sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Norberto d' Abreu é um nome que a Venezuela há muito identifica como seu. Sendo filho de portugueses, nascido em Caracas, lá fez a formação académica, mais tarde completada em Madrid, lá ganhou fama e prestígio, em décadas de trabalho reconhecido em inúmeras mostras individuais e coletivas, num percurso artístico ascensional, em que mestria técnica, método e criatividade se combinam na perfeição. Portugal, que, ao longo dos tempos e ainda hoje, raramente vem sabendo valorizar os talentos da emigração e reclamá-los para si, tem aqui, graças uma meritória iniciativa da Sociedade da Independência Nacional, a oportunidade de descobrir e admirar a sua obra. E se a Arte não tem nacionalidade, enquanto linguagem universal, o Artista, esse, pode tê-la, afirmá-la, escolhe-la como tema e fonte de inspiração. Esta exposição, com o título "Cores da Lusofonia", é um exemplo da paixão de um Homem da Diáspora por Portugal, a sua essência, a sua trajetória universalista, os povos que nela conviveram e nela permanecem, em partilha fraternal e igualitária da diversidade das culturas enraizadas no idioma comum. Norberto d 'Abreu pinta a sua ideia de Lusofonia, enquanto entrelaçamento de afetos, girândola de memórias, de rostos, de gestos e sentimentos, fulgurantemente, captados no mágico colorido das suas telas, Consegue, assim, como que reescrever a história coletiva, centrado-a em pessoas com quem nos leva a dialogar, de forma inovadora, ele que é, antes do mais, um retratista! E, no enfoque minucioso de uma expressão artística original, retrata-se, a ele próprio, com a sua visão do Outro, a um tempo realista e sensível, juntando ao dom da observação penetrante, rigorosa e objetiva, o de uma muito subjetiva e humana simpatia e compreensão. A "Lusofonia" apresenta-se aqui modelada nos traços e nos cambiantes de imagens de vultos tutelares e de gente anónima, que, primeiro a falaram, convivialmente, no pequeno reino europeu, e logo a transportaram num movimento imparável de expansão mundial. Todos figurados de corpo e alma, e situados, subtil e luminosamente, na sua circunstância. Norberto d' Abreu, admirável contador de histórias, convida-nos a uma leitura aprofundada da narração visual. centrada em personagens e percursos tão váriados e significativos. Para além da emoção estética, da beleza do quadro no seu todo, em que sobressai a face, o traje, o porte, há, em volta, em cada milímetro de tela, uma infinita riqueza de detalhes, sobre sonhos, projetos, acontecimentos, encenados num fio de narrativa que, não raro, ele deixa extravazar da moldura convencional, em que os cânones costumam encerrá-la. Porventura, uma maneira de nos dizer que a aventura da vida é para transcender convenções e para procurar ir sempre mais além, em busca do impossível... "As cores da Lusofonia" são, na verdade, uma interpretação, uma crónica pictórica, esplendorosa e vibrante dessa demanda, com o estilo e a assinatura inconfundíveis de Norberto d' Abreu

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