terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

MULHERES MIGRANTES PORTUGUESAS (RJ 2006) PREFÁCIO

omum e tem parte igual de esforço, de coragem, de mérito no curso dos acontecimentos e nas transformações operadas, são a metade da narrativa ausente - esquecida, silenciada... E, por isso, para repor toda a verdade dos factos é preciso dar-lhes a palavra para que falem de si próprias, da sua visão da sociedade em que se integram, do projeto que as levou ao estrangeiro, das mudanças extraordinárias que a transição para um novo meio provocou nas suas vidas. O depoimento de tantas dezenas de emigrantes transforma esta publicação num instrumento de combate ao silenciamento ou à subavaliação do papel das mulheres e constituiu um contributo original e eficiente para aprofundar o conhecimento das nossas comunidades do Brasil e, em especial do Rio de Janeiro. O Rio, a mística terra da promissão para sucessivas gerações de portugueses, que atravessaram o Atlântico, rumo ao sudoeste e que ficaram paa sempre ligados à construção da maior das nações lusófonas, "sob outro céu e outras estrelas". Não vamos negar a importância de elaborar a história destas migrações, de fora, do lugar do observador que estuda o fenómeno com o rigor, o distanciamento,a disciplina metodológica que a ciência , para a compreensão, num quadro global, dos factores de ordem tão diversa (social, cultural, económica), que estão na origen de constantes movimentações humanas, ao longo dos séculos e no espaço largo do mundo inteiro, assim como do seu impacto no desenvolvimento do nosso país e no daqueles para onde se dirigiram. É um enfoque no coletivo, em que cabem a regra e a exceção - tanto trabalho recompensado, mas também tantas desilusões... Muitos são os homens e mulheresque se reconhecem nos traços desse imenso fresco, nos contornos que a mole humana aí vai assumindo - na descrição, nos registos, números e tendências gerais, a que subjazem os seus sonhos e realizações. Porém, só quando individualizamos alguns rostos e escutamos algumas vozes que detalham experiências muito pessoais podemos recuperar ou desvendar a dimensão vivencial dos planos e expetativas, da solidão e dos afetos, das oportunidades, e das realizações, e, com tudo isso, vislumbrar a infinita riqueza das singularidades de que se tece a tipificação, a fria estatística, a imagem ou o estereótipo de grupos ou categorias de expatriados De algum modo, é como se fossemos à procura das lágrimas de Portugal". dissolvidas no "mar salgado" do "mar sem fim" dos poemas Pessoanos. Lágrimas, sentimentos de mágoa, de saudade... Nesta obra coletiva se consegue, assim, na primeira pessoa e no feminino, uma significativa revelação da história vivida pela nossa gente, num dado tempo e lugar. Ficamos à espera de mais, em outras comunidades, países, continentes. Qual de nós não gostaria de receber resposta a perguntas que já não pode fazer a antepassados que pertencem a uma época finda? O testemunho destas protagonistas da nossa emigração contemporânea é aqui oferecido, não só aos seus amigos de agor, mas, também, a gerações futuras para que se revejam e se orgulhem das suas avós - tal como eu própria relembro minha avó materna, de quem tive a felicidade de ouvir, de viva voz, inesquecíveis contos do Rio de Janeiro dos inícios do século passado. Acredito que pelas confidências e mensagens nele sentidamente expressas, este livro será para guardar na casa da família, para passar de pais para filhos e netos. como testemunho de uma herança cultural, que é muito sua, embora pertença, em simultâneo, ao Brasil e a Portuga

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