chama-se Maria Barroso. É, certamente, a maior figura feminina do século XX, a mais inspiradora, a mais intemporal, a mais querida. A Cidadã, por excelência, com um itinerário de mais de sete décadas de intervenção cívica, cultural e política, que lhe dão o seu lugar na história da democracia, do feminismo, do teatro, do ensino, da lusofonia... E tem, também, um lugar muito especial no coração do Povo, conquistado pela forma como as pessoas se sentiram representadas por ela como a "primeira" das portuguesas - não a "primeira dama" da Republica, mas a Mulher exemplo de constante dedicação à "res publica". Incansável lutadora, com um percurso próprio, anterior ao encontro de destinos com Mário Soares, ainda que com ele continuado, na oposição e resistência à ditadura e na construção da democracia e da modernidade. Discreta e elegante, firme e solidária, ao lado de um Homem que marcou o século XX português, soube dar-lhe uma afetiva e inteligente cumplicidade, sem nunca se apagar na sua sombra, sem esconder a independência de espírito e até uma forma diversa de estar na política, em defesa de valores partilhado .A jovem revolucionária, que usava a força da palavra nos palcos do teatro, nas arenas políticas, no círculo da família e da Escola, para dizer, corajosamente, “não” à ditadura, viria a ser a grande matriarca da democracia portuguesa, com a mesma coragem de dizer "não" a todas as formas de exclusão e violência, num combate sem fim. Nas últimas décadas da sua vida, este combate não passou pela participação nas instituições do Estado e, menos ainda, pela política partidária, centrando-se no espaço comum do socialismo democrático e do fraternalismo cristão, com um sentido de missão, que uma repentina e emotiva conversão ao catolicismo, conduziria a novos projetos, em Roma, na esfera da lusofonia (de destacar o seu papel, mal conhecido ainda, no início do processo de pacificação em Moçambique), no universo da Diáspora, que percorreu como presidente dos Encontros para a cidadania e Igualdade, como dinâmica octagenária Na seu pensamento, na sua ação humanista, não havia favoritos - : portugueses, africanos, timorenses, refugiados, imigrantes, velhos, jovens, mulheres, homens... Não foi por acaso que deu à Fundação, onde levou a cabo um trabalho notabilíssimo e insuficientemente reconhecido, a denominação de PRO DIGNITATE, conceito que responde aos desafios maiores no século XXI. Maria Barroso fez de cada dia ,até ao último, dias de labor sem fim, a resolver problemas, a ajudar, com um sorriso, com tempo para todos, sempre em movimento, plenamente envolvida no presente, com a sabedoria dos que não envelhecem intelectualmente, e não perdem a capacidade se agir sobre a sociedade e de deixar legados de humanismo ao futuro. Fez tanto e tão admiravelmente, aliando inteligência, disciplina, energia paixão. Paixão, pelo homem da sua vida, pelos filhos, pelo País e pela sua família alargada - a Humanidade ---------------------------------------- A maior figura feminina do nosso século XX foi, a meu ver, Maria Barroso. Tem o seu lugar na história da democracia, na história do feminismo em Portugal e tem, igualmente, um lugar muito especial no coração do Povo, conquistado, sobretudo, pela forma como as pessoas se sentiram, de facto, representadas por ela como a "primeira" das portuguesas - não a" primeira dama", que só as poderia representar através da legitimidade eletiva do marido... - alguém que viram justamente, como personagem principal, como exemplo de inteligência, de cultura e de cidadania da mulher do seu tempo. Alguém que estava tão à vontade a receber ou a visitar os mais famosos e os mais poderosos, como a relacionar-se fraternalmente com o cidadão comum. A imagem popular de Maria Barroso construiu-se a partir das origens de um admirável percurso de luta revolucionária, um percurso próprio, bem anterior ao encontro de destinos com Mário Soares, mas foi sedimentada durante "os anos de poder" ao lado do Primeiro Ministro e Presidente da República - anos em que conseguiu, como sempre conseguiu, ser ela mesma, numa afetiva cumplicidade com ele, que não escondia as naturais diferenças, a sua absoluta singularidade e independência de espírito, numa vida que, por isso, nunca ficou na sombra de um grande homem... Foi no momento em que se despedia de Maria Barroso, surpreso e emocionado, que o País redescobriu - ou descobriu - a inteira dimensão da sua personalidade, o pleno significado de uma longa e variada trajetória, que atravessou épocas e regimes, sempre norteada pela coerência dos valores cívicos e humanistas. Uma infinidade de testemunhos, de comentários, de artigos, de reportagens, de entrevistas, acabaram por dar uma ideia mais exata da excecionalidade da sua ação ao longo de mais de sete décadas, até ao seu último dia entre nós, Foi a jovem que ousou querer ser atriz e integrou o elenco do Teatro Dona Maria II e fez da declamação de poemas uma arma pela liberdade. - o que lhe uma cortou uma brilhante carreira artística, e, depois, também, a segunda carreira profissional, a docência, Foi a resistente, que suportou a prisão e o exílio, primeiro, do pai, e, em seguida, do marido e soube ser uma mulher e uma mãe corajosa. Foi a militante socialista, única mulher a falar e a intervir, com a força mobilizadora da palavra nos palcos da política, antes e logo depois do 25 de Abril. Deputada na Assembleia da República Parte ativa no movimento que levou Mário Soares a São Bento e a Belém. Depois, a sua história retoma um curso a que impõe, por inteiro, prioridades próprias, que não passam pela intervenção nas instituições do Estado e, menos ainda, pela política partidária .É a primeira mulher a presidir à Cruz Vermelha. Distingue-se à frente de uma grande instituição de ensino.Torna-se, a nível da sociedade civil, no domínio que escolhe para afirmar os valores humanistas, que gostamos de situar no território comum do socialismo democrático e do fraternalismo cristão, uma individualidade cada vez mais admirada e singularmente consensual. A sua conversão, emotiva e sincera, ao catolicismo, vem naturalmente, reforçar o seu sentido de missão, e acrescentar o número dos seus companheiros de projetos, que, para além de Portugal, encontrou, também, em Roma, na esfera da lusofonia (não esqueçamos, em especial, o seu papel no processo de pacificação em Moçambique), como no universo da Diáspora, que percorreu, presidindo, nas 7 partidas do mundo, aos "Encontros para a Cidadania - a igualdade entre mulheres e homens".(entre 2005 e 2009 - uma parceria com o governo e várias ONG’S, para o arranque das políticas de género e cidadania na emigração, a que, octogenária cheia de vigor e entusiasmo, deu a modernidade do seu pensamento e a força da sua palavra, deixando, como podemos testemunhar todos os que, com ela participámos nessa saga, um horizonte de esperança num novo relacionamento, mais próximo, mais afetivo entre as pessoas, as gerações e o País. Na visão de Maria Barroso, na sua luta pela dignidade de cada ser humano, não havia favoritos - :portugueses, africanos, timorenses, refugiados, imigrantes, velhos, jovens, mulheres, homens... Não foi por acaso que deu à sua Fundação, onde levou a cabo um trabalho notável e multifacetado, a felicíssima denominação de PRO DIGNITATE. Nesta causa cabem todas as que atualmente constituem desafios maiores no novo milénio - os combates por um mundo sem guerras, sem violência,,sem perseguições políticas e religiosas, sem a miséria provocada por chocantes desníveis de desenvolvimento, de acesso à educação. à livre a expressão da cidadania, ao diálogo sobre um futuro de tolerância e de paz, a partir de uma diversidade de heranças culturais, que se descobrem e aceitam mutuamente. Maria Barroso era um símbolo vivo destes combates. Era e é! O mais admirável é, assim, um trabalho incessante, concreto, prático, em todas as áreas em que constantemente a solicitavam. Fez de cada dia da sua vida, um dia de labor sem fim, a resolver problemas, a ajudar, com ação imediata, com uma palavra de encorajamento, com um sorriso, com tempo para todos e para tudo...Os compromissos da sua agenda eram quase sempre excessivos, mas Maria Barroso tinha dificuldade em dizer "não" – parte da sua maneira inigualável de estar com ou outros, de corresponder a pedidos, a gestos de amizade. Por isso, estava sempre em movimento, plenamente envolvida no presente, com uma imensa experiência acumulada, e a sabedoria dos que não envelhecem intelectualmente, porque mantinha o interesse na evolução da sociedade, atenta e interveniente, capaz de agir sempre mais e melhor. Fez tanto e fez tão bem tudo aquilo que assumia como cumprimento do seu dever, da sua ética, na família, no campo profissional, nas instituições públicas, no puro voluntariado, desde muito jovem – sempre, em crescendo! Maria Barroso merece ser lembrada como uma grande Mulher vanguardista, também, no século XXI Maria Manuela Aguiar Agosto 2015-08-30 ------------------- aria Manuela Aguiar segunda, 4/12/2017, 12:34 para cesardepina Caríssimo Amigo e Compadre Aqui vai o texto que me comprometi a entregar nesta data - como de 1 a 3 estivemos em fim de semana prolongado, julgo que o último dia era hoje, Se achar longo, eu corto o que for preciso. Parabéns sinceros pela forma como se entrega a estas missões, É fantástico! Bjinhos Manuela Em 1980, por gratificante "dever de ofício", como membro do Governo responsável pela emigração, iniciei um infindável roteiro de viagens ao mundo da nossa Diáspora, que até aí desconhecia na sua verdadeira dimensão, como era comum e ainda hoje é, entre os portugueses que de deixaram ficar no território das fronteiras geográficas. Cheguei à África do Sul, em setembro desse ano, já com a experiência de contactos com coletividades portuguesas de três continentes, e, assim, facilmente, pude constatar, viver e sentir a absoluta originalidade das Academias de Bacalhau, enquanto modelo de reunir os portugueses para fazerem coisas grandes na campo dos valores do humanismo, da lusofonia, da entreajuda, em ambiente de tertúlia, a partir da festa, de ditames e rituais, que se diria (e bem...) inspirados nas tradições académicas, numa fraternidade de jovens de espírito, se não de idade... Nos momentos divertidos em que levantava, baixava e bebia um copo de vinho no meu primeiro " gavião de penacho", pensava: "que ideia tão bem achada e tão bem conseguida!". Estava em Joanesburgo, na Academia-mãe, num almoço certamente mais formal do que habituais, mas onde (não obstante esse "senão"...), o espírito da festa se mantinha intacto. Entre tiradas de humor, graça "académica", boa disposição geral, ao lado do mítico fundador Durval Marques, aprendi que nas Academias, já então pujantes em outras cidades do África austral, ninguém se ficava no "convívio pelo convívio". Eram todos militantes da intervenção solidária na sociedade! Aprendi que a ação se desenrolava, sempre, em dois tempos sucessivos: Primeiro, o dos almoços de amigos, puramente lúdicos, com as suas regras estritas de convivialidade, as proibições (como falar de religião, de política...), cuja infração frequente, garantia multas pesadas: Segundo, o da gestão das generosas "multas". Com essas verbas lançaram,por exemplo, a primeira pedra do lar de terceira idade de Joanesburgo, que talvez seja o melhor de todos os que existem na Diáspora, prestaram assistência aos refugiados de Moçambique e Angola, em 1974 e 1975, e prosseguem, hoje nos quatro cantos da terra, projetos adequados ao perfil de cada comunidade, ás suas aspirações culturais ou ao apoio a desfavorecidos. Aquele primeiro "almoço de descoberta" converteu-me em incondicional admiradora de tão eficaz paradigma de, "ridendo", fazer o bem ! Ainda por cima, vi.me aceite como membro da "Academia-mãe", com um sentimento de genuína adesão aos seus princípios e práticas, fundados na amizade, na alegria de conviver e na vontade de tornar o mundo melhor e mais divertido. Não era, diga.se, a primeira portuguesa a ser assim chamada ao convívio dos auto-designados "compadres". Na altura, os almoços e, com eles, a titularidade de associado, eram, em regra, reservados aos "compadres", mas tudo o que se passava em horário pós-laboral, jantares, encontros, abrangiam as mulheres, as "comadres". Era a evidência de que a "praxis" se baseava em formas de relacionamento preexistentes - o do almoço, na pausa do trabalho, entre profissionais (todos homens, porque a metade feminina estava, de facto, ausente desse círculo), o do jantar, naturalmente, reunindo famílias inteiras. Nunca foram, bem pelo contrário, uma espécie de "clube inglês" segregacionista! Quando as Academias chegaram a comunidades onde as mulheres partilhavam com colegas homens o meio profissional, logo se abriram à sua plena participação e logo as vimos assumirem cargos de direção e até a presidência - o que nas instituições mais tradicionais foi, ou ainda é, um caminho longo... Defensora, como sou, de uma associativismo misto, onde os géneros de completam como fator de progresso e democracia, compreendo a existência de organizações femininas - ou masculinas - quando moldam realidades de cooperação, que, de outro modo, seriam prejudicadas, esperando, embora, vê-las evoluir para um harmonioso encontro das duas metades, do todo. Também neste aspeto, que tende a ser sempre menos valorizado, as Academias de Bacalhau nos deram uma lição de boas práticas, na rota dos bons princípios! Maria Manuela Aguiar -------------------- SOBRE O 37º CONGRESSO DO PSD 1 - MULHERES DESAPARECIDAS EM CONGRESSO Há dois anos, em Espinho, saudei o que parecia ser o princípio da emergência das mulheres dentro do PSD e falei, esperançosamente, não ainda em fortes ventos de mudança, mas numa "brisa de social-democracia à sueca". De facto, a lista da direção do partido tinha uma maioria feminina entre os vice-presidentes e a paridade no conjunto da Comissão Política (nos outros órgãos do partido já não era bem assim...). Agora, há apenas duas mulheres numa Comissão Política solidamente masculina e, nos outros órgãos institucionais, neste aspeto, também nada de novo e de bom se nos oferece. Ainda nem as contas fiz de percentagens, bastou-me olhar o palco dos eleitos para ter a certeza do tremendo desequilíbrio de género, que assim se deteta a olho nu. Mas o mais dececionante é perguntar onde estão,o que fizeram de positivo, ou como se posicionam para o futuro essas mulheres que o "passismo" inventou nas suas listas... Todas elas surgiram num congresso para desaparecerem no seguinte. Na cena política portuguesa muitas têm sido as figurantes para a fotografia, e muito poucas as protagonistas para a história 2 - OS HOMENS QUE QUEREM SER FUTURO Nesta lista, a dos protagonistas prováveis da vida futura do PSD - lista que que é mais importante de todas - só há mesmo homens! E poucos. Rui Rio, naturalmente, Entre os mais novos, destacaria, pela sua inteligência e moderação, Paulo Mota Pinto, no centro-esquerda e, no centro.direita, para além do nosso conterrâneo, Luís Montenegro, por exemplo, Carlos Moedas. . Foi bom que Montenegro tivesse surgido como a grande surpresa do Congresso na oposição a Rui Rio. Por um lado, veio acabar com a utopia do consenso perfeito, que é coisa que não existe em nenhum partido democrático. Não quero dizer que não deva ser tentada e levada tão longe quanto possível e acho que muito bem andou Rio quando a procurou com Santana Lopes, Depois de uma campanha eleitoral correta nos discursos, segui-se uma magna reunião com o mesmo nível de civilidade (se descontarmos os apupos a Elina Fraga, que, graças a isso, se tornou o único nome feminino daquela espécie de clube fechado de notáveis). Montenegro surgiu na hora certa, a tempo de dizer que o simpático e popular Santana não passou de "estrela convidada", cabeça de cartaz num tempo breve. Mais significativo ainda: a tempo de dizer que Passos Coelho terminou ali um ciclo e saiu, com uma ovação final, não só do pavilhão do evento, como da vida partidária. Excelente prognóstico de futuro, porque como afirmava Sá Carneiro, sempre atual (os génios têm o privilégio de ser intemporais): "Portugal precisa tanto de mudança, como de moderação". É, sem dúvida, excelente, ter dos dois lados do PSD (o tal partido que vai do centro-.direita ao centro- esquerda), homens reformistas, pragmáticos e dialogantes. 3 - DA POLÍTICA AO FUTEBOL Eu gosto de separar as águas, entre a política e o futebol. Como portista que sou, separo, mas não à maneira do Rio, evidentemente! Se no partido estou no seu setor ideológico, em termos de futebol pertenço ao clube de Montenegro. Seja.me, pois, permitido, terminar numa nota de bom-humor, muito supersticioso.. Rio é o homem que nunca perdeu uma eleição na vida, por mais improvável que fosse a sua vitória (à atenção de António Costa...). E é também o líder que, quando está no poder, dá imensa sorte ao FCP! Com a má vontade dele, em relação ao futebol em geral e ao FCP em particular, o Porto costuma ganhar. Assim seja! ---------------------------------- RECENSEAMENTO GERAL NA EMIGRAÇÃO (POR UM DILATADO UNIVERSO DE VOTANTES OU DE ABSTENCIONISTAS'?) 1 - A anunciada proposta do governo socialista de promover em larga escala o recenseamento eleitoral dos portugueses do estrangeiro é de saudar, sem sombra de dúvida. Antes de mais, porque significa um corte com o passado, uma espécie de estrada de Damasco do PS, num domínio muito concreto. Este partido, devo destaca-lo, não sendo monolítico, sempre teve militantes tão "sufragistas" como eu, no que respeita aos direitos políticos dos emigrantes - não por acaso, os mais conhecedores da Diáspora, como José Lello ou o ex-deputado do círculo da Europa Carlos Luíz. Contudo, embora ocupassem importantes lugares institucionais, eram uma diminuta minoria, e, como diz o ditado popular, "uma andorinha não faz a primavera". Em 1980, quando o governo da AD, a que eu pertencia como estreante na pasta da emigração, fez uma primeira tentativa - modestíssima - de alargar de 30 para 60 dias o prazo de recenseamento no estrangeiro, viu a sua proposta de lei chumbado por PS e PCP, A maioria da AD era tão curta, que bastou a ausência de 2 ou 3 deputados retardatários, para sofrer no hemiciclo de São Bento, a sua única derrota, num mandato de 12 meses. Para o processo de recenseamento, que estava a ser organizado a partir do meu gabinete, foi a pior das surpresas! Mesmo assim, o número de inscritos, num só mês, quase duplicara, ultrapassando a barreira dos 100.000 inscritos, com mais de 107.000. 2 - A questão estava inquinada por meros interesses partidários e erros de avaliação. PS e PCP temiam o voto dos emigrantes, que consideravam irremediavelmente "reacionário", acusando o PSD e CDS de tentarem crescer à custa dessa "clientela", quando, na realidade, as tendências que se desenhavam nos círculos de emigração equivaliam às de muitas das circunscrições internos e, como o PS viria a descobrir, também tinha a sua margem de progressão. O preconceito já vinha de trás e limitara, na Constituição de 1976, a participação política dos expatriados à eleição de deputados - em círculos próprios, com um teto de apenas 4 representantes em 250, o que constituía, e constitui, a única exceção ao princípio constitucional da proporcionalidade pelo método de Hont. As iniciativas do PSD no sentido de consagrar o direito de voto dos emigrantes na eleição presidencial não fizeram vencimento nos processos revisionais da Constituição em 1982 e 1989, por oposição dos adversários do costume. Em 1996/97, o PSD foi mais longe e, pela voz de Marques Mendes, condicionou toda a negociação para o acordo do "bloco central" (que, "de per si", bastava para alcançar os dois terços exigidos para qualquer emenda constitucional), ao reconhecimento desse direito, assim como do direito à participação nos "referenda". Foi uma vitória histórica, embora incompleta, porque o PSD acabou por ceder à exigência socialista de restringir a capacidade eleitoral dos expatriados, condicionando-a à comprovação da existência de laços de ligação efetiva a Portugal - fórmula vaga, cuja interpretação foi remetida para as leis eleitorais, onde, naturalmente o dissenso se haveria de manter em múltiplas discussões e impasses.. .3. Quase 40 anos depois, com o recenseamento facilitado, aberto ao longo do ano inteiro, os cadernos eleitorais registam, aproximadamente, 300.000 inscritos. Uma minoria no mundo das "comunidades portuguesas", estimadas em cinco milhões! Na Espanha, só a Galiza tem muito mais eleitores da Diáspora, com taxas de abstenção bem mais baixas, a nível autárquico e autonómico. Em Portugal, os votantes têm sido, aproximadamente, uns 30.000 nas legislativas (através do voto por correspondência) e 10.00 a 12.000 nas presidenciais (com voto presencial). Em eleições autárquicas e regionais continuam excluído. A abstenção anda, pois, pelos 90% no sufrágio postal e sobe para cerca de 96% quando implica deslocação às mesas de voto - em muitos casos deslocações de dezenas ou centenas de quilómetros. É uma situação escandalosa, em que os cidadãos são, a meu ver, mais vítimas do que culpados. Um caderno eleitoral enormemente alargado a pessoas que não foram ouvidas nem achadas, sem um esforço prévio de mudar todo um estado de coisas, levará, com certeza, a ínfimos e chocantes níveis de participação. Na verdade, apesar da excelente intenção que preside à iniciativa governamental, a solução anunciada parece muito mais capaz de potenciar a imediata dilatação do universo de abstencionistas do que de votantes. Nem por isso a boa intenção pode perder-se ou ser objeto de críticas destrutivas. Este é o momento ideal para os partidos se reencontrarem, num diálogo abrangente e sereno, que permita o aprofundamento do estatuto de direitos políticos dos emigrantes, repensando a concessão do voto nas autárquicas e regionais, a aplicação do sistema da proporcionalidade ou o aumento de círculos e deputados da emigração, e, prioridade das prioridades, a revisão das modalidades de votação, com recurso às novas tecnologias, e à livre escolha individual entre o voto por correspondência (ou eletrónico) e o voto em urna, É um ambicioso plano de mobilização dos emigrantes para a participação! É o admirável tempo novo em que ter mais de um milhão e meio de emigrantes nos cadernos eleitorais deixou de ser uma utopia, mas em que a adesão real dos cidadãos à comunidade política nacional conta muito mais do que os números. ------------------------------- RECENTRAR O PSD 1 - A democracia portuguesa fez-se, no pós 25 de abril, com a criação de partidos, que procuraram o máximo de distância em relação ao regime deposto de ultra-direita: o PSD de Sá Carneiro solicitou a adesão à Internacional Socialista, que não conseguiu por oposição do PS ; o CDS, antes de se tornar PP, considerava-se "rigorosamente ao centro"; o PS, no "slogan" dos comícios e das marchas cívicas, proclamava-se como "partido socialista, partido marxista". Ao longo dos anos seguintes, o marxismo do PS, o esquerdismo do PSD e o centrismo do CDS foram-se diluindo, numa progressiva conformação à realidade sociológica dos respetivos eleitorados, enquanto o PCP permanecia bastante igual ao que era nos primórdios da revolução. Comum a todos era, porém, a existência de tendências ou alas, umas mais visíveis e ativas do que outras (em alguns casos levando à dissidência). Na verdade, podíamos dizer que a esquerda do CDS confinava com a direita do PSD e a esquerda do PSD com a direita do PS... Divergindo, embora, numa pluralidade de domínios, estes três partidos partilhavam a crença na democracia representativa, e na pertença à CEE e à Aliança Atlântica. Não por acaso, é nesta última área que o atual governo do PS, apoiado numa esquerda anti-europeísta e anti-NATO, tem encontrado maiores dificuldades - das quais se fala pouco, porque nem os "media" nem a opinião pública nacionais lhes não dão a devida relevância. A esta maioria encontrada no parlamento não falta, pois, legitimidade, nem boa articulação institucional, em particular com o Presidente da República e, também, a nível da política interna da UE, E nem sequer lhe falta aceitação popular. O seu "calcanhar de Aquiles" é, a meu ver, a impossível concordância em matérias fundamentais de política europeia e internacional, sobretudo no que respeita aos compromissos europeus e atlânticos de segurança e defesa. Eis o que não lhe augura um grande futuro para além de 2019, embora seja justo realçar que com a sua existência se abriu, em Portugal, o leque das alternativas plurais, à esquerda e à direita. 2 - Os partidos podem e devem evoluir, procurar novos projetos e relações interpartidárias, novos intérpretes das suas doutrinas. Não devem é romper com princípios fundamentais, ultrapassando o ponto fatal da descaraterização e perda sua identidade. O PSD do passado recente estava, na minha ótica, em cima de linha de fronteira, se é que a não tinha já ultrapassado. Penso na sua governação, nas políticas de austeridade, (impostas de fora, mas só até certo ponto) que atingiram, em particular, jovens forçados a emigrar em massa, reformados, funcionários públicos e trabalhadores por conta de outrem, pauperizando as "classes médias" e os mais desfavorecidos. Políticas que só não foram bastante mais longe porque o Tribunal Constitucional o não permitiu...Tivesse esse PSD formado governo, de 2015 em diante, e os mesmos continuariam, previsivelmente, a pagar a parte de leão do preço da austeridade - em primeira linha, os pensionistas (a "peste grisalha".na expressão sintomática de um jovem militante deste PSD). Fora do campo económico, discurso não menos extremista - contra cidadãos portugueses de etnia cigana - foi impunemente permitido a candidatos autárquicos, a par de tomadas de posição da bancada parlamentar contra o alargamento dos direitos dos estrangeiros, nomeadamente em matéria de nacionalidade. Impossível, no passado, com Sá Carneiro, com Mota Pinto, com Balsemão e, no futuro, (assim o espero), com Rui Rio! O "passismo", ou, pelo menos a sua facção mais radical, parece-me mais próximo" do "Tea-party" do que da CDU de Angela Merkel! Nada tinha a ver tinha comigo, que nunca escondi afinidades com o PSD sueco ou alemão ou com os Liberais do Canadá e dos EUA.... 3 - Todavia o deslizamento direitista no PSD começou muito antes do advento do "passismo", acentuando-se com a ascensão ao poder dos líderes da "Nova Esperança", primeiro no partido, em fins do século XX, e, seguidamente, no governo. A "Nova Esperança", relembro, surgiu na meia década de oitenta para combater Mota Pinto e o chamado Governo do "Bloco Central". Os seus nomes mais sonantes eram (os então mais jovens e mais aguerridos) Santana Lopes, Marcelo Rebelo de Sousa e Durão Barroso. Com Marcelo, o PSD abandonou a Internacional Liberal e Reformista, a que pertencia desde o tempo de Sá Carneiro, e aderiu ao PPE, onde hoje coexiste com o CDS. Com Barroso envolveu-se na trama da guerra do Iraque e com Santana num governo de má memória. A questão do Bloco Central foi agora, por sinal, uma das que maia visivelmente separou Rui Rio de Santana Lopes. Outras razões havia, mas esta bastava para decidir o meu voto a favor de Rio. Acredito que ele tornará viável o diálogo interpartidário para as tão faladas e sempre adiadas "reformas estruturais, quer o governo seja PSD, quer seja PS. Diálogo sem complexos, sem excluir, eventualmente, outros parceiros, à esquerda ou à direita. O presidente eleito do PSD vai, com certeza, recentrar o partido, (onde passarei a reconhecer-me, como dantes!). E vai, muito provavelmente, contribuir para recentrar toda a vida política portuguesa. ----------------- (sem assunto) Maria Manuela Aguiar sexta, 26/01/2018, 00:10 para manuela Caríssima Amiga: Fiz uma agradável viagem, trazendo comigo as excelentes recordações dos dias passados em NY. O colóquio foi uma organização muito bem pensada e planeada, à qual os participantes souberam dar a marca da sua vivência singular da emigração e do relacionamento com o país. Uma jornada com muitos momentos emocionantes e comoventes! Pessoalmente, aprendi muito. Acho que todos tinham grandes expetativas e, apesar disso, o que aconteceu viria exceder, de facto, as expetativas. Opinião comum, sem dúvida... A Manuela tem a visão, a capacidade de fazer e de liderar, que lhe permitem conseguir sempre verdadeiros "milagres".! E não só no que respeita a projetos, como o deste colóquio ou o da publicação das 225 histórias de vida, mas também no trabalho quotidiano. Até ver com os meus próprios olhos, não imaginava que os meios de que dispõe fossem tão incrivelmente exíguos. Acompanhei a vida do consulado de NY noutros tempos, e posso dizer: que diferença!!! A situação atual é absolutamente inaceitável e ninguém teria podido, apesar disso, contra tudo e contra alguns (poucos, mas poderosos,,,) responder melhor. Foi, afinal, o que lhe quiseram dizer no jantar de Mineola, com muita clareza, muita admiração e amizade, os políticos, os dirigentes dos clubes, os professores - toda a gente, - chamando-lhe "a nossa cônsul". para a distinguir de tantos ilustres antecessores. Senti nesse reconhecimento do valor e da dimensão humana da primeira mulher a ocupar o cargo do consulado de NY, ao longo de 225 anos, inteira autenticidade - ao ouvi-los, lembrava-me do que escreveram Mariano Gago e Onésimo, no prefácio do livro sobre o "Boston Portuguese Festival" (esse outro memorável feito da sua carreira), era preciso cloná-la no MNE. É única e incomparável! Gostei, igualmente, imenso das nossas conversas, das caminhadas, dos jantares em ambiente latino-novayorquino, da incursão dominical em Elisabeth...Uma hospitalidade , que nem tenho palavras para agradecer! Espero poder falar-lhe pelo telefone. não hoje nem nos próximos dias, porque sei que está ocupadíssima ( não duvido que tudo vai correr magnificamente). Beijinhos Manuela ------------------------------------------------- Fw: Mulher Migrante Caixa de entrada manuela bairos terça, 23/01/2018, 06:08 para mim, José, Júlio Para conhecimento (da presidente da Portuguese-American Postgraduate Society) ----- Forwarded Message ----- From: Silvia Curado To: Manuela Bairos Sent: Monday, January 22, 2018 12:15 AM Subject: Mulher Migrante Querida Manuela, Muito obrigada mais uma vez pelo convite para participar na sua conferência. Adorei. Foi um dia extremamente enriquecedor, com imenso conteúdo. Mais uma vez os meus Parabéns pela ideia e pela organização! Espero que possamos aproveitar a sua estadia para passar mais tempo juntas. Um beijinho também 'a Dra. Manuela Aguiar, gostei imenso de a conhecer - compreendo muito bem porque disse que queria trazê-la. Beijinhos para si e uma boa semana, Silvia Maria Manuela Aguiar terça, 23/01/2018, 14:43 para manuela Caríssima Tão simpática, a Silvia. Fiquei feliz por ver que a comunidade a adora! Sabemos que são palavras sinceras. Beijinhos ------------------------------------- Dados viagem a NY Caixa de entrada Maria Manuela Aguiar Anexos domingo, 14/01/2018, 01:07 para manuela Caríssima Com a animação da campanha do PSD e outra solicitações, tenho-me esquecido de enviar os dados sobre a viagem a NY. Chego no dia 18, ao fim da tarde a JFK, onde já não aterro há anos. Mas creio que há transporte fácil para o centro da cidade, o mesmo que costumava utilizar "in illo tempore" Vou ver se consigo falar-lhe um destes dias para acertar os temas de intervenção. Grande abraço Manuela 2 anexos • Verificado pelo Gmail manuela bairos domingo, 14/01/2018, 05:05 para mim Claro, eu também andei a acompanha o desfecho PSD, a ver se é o toque de finados para alguns aparatchiks sem vergonha do PSD. Estarei no aeroporto à sua chegada, era o que mais faltava ... Tenho andado a tentar estabilizar o programa, mas estão sempre a surgir desenvolvimentos .... amanhã vou ver se falo com o Paulo que vai fazer grande parte da "festa"... Abraços e parabéns pelo resultados de hoje... fiquei satisfeita também... Mnauela --------------------------------------------------- JA ENCONTREI!!!!!!! Candidatura a apoio financeiro - «Vidas com sentido - 225 Histórias de Emigração» Caixa de entrada manuela bairos Anexos quinta, 28/12/2017, 19:55 para mim Caríssima, Já encontrei Creio que façta a declaração assinada e os documentos que devemos a nexar à candidatura, mas vou dar o parecer e creio que depois podemos enviar os docs em falat... ou estou a ver mal? Candidatura a apoio financeiro - «Vidas com sentido - 225 Histórias de Emigração» Caixa de entrada EMI Anexos quarta, 13/12/2017, 21:14 para mim Exma. Senhora Dra. Manuela Aguiar, Na sequência da candidatura recebida sobre o projeto «Vidas com sentido - 225 Histórias de Emigração», em anexo, informo que, de acordo com o novo regime de apoios ao movimento associativo (Decreto-Lei n.º 124/2017, de 27 de setembro), as candidaturas ao apoio são apresentadas junto do posto consular ou da secção consular da embaixada territorialmente competente, em razão da área de execução da ação ou projeto, preferencialmente por via eletrónica. No Portal das Comunidades Portuguesas encontra-se disponível toda a informação sobre o novo procedimento para apresentação de candidaturas – https://www.portaldascomunidades.mne.pt/pt/apoios/area-cultural-e-movimento-associativo-old/381-atribuicao-de-apoios-pela-dgaccp . Com os melhores cumprimentos, Júlio Vilela Diretor Geral dos Assuntos Consulares e das Comunidades Portuguesas ----- Forwarded Message ----- From: Maria Manuela Aguiar To: manuela bairos Sent: Thursday, December 14, 2017 7:44 AM Subject: Fwd: Candidatura a apoio financeiro - «Vidas com sentido - 225 Histórias de Emigração» -------------------------- Maria Manuela Aguiar domingo, 20/05/2018, 13:53 para mim A maior figura feminina do nosso século XX foi, a meu ver, Maria Barroso. Tem o seu lugar na história da democracia, na história do feminismo em Portugal e tem, igualmente, um lugar muito especial no coração do Povo, conquistado, sobretudo, pela forma como as pessoas se sentiram, de facto, representadas por ela como a "primeira" das portuguesas - não a" primeira dama", que só as poderia representar através da legitimidade eletiva do marido... - alguém que viram justamente, como personagem principal, como exemplo de inteligência, de cultura e de cidadania da mulher do seu tempo. Alguém que estava tão à vontade a receber ou a visitar os mais famosos e os mais poderosos, como a relacionar-se fraternalmente com o cidadão comum. A imagem popular de Maria Barroso construiu-se a partir das origens de um admirável percurso de luta revolucionária, um percurso próprio, bem anterior ao encontro de destinos com Mário Soares, mas foi sedimentada durante "os anos de poder" ao lado do Primeiro Ministro e Presidente da República - anos em que conseguiu, como sempre conseguiu, ser ela mesma, numa afetiva cumplicidade com ele, que não escondia as naturais diferenças, a sua absoluta singularidade e independência de espírito, numa vida que, por isso, nunca ficou na sombra de um grande homem... Foi no momento em que se despedia de Maria Barroso, surpreso e emocionado, que o País redescobriu - ou descobriu - a inteira dimensão da sua personalidade, o pleno significado de uma longa e variada trajetória, que atravessou épocas e regimes, sempre norteada pela coerência dos valores cívicos e humanistas. Uma infinidade de testemunhos, de comentários, de artigos, de reportagens, de entrevistas, acabaram por dar uma ideia mais exata da excecionalidade da sua ação ao longo de mais de sete décadas, até ao seu último dia entre nós, Foi a jovem que ousou querer ser atriz e integrou o elenco do Teatro Dona Maria II e fez da declamação de poemas uma arma pela liberdade. - o que lhe uma cortou uma brilhante carreira artística, e, depois, também, a segunda carreira profissional, a docência, Foi a resistente, que suportou a prisão e o exílio, primeiro, do pai, e, em seguida, do marido e soube ser uma mulher e uma mãe corajosa. Foi a militante socialista, única mulher a falar e a intervir, com a força mobilizadora da palavra nos palcos da política, antes e logo depois do 25 de Abril. Deputada na Assembleia da República Parte ativa no movimento que levou Mário Soares a São Bento e a Belém. Depois, a sua história retoma um curso a que impõe, por inteiro, prioridades próprias, que não passam pela intervenção nas instituições do Estado e, menos ainda, pela política partidária .É a primeira mulher a presidir à Cruz Vermelha. Distingue-se à frente de uma grande instituição de ensino.Torna-se, a nível da sociedade civil, no domínio que escolhe para afirmar os valores humanistas, que gostamos de situar no território comum do socialismo democrático e do fraternalismo cristão, uma individualidade cada vez mais admirada e singularmente consensual. A sua conversão, emotiva e sincera, ao catolicismo, vem naturalmente, reforçar o seu sentido de missão, e acrescentar o número dos seus companheiros de projetos, que, para além de Portugal, encontrou, também, em Roma, na esfera da lusofonia (não esqueçamos, em especial, o seu papel no processo de pacificação em Moçambique), como no universo da Diáspora, que percorreu, presidindo, nas 7 partidas do mundo, aos "Encontros para a Cidadania - a igualdade entre mulheres e homens".(entre 2005 e 2009 - uma parceria com o governo e várias ONG’S, para o arranque das políticas de género e cidadania na emigração, a que, octogenária cheia de vigor e entusiasmo, deu a modernidade do seu pensamento e a força da sua palavra, deixando, como podemos testemunhar todos os que, com ela participámos nessa saga, um horizonte de esperança num novo relacionamento, mais próximo, mais afetivo entre as pessoas, as gerações e o País. Na visão de Maria Barroso, na sua luta pela dignidade de cada ser humano, não havia favoritos - :portugueses, africanos, timorenses, refugiados, imigrantes, velhos, jovens, mulheres, homens... Não foi por acaso que deu à sua Fundação, onde levou a cabo um trabalho notável e multifacetado, a felicíssima denominação de PRO DIGNITATE. Nesta causa cabem todas as que atualmente constituem desafios maiores no novo milénio - os combates por um mundo sem guerras, sem violência,,sem perseguições políticas e religiosas, sem a miséria provocada por chocantes desníveis de desenvolvimento, de acesso à educação. à livre a expressão da cidadania, ao diálogo sobre um futuro de tolerância e de paz, a partir de uma diversidade de heranças culturais, que se descobrem e aceitam mutuamente. Maria Barroso era um símbolo vivo destes combates. Era e é! O mais admirável é, assim, um trabalho incessante, concreto, prático, em todas as áreas em que constantemente a solicitavam. Fez de cada dia da sua vida, um dia de labor sem fim, a resolver problemas, a ajudar, com ação imediata, com uma palavra de encorajamento, com um sorriso, com tempo para todos e para tudo...Os compromissos da sua agenda eram quase sempre excessivos, mas Maria Barroso tinha dificuldade em dizer "não" – parte da sua maneira inigualável de estar com ou outros, de corresponder a pedidos, a gestos de amizade. Por isso, estava sempre em movimento, plenamente envolvida no presente, com uma imensa experiência acumulada, e a sabedoria dos que não envelhecem intelectualmente, porque mantinha o interesse na evolução da sociedade, atenta e interveniente, capaz de agir sempre mais e melhor. Fez tanto e fez tão bem tudo aquilo que assumia como cumprimento do seu dever, da sua ética, na família, no campo profissional, nas instituições públicas, no puro voluntariado, desde muito jovem – sempre, em crescendo! Maria Barroso merece ser lembrada como uma grande Mulher vanguardista, também, no século XXI Maria Manuela Aguiar Agosto 2015-08-30 ---------------------------------- Entre nomes que a nossa História guarda para sempre, como verdadeiro património humano, há os que nos dão a dimensão da alma portuguesa na sua essência universalista e fraternal. Homens, de diversas épocas, e muito mais raramente Mulheres, porque, como "segundo sexo", nasciam condenadas à invisibilidade e ao esquecimento. Uma dessas Mulheres excecionais chama-se Maria Barroso. É, certamente, a maior figura feminina do século XX, a mais inspiradora, a mais intemporal, a mais querida. A Cidadã, por excelência, com um itinerário de mais de sete décadas de intervenção cívica, cultural e política, que lhe dão o seu lugar na história da democracia, do feminismo, do teatro, do ensino, da lusofonia... E tem, também, um lugar muito especial no coração do Povo, conquistado pela forma como as pessoas se sentiram representadas por ela como a "primeira" das portuguesas - não a "primeira dama" da Republica, mas a Mulher exemplo de constante dedicação à "res publica". Incansável lutadora, com um percurso próprio, anterior ao encontro de destinos com Mário Soares, ainda que com ele continuado, na oposição e resistência à ditadura e na construção da democracia e da modernidade. Discreta e elegante, firme e solidária, ao lado de um Homem que marcou o século XX português, soube dar-lhe uma afetiva e inteligente cumplicidade, sem nunca se apagar na sua sombra, sem esconder a independência de espírito e até uma forma diversa de estar na política, em defesa de valores partilhado .A jovem revolucionária, que usava a força da palavra nos palcos do teatro, nas arenas políticas, no círculo da família e da Escola, para dizer, corajosamente, “não” à ditadura, viria a ser a grande matriarca da democracia portuguesa, com a mesma coragem de dizer "não" a todas as formas de exclusão e violência, num combate sem fim. Nas últimas décadas da sua vida, este combate não passou pela participação nas instituições do Estado e, menos ainda, pela política partidária, centrando-se no espaço comum do socialismo democrático e do fraternalismo cristão, com um sentido de missão, que uma repentina e emotiva conversão ao catolicismo, conduziria a novos projetos, em Roma, na esfera da lusofonia (de destacar o seu papel, mal conhecido ainda, no início do processo de pacificação em Moçambique), no universo da Diáspora, que percorreu como presidente dos Encontros para a cidadania e Igualdade, como dinâmica octagenária Na seu pensamento, na sua ação humanista, não havia favoritos - : portugueses, africanos, timorenses, refugiados, imigrantes, velhos, jovens, mulheres, homens... Não foi por acaso que deu à Fundação, onde levou a cabo um trabalho notabilíssimo e insuficientemente reconhecido, a denominação de PRO DIGNITATE, conceito que responde aos desafios maiores no século XXI. Maria Barroso fez de cada dia ,até ao último, dias de labor sem fim, a resolver problemas, a ajudar, com um sorriso, com tempo para todos, sempre em movimento, plenamente envolvida no presente, com a sabedoria dos que não envelhecem intelectualmente, e não perdem a capacidade se agir sobre a sociedade e de deixar legados de humanismo ao futuro. Fez tanto e tão admiravelmente, aliando inteligência, disciplina, energia paixão. Paixão, pelo homem da sua vida, pelos filhos, pelo País e pela sua família alargada - a Humanidade --------------------------------- 2018 O ADEUS PORTUGUÊS EM SOCHI 1 - Muito poucos portugueses estiveram na Rússia a apoiar a nossa equipa. Um desses raros compatriotas, entrevistado pela Sport TV, antes do início do derradeiro "match", contou que estava a viver momentos emocionantes, e lançou um desafio aos que ficaram em casa: "saiam do sofá!". Do sofá, os portugueses até saíram, ocupando as praças de todas as cidades, em frente a ecrãs gigantes, sem, todavia, ultrapassarem a fronteira da sua terra. Os uruguaios, pelo contrário, estiveram, aos milhares, em Sochi, pintando as bancadas de azul. É certo que víamos, aqui e ali, camisolas vermelhas, mas, pelas numerosas entrevistas que um repórter da TVI24 tentou fazer-lhes, no final, fiquei a saber que eram, na sua esmagadora maioria, russos, possivelmente mais adeptos de CR7 do que de Portugal. O Uruguai tem uma população de apenas 3,5 milhões (4 milhões, com os imigrantes), face aos nossos 10 milhões (15 milhões, não esquecendo a "diáspora"). E, se Rússia é longe para nós, é muitíssimo mais longe para eles. Uma viagem intercontinental da América do Sul para os confins da Europa, ainda por cima, paga em moeda bem menos forte do que o euro! A que se deverá esta diferença de comportamento? Não sei. Uma hipótese, bastante deprimente, aponta causas económicas, a pobreza, ao menos, relativa. Serão as nossas classes médias mais frágeis do que as uruguaias? Outra hipótese, de ordem imaterial, não é de molde a deixar-nos menos insatisfeitos: a seleção não nos move? Prevalecerá, entre nós, irremediavelmente, a "cultura de clube" sobre a "cultura de seleção"? Numa interessante entrevista ao "Expresso", a Embaixadora do Uruguai em Lisboa, destacou o carater identitário que o seu País (duas vezes campeão olímpico, duas vezes campeão do mundo) reconhece ao futebol, que, segundo ela, o colocou no "mapa mundi". É este o sentimento que nos falta? (A propósito, recordemos que Scolari, homem nado e criado num Brasil confinante com o Uruguai, foi quem mais tentou motivar-nos a exteriorizar a pertença à seleção). Não tendo respostas para as questões que coloquei, resta-me sugerir análise aprofundada do tema, que falta, realmente, debater e explicar. 2 - O que não tem faltado, nos "media", é análise e comentário ao nosso abreviado percurso neste campeonato. Nada acrescento de novo, ao enfileirar ao lado daqueles para quem o nosso destino, ou fado, ficou traçado com um erro grosseiro do VAR, com um golo de "penalty" que não existiu, dando ao Irão o empate, no último minuto, e à Espanha o primeiro lugar no grupo. Assim nos coube defrontar, nos oitavos de final, a dupla atacante Cavani/Suarez, a que não resistimos, em vez de uma Rússia, em princípio, mais acessível, com a qual, neste campo, costumamos ter sorte. Não pode a Espanha dizer outro tanto. Contudo, o seu destino foi traçado por erros próprios, não pela arbitragem. 3 - Erros próprios, para além da má fortuna, também sobejaram para nós, designadamente no que respeita a "casting" - jogadores em baixo de forma, uns vindos de lesões, outros com escassa utilização nos clubes de origem... Sem chegar ao extremo de Bento, ao desastre que foi a participação no Mundial do Brasil, Fernando Santos tem-se aproximado do modelo do antecessor, ou seja, foi-se convertendo em treinador da "sua" equipa, " em vez de se manter como verdadeiro selecionador, que elege os melhores, em cada momento, (para o seu sistema de jogo, naturalmente). Guerreiro, João Mário, Adrien, André Silva, Ricardo, Guedes e, até, Bernardo Silva, foram apostas falhadas e Ruben Dias nem aposta foi, o que se aceita, porque a dupla de centrais esteve bem. Particularmente difícil de aceitar foio desfazer da fantástica dupla atacante Ronaldo/André Silva. Intenção que já se adivinhava, porque, nos três jogos de preparação, Santos não os deixara jogar juntos. O pressentimento, primeiro, e a certeza, depois, terão minado o ânimo do jovem André e deixaram mais só o mediático parceiro. E, talvez por isso, entre outras coisas estranhas, na Rússia, só brilharam seniores - Quaresma (tão sub-aproveitado!), Pepe, Patrício e Ronaldo. Ronaldo, que, em Sochi, começou bem e acabou mal, tal como a seleção. ------------------------ Vitor Ramalho é um amigo de longa data, amigo de amigos através dos quais passei a conhecê-lo melhor, e a estima-lo muito . Sempre admirara a sua forma coerente e frontal de estar na vida pública, com causas e com firmeza. Na década de oitenta, fomos colegas no governo de Mário Soares, onde ele se ocupou, brilhantemente, de um pelouro, o do Trabalho, onde eu tinha começado o meu percurso na política, anos antes, com Mota Pinto. A boa cooperação e o excecional relacionamento humano que, por inspiração dos líderes, marcaram essa breve e singular experiência governativa, perduraram, para muitos de nós, pela vida fora. Com Vitor Ramalho, as problemáticas das migrações, da cidadania e igualdade, da língua e da cultura na sua expansão pelo mundo, seriam campo de variadas formas de colaboração, em sempre pude contar com o seu apoio e simpatia. Aos 70 anos, ele continua a ser um Homem aberto ao mundo, capaz de sonhar o futuro e de reinventar soluções para os maiores desafios que a sociedade portuguesa encontra no seu espaço natural, europeu e lusófono. Um dos preconceitos mais nefastos à união e cooperação geracional é, entre nós, o que confunde o significado de dois conceitos de idade - a que começa no nascimento e a que o espírito de cada um percorre. em ritmo próprio. Ora não haverá maior desperdício do que o da criatividade dos mais velhos, daqueles que nunca se deixam acantonar pela visão saudosista ou passadista da história, porque dela sabem tirar o seu melhor para tempos novos!. É o caso exemplar de Vitor Ramalho, com a sua visão moderna de um Portugal atlântico e universalista, que o século XXI. vem recolocar num posicionamento central entre continentes, povos e culturas. Por isso. lhe quero desejar a continuação de muito trabalho cívico e político para a configuração deste nosso "país do futuro", com um grande abraço de parabéns Maria Manuela Aguiar Espinho, Junho de 2018 ------------------------------------ 365 de 1 143 Fwd: Concerto Maestro Victorino d'Almeida Caixa de entrada rag@sapo.pt Anexos segunda, 11/05/2015, 16:20 para mim Drª Manuela Acabado de receber. Rita ----- Mensagem encaminhada de Rui Monteiro ----- Data: Mon, 11 May 2015 15:54:36 +0100 De: Rui Monteiro Assunto: Concerto Maestro Victorino d'Almeida Para: rag@sapo.pt, Ana Cristina Pedroso Cc: sonia.rodrigues@mne.pt, Serviço de Ensino , José António Coimbra de Matos , Roberto Pereira Boa tarde O que é que acham ? Tem ficar pronto hoje mesmo. Para haver jantar a seguir, concerto tem de começar por volta 19.30/19.45 (duração de hora e meia, certo?) porque (bons) restaurantes mais próximos fecham cozinha às 22.00. 19.00 é, de acordo experiência amigos portugueses conhecem bem panorama local, muito cedo. Última (espero) pergunta: título sempre referirá Concerto/conferência ou só concerto ou alguma outra coisa ? Obrigado e até breve. RM ----- Fim de mensagem reenviada ----- Um anexo • Verificado pelo Gmail 3 Maria Manuela Aguiar segunda, 11/05/2015, 23:33 para Rui Senhor Dr Rui Monteiro Caro Amigo Muito obrigada pela simpatia a eficiência com que desenvolve tantas diligências. É realmente muito trabalho! Espero que o Custódio possa ajudar, embora esteja agora em Portugal. Encontrei-o há dias e pareceu-me muito entusiasmado. Não sei se conhece o Maestro. Eu acho-o encantador. Tive a sorte de o convidar para uma série de espetáculos em Espinho, que foram fantásticos. Ainda hoje se fala disso. Até breve! Saudações amigas ------------- Maria Manuela Aguiar sábado, 13/06/2015, 23:29 para Maria Senhora Professora, Cara Amiga: Venho agradecer toda a simpatia e hospitalidade no Congresso, que decorreu de uma forma admirável! Sei bem o que uma tão perfeita organização representou em termos de trabalho, de competência e eficácia. Um verdadeiro título de honra para a FEP e para a cidade do Porto, que sempre se orgulha de saber receber! De parabéns está, sobretudo, a Profª Maria da Conceição e a irmã, que foi igualmente uma grande anfitriã. Despedi-me com muita pena de não poder participar no jantar, mas tinha um compromisso em Espinho - justamente um jantar com um Professor de música, para preparação de uns concertos em que a AEMM está envolvida. As nossas complicadas vidas profissionais - para mim, agora,simples ação em regime de voluntariado. Com muito apreço e estima, renovo os agradecimentos e apresento cumprimentos amigos, Maria Manuela Aguiar Maria da Conceição Ramos segunda, 15/06/2015, 10:58 para mim Cara Dra. Manuela Aguiar, bom dia, Nós é que temos a agradecer a competência e o saber que dedicou a este congresso. A Prof. Natália Ramos, que não a conhecia pessoalmente e nunca a tinha ouvido gostou imenso de a ter conhecido e da sua intervenção. É verdade que ela nunca participou como eu em nenhuma atividade da Associação Mulher Migrante. Queremos dizer-lhe que é de todo o interesse que publique a sua intervenção no livro do congresso, pois tem conhecimentos e experiência que devem ficar registados. Estamos a pedir os textos até outubro próximo. De facto ainda estamos um pouco cansadas e a finalizar algumas burocracias do Congresso. Havia muita gente diferente. Tentamos alargar as temáticas para abrir perspetivas e permitir também estudos comparativos. Muitas pessoas transmitiram os elogios ao nível científico e à organização do Congresso. Foi também muito interessante o lançamento do livro. Mais uma vez muito obrigada. Manteremos o contacto. Disponha do que precisar também. Os mais calorosos e cumprimentos amigos, Maria da Conceição Ramos ....................................................... sem assunto) Maria Manuela Aguiar domingo, 20/05/2018, 13:26 para mariamanuelabarbara Caríssima Amiga Poderá ser A NOVA EMIGRAÇÃO PORTUGUESA. NOVAS FORMAS DE ASSOCIATIVSMO? (o paradigma do "Boston Festival") Um abraço manuela bairos 08/06/15 para mim Querida amiga, Muito obrigada por todas as atenções. O Boston Festival tem sobretudo uma coisa de que me orgulho... foi uma tentativa de juntar todos sem excepção (luso-americanos e estudantes portugueses; cientistas e veteranos do ultramar; políticos de ascendência portuguesa e procissões de Santo António; conferencistas e botes baleeiros, etc, etc....) portugueses somos todos e cada um tem um contributo a dar cada um à sua maneira... Vejo nos emigrantes de hoje um interesse renovado por Portugal, por um Portugal que se renovou também. Há mais intercâmbio directo com Portugal, maior aproximação e isso faz uma grande diferença. O associativismo é fortíssimo na América, fruto das características muito próprias deste país... facilita muito a vida dos cônsules... Então agora nesta época de celebrações do Dia de Portugal... Depois conte como foi a conferência. Grande abraço Mnauela ------------------------------- SÉRGIO, UM TREINADOR PORTISTA, UM TREINADOR À PORTO 1 - Para mim, festejar um título é sempre subir ao céu (ao céu muito azul), mas o campeonato ganho neste maio de 2018, foi especialíssimo! Fez renascer a esperança no recomeço de um longo ciclo vitorioso, e acordou memórias da primavera de 1956, de um outro campeonato alcançado contra a predestinação, o impossível, ou, talvez, afinal, simplesmente, forças mais ou menos ocultas. 1956! A primeira vitória azul e branca no meu tempo de vida, quando o centralismo nacional ditava o vencedor antecipado, com regras não escritas, mas cumpridas (como nas eleições em ditadura). Só os da minha geração (privilégio da idade) podem comparar, em tudo o que têm de espantosamente semelhante, duas equipas separadas por mais de sessenta anos de história - a de Yustrich e a de Sérgio Conceição. Em ambas, sobressai o treinador, que as impulsiona à sua imagem, unindo um coletivo, em que todos são iguais. Ambas entram em campo de rompante, e partem para o ataque, com a intensidade que o líder lhes inculca, sem nunca vacilar ou desistir. Ambas se apresentam desfalcadas de nomes sonantes, parecendo de menos para o feito enorme que se lhes exige. De fora, poucos acreditam que o conseguirão, porém, eles - Sérgio, como Yustrich, e os seus jogadores - não têm dúvidas, só certezas de alma! Se quisermos ir ao pormenor, poderemos ver no veloz gigante que é Marega um avatar de Jaburú, no artista que é Brahimi o de Hernâni, e em Sérgio Oliveira o de Monteiro da Costa, "quinta essência" da entrega à luta e de orgulho nas cores da camisola. 2 - Um regresso ás origens... de resistência à adversidade e ao desfavorecimento dos poderes instalados. A primeira vida do FCP decorreu, invariavelmente, assim. Mais obstáculos, mais dificuldades, forjaram o seu caráter. Triunfos com a dimensão da utopia, criaram a sua mística. O sumptuoso troféu que o Povo da cidade lhe ofereceu quando, num "match" particular, derrotou o nº 1 do mundo, um Arsenal no apogeu, era já o prenúncio de uma ambição sem limites, que havia de levá-lo ao patamar proibido - o de campeão do mundo de clubes. A segunda vida do FCP começa, (como não poderia deixar de ser), numa revolução libertária, em 1974. A revolução chegou ao futebol, com uma inesperada "viragem a norte" e a marca de Jorge Nuno Pinto da Costa. [44 anos depois, note-se, semelhante rotura está ainda por fazer na política, onde o centralismo, herdado da ditadura, mantém o cerco às atividades económicas, culturais, sociais, fora de Lisboa]. Em liberdade, o FCP pode ser igual, Em igualdade, pode ser superior. Do plano nacional ao internacional. Não era milagre, era organização, modernidade, rigor, liderança... As estruturas organizacionais criavam valores, convertendo jovens desconhecidos, vindos de todo o lado, em estrelas, e apostando em técnicos e treinadores portugueses, que ganharam fama universal - na senda de Artur Jorge e de Mourinho. Dir-se-ia o "toque de Midas"! 3 - A época de ouro teve o seu ocaso numa longa e dura a travessia do deserto de títulos. Em 2017, com o plantel depauperado e um orçamento zero para contratações, por imposição das regras de "fair-play" financeiro, parecia não haver treinador de renome que aceitasse um convite do FCP. E eis que surge em cena um "voluntário", capaz de trocar o certo pelo incerto, disposto a reduzir a metade o valor do contrato que o ligava a um dos grandes de França e pronto para a missão impossível de salvar o Dragão - o seu clube. Sérgio, o resistente, que desde menino soube viver com pouco, conviver com a injustiça e nunca se dar por vencido. Não era, ao que consta, uma primeira escolha, mas foi, sem dúvida muito melhor do que qualquer outra teria sido. À chegada, deixou bem claro que vinha para ensinar, não para aprender. E assim foi. Consigo trouxe, de facto, não só o saber muito de futebol, em termos teóricos e práticos, mas também "a arte de ensinar a arte", de levar cada um a redescobrir-se, na sua capacidade de evolução, não apenas individual, mas como parte de um todo. Não é para qualquer um - é só para génios! Como Mourinho, que, nas primeiras declarações, afirmou que, no ano seguinte, iria fazer do Porto campeão - e fez! - para tal lhe bastando dois reforços do Leiria e um do Setúbal, contratados a custo reduzido, Chamavam-se Derlei, Paulo Ferreira e Nuno Valente, aos quais se juntou o incomparável Ricardo Carvalho, que andava emprestado. Paradigmático, na tradição de Mourinho, o modo como, inteligentemente, conseguiu adaptar as disponibilidades à sua ideia de jogo (ou as táticas às disponibilidades...), como transformou em mais valias, jogadores " descartados" pelos seus diretos predecessores. Recuperação profissional, recuperação humana, numa rota de transcendência, de emoção, que, de imediato, passou às bancadas, e arrastou multidões no movimento imparável para a vitória Assombroso o ensinamento de Sérgio, que vale tanto para avaliar o passado recente, (nomeadamente, a "performance" dos seus antecessores) , como para preparar o futuro, de preferência com ele. Sérgio Conceição foi um jogador que admirei imensamente e um treinador em quem sempre acreditei - o que, em tempos recentes, só com Villas Boas acontecera. No que estava muito bem acompanhada. Antes de ser, nesta segunda veste, entronizado na história do FCP, já ele era o herói do povo. E o povo também jogou neste campeonato! Alexandre Franco quarta, 16/05/2018, 15:19 para mim Minha Cara Amiga, Tudo bem e muito obrigado pela versão corrigida. Gostaria de saber qual o seu parecer sobre toda esta situação do futebol em Portugal no que concerne o Sporting em termos de corrupção, agora também com denuncias referentes ao futebol. Será que posso ter uma opinião sua? Desde já os meus agradecimentos. Um abraço Alexandre ------------------------------------------------------- Maria Manuela Aguiar segunda, 28/05/2018, 01:01 para mim Boa noite! Como o nosso país desperdiça valores, a experiência dos seus melhores! No domínio da ciência, em especial, mas, na verdade, em quaisquer outros também. Todas essas iniciativas conjuntas com a Raquel, nomeadamente, o pioneiro curso de mestrado seriam de continuar, obrigatoriamente, enquanto, tivessem a energia e boa vontade de os organizar - como é o caso! É um dos países â face da terra, onde menos se sabe tirar proveito da sabedoria dos mais velhos! E há uma razão para isso, o "preconceito de idade", fortíssimo (um dos diletos apoiantes de Passos Coelho falava dos seniores com "a peste grisalha"). O reverso da medalha é a glorificação da juventude e dos jovens, como capazes de progresso e perfeição, para tal bastando a pouca idade. Não basta! O excessivo "rejuvenescimento" das chefias da Administração Pública, da Justiça, ou da chamada "classe política" é, a meu ver, a principal causa de de muitas das nossas desgraças. Não sei se por deformação profissional, como jurista, o que mais me choca, neste panorama, é o estado comatoso em que jaz a nossa magistratura - a falta de competência profissional, a falta de qualidade humana, o tolo exibicionismo, a insensatez, a lentidão, a insegurança (constatação tremenda, pois a segurança é um dos pilares do Direito). No velho regime, com exceção dos tribunais políticos, que não eram verdadeiros tribunais, os Juízes gozavam do maior prestígio, de uma merecida excelente reputação. Para isso contribuía, decisivamente, o facto de os jovens licenciados terem de começar a carreira pelo Ministério Público, (como, digamos, advogados de acusação), só ao fim de dez anos podendo ascender à magistratura judicial. Ou seja, não se detinha o poder de julgar, antes dos 32 ou 33 anos e de uma larga experiência adquirida. Agora passam praticamente dos bancos da Faculdade para o exercício de funções para as quais não têm vivência. Aplicar o Direito a situações concretas, exige maturidade, conhecimento das pessoas e das dificuldades da vida, tanto quanto conhecimento.das leis... (alguns não sabem sabem nem de uma coisa nem da outra!). Um susto! Quando acabei o meu curso, em 1965, a carreira do Ministério Público, assim como a diplomacia e a Magistratura, eram vedadas às mulheres! Se não o fossem, eu teria muito provavelmente ingressado na carreira judicial, embora a advocacia tivesse sido o que me atraiu para o curso de Direito (acabei como assistente, num Centro de Estudos...). Fiz o estágio de advocacia, depois, estive inscrita na Ordem durante cinco anos, mas já dando toda a prioridade ao meu trabalho no Ministério. Só voltei a entrar no Tribunal, mais de 40 anos depois, para ser testemunha abonatória de um amigo Embaixador. Fiquei espantada, ao ver-me num mundo totalmente feminino - a juíza, a delegada do Ministério Público, a advogada de defesa... O único homem era o oficial menor, que vinha à porta da sala chamar as testemunhas. Nem sempre isto acontece, mas estatisticamente, as mulheres já predominam. Não creio que se lhes deva assacar, em primeira linha, declínio da carreira - até porque as instâncias superiores ainda estão em mãos masculinas... Em qualquer caso. o desequilíbrio de género não é um factor positivo. A entrada em massa das mulheres numa profissão masculina,tem redundado, sistematicamente, na sua desvalorização, em sociedades em que o machismo resiste e persiste. (Sou uma prosélita da cooperação dos contrários, do equilíbrio, não so etário, mas, igualmente, de género, de grupos étnicos, de experiências de vida!). Falei da magistratura, mas na política, o cenário não é muito melhor. De notar que, neste campo, as mulheres não podem ser sequer suspeitas de grande contributo para a degradação a que se assiste, pois, para além de serem uma minoria, estão quase ausentes dos centros de poder real - são figuras de segundo plano,nos governo, no parlamento, a nível local. Há, pontualmente, algumas exceções, que confirmam a regra.. E algumas dessas exceções não brilham a grande altura... Lembro-me da triste figura da anterior Ministra da Administração Interna ou da única Presidente da Assembleia, que fazi discursos verdadeiramente exóticos. Na política, a degradação tem pouco a ver com as questões de género e tudo a ver com as de geração... É impressionante comparar a nossa situação com a de outros países da Europa (esqueçamos Macron, que é caso excecional), e, sobretudo, com a América do Norte. Já vinte anos atrás, o meu amigo Facão e Cunha, depois de tomar posse como Ministro do Trabalho do último governo de Cavaco me dizia: Neste governo eu sou o 2º mais velho, se estivesse no governo dos EUA era o 3º mais novo! Recordo-me da frase, e do ano, 1991, mas não do tal executivo americano, De qualquer modo, ainda hoje a situação não será muito diferente. Quando Hillary Clinton tomou posse como Secretary of State as suas primeiras nomeações foram dois embaixadores especiais para o Médio Oriente - ambos com mais de oitenta anos. A vida é para ser vivida em todas as idades... Já pensava assim, antes de entrar na 3ª idade, e não mudei de opinião. Uma das razões porque apoiei o Dr Soares na sua última eleição teve a ver com o facto de achar que ele era muito melhor do que Cavaco. A outra teve a ver com a certeza de que estava destinado a perder essa corrida, e apenas porque era demasiado velho para os padrões portugueses. Na noite eleitoral fui propositadamente a Lisboa para lhe dar um abraço (caso tivesse ganho, não faria os 300 km, porque não faltaria gente a festejar à sua volta). Tanto ele como a Drª Maria Barroso estavam muito chocados, o que me fez muita pena. Creio que o pior de tudo foi ter ficado atrás de Manue lAlegre, o que foi terrível... Bem melhor, pelo menos aparentemente, reagiu Freitas do Amaral, quando viu confirmada a derrota. O ambiente era fúnebre - as únicas pessoas que procuraram desanuviar éramos ele e eu, Na altura, esteve do seu lado, porque trabalhei com ele no dia a dia , no MNE, e foi uma relação de trabalho perfeita.1980 foi o ano mais feliz da minha vida, até ao dia da morte de Sá Carneiro... Para mim, são muito mais difíceis de suportar, emocionalmente, as derrotas do FCP do que as da política.(incluindo as minhas, que não foram muitas. Representava círculos onde a eleição estava assegurada e nunca perdi o 1º lugar, mas houve um ano em que o PSD perdeu um deputado - e tudo por efeito de uma campanha populista do PS que prometeu pensões para carenciados, que não passavam de subsídios pequenos dados a uma ínfima maioria. Resultou em cheio em países onde há imigrantes italianos e espanhóis. que gozam de pensões a sério , como o Brasil, a Venezuela ou a Argentina. Depois, a mentira fez "boomerang", nunca mais aí tiveram uma boa votação. Em todo o caso, como diria o presidente do Sporting, "foi chato... O que se passa no SCP é desolador. No final da Taça, confesso que "torci" por eles, pelos jogadores e pelo treinador - de quem não sou fã, mas que se portou com grande dignidade. Amanhã, tenho de ir a Lisboa, à Assembleia. Não consegui dizer "não" ao convite da Univ Senior de Espinho, cujo grupo coral vai atuar para os deputados. Não pertenço à instituição, mas sou uma adepta confessa. Julgo que em nenhum país do mundo este tipo de associativismo funciona melhor. É extraordinária a forma como se espalharam por todo o território, até em aldeias do Portugal profundo, e como desempenham o papel de animação cultural de uma faixa etária tão abandonada. A nível do Estado, só se fala dela para contabilizar despesas médicas por doença ou internamento hospitalar - a tal peste grisalha... As U Seniores que conheço, (através de convites para palestras ou debates), pelo contrário, são esplêndidas tertúlias de idosos, onde eles são felizes e rejuvenescem. Um abraço --------------------------------------------------- CL 1 - O reencontro com o Doutor Carlos de Lemos e a Doutora Molly, em Monção, a 20 de abril, teve um significado especial, pois era a primeira vez que confraternizávamos nas terras do Alto Minho, onde ele nasceu e onde, à semelhança de tantos e tantos dos seus conterrâneos, ao longo de séculos, seguiu o impulso de" correr mundo". A sua aventura iria, porém, ser singular, irrepetível e assombrosa... Conheci-os há quase quatro décadas, Molly, então investigadora universitária de grande renome pelo seu trabalho académico pioneiro, e Carlos, também ele doutorado e, para além da profissão, já convertido em porta-voz dos nossos emigrantes, e dos refugiados timorensee, com dinâmicas iniciativas no campo do ensino da nossa língua e da cultura. (pouco depois, seria nomeado cônsul honorário de Portugal em Melbourne, funções que desempenha até hoje, com um tal brilho e eficácia que levou o Secretário de Estado José Luís Carneiro, a distingui-lo, há dias, numa reunião mundial de cônsules, como um verdadeiro "primus inter pares". Sempre o vi assim, como um admirável embaixador, a defender e a prestigiar Portugal e os portugueses no Estado de Vitória! Apesar da nossa amizade de longa data, os diálogos centravam-se, sobretudo, em problemas das migrações, na questão timorense, nas lgações com a Austrália, em História ou política nacional e internacional, pelo que nunca tinham vindo a propósito falar dos tempos de infância ou mocidade. Tomei por certo que tão fino e culto diplomata teria crescido numa bela mansão minhota e frequentado os bons colégios. A sua autobiografia, que tive o privilégio de ler, antes mesmo de publicada, e de prefaciar, foi um imenso "choque de realidade". Jamais poderia imaginar possível o percurso que o levou do isolamento de pequenos povoados perdidos na serra, desde pequeno, entregue a si próprio, sem posses e com a escolarização mínima, tão longe e tão alto, pela inteligência e pela humanidade, pelo gosto do conhecimento intelectual! O que "fez correr" o jovem Carlos Lemos "do Minho a Timor" e à Austrália, e à volta do planeta, não foi a procura da "árvore das patacas", mas, antes de tudo, a aprendizagem, o enriquecimento pela cultura, a descoberta pessoal de outras terras, e outras formas de vivência, com as quais pudesse cruzar a sua. Um grande português, que, na melhor tradição universalista da nossa história universalista, se pode e soube relacionar e interagir com algumas das personalidades que marcaram o panorama cultural e político do século XX no mundo! Em Monção, a sua fascinante autobiografia foi lançada numa modalidade que julgo inédita; uma entrevista coletiva pelos alunos das escolas da cidade!. Um vivíssimo diálogo de gerações, que constituiu momento especialmente emotivo, na programação de um colóquio em que se destacavam grandes individualidades da emigração minhota e monçonense, todos nomes do passado, à exceção do Dr Carlos de Lemos, que estava ali, face a face, com meninos, exatamente da idade que que ele tinha nos primeiros capítulos do livro...Disposto a dar os pormenores e explicações que lhe pedissem, e a revelar como foi possível cumprir projetos que, à partida, pareciam impossíveis. De Monção partiu para a aventura, no comboio de Monção para Lisboa, a que se seguiria uma sucessão meteórica de viagens, dentro do país, depois no espaço da lusofonia, até chegar às antípodas... Um curso profissional de topografia foi o seu passaporte para ultrapassar todas as fronteiras, todos os mares... A aventura ia ganhando a dimensão do seu espírito sempre aberto, em novos patamares de formação académica, de conhecimentos e de amizades, que soube colocar, (como um herói do nosso tempo!), ao serviço da expansão da presença de Portugal no mundo 2 - Três Estados reconheceram, com altas condecorações oficiais, a sua facilidade de aproximação dos povos, empenho na defesa e na integração dos imigrantes, na divulgação, na valorização das suas culturas, e, bem assim, a forma como, com tanta clarividência e genuína humanidade, soube construir pontes de comunicação entre os seus países de afeto; Portugal, Timor e Austrália!. Foi o amigo e o aliado, quer dos portugueses, quer dos timorenses, e um interlocutor confiável e privilegiado, junto das instituições australianas. Com insinuante personalidade, coerência dos princípios e constância da linha de rumo, ascendeu ao topo, numa sociedade vanguardista e cosmopolita, (muito exigentes, também), como é a de Melbourne. O "Clube de Melbourne", considerado o mais elitista de todo a Austrália, acolheu-o, recentemente, como membro, por aclamação unânime. Foi também em 2018, que, após ter sido condecorado com o Ordem de Mérito de Portugal, em 2002, e com a Ordem de Timor em 2015, recebeu a Ordem da Austrália. Esta Ordem é uma honraria concedida a muito poucos e através de um processo exemplarmente democrático. Ao contrário do que acontece, por exemplo, em Portugal, na Austrália, qualquer pessoa pode propor a atribuição de uma condecoração. O pedido é dirigido ao "Conselho" da Ordem, que pode levar muitos meses (mais de um ano ou um ano e meio...) a decidir, avaliando, em todos os detalhes, o merecimento do curriculum em causa e a conduta ética do candidato, ao longo da vida. A distinção é, ou não, outorgada, pelo governo, sob parecer do Conselho, sem a intervenção do Chefe de Estado (o Governador - Geral, visto que a Austrália pertence à "Commonwelth" britânica). Neste aspeto, o Governador Geral tem o poder de um cidadão comum: o de ser proponente, embora as suas propostas tenham prioridade no processo de avaliação. Não há diversas Ordens, como acontece na maioria dos países europeus - apenas a Ordem da Austrália, concedida em diversos graus. O Doutor Lemos foi condecorado no grau correspondente a "serviços meritórios". Assim, se juntou a sua Mulher, que, há anos, recebeu a condecoração no grau que reconhece "serviços excecionais", considerando a sua obra como investigadora e pedagoga, com larga e valiosa bibliografia publicada. Não sei se em toda a Austrália haverá um outro caso em que marido e mulher são, ambos, membros da Ordem e de uma associação a que apenas podem pertencer as personalidades condecorados! 3 - É de salientar o gesto dos Estados, sobretudo por ser plural, e, consequentemente, prova inequívoca da capacidade do homenageado de conciliar interesses em presença, colocando o enfoque das suas ações na compreensão e na fraternidade que o norteiam e que ele consegue dar e receber e partilhar à sua volta. Mas não menos importante ou impressionante é a sua aceitação no que podemos chamar a sociedade civil, onde também o vemos cercado de admiração e carinho! Quem realiza grandes feitos, raramente é tão consensual... Qual será o segredo que lhe permitiu escapar, praticamente, incólume ao feio sentimento da inveja e maledicência? Talvez, entre outros fatores, a força da sua simplicidade e discreção, (duplicadas pelas de sua Mulher!). a natural simpatia e bom humor com que atravessa a vida. E, sobretudo, aquele sentido inato do que é certo e justo, que já revelava na infância, e que o levou a envolver-se em empreendimentos que tão bons ou melhores são para os outros do que para si próprio. Creio que todos os que têm o privilégio de o conhecer bem, concordarão comigo. Um retrato de emigrante, e da sua contribuição para povos e paóses que encontrou na sua rota. Bem haja! A foto do Funchal... Caixa de entrada Maria Manuela Aguiar Anexos terça, 24/04/2018, 02:25 para Hernani Olá Hernâni O meu gatinho Deco morreu há duas horas. Não pude evitar que a mãe se apercebesse. Estava ao lado dele, tinha acabado de o deitar no sofá. e chorou, chorou... Era um amigo muito especial: "falava" connosco, para chamar a atenção - não miava como os outros, inventava sons bonitos, às vezes parecia um pássaro. Desde muito novo tinha um pulmão afetado, depois de uma pneumonia. Agora, com 15 anos, morreu com dificuldades respiratórias, o coração não suportou o esforço, O veterinário tinha estado aqui, à noite, a dar-lhe soro e um anti-inflamatório. Amanhã vamos enterra-lo no jardim, junto aos outros Encontrei no caos da minha documentação, algumas fotos da visita à África, em companhia de Dom Duarte Pio - encontros com os Reis dos Zulus e da Suazilândia e Pik Botha, no baile das debutantes da Sociedade de Beneficência... O Rei dos Suazis, neto de Shobusa, recebeu-nos em pleno "Conselho do Reino, e, por isso, está com as vestes tradicionais. Creio que é licenciado por Cambridge, ou Oxford... O Rei Zulu acolheu-nos com tal hospitalidade, que prolongado o banquete e a conversa, acabámos por perder o avião de Durban para Capetown... Pik Botha era um homem encantador e o mais fantástico dos oradores. Conhecia-em Lisboa. Gama não quis oferecer o almoço a um Botha, ainda em tempo de apartheid (1984 ou 85), e delegou em mim essa duvidosa honraria. Foi pouco protocolar, mas Pik Botha não deu sinal de constrangimento. Foi uma conversa cordialíssima e mesmo descontraída ( com Gama não teria si...) . Ele tinha grandes amigos entre a elite portuguesa da RAS. Por isso, estava presente no Baile da Soc Beneficência. Era Embaixador o Cutileiro, que se dava comigo "como Deus com os anjos", mas nem eu consegui convencê-lo a deixar o Dom Duarte subir ao palco e discursar. É um republicano empedernido, fundamentalista... Queria que eu falasse (era VP da AR...), o que declinei. Só falaria, se o D Duarte falasse, é claro. Pik Botha, percebendo a antipatia do emb pelo príncipe, não sabia como o havia de tratar publicamente, no discurso, e, prudentemente, em vez de perguntar a Cutileiro, perguntou-me a mim.... Sugeri que usasse o tratamento que Mário Soares sempre lhe dava: "Alteza Real" E Botha assim fez. Também encontrei fotos com Natália, com Sousa Tavares e com Amália, de quem gostava imenso, e não só como artista, como pessoa..." N de BH com José Aparecido, outro inesquecível amigo, o mais interessante é a linha de fotos de parede, onde Marcelo Caetano tem lugar ao lado dos presidentes da democracia... Só mesmo no Brasil, entre portugueses... Constatei a paixão que Nassau ainda desperta em Recife - foi um caso de sucesso, que não se repetiu na Indonésia, nem em Malaca, onde os Portugueses são bem mais queridos do que os holandeses, nem na RAS. Claro que entre os "boers" havia alguns brilhantes, como P Botha - um progressista, que contribuiu para o fim do apartheid, tal como o presidente Botha - mas eram a exceção à regra. Absurda a nova política dos monumentos nacionais de fazerem dinheiro em qualquer circunstância, sem distinção de atos culturais e eventos lucrativos... Um abraço ---------------------------------------- Maria Manuela Aguiar quinta, 10/05/2018, 13:41 para Maria Obrigada! Andei na festa ontem, é claro, primeiro na Casa do Porto de Espinho, depois no hotel Solverde. Antes do hotel "pegar fogo", ainda cantei e saltei em uníssono com os campeões. Seguidamente, fiquei até ás duas a vê-los mais de perto, no ecrã de tv.. Gosto imenso do Sérgio Conceição . é um herói/anti-herói. Parece sempre destinado ao desastre, ao pior, por mais que mereça o melhor. Vive permanentemente como um injustiçado, que nunca se dá por vencido. De vez em quando, perde a cabeça, o que nem admira, dadas as circunstâncias que o perseguem. Não tem o ar de "golden boy" de André Villas Boas - o outro genuíno portista - na, hora da vitória, não consegue sequer esboçar um sorriso, chora a pensar nos pais, que já morreram. O Sérgio, como o próprio FCP face aos potentados instalados em Lisboa, foi sempre o "underdog". Talvez, por isso, os adeptos se identifiquem tanto com ele, mesmo quando cai em alguns erros ditados pela impulsividade. Tem mau feitio e bom coração. Foi sempre um bom rapaz, mal comportado... Acho que ainda é... Como jogador era genial, brilhou em vários países, e, sobretudo, em Itália, mas no capítulo do reconhecimento, eu diria que teve imenso mas não o devido. Uma espécie de Bartolomeu Dias, não dos mares, mas dos estádios... Por sinal, ele até lançou um slogan "marítimo", falando muito do "mar azul"... De qualquer forma, é uma vitória do "futebol-desporto" sobre o "futebol-negócio", porque foi a primeira vez que o Porto ganhou sem despejar dinheiro sobre a equipa. A gestão do clube foi de tal forma ruinosa, nos últimos anos, que ficou sob intervenção da UEFA e não tinha um euro para investir em contratações. foi também por isso que teve de apostar em Sérgio C, que não era a primeira escolha do "mago" Pinto da Costa.... A primeira estava destinada a falhar como todas as dos anos recentes... Não foi da parte dele coragem, mas necessidade. Coragem teve o Sérgio ao aceitar aquilo de que os outros fugiram a sete pés... É que o plantel era, aparentemente, uma desgraça. Ele soube adaptar as táticas às disponibilidades (ou as disponibilidades ás táticas). E um homem motivado vale o dobro...ou o triplo. Com ele, até os jogadores falhados, classificados como irremediavelmente toscos (caso do agora famoso "Marega") se tornaram estrelas".! Do zero ao infinito... E agora, como o meu menisco não me permite ir para o meu lugar cativo no estádio (que fica na bancada central, logo abaixo do setor da imprensa. com muitas escadas para subir e descer... tendo, por isso, emprestado o cartão a uma prima e afilhada, tão louca pelo FCP como eu), vou ver o jogo na Casa do Porto de Espinho, que funciona, como bancada suplente do Dragão, com semelhante calor humano e emoção ------------------------------------ Maria Manuela Aguiar segunda, 30/04/2018, 15:50 para mim No 48º aniversário de O MUNDO PORTUGUÊS Em janeiro de 1980, iniciei, enquanto responsável pelo pelouro das migrações, o que seria um longo caminho de colaboração com o "O Emigrante”, então, a completar a primeira década de uma vida intensa, focada na grande vaga de emigração para a Europa, com o propósito de ser a voz daqueles portugueses - os mais marginalizados e esquecidos, tanto pelo Estado (que obrigava a maioria a sair dramaticamente, "a salto"...), como pela sociedade e, até, pelos próprios "media" nacionais. Desde sempre o vi como o aliado em que se podia confiar para trazer testemunho de situações individuais e da evolução da vida coletiva, e para levar a núcleos tão dispersos notícias do país, de uma democracia em progresso, e informações sobre o conteúdo novas leis, medidas e projetos que os afetavam diretamente - o que configurava, a meu ver, autêntico “serviço público”! . No rol infindo das minhas memórias de partilha de ações concretas com O Emigrante- Mundo Português, recordarei três, que são prova evidente da identidade ou da vocação cívica e solidária de um periódico diferente dos outros: A CRIAÇÃO DO CCP O maior destaque vai para a sua participação, sobretudo através do Dr. Carlos Morais, no Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP), desde o momento matricial. O CCP foi, em 1980/81, o instrumento de uma política de aproximação e diálogo do Governo, que visava dois objetivos tão inovadores quanto ambiciosos. O primeiro era o de constituir uma plataforma de encontro e cooperação entre portugueses, a nível mundial, e o segundo, não menos relevante, o de garantir uma representação específica das comunidades face ao Poder, complementando um sistema constitucional que apenas concedia aos expatriados o voto para a eleição de quatro deputados. Este jornal não se limitou a fazer a história do nascimento do CCP como "instituição" pioneira, eleita pelo movimento associativo, e em que se integravam, numa secção autónoma, os "media" das Comunidades do estrangeiro. A transposição da lei para a realidade, da vontade do legislador para a vontade dos destinatários, foi uma aventura extraordinária, que começou pelo radical afrontamento entre emigração europeia, muito partidarizada, e a emigração transoceânica/Diáspora, e foi construindo, de debate em debate, democraticamente, uma comunidade de trabalho e destino, que soube incorporar as naturais divergências, que haveriam de persistir sempre. Foi num tal clima que a qualidade jornalística de "O Emigrante" granjeou aplauso unânime dos conselheiros! E até veio a ser considerado, também, por consenso, um verdadeiro “porta-voz do CCP! E, de facto, no grande forum para a internacionalização ou globalização do associativismo português, o nosso primeiro "jornal global" era o que perfeitamente correspondia à sua dimensão e perspetivas POLÍTICAS PARA A IGUALDADE DE GÉNERO Num país que, ao longo de cinco séculos, sempre, discriminara as cidadãs portuguesas, proibindo ou dificultando as migrações femininas, a primeira medida positiva foi a realização, em 1985, do "1º Encontro Mundial de Mulheres Portuguesas no Associativismo e no Jornalismo" (por recomendação do CCP e para colmatar a quase total ausência de mulheres na composição desse órgão representativo e consultivo). "O Emigrante" esteve lá e, quando foi criada, em 1993, a associação de estudo, cooperação e solidariedade para com a "Mulher Migrante", foi, um dos seus sócios fundadores, através do seu Diretor Carlos Morais. Na sede do jornal se fez o lançamento público da nova organização, que viria a converter-se, a partir de 2005, em parceiro constante de sucessivos governos na execução de políticas para a igualdade nas Comunidades Portuguesas. IGUALDADE DE DIREITOS POLÍTICOS Uma das principais recomendações reiteradas do Conselho era o alargamento dos direitos políticos dos emigrantes, e, sobretudo o voto na eleição do Presidente da República. "O Mundo Português tomou a iniciativa de lançar uma campanha universal pela reivindicação desse direito. Com leitores em todos os continentes, quem o poderia fazer com a mesma abrangência? Quando o voto foi, finalmente alcançado, na revisão constitucional de 1997, pode, pois, reclamar vitória, em nome dos cidadãos das comunidades! O meu abraço de parabéns ao "Mundo Português", por ser, há 48 anos, como o quiseram os seus fundadores, um “jornal de grandes causas. ----------------------------------------------------------- COMUNICAÇÃO ORAL Título: AS MULHERES NA HISTÓRIA DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS E DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A EMIGRAÇÃO. MARIA MANUELA AGUIAR (Ex. Secretária de Estado da Emigração e das Comunidades Portuguesas; Associação Mulher Migrante) Resumo As migrações portuguesas começam como uma aventura masculina, onde o sexo feminino só excecionalmente tem lugar. As primeiras políticas públicas neste domínio são de limitação ou condicionamento dos fluxos migratórios masculinos, quase sempre considerados excessivos, e de proibição da saída de mulheres, em regra, vista como contrária aos interesses do País. Ao longo dos tempos, centenas de milhares de homens e também um número crescente de mulheres, que querem juntar-se aos maridos ou aos pais, ou mesmo partir com eles, vão ultrapassar todos os obstáculos para alcançarem o "novo mundo". É com a chegada das mulheres e a reunificação das famílias que nascem as comunidades de cultura portuguesa, mas o seu papel, ainda que matricial, é escassamente visível e reconhecido e a sua participação obedece à divisão tradicional de trabalho entre os sexos, no associativismo, como no núcleo familiar. Os movimentos feministas descuram a emigração e são raras e extraordinárias as organizações femininas de entreajuda até meados do século XX - caso do movimento mutualista feminino da Califórnia. Após a revolução de 1974, a Constituição de 1976 vem proclamar a igualdade entre Mulheres e Homens e estabelecer a inteira liberdade de emigrar. As políticas públicas, que, até início da década de 70, se restringem à proteção dos emigrantes na viagem de ida e os abandonam nas terras de destino, evoluem para a defesa dos direitos dos cidadãos e tomada de medidas de apoio social e cultural, e para o reconhecimento do papel do movimento associativo, Todavia, só uma década depois, no quadro de funcionamento do Conselho das Comunidades Portuguesas - quase 100% masculino - se dá o primeiro passo para a prossecução de políticas com a componente de género, com a convocatória do "1º Encontro Mundial de Mulheres no Associativismo e no Jornalismo".(em junho de 1985). Mais de trinta anos decorridos sobre esse histórico Encontro Mundial, qual o balanço da ação da sociedade civil e do Estado no campo da igualdade de género nas comunidades do exterior? Eis o que nos propomos abordar. Nota Biográfica Licenciatura em Direito pela Universidade de Coimbra. "Diplôme Supérieur d'Études et de Recherche en Droit" pela Universidade Católica de Paris.É atualmente presidente da Assembleia da Associação Mulher Migrante: Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade. Foi docente da Universidade Católica de Lisboa, da Universidade de Coimbra e da Universidade Aberta, Mestrado de Relações Interculturais (Regeu o curso de "Políticas e Estratégias para as comunidades Portuguesas). Secretária de Estado do Trabalho (1978/79) e Secretária de Estado da Emigração e das Comunidades Portuguesas (1980/87). Vice-Presidente da 2ª Conferência de Ministros do Conselho da Europa para as Migrações (Roma,1983) e Presidente da 3ª Conferência de Ministros do Conselho da Europa para as Migrações (Porto, 1987). Deputada à Assembleia da República eleita, em mandatos sucessivos, entre 1980 e 2005. Vice-Presidente da Assembleia da República (1987/1991). Presidente da Subcomissão das Comunidades Portuguesas (2002/05). Presidente da Subcomissão das Migrações da APCE (1994/1995), Presidente da Comissão das Migrações, Refugiados e Demografia da APCE (1995/97). Legislação, criação e reforma de organismos que impulsionou: Comissão para a Igualdade no Trabalho e Empresa (CITE), 1979; Instituto de Apoio à Emigração e Comunidades Portuguesas (IAECP), 1980; Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP), 1980; Lei da Nacionalidade, 1981; Centro de Estudo do IAECP e "Fundo Documental e Iconográfico das Comunidades Portuguesas" (1984); Comissão Interministerial para as Comunidades Portuguesas (1987). Estatuto de Igualdade de Direitos e Deveres entre Portugueses e Brasileiros (reciprocidade), 1989-2001; Lei da Nacionalidade (recuperação automática), 2004; Direito de voto nas eleições para o Parlamento Europeu (fora do espaço da UE), 2004. Algumas publicações: Políticas para a Emigração e Comunidades Portuguesas (1986); Emigration policies and the Portuguese Communities (1987); Portugal, País das Migrações sem fim (1999); Círculo de Emigração (2002); Mulheres Portuguesas Emigrantes, Rio de Janeiro, coord. (2004); Comunidades Portuguesas - Os Direitos e os Afectos (2005); Migrações - Iniciativas para a Igualdade de Género, Coord. (2007); Problemas Sociais da Nova Imigração, Coord. (2009) Relatórios apresentados na Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa (coletânea); Cidadãs da Diáspora - Encontro em Espinho, Coord (coletânea). Numerosos artigos publicados em revistas da especialidade sobre Direito do Trabalho, Migrações, Igualdade de Direitos, Direitos Humanos. Condecorações: Nacional Grã-Cruz da Ordem do Infante Dom Henrique. Estrangeiras: Grã-Cruz da Ordem do cruzeiro do Sul (Brasil), Grã-cruz da Ordem do Império Britânico (OBE), Grã-Cruz da Ordem do Rio Branco (Brasil), Grã-Cruz da Ordem de Mérito (Itália), Grã-Cruz da Ordem de Mérito (Alemanha), Grã-Cruz da Ordem de Mérito (Luxemburgo), Grã-Cruz da Ordem de Leopold II (Bélgica), Grã-Cruz da Ordem Fenix (Grécia), Grã-Cruz da Ordem Francisco Miranda (Venezuela), Grande Oficial da Ordem da Estrela Polar (Suécia), Grande Oficial da Ordem de Mérito (França). ---------------------------------------------------------------- ----------------------------------------- Família de Maria Manuela Aguiar Dias Moreira Gente que fez história Por Adelaide Vilela, fotos do Blogue Círculo Aguiar Caríssimos leitores é tempo de férias! O jornal Lusopresse também vai, e para descanso daqueles que puseram em pratica à tática do bem-fazer pela importância que dão à leitura, ao longo dos anos, e mais agora nos tempos difíceis em vivemos porque a Covid-19 parece ter vindo para ficar. Pelo menos enquanto a vacina não for descoberta saibamos viver, ler e aprender. Assim sendo os tempos futuros terão que ser pensados, moldados e ajustados para que todos nós consigamos parar com esta pandemia que assolou o ano de 2020. É imperativo que integremos momentos de lazer às nossas vidas, e nada melhor do que umas jornadas de atividades ao ar livre adubados com uma boa dose de felicidade e de alegria para que o verão nos traga o outono dourado em beleza! Dediquem-se de corpo e alma as umas viagens de sonho, cá dentro, e façam o favor de ser felizes. Cá por mim vou tentar concertar as ideias no presente e abrir uma janela do passado. Depois, quero sentir-me submersa de histórias geradas por pessoas, umas nascidas na grande e bela cidade do Porto, e outras vindas de vilas, cidades e aldeias circunvizinhas à cidade invita. Há umas semanas prometi aos nossos leitores que trataria às páginas do nosso Jornal um pouco da história que envolve os pais, os avós, os bisavós e outros familiares da Dra. Manuela Aguiar. Sobre a carreira política e académica da nossa protagonista, foi feita uma publicação na primeira edição do Lusopresse, no mês de junho. No entanto ainda vamos entrevista-la e saber pouco mais sobre a vida académica e politica de Manuela Aguiar. A posteriori é fácil encontrar motivação para versar sobre este assunto, mas a família Aguiar Dias Moreira é tão extensa/intensa que me dá arrepios com receio de me equivocar na encruzilhada da vida retratada pela história em tempo real. Manuela Aguiar é filha de Maria Antónia Barbosa Aguiar, de São Cosme, Gondomar, (pianista) e de João Fernandes Dias Moreira, de Avintes, Licenciado em Sociologia e Administração de Empresas, tendo sido Secretário-Geral da Associação de Ourivesarias do Norte. Avós Maternos: Maria da Conceição Barbosa Ramos Aguiar, de São Cosme, Gondomar, (formação magistério primário) e António Carlos Pereira de Aguiar de São Cosme, Gondomar (Empresário/ Joalheiro). Avós Paternos: Olívia Fernandes Capella da Foz do Sousa, de Gondomar e Manuel Dias Moreira, de Avintes, Proprietário. Bisavós Maternos Carolina Ferreira Ramos de São Cosme, Gondomar, Joaquim Mendes Barbosa (Notário) de Paredes, e Rosa Pereira de França de São Cosme, Gondomar/ Manuel Pereira de Aguiar, de São Cosme, Gondomar (Empresário-ourivesaria) Bisavós Paternos Joaquina Gonçalves da Rocha, Foz do Sousa, Gondomar - João Fernandes Capella de Foz do Sousa, Gondomar (empresário) e Quitéria Francisca Pinto, de Avintes - João Dias Moreira, de Avintes (Empresário). Maria Manuela Aguiar Dias Moreira não foi filha única, Deus deu-lhe uma companheira esbelta, que amada tanto e por ela daria a vida. Infelizmente o elemento essencial da morte é a vida…Maria Madalena Aguiar Dias Moreira faleceu (durante os tempos de estudante) com leucemia, com apenas 20 anos. As mulheres do início do século XX. “No Portugal de Salazar, ser mulher significava ser dependente. Dependente de uma sociedade patriarcal, fechada e opressora. Até 1974 as mulheres estavam, segundo a lei, muito abaixo dos homens”, quem o disse foi Madalena Maltez. Ainda bem que há vozes com as quais concordo. Felizmente não vivi nessa época, na revolução dos cravos era uma gaiata. Diz o poeta: “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”! Não é cliché algum e atrevo-me a dizer, simplesmente, que as mulheres nas primeiras décadas do século passado pé ente pé, davam os primeiros passos rumo à liberdade. Para muitas delas, porque a família assim o decidia, o lugar ideal era em casa tratando do marido e dos filhos. Graças à força de carater e a determinação de algumas senhoras, daquela altura muitas só puderam cantar liberdade a partir do 25 de Abril. Para Maria Antónia o caso foi diferente, pelo que analisámos teria sido uma mulher mais além do seu tempo, corajosa e decidida. Formou-se no conservatório do Porto, estudou piano durante meia dúzia de anos, e conseguiu realizar um sonho de menina. Não obstante, foram poucas as oportunidades para que mostrasse a sua maestria. A verdade é que Maria Antónia, mãe de Manuela Aguiar, nos 6 anos em que cursou piano ainda apresentou alguns concertos nos colégios e em festas de beneficência organizadas pela mãe, no Cineteatro Nun’Álvares de Gondomar. Beleza, para quem nasceu em 1925, foi uma vitória! Na família de Manuela Aguiar, a partir dos anos 1900 já havia algumas formações nesta família rica e célebre do Porto e arredores. Das primeiras mulheres a sentaram-se nos bancos das escolas superiores contam-se Maria Antónia, mãe de Manuela Aguiar, e uma irmã da sua avó Maria, que tirou o curso do Magistério, nos primeiros anos do século XX, Glória Barbosa Ramos, e, poucos anos depois, as primas Lucinda e Leonor Aguiar - esta foi a primeira professora de piano das pequenas primas Aguiar. A primeira licenciada em Coimbra foi uma prima direita de Dª. Maria Antónia, Maria Celestina de Abreu Barbosa, licenciada em Farmácia. Acreditem caros leitores depois de ter lido as respostas no que concerne as questões que coloquei, repentinamente, à querida Dra. Manuela Aguiar verti algumas lágrimas. Aprecio imenso a simplicidade desta Grande Mulher, e por mais que tenha estudado, por mais medalhas ou cargos que tenha acumulado e traga pendurado aos ombros ou estendidos na corda da memória em nada se envaidece. Vejamos na íntegra o que tem para nos dizer, sobre a sua família: “Eu sou uma descendente pobre de avós ricos... É a vida”. Vamos parar aqui: Caríssima Dra. Manuela Aguiar a Sra. é uma descendente rica em amor, conhecimentos e gestos de entreajuda em Portugal, e no Mundo, ao povo da diáspora lusa. A sua riqueza não tem conto nem limites. Lembro-me de uma frase da Doutora Mércia de Oliveira Cancela, a viver em Portugal, há dois anos: “Querida Adelaide a eis Secretária de Estado tem um valor inconfundível não pelo imenso saber adquirido, mas pelo que é para com todos quantos necessitam de alguma ajuda. A Dra. Manuela tem um coração maior que o meu Brasil. Obrigada por me ter apresentado uma Sra. tão amável e importante como ser humano”. Na conversa com a nossa interlocutora as palavras impregnadas de emoção iam surgindo: “Uns maiores do que outros e em ramos diferentes, os Dias Moreira foram gente ligada ao rio Douro, suponho que a estaleiros que ali houve e desapareceram (tinham por alcunha "Patrão". O meu bisavó João Dias Moreira (patrão) era um verdadeiro empresário agrícola - ao longo da vida comprou 99 propriedades - número mágico. E um homem muito generoso com os seus empregados. Os outros estiveram envolvidos em empresas comerciais. O Avô Aguiar fez no Rio de Janeiro um percurso fabuloso, aos 28 anos, quando ficou noivo da Avó Maria já era milionário. O irmão, muito mais velho, João Aguiar, que o chamou para junto de si, quando era grande empresário, deve ter ajudado no seu lançamento, mas sem inteligência e trabalho o Avô António não teria ido tão longe, Quando morreu, aos 46 anos, preparava-se para entrar numa sociedade bancária com o melhor amigo de longa data, que era banqueiro. O grosso da sua fortuna já estava investido na Bolsa. O tio-bisavô Padre Manuel Pinto da Silva - Licenciado em Teologia - Padre Encomendado da Abadia de Avintes, Secretário do Bispo do Porto, Cardeal D Américo Ferreira dos Santos, foi 1º Abade de Espinho - Paróquia de Nossa Senhora da Ajuda. Foi fundador e diretor do 1º jornal de Avintes, intitulado: A Aurora de Avintes (1915) Tio-bisavô Américo Mendes Barbosa, Pároco em Santo Tirso, Gondalães (Paredes), Rio Tinto, morreu aos 47 anos, de tuberculose. Houve alguns envolvidos na política, na família materna. O tio-bisavô Manuel Guedes Ferreira Ramos, foi ativista republicano, antes de 1910, e foi homenageado pelos correligionários, dando hoje nome à Praça do Município em Gondomar. Os tios avós republicanos, António Mendes Barbosa e Alberto Mendes Barbosa (foram várias vezes presos por razões políticas, o Tio António foi exilado para São Tomé, em 1918, no tempo de Sidónio Pais, e o tio José Barbosa Ramos, deputado pelo Porto, fundador e diretor do Jornal O Progresso de Gondomar, Juiz Conselheiro do Supremo Tribunal da Justiça, demitido por Salazar por razões políticas. E também o tio Alexandre Mendes Barbosa, que foi Secretário e Administrador do Concelho de Gondomar. O Padre Manuel Pinto da Silva (tio bisavô paterno) foi também ativista político, mas monárquico, o seu jornal "Aurora de Avintes" era um jornal de intervenção. Monárquico Regenerador (conservador) era também o bisavô Joaquim Mendes Barbosa, notário e Administrador do Conselho. Vários outros foram militantes de partidos políticos, incluindo irmãos e primos de minha mãe. A minha mãe era monárquica, militante do PPM - que eu saiba foi a primeira mulher da família a inscrever-se num partido político. No Brasil ouve imensos políticos, impossível dizer quantos! Até do lado do meu pai, estava o trisavô Francisco Pinto, de Avintes, família do lado de minha mãe. Um dos irmãos da bisavó Carolina, António Ferreira Ramos, emigrou no último quartel do séc. XIX para o Rio Grande do Sul, e criou, na cidade de Bagé uma grande empresa comercial, Ramos e Zenha, e casou com Carolina Silveira Martins, irmã do Governador do Rio Grande do Sul, Silveira Martins, um dos maiores políticos brasileiros do fim do império e início da República. É uma família generosíssima, espalhadas pelo sul do Brasil, Uruguai, São Paulo. Conheci nos anos 90, um dos descendentes, que era Senador em Brasília - o Senador Sá Azambuja, meu primo, com um trisavô comum, Joaquim Ferreira Ramos, de Gondomar! Mais próximos foram os meus avós, pais de minha mãe, O avô António Carlos Aguiar viveu quase 30 anos no Rio de janeiro e era dono da Joalheria Aguiar, na famosa Rua do Ouvidor. Dois dos irmãos Alfredo e João também emigraram para o Brasil, Alfredo, que era um aventureiro, desapareceu no sertão, mas João foi um grande empresário e tem muitos descendentes, hoje no Rio de janeiro - os Veronese de Aguiar e outros, Sei que alguns foram deputados. Conheci alguns mas muito superficialmente, um desses Aguiar, que é o mais ligado à comunidade portuguesa, e ao PS português, só falou comigo quando lá fui em campanha presidencial pelo Dr. Mário Soares e disse-me que achava que éramos primos, Também acho, mas não deu para aprofundar, porque foi a minha última ida ao Rio. Voltei ao Brasil, mas não ao Rio”... O bisavô materno, que veio do Minho e foi notário em Gondomar. Quase todos os filhos também enveredaram por carreiras de funcionalismo público. Os dois padres da minha família próxima (tios bisavós) eram personalidades completamente opostas, o paterno passou parte da vida no paço episcopal, com fâmulo do Bispo - era um teólogo e muito conservador, com feitio muito determinado. Não era para graças... Teve lutas épicas na Paróquia de Espinho, terra de elites republicanas. O materno era a bondade feita gente, sempre disponível, solidário e muito devoto. Sempre que podia fazia os seus retiros em conventos do Minho e da Galiza. Os paroquianos adoravam-no, sobretudo os de Gondalães, Paredes (que era a terra do seu pai), onde esteve muitos anos. Quando ele morreu tuberculoso, faziam romagens ao seu túmulo... Devia ter um feitio semelhante ao do pai, que as filhas diziam ser gentilíssimo e era de velhas famílias aristocráticas - os Barbosa de Bitarães e de Rãs. De qualquer modo, era um "gentleman". E muito bonito, já a mulher a bisavó Carolina era temível... uma mulher de armas, convinha não a irritar. Também tive uma tia freira, Doroteia, que no Colégio era severa com as sobrinhas... A Madre Capela (família do meu pai) tinha vivido no Brasil. Também desse ramo, há muitos parentes no Rio de Janeiro. Uma vez visitei alguns, em Copacabana, impossível determinar o número. Mais lá para trás, na família da minha mãe, Ramos Pereira de França, há uma prima distante, que foi a primeira mulher de Camilo (um casamento trágico, morreu aos 20 anos e a filha de ambos, Rosa Pereira de França Castelo Branco, com cinco anos apenas) e um Bispo do Porto, que tinha sido missionário na China por mais de 30 anos, e tinha uma preciosa biblioteca de livros chineses - falava a língua muito bem). Do lado Ferreira Ramos da Bisavó Carolina, também há um casamento literário - o filho do meu tio-bisavô Manuel Guedes. António Ferreira Ramos casou com uma filha de Ramalho Ortigão, Berta. Esse foi um casamento longo, feliz e com muitos filhos, os Ortigão Ramos, foram, entre outras coisas, os donos do Teatro São Luís, em Lisboa. Tanto Manuel Guedes como o pai eram homens ricos e grandes benfeitores da terra, sobretudo o pai. Em memória do Pai, o filho António instituiu bolsas de estudo para meninos e meninas, em número e montante igual. Ainda bem, se assim não fosse ficaria zangada com estes antepassados tão republicanos”. A Dra. Manuela Aguiar diz-nos que é difícil falar do passado, “pois sabe-se sempre pouco”, no entretanto continua com a ajuda de alguns primos a pesquisar e a aprofundar as suas raízes ancestrais. Esperamos poder ler algum dia um livros sobre esta numerosa e importante família da elite portuense E o que pensa do Canadá? “E no Canadá, país que eu considero um dos países do mundo mais abertos aos imigrantes, com melhores políticas de integração também tenho família, aí vive um casal, primos do meu Pai e muito próximos. Autênticos, primos-irmãos, partiram para Toronto em 1967. Dessa geração (a de meu Pai) foram os únicos. O primo António Reis, que foi professor de português a prima Amélia, que conseguiu, logo, emprego no Holt Renfrew, onde ficou anos. O filho foi campeão de futebol universitário pelo Gryphons, em 1984, e representou Portugal, foi porta bandeira nas Olimpíadas de Calgary (em Bobsleigh). Nasceu para o desporto... sorte invejável!. É licenciado em Ciências Políticas e Mestre em Gestão de Empresas (Business Administration). A sua filha única fez a licenciatura na McGill em Montreal e o mestrado na London School of Economics. Também ela é agora imigrante em Londres, como quadro superior de uma multinacional... Nesta novíssima geração, recomeçou a emigração, o que agora se chama "a nova emigração, de quadros... Rapazes e raparigas de vinte e tal, trinta anos, com os seus títulos universitários portugueses que saíram para Inglaterra, Alemanha, Suíça, Finlândia, Luxemburgo... sinal dos tempos... Como é uma família muito dividida politicamente, e com tradição de envolvimento cívico e de debate (primeiro monárquicos e republicanos, depois anglófilos e germanófilos, durante as guerras mundiais, e democratas e salazaristas - um dos tios por afinidade, cunhado da minha mãe era dirigente da União Nacional em Gondomar e os meus avós Maria Aguiar, Manuel e Olívia também eram salazaristas (não os meus pais, que já eram democratas, nesse tempo). A primeira lição que eu aprendi, desde criança, foi a de que é possível uma grande amizade entre pessoas que divergem politicamente, e que há pessoas de bem, em diversos quadrantes ideológicos. Acho que isso me foi de muita utilidade ao longo da vida, sobretudo quando eu própria fui eleita para cargos políticos. E, por isso, fiz amigos em todos os quadrantes e trabalhos. O partido dos funcionários era-me absolutamente indiferente, o que me interessava era a competência. A última experiência, na Câmara de Espinho, como Vereadora da Cultura, neste aspeto foi fantástica (falo só dos funcionários, não da vereação). Não eram do meu partido e trabalhamos maravilhosamente. Qual era o seu relacionalmente com os avós: Eu era a neta preferida da Avó Maria, minha madrinha (e ela tinha uma vintena de netos...) e uma verdadeira líder feminina em Gondomar - mais conhecida do que qualquer outra pessoa da família, incluindo o irmão Juiz Conselheiro.... E também de meu Avô Manuel, que me adorava (esse só tinha duas netas) e falava de mim, interminavelmente, a toda a gente. Demais! Com ele, que foi ator amador e dirigente de grupos teatrais, aprendi a gostar de cinema e de teatro (ele era grande cinéfilo e melómano). Tanto ele como meu Pai foram quem mais me encorajou nos estudo numa participação na vida pública - muito mais do que as mulheres da família. Mas também gostava muito da Avó Olívia, que era uma pessoa muito boa e generosa. Ambas as Avós eram muito devotas, senhoras de comunhão diária, e muito ativas na paróquia, mas pouco interessadas na minha atividade política, que achavam coisa excessiva... Como disse, os homens! Além do Pai e do Avô Manuel, os tios maternos todos, que eram meus fãs, mesmo os que não eram do mesmo partido (quase todos mais à direita, e um ativíssimo PS - o único militante do PSD, mas muito mais conservador do que eu, era o meu Pai!). Devo dizer que o meu Pai preferia, de longe, a Universidade à política. Teve muita pena de eu não continuar em Coimbra, para fazer o doutoramento e seguir a carreira académica... nesse aspeto, a minha mãe estava do mesmo lado”. Sendo uma mulher que ama o Mundo e tudo o que o envolve porque não emigrou? “Gostava de ter ficado em França, onde vivi dois anos, na Cidade Universitária, como bolseira da Fundação Gulbenkian. O Maestro António Vitorino de Almeida que viveu muito anos em Viena, diz sempre que Viena é a sua cidade, embora a Áustria não seja o seu pais. Penso o mesmo de Paris - é a minha cidade, embora a França não seja o meu país. Vive lá só dois anos (1968 - 1970), mas senti-me como se pertencesse ali...No primeiro anos na Casa dos Estudantes Portugueses, no segundo na Fundação Argentina. Fiz aí imensos amigos, foi como se também tivesse imigrado para a Argentina. Mais tarde, fui vezes sem conta a Buenos Aires, contactar a comunidade portuguesa e pude rever os meus melhores amigos argentinos. Adoro a Argentina. No Brasil, sinto-me brasileira, não consigo achar-me estrangeira... Sim, podia ter emigrado. Se em vez de jurista fosse médica ou engenheira, provavelmente tinha conseguido emprego em Paris e teria ficado por lá”. Nos tempos em era Secretária de Estado da Emigração o que lhe transmitiam os emigrantes com quem partilhada muitos momentos nas suas viagens: “Só posso dizer que aprendi imenso nos contactos com a emigração, ganhei outra imagem, muito mais exaltante, e universal do meu País. Não trocaria por nada essa experiência, apesar de ter sido especialmente feliz no ensino, tanto na Universidade Católica, em Lisboa, como na minha Faculdade de Direito, em Coimbra e na Universidade Aberta, onde regi, durante três anos, no curso de mestrado de Relações Interculturais, a cadeira de "Políticas e Estratégias para as Comunidades Portuguesas". Qual o sentimento que ainda hoje nutre dos tempos em que foi professora universitária e que recordação guarda no mais íntimo da alma: “Rejuvenesci no contacto com os meus alunos, e nunca tive o mais pequeno problema com nenhum. Ia sempre para as aulas, como quem vai para uma tertúlia de grandes amigos. Ainda hoje quando encontro um deles fazemos uma festa. E, na emigração isso também acontece em muitas comunidades, embora a minha tarefa neste domínio fosse bem mais complexa e difícil. Sei que não consegui dar resposta a muitos problemas, nem alcançar muitas das as metas que me propunha... Acha que o Governo investe suficientemente na emigração e nos lusodescendentes: Infelizmente, a verdade é que nenhum governo português investiu nos apoios aos emigrantes nada de comparável ao que eles investem, financeira, cultural e afetivamente em Portugal. Mas o meu ativismo cívico e político tem, sem dúvida, raízes em tradições familiares. Mais dos homens, mas também de algumas mulheres, no campo do voluntariado, da beneficência, da cultura, como é o caso da Avó Maria Aguiar. ------------- Maria Manuela Aguiar terça, 18/04/2017, 01:44 para ROBERTO Meu Caro Amigo Aqui vai um primeiro texto - não sei se é esta a dimensão, e a mensagem mais conveniente. Diga- me. Pode cortar o que for supérfluo. Cortar é sempre mais fácil do que acrescentar... Só é pena que o Porto atravesse uma fase tão má, de tantos e tão incaraterísticos empates... Um abraço Manuela FCP - DESPORTO, CULTURA, DIÁSPORA O Football Clube do Porto de Nicolau de Almeida nasceu na cidade oitocentista, entre as elites burguesas, como aconteceu com todos os congéneres europeus, a partir do seu berço inglês. A escassez de praticantes de futebol na região ditou um interregno de alguns anos na sua vida, até renascer, em 1906, por impulso de José Monteiro da Costa, com vocação de eternidade, envergando as cores de Portugal - o azul e branco da sua bandeira de sempre. Do Campo da Rainha, primorosamente relvado pela mão do seu (re)fundador, ao da Constituição, do mítico estádio das Antas ao belíssimo estádio do Dragão, expoente da arquitetura moderna, se foi escrevendo história do desporto em letras grandes. A identificação da instituição com o lugar, com a cidade, era, no princípio, essencial, tal como para o Estado Português foi vital consolidar-se, primeiramente, no território para, logo depois, a Nação se espalhar, aventurosamente, pelos quatro cantos do mundo, com a sua gente, sem perda da identidade e com ganho de fama e de glória, de um sentido de missão universalista. O mesmo aconteceu com o "Porto - Comunidade", ou, como alguns gostam de proclamar, com o "Porto - Nação" Todavia, as primeiras décadas do clube foram atravessadas contra enormes obstáculos e limitações. Estava entre os maiores, era o primeiro do Norte, mas raramente vencia.a sul... Num país de passado e mentalidade centralistas, era, bem vistas as coisas, expectável que, à medida que o futebol se transformasse em paixão popular, os congéneres da capital tivessem todas as facilidades para impor a sua supremacia, quantas vezes de fora para dentro do terreno de jogo, ao contrário do paradigma igualitário das principais ligas europeias, a inglesa, a italiana, a alemã, ou a francesa. É nesse árduo caminho que se gera e floresce no Porto uma cultura de resistência à adversidade, à injustiça, ao "unfair-play". Uma espécie de novo combate de David e Golias... Esta é a marca original de uma cultura "à Porto", que alcança a maior visibilidade no tempo de viragem do "FCP - símbolo regionalista" para o FCP de renome internacional, Um momento histórico, que é - e não por coincidência - o do ressurgimento da democracia entre nós. O novo clima de abertura e liberdade tem repercussão em todos os campos e chega aos campos de futebol, mas a descentralização do poder não se fará sem luta e ficará a dever-se, em larga medida, ao Porto de Jorge Nuno Pinto da Costa, à sua visão estratégica e liderança, à frente de um projeto grandioso, que torna possível a velha utopia de sermos não só os melhores do País, mas também de ombrearmos com os melhores do mundo. Nesse projeto se envolvem os atletas profissionais de múltiplas modalidades, os dirigentes, e a mole imensa de adeptos, que cresce à imagem e ao ritmo de um espantoso historial de vitórias. Os Portistas assumem-se, fraternalmente unidos pelo ideal comum, pela força da crença em todo o planeta azul. ´ Num país de migrações sem fim, ao longo de séculos, e mais ainda no século XX, o "Porto - clube", tal como o Porto - cidade e região, partiu com a sua gente para outras terras e, com ela, por lá se enraizou, não só através da presença e do sentimento individual, como por via de um movimento associativo, onde são cada vez mais os que se juntam, sob a sua bandeira, para darem testemunho de uma cultura de vitória e de uma tradição de convivialidade. Em diversos casos, até conseguiram introduzir e promover, nas sociedades de acolhimento, desportos aí pouco praticados, antes da sua chegada - como era o o hóquei em patins na África do Sul. o hóquei e o ciclismo na Venezuela, o nosso futebol (o "soccer") em muitas cidades da América do Norte. As delegações e filiais do FCP multiplicam-se, atualmente, em todos os continentes e o Clube tem sabido reconhecer o seu trabalho em magnos Congressos periódicos, igualmente as lembrando sempre na atribuição anual dos "Dragões de ouro". Contudo, o inteiro espaço azul e branco vai muito para além dessa realidade bem conhecida, tem uma dimensão de que é urgente tomar uma nova consciência, em particular na esfera da lusofonia, dentro da qual arriscarei afirmar que os adeptos são tantos ou mais do que os existentes no próprio país e onde a margem de crescimento é, certamente, muito maior. Mais: poderemos e deveremos pensar o futuro latamente no universo da lusofilia, onde o FCP é, potencialmente, um dos principais embaixadores - como se viu no verdadeiro reencontro luso- nipónico em Yokohama, quando um estádio do Extremo- Oriente se vestiu de azul e branco para festejar o triunfo portista na última Taça Intercontinental. O FCP jogava em casa, como se estivesse no estádio do Dragão, cercado pela simpatia e pelo entusiasmo de uma multidão de admiradores! Escrever a história do FCP em Santa Maria da Feira e na sua Diáspora é, assim, uma iniciativa que perfeitamente se insere na linha de reconhecimento e afirmação do FCP como comunidade e cultura em imparável expansão. Um contributo para a engrandecer, um exemplo a saudar, e a seguir. ROBERTO CARLOS terça, 18/04/2017, 10:13 para mim Bom dia Prezada AMiga MUito Obrigado Até breve -- Roberto Carlos +351965506359 ----------------- Muito urgente Caixa de entrada Ortelinda Barros domingo, 9/04/2017, 19:07 para mim Olá Manuela. Espero encontrá la bem. Agradeço que me envie o seu cv em ingles para a integrar na candidatura do projeto Empreendedorismo Emigrante Portugues no continente americano. Pode ser querida amiga? Beijinhos da Ortelinda ____________________________ Ortelinda Barros PhD, Professor and Researcher Maria Manuela Aguiar segunda, 10/04/2017, 13:04 para Ortelinda Caríssima Estou de saída para o Porto, mas mal chegue a casa vou tentar traduzir o CV abreviado beijinhos ---------------- Muito urgente Caixa de entrada Ortelinda Barros domingo, 9/04/2017, 19:07 para mim Olá Manuela. Espero encontrá la bem. Agradeço que me envie o seu cv em ingles para a integrar na candidatura do projeto Empreendedorismo Emigrante Portugues no continente americano. Pode ser querida amiga? Beijinhos da Ortelinda ____________________________ Ortelinda Barros PhD, Professor and Researcher Maria Manuela Aguiar segunda, 10/04/2017, 13:04 para Ortelinda Caríssima Estou de saída para o Porto, mas mal chegue a casa vou tentar traduzir o CV abreviado beijinhos ------------------ Alexandre Franco quarta, 5/04/2017, 17:40 para mim Olá Minha Cara Amiga, Apesar de comunistas a mais... Agradeço sinceramente este seu trabalho. Simplesmente magnífico. Outra coisa não era de esperar. Um abraço Alexandre Maria Manuela Aguiar quarta, 5/04/2017, 19:38 para Alexandre Caríssimo É sempre tão simpático!!! Tenho de lhe conseguir um livro de Marmelo e Silva - era de clássicas, professor do liceu, casou com uma milionária de Espinho, tem dois filhos espinhenses ilustres e grandes beneméritos ( na terra natal, junto à Covilhã, ofereceram uma "casa da cultura" com o nome do Pai inteiramente equipada com biblioteca e auditórios. O escritor era um perfeccionista e deixou apenas meia dúzia de romances num português puro e cristalino, como poucos, Sou fã, políticas aparte. Na verdade, a ideia de nomear a biblioteca after him, foi minha, assim como a de dar às galerias de arte do Museu o nome de Amadeo, que frequentava no verão as tertúlias de Espinho, (com Unamuno, Laranjeira, Ramalho Ortigão - bons tempos!) e aqui morreu de gripe fatal.Mas isso é off record, embora em Espinho seja sabido nas tertúlias finas. Um abraço Manuela Grande abraço Alexandre Franco quarta, 5/04/2017, 19:54 para mim Olá Minha Amiga, Gosto sempre de retribuir a simpatia que me é dedicada... e cá fico ansiosamente à espera do livro do Marmelo e Silva. ------------------------------ DECO - O MÁGICO VOLTOU AO PORTO 1 - Se (um "se" cujo rasto de incertezas cresceu após o recente e inesperado empate caseiro) o FCP interromper, este ano, a sua deprimente hibernação de títulos, terá de reconhecer que o deve, em larga medida, a Anderson Luís de Sousa, ou Deco, como ficou eternizado na história do desporto. De facto, Deco continua a espalhar magia, agora já não sobre os relvados, mas, digamos, de fora para dentro do campo. Por sua mão, chegou ao Porto, no "mercado de inverno", Francisco (Tiquinho) Soares. E, com Soares, em pleno inverno, começou, mais cedo, a primavera portista! Diz o ditado popular que "uma andorinha não faz a primavera"... Mas poderá um homem, num jogo tão essencialmente coletivo como é o futebol, fazer a diferença? Em determinadas circunstâncias, pode, e aí está Tiquinho para o provar. O FCP, esta época, tal como nas precedentes, tardava em se afirmar, apesar de ter, aparentemente (quase) tudo o que era preciso para o sucesso: um "monstro sagrado" na baliza; uma dupla de centrais que o próprio presidente Pinto da Costa elogia superlativamente (num clube habituado a ter os melhores centrais do mundo de Aloísio a Jorge Costa, de Ricardo Carvalho a Pepe, sem falar de outros, através dos tempos), uma sólida defesa, em suma; uma superabundância de bons médios (a ponto de raramente sair do banco o que me parece o mais talentoso e promissor de todos, Rúben Neves); e, à frente, uma plêiade de jovens, justamente incensados pela elevada qualidade técnica, que, note-se, subiu, repentinamente, quando Nuno Espírito Santo (NES) se lembrou de convocar Brahimi, que por ali andava esquecido ou proscrito. Todavia, sabido que as vitórias resultam da diferença entre os golos que se marcam e os que se evitam, e dado que o FCP de NES defendia com a devida eficácia, mas não marcava, com a devida regularidade, o percurso era feito de altos e baixos, numa competição que exige regularidade global. Assim, o título, que foge há três longos anos e parecia extremamente improvável, pode acontecer, com um SLB 2 - Não era difícil detetar a maior lacuna do plantel. o difícil era achar o homem com perfil para preencher o vazio deixado por Jackson Martinez, hoje no Guangzhou Evergrande de Scolari, em boa posição para ser campeão da China. NES acreditava piamente no promissor André Silva (que é, realmente, muito promissor) e, para as suas faltas, foi comprar ao estrangeiro, impressionado, talvez, antes de mais, pela dimensão física, o colosso belga Depoitre, (por seis milhões de euros), despachando, sem hesitação, as alternativas ao seu dispor, Aboubakar, estrela que cintila, agora, lá longe, no Besiktas da Turquia, e Marega, que tal como Hernâni, brilha, aqui bem perto, em Guimarães. Ora, justamente em Guimarães, vindo do Nacional da Madeira, estava Tiquinho Soares, tesouro oculto, cujo potencial só Deco soube adivinhar... Nem o Rudolfo Reis, que tanto gosto de ouvir, domingo à noite, no "Play off", acreditava nas capacidades do reforço de inverno... Com o desassombro e o humor muito portuense que o caraterizam, colocava o Tiquinho na classe futebolística do operariado menos qualificado - e, depois que ele se impôs, no onze do Dragão, os" compagnons de route" daquele programa não o deixam esquecer o erro inicial de avaliação... (Rudolfo, o míitico capitão portista, que nunca envergou outra camisola além da do clube do coração - feito, hoje em dia, praticamente impossível de igualar, pois a lei do mercado, que passou a reger os negócios do futebol, depressa o teria expatriado para um qualquer campeonato milionário). 3 - Deco disse, numa pequena entrevista, que Soares não era um novo Derlei, nem jogava na mesma posição, mas tinha características de Derlei. Bem visto!... Tem muito mais de Derlei do que, por exemplo, do ídolo que, na canção de Rui Veloso, com letra de Carlos Té, realiza os nossos impossíveis desejos - “voar como o Jardel sobre os centrais". De facto, Jardel dominava o jogo, em poucos metros de terreno, entre os centrais, e precisava de um Drulovic (no FCP) ou de um João Vieira Pinto (no SCP) para receber a bola em posição de voar para o remate imparável... E que saudades de tantas obras-primas de finalização! Soares promete satisfazer a nossa sede de golos, num futebol moderno, de vaivém entre espaços ofensivos e defensivos. É, como Derlei, viajante do campo inteiro - joga e faz jogar, embora agradeça e aproveite a precisão de passe dos companheiros. Um fenómeno, combinando força, técnica, visão, veia goleadora e, também, porte físico, para satisfazer quem valoriza nos atletas a altura e a corpulência (únicos predicados em que Depoitre poderá rivalizar com ele). Até Luís Freitas Lobo, superior autoridade doutrinal neste domínio, o refere como " o fator que muda tudo". E, em linguagem mais poética, vai ao ponto de falar do "novo mundo azul de Soares". Ao lê-lo, com prazer e com esperança no futuro, recordei o passado, o antigo "mundo azul de Deco", que foi, a meu ver, o melhor nº 10 nos anais do futebol portista (e do português, igualmente...), o cérebro das suas equipas, o grande mestre do desenho de um futebol que aliava a arte à eficácia! Ele poderá, de agora em diante, usar essa mesma inteligência e mestria na descoberta de novos talentos. Espero que Soares tenha sido, para o FCP, o primeiro de muitos…" ---------- 709 de 1 205 Re: FC Porto: atividades para todos Caixa de entrada Alipio Jorge terça, 28/03/2017, 01:20 para mim Caríssima Amiga, recebi, li, reflecti, comuniquei, porque nada do que sempre doutamente diz, ou escreve, poderia cair em "saco roto"... são chamas de Dragona autêntica...e seguramente exclusiva..! Obrigado por estar atenta, permanentemente ..! Beijinho! Enviado do meu iPhone No dia 26/03/2017, às 15:48, Maria Manuela Aguiar escreveu: Caro Amigo Na minha qualidade de antiga relatora sobre "O desporto e a discriminação das mulheres" na Assembleia do Conselho da Europa (um relatório aprovado por unanimidade em plenário), sinto-me na "obrigação" de me espantar com a completa exclusão do género feminino no programa de festas de Páscoa do FCP para os seus associados adultos - um simpático convite a jogar futebol apenas para HOMENS dos 25 aos 50 (aqui poderíamos fazer uma outra leitura de exclusão etária, para os mais de 50...). Já nem me atrevo a propor, porque seria previsivelmente coisa muito mais complexa, futebol feminino no FCP - grande instituição popular - porque isso é para clubes chiques e elitistas (ao menos nas suas origens) como o Boavista e o SCP. E, até também, como o SC Braga (por razões matriciais que me escapam). Ter de adotar como clube no futebol feminino o Boavista ou o Braga, certamente até ao fim da minha vida, não é uma alegre perspetiva, mas não há outra. E, para terminar numa nota de otimismo, tenho volver a futebol no masculino - o esplêndido jogo de ontem do nosso André Silva - fantástico o passe para o 2º golo, para além do 1º golo e outros pormenores a revelar classe e raça! Ou de falar de Tiquinho Soares, de quem já sou fã, naturalmente. Um grande abraço Manuela -------------------------------- VAMOS PARTICIPAR NA BIENAL 1 - A Bienal "Mulheres d' Artes" organizada pelo Município de Espinho vai na sua 4ª mostra de vida.. Evoluiu, procurou novos moldes e parcerias, apostou na internacionalização com acento em Espanha, e promete continuar na agenda cultural da cidade. E muito justamente, antes de mais, porque se trata de uma iniciativa, tanto quanto se sabe, inédita, a nível nacional e internacional. Curiosamente, a ideia original teve um percurso "por etapas" e uma pluralidade de co-autores. Posso contar a sua história, ou melhor, pré-história, que acompanhei desde o primeiro momento, embora acidentalmente. .O primeiro momento aconteceu em finais do ano de 2010, em Gaia, no Museu Teixeira Lopes, durante uma exposição de obras da sumptuosa coleção Millenium. Depois dos discursos da praxe (todos, se bem me lembro, a cargo de "homens públicos e notórios"), os visitantes dispersaram-se, em pequenos grupos. E, como é fruto de usos e costumes arreigados em Portugal, foram homens na dianteira, para um lado, e ficaram as mulheres para o outro. De uma forma espontânea e natural, ali se criou um círculo feminino de mulheres de letras e artes, em cujo meio, sem pertencer a nenhuma das artes, me vi, em animada conversa. Uma das nós chamou a atenção para aquele exemplo de segregação de facto, em que, por ser costumeira, mal se repara. Foi então, e a propósito desse anacronismo lusitano e da necessidade de divulgar, em especial, o mundo artístico feminino que Luisa Prior sugeriu que se promovesse uma exposição coletiva de mulheres. A proposta suscitou entusiasmo geral. Sendo eu, na altura, vereadora da Cultura da Câmara de Espinho, não poderia deixar de fazer, de imediato, uma segunda proposta: a da "candidatura" desta cidade à realização do evento. Era uma oferta irrecusável, dado que as galerias do FACE sempre ganhariam, em dimensão e beleza, a qualquer concorrente... Logo ali se aventou o mês de março do ano seguinte para a "expo" e se encontrou uma comissária prestigiada, na pessoa da Diretora do único jornal literário nortenho, Nassalete Miranda. Quando, em Espinho, poucos dias volvidos, se efetuou a primeira reunião entre a Comissária, as pintoras, a vereadora e o Diretor do Museu, a fim de dar corpo ao projeto, ainda estávamos a considerar uma simples coletiva de pintura. Já na fase da despedida de uma frutuosa manhã de trabalho, o Dr Armando Bouçon, inesperadamente, lançou um novo desafio: "E se déssemos continuidade a esta exposição numa Bienal? O que acham?" Achámos, é claro, unanimemente, que estávamos perante um verdadeiro "achado". Eis como uma muito interessante, mas episódica, mostra pictórica se metamorfoseou em Bienal. 2 - Porém, como é óbvio, uma Bienal só o é a partir de uma segunda vez... De 2013 em diante, é à Câmara de Espinho, sobretudo, à Vereadora Leonor Fonseca, que se deve o seu trajeto para o futuro, a sua consolidação. Num país onde as políticas, incluindo a cultural, se processam, infelizmente, mais por linhas de rotura do que de continuidade, é um feito a salientar... Não quero com isto dizer que o modelo inicial de mantenha. A experimentação foi parte integrante da caminhada, numa incessante procura de inovação. Em 2011 o impulso viera de fora, da "sociedade civil", os convites foram determinados por uma avaliação curricular rigorosa da responsabilidade da Comissária.. Em 2013, o Município tomou em mãos e evento e deu-lhe a maior abrangência Em 2015, optou pela constituição de um júri de seleção e pela atribuição de prémios, graças ao mecenato (por sinal uma empresa de renome internacional, as Tapeçarias Ferreira de Sá, que tem à frente uma Mulher) e, em 2017, evidencia uma vontade marcante de internacionalização, que já vinha de trás. A Bienal assume, cada vez mais, uma dimensão peninsular. Talvez nos anos vindouros se possa estender ao país vizinho, num intercâmbio alargado de artistas portuguesas e espanholas. - nos anos ímpares aqui, nos anos pares em Madrid ou Barcelona. Quem sabe? Seria uma forma de Espinho recuperar a vocação "ibérica" de Espinho, com que cresceu no início de novecentos. 3 - A Bienal é um repto da Câmara de Espinho e a resposta concreta das artistas escolhidas, mas não só: é, também, a resposta do seu público! Nós. os que vamos visitar a exposição, temos de tomar consciência que ela se destina ao nosso olhar e que é a nossa adesão que lhe dá vida, cumprindo a sua finalidade última. Somos, pois, ativos participantes! No dia inaugural, 25 de abril, no contexto de uma bela programação da festa da liberdade, em Espinho, uma alegre multidão de centenas de convivas encheu as galerias Amadeo Sousa Cardozo e o auditório do FACE registou "casa cheia" para um magnífico espetáculo musical. Sem dúvida, um sucesso! Porém, o dia seguinte, ou melhor, no plural, os dias seguintes não são menos importantes para dar a inteira medida desse sucesso. Até Agosto, há muito tempo para concretizar o ato de participação a que me refiro. Ou seja, para visitar ou revisitar a Bienal, para pensar a mensagem que nos deixa em cada tela, para refletir sobre o tema aliciante da arte na perspetiva de género (qualquer que seja o entendimento que se lhe dá...) ou até, eventualmente, para abrir o debate à problemática de "mulheres de outras artes" no tempo presente. ------------------------ 707 de 1 203 Colóquio - 24 maio Caixa de entrada maria beatriz Rocha-Trindade quinta, 30/03/2017, 17:46 para mim, rag@sapo.pt Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais/ CEMRI Universidade Aberta - UAb (Portugal) Muito queridas Maria Manuela e Maria Rita, Conforme combinado, telefonei para o Gabinete do Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas e falei directamente com a Senhora D. Sara. A conversa correu em clima de grande abertura e da maior simpatia - muito, muito bem. Como já lhe tinha sido dada indicação pela Maria Manuela, referiu estar dentro do assunto, o que não impediu que lho tivesse exposto de novo. Informou que em princípio o Secretário de Estado não estará em Portugal nas datas apontadas, uma vez que se desloca (segundo julga...) ao estrangeiro. Ficou entre nós entendido que, com ele falaria, dado que nada lhe dissera até então e que depois me transmitiria (via telefónica) o que viesse a ser decidido. Não vos tenho incomodado porque aguardava sinceramente que a resposta fosse rápida. Estamos nas 18h00 do dia que se seguiu à conversa e até agora nenhum telefonema chegou. Vamos manter-nos em contacto. Abraços amigos, Maria Beatriz Rocha-Trindade -------------------------------------- Mal enviei a última versão, detetei duas gralhas. Aqui vai corrigida, com um abraço Manuela DECO - O MÁGICO VOLTOU AO PORTO 1 - Se (um "se" cujo rasto de incertezas cresceu após recente e inesperado empate caseiro...) o FCP interromper, este ano, a sua deprimente hibernação de títulos, terá de reconhecer que o deve, em larga medida, a Anderson Luís de Sousa, ou Deco, como ficou eternizado na história do desporto. De facto, Deco continua a espalhar magia, agora já não sobre os relvados, mas, digamos, de fora para dentro do campo. Por sua mão, chegou ao Porto, no "mercado de inverno", Francisco (Tiquinho) Soares. E, com Soares, em pleno inverno, começou, mais cedo, a primavera portista! Diz o ditado popular que "uma andorinha não faz a primavera"... Mas poderá um homem, num jogo tão essencialmente coletivo como é o futebol, fazer a diferença? Em determinadas circunstâncias, pode, e aí está Tiquinho para o provar. Desde que "chegou, viu e venceu" a equipa só não ganhou jogos em que ele não marcou (dois da Champions e um do campeonato) O FCP, esta época, tal como nas precedentes, tardava em se afirmar, apesar de ter, aparentemente (quase) tudo o que era preciso para o sucesso: um "monstro sagrado" na baliza; uma dupla de centrais que o próprio presidente Pinto da Costa elogia superlativamente (num clube habituado a ter os melhores centrais do mundo de Aloísio a Jorge Costa, de Ricardo Carvalho a Pepe, sem falar de outros, através dos tempos), uma sólida defesa, em suma; uma superabundância de bons médios (a ponto de raramente sair do banco o que me parece o mais talentoso e promissor de todos, Rúben Neves); e, à frente, uma plêiade de jovens, justamente incensados pela elevada qualidade técnica, que, note-se, subiu, repentinamente, quando Nuno Espírito Santo (NES) se lembrou de convocar Brahimi, que por ali andava esquecido ou proscrito. Todavia, sabido que as vitórias resultam da diferença entre os golos que se marcam e os que se evitam, e dado que o FCP de NES defendia com a devida eficácia, mas não marcava, com a devida regularidade, o percurso era feito de altos e baixos, numa competição que exige regularidade global. Assim, o título, que foge há três longos anos, parecia extremamente improvável. 2 - Não era difícil detetar a maior lacuna do plantel. o difícil era achar o homem com perfil para preencher o vazio deixado por Jackson Martinez, hoje no Guangzhou Evergrande de Scolari, em boa posição para ser campeão da China. NES acreditava piamente no promissor André Silva (que é, realmente, muito promissor) e, para as suas faltas, foi comprar ao estrangeiro, impressionado, talvez, antes de mais, pela dimensão física, o colosso belga Depoitre, (por seis milhões de euros), despachando, sem hesitação, as alternativas ao seu dispor, Aboubakar, estrela que cintila, agora, lá longe, no Besiktas da Turquia, e Marega, que tal como Hernâni, brilha, aqui bem perto, em Guimarães. Ora, justamente em Guimarães, vindo do Nacional da Madeira, estava Tiquinho Soares, tesouro oculto, cujo potencial só Deco soube adivinhar... Nem o Rudolfo Reis, que tanto gosto de ouvir, domingo à noite, no "Play off", acreditava nas capacidades do reforço de inverno. Com o desassombro e o humor muito portuense que o caraterizam, colocava o Tiquinho na classe futebolística do operariado menos qualificado - e, depois que ele se impôs, no onze do Dragão, os" compagnons de route" daquele programa não o deixam esquecer o erro inicial de avaliação. (Rudolfo, o mítico capitão portista, que nunca envergou outra camisola além da do clube do coração - feito, hoje em dia, praticamente impossível de igualar, pois a lei do mercado, que passou a reger os negócios do futebol, depressa o teria expatriado para um qualquer campeonato milionário). 3 - Deco disse, numa pequena entrevista, que Soares não era um novo Derlei, nem jogava na mesma posição, mas tinha características de Derlei. Bem visto! Tem muito mais de Derlei do que, por exemplo, do ídolo que, na canção de Rui Veloso, com letra de Carlos Té, realiza os nossos impossíveis desejos, voar - “voar como o Jardel sobre os centrais". De facto, Jardel dominava o jogo, em poucos metros de terreno, entre os centrais, e precisava de um Drulovic (no FCP) ou de um João Vieira Pinto (no SCP) para receber a bola em posição de voar para o remate imparável... E que saudades de tantas obras-primas de finalização! Soares promete satisfazer a nossa sede de golos, num futebol moderno, de vaivém entre espaços ofensivos e defensivos. É, como Derlei, viajante do campo inteiro - joga e faz jogar, embora agradeça e aproveite a precisão de passe dos companheiros. Um fenómeno, combinando força, técnica, visão, veia goleadora e, também, porte físico, para satisfazer quem valoriza nos atletas a altura e a corpulência (únicos predicados em que Depoitre poderá rivalizar com ele). Até Luís Freitas Lobo, superior autoridade doutrinal neste domínio, o refere como " o fator que muda tudo". E, em linguagem mais poética, vai ao ponto de falar do "novo mundo azul de Soares". Ao lê-lo, com prazer e com esperança no futuro, recordei o passado, o antigo "mundo azul de Deco", que foi, a meu ver, o melhor nº 10 nos anais do futebol portista (e do português, igualmente...), o cérebro das suas equipas, o grande mestre do desenho de um futebol que aliava a arte à eficácia! Ele poderá, de agora em diante, usar essa mesma inteligência e mestria na descoberta de novos talentos. Espero que Soares tenha sido, para o FCP, o primeiro de muitos…" --------------- CITANDO CAMÕES, A PROPÓSITO DO NOSSO FUTEBOL 1-O tema violência no futebol tomou conta dos "media" e, em especial, das televisões, desde a invasão da Academia de Alcochete e das cenas de terror perpetradas por membros de claques leoninas. Coisa jamais vista, até porque foi repetida e abundantemente "vista" em imagens, que correram o mundo e envergonharam o país. Contudo, a meu ver, tal excesso de mediatismo tem decaído em excesso de pessimismo. Nesta crise, que abala o SCP, distingamos o que é, ou não é, suscetível de generalização. É-o toda a problemática do "hooliganismo" à portuguesa, enraizado nas claques. É preciso combater o crime, punindo os criminosos, com sanções pesadas e a interdição absoluta de entrada nos estádios! Leis já há, e nova "Autoridade" é pres cindível, assim as autoridades existentes as apliquem com rigor... A Inglaterra teve, há décadas, o problema e resolveu-o. É um "case study". Sugere-se que comecem por o estudar... Também a suspeita de fenómenos de corrupção agitou, entre nós, a época 2017/18. Não é vício exclusivo deste domínio - existe onde há poder, onde há dinheiro, e, no futebol, há ambos. Não atinge tudo e todos... Está a ser objeto de investigações múltiplas e praticamente inéditas na liga principal. Esperemos que também aqui a lei seja, pura e simplesmente, aplicada, sem olhar a quem... 2 - A crise maior do SCP é tão personalizada, que a remoção de um só homem, o presidente, poderia tê-la resolvido. Porém, ele resiste, parece apostado em tornar real a sentença; "depois de mim, o dilúvio". O populista terá perdido o seu povo e, talvez, infelizmente, o clube. A cultura de agressividade exacerbada, com que, de início, zurzia o inimigo externo, foi resvalando para o interior, em contornos de "guerra civil", como alguém lhe chamou. Desestabilizou o plantel numa fase crucial da época, ainda com tudo para ganhar - Campeonato, acesso à "Champions" e Taça de Portugal! Não teve uma uma palavra de censura, quando tochas lançadas pelas claques caíam sobre a baliza de Patrício, foram o prelúdio de uma sucessão de atos de violência impunes, que culminaram no assalto à Academia - ao que se viu, de portas abertas para a entrada das milícias encapuçadas e para a saída dos cabecilhas. Ele não pede desculpas e não assume culpas (à Trump!). Ele não se demite, Tem de ser demitido. Obviamente. 3 - É durante estas tempestades mediáticas, em Portugal, sempre avassaladoras e passageiras (deixando, quando passam, tudo como dantes), que se deve procurar o equilíbrio na avaliação do que vai bem e mal no futebol. Mal, muito mal, aquilo de que mais se fala. Bem, muito bem, o que sintetizarei, lembrando que, em todos os continentes, há jogadores, treinadores e técnicos de futebol portugueses, que nos colocam à altura das grandes potências deste desporto, como não acontece em outros domínios. Lembrando que somos campeões europeus e que nenhum clube para tal contribuiu mais do que SCP. Lembrando o Euro 2004, por nós organizado, que ficou para a posteridade como paradigma de competência e de convívio entusiástico e pacífico de adeptos, dentro e fora dos estádios, apesar da derrota de Portugal no último jogo. Lembrando, mais recentemente, a comemoração do título nacional do FCP nos Aliados - uma multidão imensa num fantástico ambiente de festa de S João, sem barreiras, sem desacatos e sem polícia à vista (a contrastar, por exemplo, com os 38 feridos registados nos festejos da "champions" do Real Madrid na Praça Cibeles"). O Povo é sereno! É forte. Contudo, "um fraco rei faz fraca a forte gente", como dizia o Poeta. --------------------------------------- No 48º aniversário de O MUNDO PORTUGUÊS Em janeiro de 1980, iniciei, enquanto responsável pelo pelouro das migrações, o que seria um longo caminho de colaboração com o "O Emigrante”, então, a completar a primeira década de uma vida intensa, focada na grande vaga de emigração para a Europa, com o propósito de ser a voz daqueles portugueses - os mais marginalizados e esquecidos, tanto pelo Estado (que obrigava a maioria a sair dramaticamente, "a salto"...), como pela sociedade e, até, pelos próprios "media" nacionais. Desde sempre o vi como o aliado em que se podia confiar para trazer testemunho de situações individuais e da evolução da vida coletiva, e para levar a núcleos tão dispersos notícias do país, de uma democracia em progresso, e informações sobre o conteúdo novas leis, medidas e projetos que os afetavam diretamente - o que configurava, a meu ver, autêntico “serviço público”! . No rol infindo das minhas memórias de partilha de ações concretas com O Emigrante- Mundo Português, recordarei três, que são prova evidente da identidade ou da vocação cívica e solidária de um periódico diferente dos outros: A CRIAÇÃO DO CCP O maior destaque vai para a sua participação, sobretudo através do Dr. Carlos Morais, no Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP), desde o momento matricial. O CCP foi, em 1980/81, o instrumento de uma política de aproximação e diálogo do Governo, que visava dois objetivos tão inovadores quanto ambiciosos. O primeiro era o de constituir uma plataforma de encontro e cooperação entre portugueses, a nível mundial, e o segundo, não menos relevante, o de garantir uma representação específica das comunidades face ao Poder, complementando um sistema constitucional que apenas concedia aos expatriados o voto para a eleição de quatro deputados. Este jornal não se limitou a fazer a história do nascimento do CCP como "instituição" pioneira, eleita pelo movimento associativo, e em que se integravam, numa secção autónoma, os "media" das Comunidades do estrangeiro. A transposição da lei para a realidade, da vontade do legislador para a vontade dos destinatários, foi uma aventura extraordinária, que começou pelo radical afrontamento entre emigração europeia, muito partidarizada, e a emigração transoceânica/Diáspora, e foi construindo, de debate em debate, democraticamente, uma comunidade de trabalho e destino, que soube incorporar as naturais divergências, que haveriam de persistir sempre. Foi num tal clima que a qualidade jornalística de "O Emigrante" granjeou aplauso unânime dos conselheiros! E até veio a ser considerado, também, por consenso, um verdadeiro “porta-voz do CCP! E, de facto, no grande forum para a internacionalização ou globalização do associativismo português, o nosso primeiro "jornal global" era o que perfeitamente correspondia à sua dimensão e perspetivas POLÍTICAS PARA A IGUALDADE DE GÉNERO Num país que, ao longo de cinco séculos, sempre, discriminara as cidadãs portuguesas, proibindo ou dificultando as migrações femininas, a primeira medida positiva foi a realização, em 1985, do "1º Encontro Mundial de Mulheres Portuguesas no Associativismo e no Jornalismo" (por recomendação do CCP e para colmatar a quase total ausência de mulheres na composição desse órgão representativo e consultivo). "O Emigrante" esteve lá e, quando foi criada, em 1993, a associação de estudo, cooperação e solidariedade para com a "Mulher Migrante", foi, um dos seus sócios fundadores, através do seu Diretor Carlos Morais. Na sede do jornal se fez o lançamento público da nova organização, que viria a converter-se, a partir de 2005, em parceiro constante de sucessivos governos na execução de políticas para a igualdade nas Comunidades Portuguesas. IGUALDADE DE DIREITOS POLÍTICOS Uma das principais recomendações reiteradas do Conselho era o alargamento dos direitos políticos dos emigrantes, e, sobretudo o voto na eleição do Presidente da República. "O Mundo Português tomou a iniciativa de lançar uma campanha universal pela reivindicação desse direito. Com leitores em todos os continentes, quem o poderia fazer com a mesma abrangência? Quando o voto foi, finalmente alcançado, na revisão constitucional de 1997, pode, pois, reclamar vitória, em nome dos cidadãos das comunidades! O meu abraço de parabéns ao "Mundo Português", por ser, há 48 anos, como o quiseram os seus fundadores, um “jornal de grandes causas.” --------------------------------------------------- 358 de 1 158 PRAÇA DE LONDRES Caixa de entrada Maria Manuela Aguiar domingo, 20/05/2018, 13:24 para mim NOSTALGIA DAQUELE tempo DE DESASSOSSEGO 1 - NA PRAÇA DE LONDRES A Praça de Londres é a minha Lisboa favorita desde que, em janeiro de 1967 tive de deixar o Porto e de ir trabalhar para a capital (que era, ainda a capital do império, embora de um império a caminho do fim). Não posso dizer que a Praça mudou a minha vida, mas sim que a minha vida mudou nessa Praça - e por mais de uma vez. Foi o cenário, onde me aconteceram coisas surpreendentes e determinantes de um futuro não planeado, antes aceite, pela incapacidade de dizer não ou pela curiosidade de dizer sim ao que se me ia oferecendo em cada novo dia. Mudança, movimento... A Praça foi, o cenário do meu primeiro emprego num Centro de Estudos (do Ministério das Corporações e Previdência Social, designado por Centro de Estudos Sociais e Corporativos), e, uma década depois, de uma acidental entrada num governo da República. Governo atípico, de independentes, de iniciativa do Presidente Ramalho Eanes (o IV Governo Constitucional). Ou seja, do meu tirocínio na política, como Secretária de Estado do Trabalho do Executivo de Mota Pinto - que era a última coisa que podia antever. Mas o Prof Mota Pinto era alguém com quem valia a pena trabalhar.Homem inteligentíssimo, um professor de Coimbra, que todos os alunos admiravam como jurista e como pessoa. Mais inteligente, mais sério e mais generoso, não é possível ser. E quem assim pensa de um Primeiro Ministro, num tempo tão conturbado como aquele, sendo chamada, por mais estranhável que seja a chamada, não vai recusar. Gostei de ambas as experiências - da profissional, que durou 7 anos felizes (muito corporativos, no sentido de uma grande paz e cooperação entre diretor e dirigidos, não tanto no sentido político, pos se havia ali "corporativistas", para além do Diretor, eram uma silenciosa minoria..), e da política, nos seus efémeros e intensos 9 meses!. Gostava do início do dia, antegozando as conversas om os colegas, porque os pareceres, esses trabalhava-os sempre em casa, com a concentração devida) e gostava do fim da jornada, de sair para a Praça, atravessar a Avenida de Roma e ir tomar um café ao Londres, ou, mais adiante, à Mexicana (tudo nomes cosmopolitas...). Como era simpático o pequeno parque, a vista das largas vidraças dos meus gabinetes (o de assistente do Centro no 1º andar, o de governante no 16º) e a assimetria das ruas, que aí acabam ou começam - nenhuma delas particularmente fadada pela originalidade ou monumentalidade arquitetónica, mas tranquilas e discretas, como a média burguesia que as habitava. Tinham sido as "avenidas novas", nma época, politicamente infausta, bem mas mais convivial nas relações de vizinhança. De espectacular, nessa Praça, apenas o prédio sede das minhas funções, o "arranha - céus" do Ministério das Corporações (no ancien régime) ou Ministério do Trabalho (em democracia).. Obra do Arquiteto Sérgio Botelho Andrade Gomes, que vim a conhecer muitos anos depois. Um artista e um encanto, como pessoa! O edifício, sóbrio e elegante, por algum tempo o mais alto de Lisboa, concebido de raíz para hotel de luxo, e reconvertido para serviço da República, Funcionários e não turistas estavam destinados a usufruir. dos seus grandes e luminosos espaços. Era ladeado, por cafés, lojas, que subiam de nível e de preço na Avenida Guerra Junqueiro e, da outra banda do parque,à distância, pela igreja branca. Havia, também cinemas na proximidade, o tradicional Roma, e outros que foram surgindo e prosperando, com audiências fieis, que eu sempre contribui para aumentar, nas sessões das 18.00. Ali, naquele "arranha.céus" recordo uma infinidadde de dias e acontecimentos agradáveis dos meus anos de assistente, mas, não sei porquê, do dia inicial recordo apenas a simpatia do Diretor do Centro de Estudos, o Dr Cortez Pinto, o seu gabinete enorme e uma visita guiada á Biblioteca, pela responsável máxima, muito bem vestida de roxo (que, como pude constatar usava todos os dias da sua vida, embora. às vezes, em imaginativas combinações com outras cores fortes e contrastantes). Deve ter corrido tudo, como dizem os brasileiros "bem demais", com os gestos e palavras certos e, por isso, sem história...O contrário posso dizer do me primeiro dia de governo... Fui para a Praça de londres, logo depois da tomada de posse, de boleia no carro dos meus amigos do SPJ, onde era, então, assessora do Provedor...O que me ficou gravado, indelevelmente, na memória não foi todavia a primeira reunião de trabalho, foi a saída, não da reunião, mas da porta de entrada do edifício. Ali mesmo, à vista do café Londres, me esperava o carro, o inevitável carro oficial. Confesso que também não faço ideia da marca do carro, nem do modelo, nem da cor...Só me lembro mesmo do motorista, pequeno de estatura, cara redonda e muito corada, o mais cerimonioso que imaginar se possa. Mantinha aberta a porta traseira e mal entrei, sentou-se ao volante e preguntou-me"Como é que Vossa Excelência deseja ser chamada: Senhor Secretário de Estado ou Senhora Doutora?. Abismada, respondi, sem hesitação: "Senhora Doutora, se faz favor!" A nossa memória é assim, seletiva, com critérios que não são os nossos... o imprevisto de uma pergunta deixou marca mais funda do que todas as questões tão relevantes que preencheram a tarde 2- OS PORQUÊS DE UM CONVITE PARA O GOVERNO De uns, sei. De outros não, avento suposições, ou nem isso... Quando me perguntam porque me envolvi na política - uma daquelas perguntas tão previsíveis e sem graça, que continuam a fazer-me, intermitentemente - tenho dado a mesma resposta, ao longo de algumas décadas. Não resisto a repetir-me. Cito-me textualmente: "Pela razão errada, porque não tinha filiação partidária, não queria fazer política e apenas aceitava participar num governo de independentes do qual, a curto prazo, esperava voltar para a minha vida profissional". Não tinha vocação, não tinha jeito, não sentia atração. Não queria comandar hostes, nunca tinha chefiados nada nem ninguém, ao menos desde os tempos de criança ou de estudante do liceu, em que me fartei de mandar em gente da mesma idade e nem sempre do mesmo sexo - em atividades lúdicas, quase sempre à volta de uma bola de futebol. Todavia, gostava de discutir política - vinha de uma família onde isso fazia parte do convívio e onde as fações eram várias, embora mais para a direita do que para a esquerda ( o que na relatividade destas coisas, me fazia esquerdista, ou (essa maravilhosamesmo muito esquerdista). Era feminista, regionalista, portista... democrata, europeista, social democrata à sueca... Tinha opiniões, quadrante partidário, paixões políticas (quase comparáveis às paixões desportivas, a primeira das quais foi por Yustrich, Monteiro da Costa, Jaburú e outros seus contemporaneos ). Também tinha - factor decisivo - amigos na política do pós 25 de abril, de ideologias várias, incluindo a minha. Por coincidência, precisamente quando velho regime caia, acabava eu de tomar posse como assistente da Faculdade de Economia de Coimbra (por precisamente quero dizer umas horas antes), Enquanto Salgueiro Maia preparava a saída de Santarém para Lisboa, voltava eu a Coimbra, depois de quase uma década de ausência, e assinava o auto de posse... (Lá fiquei por poucos meses depois, transferia-me para a minha Faculdade de Direito). Os convites para uma e outra Faculdade foram verdadeiros paradigmas do imprevisto nos desvios da minha tarjetória de vida. O primeiro resultoou de uma conferência sobre questões de emprego e foi-me dirigido pelo meu antigo professoe e insígne criminalisra Doutor Eduardo Correia. A sua presença despertou a minha curiosidade. O que estaria a fazer ali um catedrático de Direito Crimunal? Não ousei indagar, mas logo fiquei a saber no diálogo que se seguiu a efusivos cumprimentos. - A Manuela quer vir dar aulas para a Faculdade de Economia de Coimbra? (uma oferta de emprego! Mas porque estaria o Doutor Eduardo a recrutar assistentes?) Comeci por manifestar genuína surpresa: - Já Há uma Faculdade de Economia em Coimbra? Resposta: - Há! Eu sou o Director. Que gaffe, eu não saber... Procurei atenuar com uma pronta aceitação: - Claro que sim, Senhor Doutor! Com todo o entusiasmo! Logo no dia seguinte, começámos a tratar de uma complexa burocracia, porque em Lisboa eu não era funcionária pública (era uma contratada "a recibos verdes", die-se-ia agora, embora na altura os recibos fossem brancos). O meu Dirteor de então em Lisboa Coimbra foi, pois, o ponto de reencontro com antigos, professores, antigos amigos, que estavam convertidos em novos e influentes protagonistas no processo de democratização "em curso". Em 1978 já eu estava de volta a Lisboa, a tempo inteiro, mas mantinha os contactos com eles. Ora, nesse ano, um governo de independentes, precisava obviamente de independentes,- mas não de quaisquer uns - de preferência individualidades unidas por sintonia ideológica com o chefe do governo. Foi isso que Mota Pinto conseguiu - tornando mais coesa e dinâmica a sua equipa do que o que se vira antes. Quase todos eram de uma área social democrata, com um ou outro mais à direita ou mais à esquerda, sem destoar demais. Muitos vinham de meios académicos. Houve até um jornalista, já não me lembro qual, que achava que o Governo Mota Pinto mais parecia um Senado universitário. Um bocadinho exagerado, mas il y avait du vrai... (a mim, por exceção, calhou-me em sorte um ministro que vinha direto do Conselho da Administração das cervejas). Suponho que o Professor se lembrou do meu nome para aquele pelouro, porque era oriunda do ministério, trabalhava há anos naquelas matérias, não tinha filiação partidária, mas tinha posicionamento político e reclamava, ferverosamente, mais participação de mulheres na res publica. Fui, pois, sem dúvida, vítima dessa reivindicação, geral e abstrata, na qual eu pessoalmente não entrava, como voluntária. Vi-me confrontada concretamente com a necessidade de preencher a vaga que reclamava para o género feminino, E dei o passo em frente. 3 AS SENHORAS MINISTROS. Questão de género e questão da gramática. Foi no gabinete do Dr Cortez Pinto que muito ativamente me envolvi numa primeira polémica sobre os nomes de cargos desde sempre masculinos, quando finalmente se quebrava o monopólio desse sexo no seu exercício. Teresa Lobo acabava de tomar posse de uma Subseretaria de Estado, precisamente naquele Ministério. Mais um símbolo da primavera marcelista. Só a vi de longe, em raras ocasiões, atravessando o átrio do Ministério, passo rápido, elegante, fato de bom corte, impecável penteado alto e arredondado, como o que que a Drª Manuela Eanes voltou a põr em moda, depois da revolução. Precedida por contínuos que, diligentemente, chamavam o elevador, seguida por outros servidores públicos que lhe levavam a pasta, os dossiers. A sua passagem provocava sempre interesse e comoção... Para mim, era um mais um capítulo da história viva do feminismo português, muito embora, suponho, não s Mulher que fazia história não fosse feminista, nem mesmo à maneira da Pintasilgo, então Procuradora (seria "Procurador", para os meus colegas?) à Câmara Corporativa. Quanto a Teresa Lobo, as nossas opiniões dividiam-se - para o Diretor, para a larga maioria dos assistentes, era a Senhora "Subsecretário de Estado", para mim, não. Impunha-se adequar o título ao sexo feminino. Em vão, argumentava com o exemplo daqueles cargos, onde as mulheres ja eram muitas - notárias, conservadoras dos registos, advogadas... Não convenci ninguém. Vendo bem as coisas, o meu motorista, no ano de 78, estava, afinal, completamente sintonizado com aqueles ilustres juristas - e, mais e melhor do que eles resolvia, pelo menos, o problema da consonância gramatical (já que o de género, para todos eles, nem se punha...). A revolução democrática mudara muita coisa, mas ainda não o sexismo das denominações ministeriais. Pintasilgo foi, na terminologia oficial, "Ministro dos Assuntos Sociais" e "Primeiro Ministro", sem levantar objeção. No 8 de março de 2015, numa breve entrevista à televisão, Leonor Beleza contava que tinha sido a primeira mulher a integrar como "Secretária de Estado" (da Segurança Social?) o organigrama de um governo constitucional. Deve ter tido a influêmcia necessária para operar essa pequena grande revolução terminológica. Se foi em 1983, disso beneficiei diretamente, como Secretária de Estado da Emigração. Mas confesso que não dei pela mudança. À revelia das qualificações oficiais sempre me auto intitulei no feminino, respeitando a gramática da língua portuguesa. Dilma, que tinha o poder de se fazer chamar como entendesse, escolheu ser a Presidenta da República Federativa do Brasil. Soa mal, mas está politicamente correta e gramaticalmentetem tem apoiantes. Fui verificar no dicionário da Texto Editora de 1999, e lá está: presidenta, feminino de presidente, mulher que preside... Aqui no país, nem a Leonor, nem eu nos intitulámos "vice presidentas da AR", cargo que ocupamos sucessivamente, ainda no século passado... E nem a atual presidente da AR reclama uma tal feminização da terminologia... 4 -EU E A MINHA NOVA CIRCUNSTÂNCIA A minha vida foi feita de imprevistos. Mudaram as circunstâncias. E eu? Será as circunstâncias me mudaram?... Deixo a pergunta sem resposta - é a coisa mais fácil. Na verdade, não sei a resposta. No que me respeitava, não, evidentemente, no que concernia a história da minha vida. porque essa foi mais construída pelas circunstâncias do que por mim. Ou não? É só duvidas... Houve surpresas. Para mim. Para os outros, não é evidente. Como dizia Idi Amim Dadá aos seus ministros, num filme.documentário inesquecível, que passou no verão quente de 75, (o único em que me ri mais do que nos melhores "Woody Allen"): "um ministro tem de decidir". Um Secretário de Estado, também, no domínio das delegações de competências ministeriais que nele recaem... A maior surpresa foi a de verificar que não tinha a mais pequena dificuldade em decidir! Vista a situação à distância de 30 anos, acho que isso me tornava rpotencialmente muito mais perigosa. E se nem sempre o potencial de risco se concretizou, deveu-se a boa sorte, com certeza, e a uma extremamente cauta atitude quanto à escolha de colaboradores próximos. O meu "inner circle" era uma muralha de aço, para usar linguagem de época. Ou melhor, em tom menos bélico, um grupo de sábios, que tinha a dobrar toda a sageza e experiência que me faltavam... Aqui fica a receita, para quem quer que se veja em tais trabalhos- Um velho plítico, que eu consiero o expoente da sua geração - a anterior à minha - ensinou-me, um dia um ditado que tem uma perfeita adequação às realidades a que se reportava (os políticos que, desde há já alguns governos, temos pela frente): DESCONFIAI DE PAREDES VELHAS E AUTORIDADES NOVAS - CAEM-NOS SEMPRE EM CIMA .... CONTRA mim, tinha, então, o facto de ser a quinta essência da "autoridade nova" - em idade e em experiência, agravadas pelo temperamento (faceta de que ainda não falei, mas que, desde já, afirmo, que não ajudava nada) e pela singularidade, partilhada por muitos membros da equipa de Mota Pinto, de não recear as consequências de decisões polémicas numa carreira política futura, porque não via o meu futuro em semelhante carreira. A FAVOR, jogaram vários dados, alguns dos quais talvez tenham motivado tão insólito convite, mas outros não, apenas acresceram, afortunadamente: estava no "meu" ministério, no meu domínio preferido do Direito, conhecia pessoas, serviços, mecanismos. Tinha um elevado conceito da sua qualidade, mesmo nos tempos do velho regime. Acreditava que os funcionários públicos eram tão bons ou melhores do que os talentos do setor privado... Tinha trabalhado ao lado de grandes juristas, grandes peritos, em comparação com os quais eu era uma modesta aprendiz.O ambiente de cooperação e convívio era tão bom que, em mais de 7 anos, não recordo o mais pequeno incidente ou disputa (a não competitividade por lugares ou promoções traz ao de cima o melhor da natureza humana? Não sei, mas será esta uma das explicações para os paraísos laborais que foram o Centro de Estudos de 67 a 74 e a Provedoria de Justiça de 76 a 80. - com os mais simpáticos colegas e os mais amáveis chefes que que alguém poderia desejar). Ou seja, tudo me tinha preparado para acreditar firmemente que o ideal era encontrar conselheiros que soubessem do ofício mais do que eu! Como me dei bem com essa estartégia, desde 78, nos meus cinco gabinetes, nunca houve nem "boys" nem "girls", provenientes ds escolas de juventude dos partidos. Sempre preferi gente que fazia o favor de colaborar com o governo, do que rapaziada que estivesse ali por favor partidário, Além de muito boa, a minha equipa era quase 100% função pública, pequena e coesa. Comecei pelo Chefe de Gabinete - para uma mulher Secretária de Estado, a regra da paridade aconselhva um homem para nº2., De preferência, um especialista de direito administrativo. Havia um excelente na Provedoria de Justiça, De Coimbra, antigo aluno de Mota Pinto, meu colega e amigo, não conseguiu dizer que não. Foi a minha salvação . papel que ele lesse e aprovasse , era papel que eu podia assinar com segurança... Dois adjuntos: uma jurista e um jurista, ambos dos quadros do Ministério, com larga experiência.Paridade perfeita... Duas secretárias, competentíssimas, vindas de anteriores gabinetes, formadas pelo ISLA, colegas de curso (pura e feliz coincidência, como veremos...), E os motoristas, funcionários do Ministério, naturalmente. Duas categorias, que desafiaram o objetivo do equilíbrio de género, que eu perseguia dentro do horizonte do possível. Mulheres motoristas, não havia, de todo. E secretários com aquele nível de eficiência também não eram do conhecimento de ninguém. Problemas internos, só houve mesmo com os motoristas. O primeiro resistiu pouco tempo, depois, um segundo também. Já não me lembro de episódios concretos, mas sei que existiram.... Até que conseguimos aliciar o motorista da Secretaria-Geral. Uma grande transferência! Chamava-se Caravana. Eu gostava imenso do Senhor Caravana - era pontualíssimo, nunca falhava, sempre alegre, a contar histórias engraçadíssimas dos tempos da revolução, no Alentejo da reforma agrária. Guiava muito bem, muito rápido. À vezes, passava um pequeno sinal vermelho - o que os franceses chamam "bruler les rouges". Para os parisienses, nos anos 60, era prática corrente pela noite fora, mas, quando executada habilmente, a qualquer hora do dia, é coisa menor (exatamente o meu ponto de vista). Guardava uma arma de fogo debaixo do assento (eu sou alérgica a pistolas, salvo no grande écran dos "westerns", mas condescendi, com aquela otimista certeza de que ele não ia precisar nunca de fazer de Lucky Luke, para me defender de um assalto, por absoluta falta de assaltantes para o anónimo alvo, que eu era).. Depois que o Senhor Caravana completou o meu elenco, ele foi absolutamente perfeito. Todas as guerras e imbróglios vieram de fora e foram combatidas com espírito mosqueteiro "um por todos e todos por um um". 5 - ELA FICA! Por pouco, a história esteve para ser outra. Ao fim de alguns dias remansosos, foi-me pedida a cabeça de uma das secretárias - a Ana. Não precisamente à maneira bíblica. Ela tinha vindo da Presidência do Conselho de Ministros, a cujos quadros pertencia, e para lá queriam que eu a reenviasse, com um despacho de demissão. Devolvida à procedência, que, felizmente, não era a rua...Mas com uma substancial diminuição na folha de vencimento. Quando digo "queriam", refiro-me ao Ministro do Trabalho e a sua "entourage" . No nosso sistema, aos Ministros pertencem todas as competências do ministério, que delegam, quando e conforme entendem, nos seus Secretários de Estado (nessa altura, estes ainda não eram considerados meros "ajudantes de ministro", figura que só iria impor-se a partir dos governos de Cavaco Silva - e como eu pertenci ao primeiro breve e minoritário executivo do Prof Cavaco, tenho de admitir que, por alguns meses, baixei a esse estatuto, mas isso foi sete anos e três executivos mais tarde...) . Diferente e àparte (mesmo para os "ajudantes de ministro") é o caso da constituição dos gabinetes que é, naturalmente, da inteira responsabilidade de cada um dos membros do Governo, não havendo por isso, relações de hierarquia entre o pessoal dos Ministros e o dos Secretários de Estado. Apesar de isto ser evidente, a maioria dos conflitos que foram surgindo - em número inesperado, do primeiro ao último dia - deveu-se ao facto do Chefe de Gabinete do Ministro viver na ilusão de que era o chefe do meu Chefe de Gabinete... Uma grande confusão de chefes... Ora no meu ninguém mandava, nem eu, porque não era preciso - ele sabia muito bem o que havia a fazer - e muito menos um intruso, como era, neste círculo, o Chefe de Gabinete ministerial. Sucediam-se as tempestades, que, depois, repercutiam no meu ralacionamento pessoal com o chefe daquele chefe (que por isso não foi uma espécie de relação de "Deus com os anjos", embora tenha melhorado na recta final e se tenha tornado cordialíssimo no futuro, quando o belicoso personagem desapareceu, para todo o sempre, da minha vista). Antes de voltar ao caso da Ana, convirá lembrar, uma das singularidades daqueles tempos - que não aparece nos organogramas dos gabinetes nem nas regras escritas. Havia uma primordial desconfiança dos novo poder no velho funcionalismo, quase sempre visto como o "anti poder". Nem os saneamentos das antigas chefias, que varreram os ministérios (os diretores gerais vitalícios e os demais na hierarquia descendente) aplacaram a desconfiança geral... Os novos políticos traziam gente da sua escolha, dos partidos, e decidiam tudo o que era importante nesse circuito fechado hermeticamente. Tremendo é que 40 anos depois, nas decisões mais importantes, isso continue na mesma, quando não muito pior, embora, com outro refinamento, outra sofisticação - e outra dimensão. Diz-se em inglês sintético: "outsourcing"... Naquele ano de 1978, no 4º ano de uma ainda tão recente revolução, não era isso o que se passava no Ministério do Trabalho, e nas duas Secretarias de Estado (Emprego e Trabalho). Pelo contrário, os canais com os serviços foram restabelecidos, os altos funcionários que o Conselho da Revolução mandara reintegrar, foram reintegrados em boa paz... Toda a desconfiança se concentrou no pequeno núcleo de colaboradores diretos dos gabinetes do governo antecedente. Porquê? Porque esse Governo - o de Nobre da Costa, personalidade, se bem me lembro, muito bem aceite - caira na Assembleia da República por causa dos titulares do Ministério do Trabalho, considerados demasiadamente próximos do PC. Talvez não só por isso, mas em primeira linha, por isso. E, assim sendo, o novo Ministro, absolutamente insuspeito de simpatias por tal quadrante, deixou bem claro que todos deveríamos afastar do "inner circle" todo e qualquer colaborador dos anteriores governantes da Praça de Londres. Eu não tinha o menor propósito de desobedecer ao razoável ditâme! De todo... O gabinete estava praticamente constituído, com gente tão apartidária como eu. Só me faltava mesmo preencher um lugar de secretária. Já lá ía uma semana, as coisas corriam bem, não havia pressa. E, numa manhã, eis que recebo um telefonema do meu antigo professor e bom amigo, dr Xavier de Basto, o Secretário de Estado da Presidência, a perguntar se ainda tinha uma vaga no gabinete. Como tinha, ele aconselhou-me a Ana, que lhe dera um apoio fantástico, enquanto esperava a chegado dos vários convidados para os lugares de que dispunha (naquele tempo de austeridade real, não se contratavam amigos, às dezenas, fora dos quadros....). Segundo ele, a Ana, para além da grande competência, apresentava uma outra ´preciosa vantagem: conhecia a "casa" porque tinha sido secretária do meu direto antecessor! "Não!",´- respondi eu. Isso era péssimo, era um um impedimento absoluto para o meu Ministro! Mas o Dr Xavier de Basto não pensava assim. A Ana era completamente independente, e, por acaso, nem sequer se interessava muito por questões políticas. Continuou a recomenda-la vivamente! Como é evidente, eu segui o conselho de um amigo, um homem muito inteligente, perspicaz, o nº 1 dos Secretários de Estado, íntimo e fidelíssimo a Mota Pinto. Os preconceitos do meu ministro só valiam para desconhecidos. Venha a Ana, de imediato - foi a decisão. Ainda correu algum tempo, quase um mês, suponho, até que alguém do círculo do Ministro, a quem a Ana deu uma resposta torta - possivelmente o chefe de gabinete - descobriu o curriculum dela, na Praça de Londres. Fui chamada pelo Ministro e intimada a despedi-la. A recomendação de Xavier de Basto não contava nada para Marques de Carvalho . Contra a Ana só militava a resposta torta... Disse ao Ministro que ía pensar... O facto de eu ter exitado revela bem a verdura dos meus anos, então. Nem cheguei a consultar o Dr Xavier de Basto...bastou-me consultar o meu "staff". Eram todos em favor da colega. E a mais veemente era a outra secretária, a Milú, que a conhecia dos bancos do ISLA , (não podes fazer isso! É uma questão de consciência! Para ela, o prejuízo é enorme). dei-lhe razão. Fui falar com o Dr MC e comuniquei-lhe: "Já pensei, já decidi. Ela fica!". irritadíssimo, retorquiu-me: "Os meus colaboradores e os do Secretário de Estado do Emprego são todos de inteira confinaça. Se houver fugas de informação a resposabilidade é do seu gabinete. Ao que eu respondi: Com certeza! Se houver fugas , eu assumo a responsabilidade! E lá voltei a dar a boa nova à minha gente. E o sigilo nunca foi quebrado - e se fosse, não era a partir do meu gabinete... ------------------------- COM MARIA BARROSO NA LUTA PRO DIGNITATE Há 20 anos, a "Mulher Migrante - Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade", dava-se a conhecer no maior congresso de portuguesas da Diáspora jamais organizado no país, sob o lema “Diálogo de género e de geração - para dar a conhecer a emigração feminina e contribuir para que esta se sentisse e fosse tratada como uma metade igual à outra, no mundo das comunidades portuguesas. Nesse mês de Março de 1995. Maria Barroso esteve lá, em Espinho, connosco – e nunca mais deixou de estar. Marcou indelevelmente a memória desse congresso fundador e o seu futuro, pela força da sua palavra – a fascinação do mito e da pessoa, reunidos num momento privilegiado das nossas vidas. Não, não foi um discurso de circunstância em sessão solene de encerramento, seguido de uma saída apressada. Ficou ainda por algumas horas, no meio de todos. Sabia ouvir, compreender, passar da doutrina à prática, da defesa de valores em abstrato à solidariedade, que conforta e mobiliza. Era tão inteligente e culta, tão naturalmente amável e afetiva, e tão pragmática também! Depois, contámos invariavelmente com ela, em outros congressos, nos “encontros para a cidadania” por onde começaram as políticas públicas para a igualdade de género na emigração e em tantas outras acões para o aprofundamento da cidadania, nesse outro Portugal, sempre mais esquecido… 2015 encerra duas décadas de trabalho em comum com Maria Barroso. É o ano em que partiu, pouco depois de ter dito, numa última entrevista à televisão, serena e risonha, com a sua imagem, a sua voz eternamente jovem: “Em breve vou partir”. Maria Barroso deixou um país inteiro saudoso de si, definitivamente órfão do seu sorriso maternal, da sua demanda de justiça, de uma cultura de paz e tolerância. Tem, assim, o seu lugar na história da democracia e do feminismo em Portugal e um lugar muito especial no coração do Povo. Foi no momento em que se despedia dela, surpreso e comovido, que o País redescobriu - ou descobriu - a inteira dimensão da sua personalidade, o pleno significado de uma longa e variada história de vida, que atravessou épocas e regimes, sempre norteada pela coerência de interesses cívicos e humanistas. Uma infinidade de testemunhos, de comentários, de artigos, de reportagens, de entrevistas, acabou por dar uma ideia mais exata da excecionalidade da sua ação, que foi em crescendo, a força da experiência aliada à capacidade de antever e convocar o futuro. As suas prioridades há muito não passavam pela intervenção nas instituições do Estado, nem pela atividade partidária, mostrando, limpidamente, como se podem afirmar os valores humanistas, fazer a diferença, mover o mundo, a partir da sociedade civil. A "sua" Fundação Pro Dignitate foi a sede de um sem número de iniciativas, de grande projetos, que ultrapassaram fronteiras, sobretudo na esfera da lusofonia e da Diáspora. Para Maria Barroso, na sua luta pela dignidade de cada ser humano, não havia favoritos : portugueses, africanos, timorenses, refugiados, imigrantes, velhos, jovens, mulheres, homens... Pró Dignitate, ideia- força para responder aos desafios maiores no novo milénio - os combates por um mundo sem guerras, sem violência, em diálogo sobre um futuro comum, a partir de uma diversidade de heranças culturais, que se possam descobrir e aceitar mutuamente. Uma perfeita consonância coma a divisa da Mulher Migrante”: Não há estrangeiros numa sociedade que viva os direitos humanos! 20 anos passados, muitos anos de trabalho há pela frente! Um olhar retrospetivo ou prospetivo, leva-nos sempre, neste 2015, a Maria Barroso, porque nos mostrou, no movimento da sua própria vida finita, como todos, individualmente, podemos procurar o progresso coletivo, e porque o seu legado de cidadania é verdadeiramente intemporal. ----------------------------------------------------------------