PREFÁCIO
O Dr. Fernando Sardoeira
Pinto pertence a uma estirpe rara de homens do desporto que são também, homens
de cultura e homens de carácter. E é, para além disso, um nortenho e portuense,
dos que citam Sofia de Mello Breyner para evocar a "pátria dentro da
pátria", um "dragão de causas", símbolo do espírito
inquebrantável do FC Porto, voz dos seus adeptos, que se sentem, como me sinto,
esplendidamente representados por ele.
Presidente da Assembleia
Geral do FC do Porto a partir de 1982, desde o primeiro mandato de Jorge Nuno
Pinto da Costa, é, com o amigo e aliado de sempre, artífice da aventura que
levou à transformação de um clube regional, ou de " província", como
era depreciativamente chamado, para o clube de renome universal, que deu ao País
títulos europeus e mundiais de futebol, jamais alcançados pela própria selecção
nacional.
Aventura colectiva que
começou por aproveitar os ventos de mudança do Portugal democrático para repor
a verdade das capacidades e dos talentos de quem era secundarizado pela força de
um centralismo implacável, imposto pelo regime, que da política extravasava
para todos os domínios, como era o caso particular do futebol.
A ascensão do FC Porto
deve-se, antes de mais, a estes dirigentes que trouxeram a democracia e a igualdade
de oportunidades para o terreno de jogo, permitindo, num segundo momento, aos
próprios atletas e às equipas técnicas colherem a glória e os louros da uma
superioridade real.
Os “senhores” do velho
sistema renderam-se a um fenómeno, que julgavam transitório, vendo azuis e
brancos somarem, ano após ano, troféus a nível nacional e internacional.
Todavia, quando a excelência portista principiou a dar mostras de se ter
convertido em organização sólida e realidade perene, perdida a esperança de
vencer, em campo, com armas iguais, eis que começam a desenhar estratégias que
passam por outros campos e outras armas!
Este livro faz, em
português de mestre, em palavras que fluem com a simplicidade, a precisão, a
vivacidade, características de grandes jornalistas, a crónica de um tempo do
futebol profissional português, o início do século XXI, marcado e manchado
pelas tentativas de abater o gigante em que convertera, fulgurantemente, o
FCPorto, decapitando-o da liderança do Presidente Pinto da Costa - à falta de
meios legítimos para atingir o mesmo escopo...
A relação minuciosa dos
factos e a clara explanação das razões subjacentes, constituem, assim, um
contributo mais do Dr. Sardoeira Pinto para a causa da justiça, e um subsídio
precioso para a reconstituição de um período deplorável da justiça - ou
injustiça - portuguesa, dos processos que dão título à publicação.
Acções e recursos que se arrastaram pelos
tribunais de várias instâncias, incluindo as desportivas, no país e na Europa,
e cujo eco ultrapassou fronteiras, com foros de escândalo, deliberadamente
provocado ou instigado para a pura e simples destruição desportiva e moral de
um competidor, de outra forma invencível.
Os processos dos
"apitos", e, bem assim, outros episódios e casos de época, que ajudam
à sua descodificação e plena compreensão, são aqui escalpelizados e
sistematizados, com nomes, datas e lugares, tomadas de posição e decisões, actos,
omissões, contradições, intrigas, mentiras – tudo descrito ao pormenor, num
precioso e abrangente registo, que faltava, para memória futura.
Mas, para além da
cronologia dos factos, da elucidação dos argumentos, de natureza eminentemente
jurídica, do manancial de informação de toda a ordem, de sapientes comentários
e reflexões, a narração ganha densidade humana e societal ao retratar, num
impressionante fresco, figuras e figurantes, com as suas interacções e
comportamentos insólitos, geradores de um clima de irresponsabilidade e
insânia, em que vimos decair instituições do mundo do desporto e do próprio
“Estado de Direito”. Na expressão do Autor, foi a “caixa de Pandora” que se
abriu… Consequência dessa ânsia incontida de retornar ao passado, de interferir,
deslocando o centro de excelência do futebol português do seu ponto norte para
a antiga “sede geográfica do poder”, artificialmente criada ou, mais exactamente,
recriada.
Temos vindo a considerar
as questões de fundo, que, assim ordenadas e explanadas, são uma mais-valia extraordinária,
para que os vindouros não esqueçam nem tolerem a recorrência da viciação do
“fair-play”. Mas não podemos deixar sem uma referência a originalidade da forma
e da metodologia, que igualmente recomendam a leitura desta obra.
A singularidade do fio
condutor da narrativa é a procura de resposta à indagação de um jornalista
sobre qual fora o melhor momento da vida do Autor. Fiel a si próprio, quer dar
uma resposta verdadeira, pensada, definitiva. E, logo nas primeiras páginas,
parte em demanda da memória de acontecimentos felizes, numa fascinante
"viagem interior", conduzida pelo olhar sobre um mundo de emoções e
de vivências, que quer partilhar connosco, e em que revela muito de si, dos
seus valores éticos, dos seus afectos e paixões, entre elas, a "pátria
dentro da pátria" e o clube do coração.
Será que vai surpreender
os leitores ao incluir no número extremamente selectivo dos melhores momentos
da sua vida o epílogo dos processos dos "apitos finais, dourados... e
outros mais"?
Sem antecipar o desfecho
final, direi que acompanho, com imensa alegria, o Dr. Sardoeira Pinto, na
rememoração dos momentos em que se fez justiça a um grande clube e a um grande homem,
garantindo o lugar do campeão nacional na “Champions League” e recolocando o
Presidente Pinto da Costa na rota do futuro do FC Porto.
Este é, tenho a certeza, o
livro que todos os adeptos portistas queriam ver escrito e que todos os autênticos
desportistas vão gostar de ler.
31.03-2010
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